Harry!
Harry acordou com Rony o abanando violentamente. A custo,
abriu um olho e, com a voz embargada pelo sono, resmungou:
- O
que foi, Rony? Me deixe dormir, estamos no meio da noite!
- Meio
da noite! – Quase gritou Rony. – Se você não se
levantar bem rápido, vai acabar é perdendo o café
da manhã, isso sim!
Conseguindo, a custo, abrir os dois
olhos, Harry encarou o amigo e murmurou:
- Café da manhã?
- Harry! – Exclamou Rony, exasperado. – Levanta, cara!
Pegando os óculos de Harry, Rony os entregou ao amigo, que
os colocou. Tão ensonado estava que os óculos ficaram
de lado, presos apenas numa das orelhas.
- Pelas barbas de
Merlin, Harry! – Bufou Ron, meio preocupado e meio divertido. – O
que é que está acontecendo com você!
Harry
bocejou, tentando endireitar os óculos, mas apenas conseguiu
que eles se entortassem para o outro lado.
- Estou morrendo de
sono. - Explicou, com um bocejo. – Não dormi nada essa a
noite.
O rosto de Rony exprimiu preocupação,
enquanto ele se sentava na cama do amigo.
- Porquê? –
Inquiriu, ansioso. – Foi a cicatriz? Doeu? Ou você teve mais
uma daquelas visões ultra-realistas do que "Você Sabe
Quem" estava fazendo?
- Não… - Gaguejou Harry,
acordando subitamente. – Não foi nada disso… quer dizer…
acho que não… Foram só pesadelos terríveis…
Sonhei a noite inteira…
- Eu também! – Comentou Rony,
com um tom de voz estranhamente sonhador e Harry ficou surpreendido
ao notar no amigo uma expressão de felicidade; não pode
deixar de sorrir interiormente, ao imaginar com quem ele teria
sonhado a noite inteira: Hermione, claro… Mas não iria
perguntar, porque sabia que o amigo jamais assumiria.
Suspirando,
Harry se levantou para o primeiro café-da-manhã do ano
em Hogwarts.
- Poções! Logo a
primeira aula do dia! – Suspirou Rony, enquanto se dirigia, com
Harry e Mione, para a sala do Professor Snape. – Bela forma de
começar o ano!
Harry concordou:
- Snape logo para
começar é dose!
- Olhem pelo lado positivo. –
Disse Hermione. – É só mais um ano; depois, não
serão mais obrigados a vê-lo… Já eu… se eu
vier ensinar em Hogwarts, vou ter que encará-lo todos os dias.
- Gabo a sua a paciência! – Disse Rony, revirando os
olhos.
- Eu também. – Concordou Harry. – Só que
você está esquecendo uma coisa, Hermione: o Snape
pertence à Ordem da Fénix, por isso não vamos
nos ver livres dele assim tão facilmente.
- É
verdade, você tem razão. – Hermione tinha, obviamente,
esquecido daquele pormenor.
Entraram na sala e ocuparam os seus
lugares, suspirando, resignados. A aula de Poções
sempre fora a mais difícil, não tanto pela matéria,
mas pelo Professor, que nutria por Harry um ódio
indisfarçável, já que havia sofrido bastante nas
mãos do pai dele, Tiago Potter, nos tempos em que ambos eram
alunos de Hogwarts. A sua vingança em cima do filho daquele
que tanto o humilhara e se divertira às suas custas era
constante… apesar de, estranhamente, já ter salvo a vida
dele mais de uma vez.
A aula, só por si, com o Professor
Snape, já seria um sacrifício, mas o facto de terem de
partilhá-la com os Sonserinos a tornava realmente
insuportável.
Snape olhou para os alunos com o mesmo olhar
frio de sempre e deteve os olhos negros em Harry:
- Potter…
Último ano, não é? Você deve estar ansioso
para se ver livre de mim, certo?
- Se é o senhor quem está
dizendo, Professor… - Respondeu Harry, laconicamente.
Snape
fulminou-o com o olhar:
- Muito cuidado, Potter… - Começou.
– O último ano pode lhe trazer muitas surpresas.
Um
silêncio sepulcral inundou a sala. Neville, Parvati Patil e
Lilá Brown suspenderam a respiração, na
expectativa do que viria em seguida. De que surpresas estaria falando
Snape?
Todavia, ele não continuou o assunto. Pelo
contrário, começou a dar a aula, acabando por mandá-los
fazer uma Poção de Crescimento de Cabelo, que foram
obrigados a testar em ratos, cujos pêlos começaram a
crescer anormalmente, fazendo com que os bichinhos de assemelhassem a
bolas de Quadribol peludas e com patas.
- Deve ser isso que o
Snape usa. – Disse Rony para Harry, com uma gargalhada abafada. –
Bem que o meu pai também precisava de uma poção
dessas.
Harry riu, também:
- Não me
parece que o seu pai fosse gostar de ficar com o cabelo igual o do
Snape. Ele parece que enfiou a cabeça num caldeirão
cheio de cerveja amanteigada!
Os dois amigos riram à
socapa, até que Hermione fez:
- Shiu! Vocês dois são
podem ficar calados?
- Mione, você não cansa de ser
tão certinha? – Resmungou Rony.
- Não. – Foi a
resposta pronta e mal-humorada. – E, em vez de você me
criticar, deveria era seguir o meu conselho, porque se o Snape pega
vocês conversando…
- Senhorita Granger! – A voz do
professor Snape ecoou pela sala, fazendo Hermione dar um pulo na
cadeira. – Pode partilhar connosco o que está dizendo ao
Weasley?
Hermione se tornou escarlate e só conseguiu
gaguejar:
- Eu… eu… é que…
- Graças a
Senhorita Granger, vou retirar cinco pontos da Grifinória. –
A voz de Snape era tão fria como o seu olhar.
- Professor!
– Protestou Rony. – Se quer nos retirar pontos, não culpe
a Hermione! Ela estava justamente a mandando a gente calar a boca!
-
Mais cinco pontos retirados da Grifinória. – Foi a resposta
fria, enquanto Draco Malfoy sorria de satisfação e
Snape se voltava para o quadro, onde começou a escrever os
enunciados dos trabalhos que a classe teria que entregar na aula
seguinte.
Revoltado, Rony quis se levantar, mas Hermione o
impediu, segurando o punho dele e murmurando, baixinho:
- Fica
quieto, Rony. Não vale a pena, você só vai piorar
as coisas!
Rony se deixou ficar no seu lugar e a mão de
Hermione escorregou para cima da sua. Harry reparou imediatamente
como os dois se tornaram mais vermelhos do que dois tomates maduros e
se afastaram rapidamente.
- Oh, que idiotas! – Pensou Harry,
aborrecido. – Quando será que eles vão assumir? Acho
que vou ter que ser eu a promover esse namoro. Só preciso
descobrir como…
Mal ele sabia que a sua ajuda iria ser,
realmente, essencial para os amigos, mas não exatamente como
ele esperava e sem que ele tivesse que fazer fosse o que fosse para
se esforçar nesse sentido.
A Professora
McGonnaggall havia referido, no seu discurso de abertura, uma nova
Professora de Adivinhação, exclusivamente para o sétimo
ano que, por motivos de força maior, não pudera
comparecer à festa de abertura oficial do ano escolar.
Contudo, com o pensamento em Dumbledore, Harry não dera muita
importância ao fato… mas quando se dirigiam para a sala de
Adivinhação (na torre mais alta da escola) e os colegas
se acotovelavam, com perguntas sem resposta como "Quem será
ela?" ou "Como será ela?" ou "Será outra doida
como a Trelawny?", só então Harry sentia a
curiosidade invadi-lo.
- Achei tão estranho a Umbridge ter
interrompido a Professora McGonnagall, quando ela estava prestes a
nos dar mais informações sobre a nova professora. –
Comentou Hermione. – Aposto que a sua contratação foi
à revelia da Umbridge.
- Óptimo! – Exclamou Rony,
sorrindo. Tanto a ele como à maioria esmagadora dos alunos
(excepto, talvez, os Sonserinos), agradava muitíssimo a ideia
de ver Umbridge ser obrigada a "engolir um sapo".
Entraram na
sala, que estava vazia. Estranhando esse fato, eles se sentaram e um
burburinho enorme se gerou numa das torres mais altas de Hogwarts,
onde se encontrava a sala, até que o ruído de saltos
altos apressados os deteve.
Junto da porta, afogueada da corrida
que acabara de fazer para chegar até ali o mais rapidamente
possível, uma jovem loira, de olhos castanhos, baixa estatura
e corpo curvilíneo esboçou um sorriso simpático
e entrou na sala, se desculpando, com um ligeiro sotaque estranho:
-
Desculpem o atraso, classe. – Ela se sentou na sua cadeira e
suspirou, tentando recuperar o ritmo da respiração,
sem, contudo, perder o sorriso. – Sou a vossa professora de
Adivinhação.
O queixo de Rony parecia que ia bater
no chão, enquanto olhava fixamente para a nova professora.
Mione olhou para ele e bufou, irritada, revirando os olhos. A
recém-chegada continuou:
- Sou a Professora Hollow.
-
Mary? – A voz de Rony ecoou pela sala, enquanto a Professora Hollow
o olhava e abria ainda mais o seu sorriso. Ela se levantou e foi até
junto dele, exclamando:
- Rony! Como você cresceu! Venha me
dar um beijinho! – Perante os rostos pasmados de toda a classe,
Mary Hollow presenteou Rony com um beijo em cada bochecha.
Escusado
será dizer que as orelhas do rapaz ficaram de uma cor
semelhante à da blusa rosa-choque que a professora usava…
