Os
Dementadores se aproximavam de novo. Por todos os lados se viam
clarões de várias cores e gritos de dores e de feitiços
sendo pronunciados.
Harry viu Moody cair a seu lado, após
um grito de "atordoar", seguido de um pequeno clarão.
Viu Crabbe apontando a varinha a Luna Lovegood e Lupin segurando, com
ar de dor, o braço direito, enquanto apontava a varinha, com a
mão esquerda, a Crabbe, gritando:
-Expelliarmus! -
Imediatamente, a varinha do Comensal da Morte voou para a mão
de Lupin.
-Atordoar! - Exclamou Luna Lovegood, ao mesmo, fazendo
Crabbe cair, inanimado, no chão. Lupin lançou um
sorriso a Luna e piscou o olho a ela, que sorriu para ele, grata.
Do
outro lado, Gina, Tonks e Mary se debatiam com os Comensais da Morte
Rookwood, Goyle e MacNair (o mesmo que quase matara o hipógrifo
Bicuço no terceiro ano), parecendo um campeonato de esgrima,
enquanto Neville e Hagrid se acercavam de Harry.
-O senhor das
trevas concluiu a profecia, porque escolheu você, Harry! -
Exclamou Neville, olhando para Harry, com uma espantosa firmeza na
voz. - Mas poderia ter sido eu no seu lugar! Por causa dele, os meus
pais estão internados em São Mungo! -
Surpreendentemente, Neville apontou a varinha a Voldemort.
-Não
se preocupe, Arry. - Bradou Hagrid. - Eu não vou deixar que
nada lhe aconteça!
-Acabou a brincadeira! - Exclamou
Voldemort. - Já me diverti o suficiente por hoje. Agora, está
na hora do final apoteótico! - Rindo, com a sua gargalhada
terrível, apontou a varinha faiscante a Harry, dizendo:
-Avada Kedavra!
Ao mesmo tempo, Neville proferia o mesmo
feitiço, apontando a varinha a Voldemort, enquanto Hagrid se
colocava na frente de Harry. Uma enorme explosão de cores, que
fez Harry fechar os olhos, foi seguida da escuridão total.
Harry abriu os olhos. A pouco e pouco, a escuridão foi se
dissipando e ele viu, com enorme desgosto, Hagrid caído ao seu
lado. Estava morto.
Do outro lado, Voldemort se desfazia em
cinzas, enquanto os Comensais da Morte jaziam no chão, mortos,
com as Marcas Negras nos braços desaparecendo. As Marcas que
os ligavam a Voldemort os haviam levado à morte, como sempre
os levavam para junto do Senhor das trevas. Ele morrera e eles com
ele.
Não havia sinal de Dementadores.
Luna abraçava
Neville, no chão. Hermione levantava Ron, que acabava de
acordar. Tonks desatordoava Moody e Mary ajudava Lupin a conjurar uma
tala no braço partido.
Dumbledore não fazia nada.
Harry olhou para ele, desesperado:
-Dumbledore... ele... ele
matou o Hagrid!
-Eu sei... - Respondeu o velho feiticeiro, com
tristeza.
-E o senhor... o senhor não fez nada! -
Lágrimas de dor, raiva, revolta e choque escorriam pelo rosto
lívido de Harry.
- Eu não podia fazer nada. - Disse
Dumbledore, tristemente. - Estava escrito que eu não poderia
interferir. Só você podia levar o Voldemort à
completa destruição.
-Mas não fui eu que o
matei! - Exclamou Harry, confuso. - Foi... foi o Neville!
-Não
exatamente. - Corrigiu Dumbledore. - Na verdade, o Neville só
ajudou. Foi necessário, sim, mas o que destruiu o Voldemort
não foi só a coragem do Neville. Acima de tudo, foi o
poder das duas varinhas juntas, fazendo ricochete no feitiço
do Neville e aliadas ao grande carinho que o Hagrid tinha por você.
Harry baixou os olhos, com um nó na garganta:
-Como...
como a minha mãe? A história se repetiu? O Hagrid deu a
vida por mim?
-Sim. - Foi a resposta. - Mas nada teria sido
conseguido sem a sua varinha...
Harry não ouvia mais nada.
Ele se sentia extremamente infeliz. Hagrid dera a vida por ele. As
únicas coisas positivas de toda aquela tarde sangrenta era que
tudo havia, finalmente, terminado e que ele, Harry, não
precisara matar ninguém... Mas vira Malfoy, Crabbe e Goyle
morrerem às mãos dos próprios pais, o Ministro
da Magia morrendo por ser justo... e Hagrid... Hagrid dera a vida por
ele...
Uma enorme dor de estômago o invadiu. Harry viu tudo
escurecer em seu redor e desmaiou.
Desde
o dia anterior que Harry, Rony, Hermione, Gina, Neville e Luna se
encontravam numa enfermaria em São Mungo, mais em estado de
choque por tudo o que se passara do que por qualquer mazela física.
Harry era, indubitavelmente, aquele que estava pior.
Depois
de tanto tempo, tudo acabara... mas... a que preço? Não
conseguia tirar da sua cabeça que, para poder sobreviver, mais
uma vez alguém se sacrificara. Não conseguia deixar de
se sentir responsável pela morte de Hagrid.
Não
tinha qualquer vontade de comer e muito menos de falar. Gina tentava
trazê-lo à realidade. Tentara até fazê-lo
rir, dizendo que, naquele estado "catatônico", ele
parecia Umbridge quando, no quinto ano, fora atacada pelos centauros.
Contudo, Harry não riu e Gina, triste, acabou por deixá-lo
em paz, resmungando:
-Pronto, já que você não
quer que eu fique aqui, vou falar um pouquinho com o Rony e a Mione e
depois volto para o meu quarto.
Gina estava internada na mesma
enfermaria, mas noutro quarto, com Luna e Neville, enquanto Harry se
encontrava acompanhado por Harry e Hermione que, até então,
ainda não tinham falado um com o outro.
Gina se sentou na
cama de Hermione, lançando um olhar a Harry e suspirando:
-Bom, pelo menos, agora, vocês não têm mais
como fugir.
-De que é que você está a
falando? - Inquiriu Rony.
-Ora, Rony! - Exclamou a irmã,
em tom verdadeiramente irritado. - Não se faça de
idiota, que agora já é tarde para isso! Já basta
o Harry, que não quer acordar para a vida! Rony... é
óbvio que foi o seu amor pela Hermione que fez você
resistir à Maldição Imperius e impediu você
de matá-la!
Rony ficou da cor de um tomate maduro e
enterrou a cabeça no travesseiro, sem responder.
-O amor
pode tudo. - Concluiu Gina.
-Nesse caso... - Começou
Hermione, nitidamente tentando disfarçar o seu
constrangimento. - Você pode ajudar a trazer o Harry de volta à
realidade.
-Eu sei. - Disse Gina. - Mas é melhor deixá-lo
assim mais um pouco. Já fiz tudo o que podia, por hoje. Mas
garanto para vocês que, amanhã, vou tentar outra vez...
e podem ter a certeza de que vou conseguir. Agora, vocês os
dois tratem de se entender.
Piscando o olho para os dois, Gina se
dirigiu para Harry, o beijou na testa e saiu do quarto.
Fez-se um
longo e constrangedor silêncio, quebrado, finalmente, minutos
mais tarde, pela voz sumida da Hermione:
-Rony?
-Mmm?
-É...
é verdade o que a Gina disse? Você... você
resistiu à maldição... por... por minha causa? -
Hermione corou violentamente. Rony também e só
conseguiu responder:
-É...
Um novo silêncio
reinou no quarto mas, dessa vez, nenhum dos dois conseguiu quebrá-lo.
