Estavam
rodeados por Dementadores por todos os lados. Em uníssono, os
quatro amigos berraram, de varinhas erguidas:
-Expecto Patronum!
Os patronos prateados de cada um avançaram contra aquelas
horríveis criaturas que, contudo, não desapareceram. Se
limitaram a se afastar alguns metros enquanto Bellatrix soltava uma
gargalhada terrível:
-Já não é só
é assim que os bebês conseguem afastar os mauzões!
Lúcio Malfoy riu, também. O tom era semelhante ao
dela e a forma como ambos olhavam para Harry e seus amigos não
era muito menos assustadora do que os Dementadores.
Mais
Comensais da Morte começaram a se aproximar. Harry reconheceu
neles vários daqueles que, no quinto ano, haviam comparecido à
luta no Departamento dos Mistérios. Contudo, havia algumas
caras novas, entre as quais Draco Malfoy e os seus dois amigos,
Crabbe e Goyle.
Lúcio soltou nova gargalhada:
-Vejo
que você está pronto, meu filho!
Draco sorriu.
-Sim, meu pai. Estou pronto para lutar a seu lado.
-Lutar a
meu lado? - Lúcio riu, ainda mais. Um riso frio, metálico,
sem sentimento. - Não, Draco. Pronto para o sacrifício.
-Sacrifício! - Era notório que Draco não
percebia mesmo o que se passava.
-Draco, querido... é uma
pena, mas vou ter que eliminar você... - Disse Lúcio,
calmamente, para horror de Harry.
-O quê! - Gritou Draco,
igualmente apavorado.
-Ordens superiores. - Disse Lúcio,
sem uma ponta de amargura na voz. - O senhor das trevas nos ordenou
que sacrificássemos as nossas crias, como prova de fidelidade.
Crabbe e Goyle tremia como varas verdes. Por mais estúpidos
que fossem, dava para perceber que eles haviam captado a mensagem.
Tanto eles como Draco iriam morrer naquele momento, às mãos
dos próprios pais.
-Nããããão!
- Gritou Crabbe, para logo ser atingido por um raio, vindo da varinha
do seu pai, um dos Comensais da Morte, que acabava de gritar:
-Avada
Kedavra!
Logo em seguida, Lúcio Malfoy e o pai de Goyle
proferiram as mesmas palavras, apontando as varinhas aos filhos e os
matando sem hesitar e nem olhando mais para os corpos, inertes, no
chão.
Harry sentiu uma tontura. Já tinha visto
muita coisa pavorosa, mas aquela cena ultrapassava tudo: pais matando
os próprios filhos a sangue-frio e sem um mínimo de
remorso, se qualquer sentimento...
A trilha sonora não
poderia ser mais assustadora: Bellatrix soltou uma gargalhada e
aplaudiu:
-Bravo! O senhor das trevas vai ficar felicíssimo!
A vossa lealdade está comprovada!
Depois, se virou para um
Comensal cujo rosto não era totalmente desconhecido para
Harry. O homem estava pálido e se deixou cair, de joelhos, no
chão.
-Quanto a você - Começou ela. -, não
sei que vamos fazer... Você resistiu tanto à Maldição
Imperius que tínhamos que lançá-la para você
várias vezes por semana. É incrível como você
pode resistir tanto! Você foi um homem de fibra, tentou fazer o
melhor pelo Ministério... Mas agora acabou. Você nunca
foi muito útil para nós, com essa sua mania de seguir o
caminho certo. Agora, já não precisamos de você
para nada.
Apontando a varinha para o homem que se achava
ajoelhado no chão, a seguidora de Voldemort lhe apontou a
varinha e disse simplesmente: "Avada Kedavra", enquanto a
sua vítima era atingida por um raio de luz verde e caía,
inanimada, no chão.
Com horror, Harry assistiu a toda a
cena: viu Bellatrix matar friamente o homem que, então
entendeu, era o Ministro da Magia. Tudo fazia sentido. O pobre homem
era um político honesto, tinha feito tudo da melhor forma
possível e até conseguira o incrível feito de
resistir à Maldição Imperius, por amor à
espécie bruxa... As suas atitudes revoltantes haviam sido,
certamente, tomadas, enquanto ele se achava sob a maldição...
Harry sentiu uma onda de tristeza e revolta, perante todas
aquelas mortes horríveis a sangue-frio: pais que mataram os
próprios filhos... a mesma louca que matara Sírius
assassinara sem hesitação um inocente...
Começava
a se sentir cada vez mais enjoado e a sua cicatriz ardia
furiosamente.
-Alí estão eles! - Ouviu-se a voz de
Tonks, atrás deles. - Parabéns, Mary, o seu dom de
vidente é absolutamente fantástico!
Harry olhou
para trás e deu de caras com Tonks, Mary, Lupin, Moody
Olho-Tonto e Hagrid. Snape os seguia, um pouco afastado e, mais ao
longe, estranhamente, também Luna Lovegood e Neville
Longbottom acorriam ao local.
De repente, se ouviu uma voz mais
gélida ainda do que a de Lúcio Malfoy e Harry
estremeceu, com a cicatriz ardendo. Lord Voldemort acabara de chegar,
acompanhado por Pedro Pettigrew.
-Muito bem! - Aplaudiu o senhor
das trevas. - Quase todos reunidos! Bom trabalho, Bella, Malfoy,
Crabbe, Goyle... Agora, chegou a minha vez de me divertir... não
é, Potter?
Olhou para Harry com os seus olhos vermelhos e
rosto de serpente e a cicatriz que os ligava doeu com a maior
intensidade de sempre. Harry se deixou cair, sem forças,
enquanto Voldemort lhe apontava a varinha, murmurava um feitiço
e fazia nascer uma espécie de bolha de vidro inquebrável
em redor dele, o impossibilitando de fugir ou efetuar qualquer tipo
de feitiço.
Ria, com a sua gargalhada terrível.
-Muito bem, Potter, você fica para o fim. Vai ficar aí,
a me vendo destruir os seus amiguinhos, um por um. Rabicho! -
Acrescentou, se virando para Pettigrew, o homem com ar de ratazana
covarde que o acompanhava. - Cuide do seu amigo lobisomem. Eles só
podem ser mortos com uma bala de prata... a sua mão é
de prata, portanto... bom, você sabe o que fazer.
Tremendo,
Pettigrew se aproximou de Lupin, mas, antes que algum dos dois
pudesse fazer alguma coisa, Mary se jogou para cima de Pettigrew,
gritando:
-Nem pense nisso!
Pettigrew caiu em cima de Lupin e
a sua varinha voou para longe. Mary caíra em cima dele e lhe
prendia as mãos atrás das costas, enquanto Voldemort
ria e aplaudia:
-Que belo espetáculo! Uma quase-anã
bancando a heroína e um lobisomem desse tamanho precisando
dela para defendê-lo!
-Você está bem? -
Perguntou Mary a Lupin, que a olhava, de olhos esbugalhados.
-S...
sim... - Gaguejou ele. Tentando se mexer, gemeu e acrescentou: "Acho
que quebrei um braço..."
Mary assumiu um ar
assustadoramente furioso e levantou Pettigrew, com toda a força,
perante o ar pasmado do noivo e assustado da vítima, a quem
apontou a varinha e que imediatamente lhe pediu, tremendo da cabeça
aos pés:
-P... por favor, mocinha, não faça
mal a um homem sem varinha...
Mary guardou a varinha no bolso e
gritou:
-Venha cá, Rabicho, lute como um homem! Mas como
um Trouxa!
Voldemort ria cada vez mais. Todos pareciam ter parado
para a assistir à cena.
Pettigrew parecia positivamente
apavorado. Prostrado aos pés de Lupin, implorou:
-Por
favor, Remo, me salve... em nome da nossa velha amizade... faz ela
parar...
Antes que Lupin pudesse dizer uma palavra, Mary olhou
Pettigrew com ar enojado e cuspiu na cara dele, exclamando:
-Você
não passa de um verme nojento!
De repente, Pettigrew
lançou a mão ao bolso de Mary, tentando lhe roubar a
varinha. Todavia, ela teve bons reflexos e o agarrou, esmurrando-o no
nariz e o derrubando.
-Isso foi por você tentar roubar a
minha varinha! - Bradou, continuando a lhe distribuir socos e
pontapés, enquanto enumerava as suas razões,
completamente fora de si. - Isso é por você ter traído
os seus amigos! Isso é por você ter deixado morrer os
pais do Harry! Isso é por você ter se passado para o
lado da trevas! Isso é por você ter traído e
enganado o Rony! Isso é por você ter deixado o Sírius
ser preso! Isso é por você ter tentado matar o Remo! E
Isso é por você não passar de um verme nojento!
Pettigrew acabou por perder os sentidos, se deixando cair o chão,
com sangue escorrendo pelo nariz e pela boca.
-Já chega! -
Bradou Voldemort. Estava desconcertado, como Harry nunca o vira. - A
diversão acabou! Bella, faça as honras da casa.
Imediatamente, Bellatrix apontou a varinha para Mary.
-Avada...
- Não conseguiu concluir o feitiço, uma vez que Lupin a
desconcentrou, gritando um sonoro e aflitivo:
-NÃÃÂÂÂOOOOO!
Ao mesmo tempo, Lupin se colocou na frente de Mary, pronto a
salvá-la com a própria vida e Tonks se precipitou sobre
Bellatrix e a derrubou, lhe apontando a varinha e vociferando:
-E
isso é por você tentar matar a minha melhor amiga,
querida tia Bellatrix! Avada Kedavra!
Nesse momento, uma
luz verde saiu da varinha de Tonks, atingindo Bellatrix, que parou de
se debater, caindo, morta, no chão.
Harry tremia. Sempre
achara que estava preparado para enfrentar Voldemort, mas ver tantas
mortes acontecendo de uma só vez começava a ser demais
para ele. Começou a se lembrar de Sírius, que lhe
contara que Tonks era filha de Andrómeda, a sua prima
preferida... irmã de Bellatrix... a mesma Bellatrix que o
havia matado... a mesma Bellatrix que acabara de morrer na sua
frente, pelas mãos da sobrinha Nymphadora Tonks...
-Eu não
disse que já chegava? - Bradou Voldemort, furioso. - Vocês
estão querendo brincar, é? - Nesse momento, pousou os
olhos em Snape e sorriu. - Olha, olha, quem é ele... Severo
Snape, o traidor, finalmente frente a frente!
Harry desviou o seu
olhar para Snape. Os olhos do Professor de Poções
brilhavam de ódio, enquanto olhava para Voldemort, dizendo:
-Não sabe como eu esperei por esse dia, senhor das trevas.
-Snape, Snape... - Falou Voldemort, em tom falsamente indulgente.
- Porquê tanta raiva em relação a mim? Você
poderia ter o mundo nas mãos se tivesse ficado do meu lado...
-Você matou a minha Lilian! - Gritou Severo, com os olhos
raiados de sangue. - Ela não me quis, preferiu o arrogante do
Potter, mas eu a amava! Eu amava e você a matou!
O estômago
de Harry deu um pulo. Depois de tanto horror, aquela revelação
bombástica: Snape fora apaixonado pela sua mãe... Isso
explicava muita coisa...
