O
quê! - Vociferou Ron. - Ah, não, Mione, dessa vez você
foi mesmo longe demais!
Hermione corou mais ainda, com lágrimas
nos olhos:
-Por favor, Rony! - Pediu. - Me deixe explicar!
-Você
não vai explicar nada! - Bradou Gina, furiosa. - A Mary é
uma das melhores pessoas que eu já conheci em toda a minha
vida! Apesar de ela ser dez anos mais velha do que eu e morar tão
longe, sempre me tratou como uma grande amiga. Nós desabafamos
uma com a outra, trocamos segredos... e eu não vou admitir que
você estrague a reputação da minha prima por
causa dos seus ciúmes! Se você não quer assumir o
que sente, pelo menos trate de disfarçar melhor!
Gina
saiu, furiosa, do salão comunal, enquanto Hermione se
debulhava em lágrimas:
-Eu não falei por mal... Se
ela, ao menos, me escutasse...
-Escutasse o quê, Mione? -
Inquiriu Harry, pasmo com a cena que acabara de presenciar. Olhou
para Rony. O amigo parecia estranhamente ausente e ele teve certeza
de que aquele estado se devia ao que Gina dissera sobre os ciúmes
de Hermione. - Que você acha que a prima dela é uma
vampira assassina?
-Eu não acho isso! - Protestou
Hermione, chorosa. - Eu não acho que ela seja assassina... ou
melhor, é, por natureza, mas não por vontade própria.
É por isso que ela ataca animais, para não ter que
atacar gente!
Rony pareceu sair do seu transe, mas o tom de voz
ainda era esquisito, quando perguntou:
-E o que é que faz
você ter tanta certeza de que o vampiro é a Mary?
Hermione suspirou e baixou os olhos. Dava para perceber que não
queria encará-lo. Contudo, respondeu:
-Eu não tenho
certeza... é só uma desconfiança...
-Mas
porquê? - Insistiu Harry.
-Por causa dos sumiços
dela. - Explicou Hermione. - Nós sabemos que ela desaparece de
noite e volta depois, muitas vezes só passados dois dias, com
aquele ar cansado... e vocês não lembram da conversa
dela com o Lupin? Ele disse que ninguém o poderia
entender como ela o entende. E a sua mãe, Rony! - Finalmente,
olhou para ele, sem, contudo, encará-lo nos olhos. - Você
lembra como ela ficou tão preocupada quando soube que a
Professora Hollow ia casar com o Lupin? Ela disse que ia ser muito
difícil a vida entre duas pessoas com problemas tão
graves... E o Hagrid! O Hagrid disse que os ataques do vampiro
começaram no início das aulas, ou seja, quando ela se
tornou professora em Hogwarts. Não faz sentido?
-Faz... -
Murmurou Rony. - Mas se ela fosse vampira, eu saberia...
Contudo,
Rony não parecia totalmente convencido.
Aquela
noite foi deveras agitada para Harry. Pesadelos o assaltaram, com
Bellatrix matando Rony com uma gargalhada gélida e ele se
recriminando por não ter lhe falado da sua relação
com Gina.
O sonho mudou; Harry via, agora, Mary Hollow, com os
caninos aguçados, tentando morder Hagrid. Hermione e Lupin
assistiam, sem fazer nada, mas Lupin dizia, em voz profunda: "Somos
iguais, Mary!", enquanto Hermione falava num tom agudo de
sabichona: "Eu não dizia?"
Harry acordou,
escorrendo suor por todos os poros. Na cama ao lado, Rony roncava, ao
mesmo tempo que sonhava alto: "Vamos, Hermione, só um
beijinho... Só um... Isso..."
Harry não
conseguia voltar a dormir. Os roncos e palavras soltas do amigo,
aliados à angústia dos pesadelos e dos últimos
acontecimentos, não deixavam que ele tornasse a pegar no sono.
Resolveu, então, descer. Se dirigiu para o corredor, onde
se deteve, ao escutar a voz de Gina, vinda do escritório da
professora Hollow.
-Tenha calma, Mary. - Dizia ela. - Eu não
vou deixar que ninguém desvende o seu segredo.
-Mas a
Hermione Granger já está desconfiada. - Era a voz
aflita da professora. - O que é que eu vou fazer? Se me
descobrem, os pais dos alunos vão protestar e eu vou ser
afastada de Hogwarts, ou vou ter que me afastar antes que eles
protestem, tal como aconteceu com o Remo!
-Não diga isso,
Mary. Mal ou bem, você sempre tem a protecção da
Umbridge.
A professora soltou uma gargalhada triste:
-Não,
Gina. Primeiro, isso não adiantaria nada, se os pais dos
alunos ficassem contra mim e depois... bom... os tempos de glória
da tia Dolores no Ministério já vão bem longe.
Na verdade, eu nem sei como foi possível o Ministro mandá-la
de volta para Hogwarts. Ele não a suporta!
-Bom... Mas eu
vou lhe ajudar! - Garantiu Gina. - Se depender de mim, ninguém
vai descobrir o seu segredo.
-Obrigada... - Murmurou Mary, em voz
sumida. - Ai, era só o que me faltava! Parece que, de repente,
tudo na minha vida começou a desandar!
-Oh, Mary... - A
voz de Gina era triste. - Os seus pais continuam não aceitando
o seu casamento com o Lupin?
Ouviu-se uma fungadela e o tom de
voz choroso da professora.
-De um momento para o outro, eles
resolveram me tratar como se eu não passasse de uma
adolescente rebelde. Querem me levar de volta para Portugal, como se
eu não fosse maior de idade e independente faz muito tempo!
Eles têm medo que o Remo estrague a minha vida... como se a
minha vida fosse boa! Eles acham que eu não vou conseguir ser
feliz casada com um lobisomem... como se eu conseguisse ser feliz sem
ele! O pior de tudo é que o Remo é tão
bem-comportado que é bem capaz de me abandonar, para me
proteger! Eu não suportaria uma coisa dessas, Gina!
Harry
ouviu Mary soluçar e Gina tentando acalmá-la:
-Pronto,
Mary, não fique assim. Vá se deitar, tente dormir...
Mary respirou fundo:
-O que eu queria mesmo era dar uma volta
no jardim, sabe... respirar um pouco de ar puro... mas não
posso sequer ver um único raio de luar... - O seu tom de voz
era profundamente desgostoso. - Essa é uma das vantagens dos
lobisomens sobre os vampiros. Eles só se transformam em noite
de lua-cheia, enquanto para nós basta um único raio de
luar... Fico o mês inteiro esperando pela lua-nova, para poder
me sentir livre...
-Quer que eu vá pegar um copo de água
para você? - Perguntou Gina.
-Quero, sim. - Foi a resposta.
- Obrigada, Gina... obrigada por tudo. Você é uma menina
maravilhosa.
Harry viu Gina sair do escritório e tudo
aconteceu numa fração de segundos: a porta aberta por
ela deixou passar um raio de luar, vindo da janela principal do
corredor. Gina olhou para dentro do escritório e soltou um
grito, enquanto se ouviu a voz de Mary, sufocada:
-Gina, fuja!
Saia daqui, por favor, saia!
Harry a viu fugindo dali o mais
rápido que as pernas lhe permitiam. Viu, também, Mary
Hollow saindo do escritório, transfigurada: os seus olhos
castanhos estavam agora vermelhos e os lábios, também
de um vermelho-sangue, deixavam ver dois caninos pontiagudos saindo
da sua boca. Abafou um grito, quando a viu seguindo Gina, correndo, e
a seguiu, também, o mais rapidamente que pode.
Viu Mary,
vampirizada, seguindo a prima até à orla da floresta e
agarrá-la, abrindo a boca de caninos afiados. Não tinha
que se baixar para mordê-la. Eram do mesmo tamanho e isso
facilitava muitíssimo o ataque.
Harry ficou como se
estivesse congelado, perante tal cena. Não sabia porquê,
mas não conseguia agir. Tentava se convencer de que tudo não
passava de mais um pesadelo, enquanto via Mary inclinar a cabeça
para morder Gina, que implorava, apavorada:
-Mary, páre
com isso! Você é boa, não pode morder um
ser-humano! Pense em como você se sentirá amanhã.
- Gina começou a chorar. - Mary... Mary, por favor, resista a
essa maldição! Você consegue, você é
boa! Mary... Mary, sou eu... a Gina!
Harry só conseguia se
lembrar, com todo o horror, de quando vira Lupin se transformar num
lobisomem descontrolado.
De repente, a vampira olhou a prima nos
olhos e a largou, baixando a cabeça e respirando, ofegante.
Gina parecia aliviada. Só então Harry conseguiu se
mover... e imediatamente se arrependeu: o barulho que fez ao pisar
umas folhas secas despoletou, de novo, o transe vampírico em
Mary que, imediatamente, tornou a agarrar Gina, pronta para mordê-la.
Dessa vez, porém, Harry não ficou parado. Apontando
a varinha à professora, gritou:
-Petrificus Totalus!
Imediatamente, Mary caiu no chão, petrificada. Soluçando
sem parar, Gina correu para Harry, que a abraçou fortemente,
dizendo:
-Está tudo bem, agora. Está tudo bem...
