- Tem certeza que nós vamos mesmo varar a noite? - perguntou Shippou pela terceira vez.
- Já disse que sim... - respondeu Miroku.
Estavam todos sentados no chão do quarto de Inu-Yasha, sem fazer nada.
- Por que não vamos dormir? - sugeriu Kagome.
- Não estou com sono, Senhorita Suicida. E vai que você muda suas tendências suicidas para tendências homicidas - disse Inu-Yasha, de uma forma não muito agradável.
Kagome resolveu ignorar. Ela se levantou para ir ao banheiro.
Quando voltou, não viu muito diferença na cena. Todos sem fazer nada sentados no chão, menos Shippou, que estava na cabeça do irmão, e o youkai maluco, que estava deitado na cama dele.
Kagome sentiu uma tontura na cabeça e se aproximou da cama dele com intenção de sentar. Quando uma dor forte se apoderou de todo seu corpo e ela caiu inerte em cima do garoto deitado na cama.
Inu-Yasha sentiu o peso sobre seu abdômen. Kagome tinha caído bem em cima dele, e tinha doído.
- Ai! - disse Inu-Yasha esfregando a barriga. - O que deu em você?!
Ele olhou para Kagome, meio caída em cima dele. Seu rosto estava pálido e as bochechas coradas, ela parecia mal. Inu-Yasha sentiu uma dor forte no peito e um formigamento no crânio. Sua visão ficou turva e caiu num estado inconsciente por um segundo.
Depois ele recuperou a consciência. Tocou o rosto da garota caida por cima de sua barriga. Estava quente e suado, ardendo em febre.
Inu-Yasha saiu da cama e, sob olhar dos outros, colocou Kagome deitada na cama dele.
- O-o que aconteceu? - perguntou Sango, horrorizada.
- E-eu não sei - respondeu Inu-Yasha. - Ela caiu em cima de mim.
Inu-Yasha segurou o rosto dela com as mãos e notou como estava quente. Ela devia estar com uma febre muito alta.
- Calma, Sango. Ela vai ficar boa, não se preocupe... - Miroku tentava acalmá-la.
- Como vou ficar calma com minha melhor amiga inconsciente?
- Miroku, - disse Inu-Yasha - me traz uns cobertores.
Miroku foi no armário dele e pegou os cobertores que estavam lá.
- Pra que isso? - perguntou Miroku enquanto Inu-Yasha cobria Kagome com um cobertor.
- Ela precisa ficar quente e suar bastante, para as toxinas que estão no sangue saírem junto com o suor.
- Como você sabe tudo isso? - perguntou Miroku, confuso.
- Já tentou prestar atenção nas aulas de biologia?
Miroku ignorou e Inu-Yasha mordeu o lábio pela mentira que contou. Não tinha toxina nenhuma no sangue dela. Ele sabia o que era exatamente. Ele sentiu a mesma coisa em proporções menores.
Kagome começou a abrir os olhos. Inu-Yasha olhou para ela.
- Uhn... O que...? Onde eu...? - ela tenta sentar na cama, mas Inu-Yasha empurra seus ombros para trás. - Ah, eu desmaiei de novo - ela desiste de lutar com Inu-Yasha e deita na cama. - Sinto muito. Isso acontece toda hora.
- Você cai inconsciente toda hora? - perguntou Miroku.
Kagome sorriu triste, depois parou por causa do grande esforço.
- Não toda hora, entende, mas com uma certa freqüência. Isso já aconteceu tantas vezes que eu nem lembro quantas foram.
- Eu... eu sei um remédio que vai ajudar - disse Inu-Yasha.
Todos se viraram para ele.
- Fico feliz por tentar ajudar - disse Kagome -, mas não precisa. Daqui a pouco passa - ela tentou se levantar de novo e pareceu sentir muita dor.
Kagome caiu inconsciente de novo. Inu-Yasha sentiu a visão ficar turva mais uma vez, mas conseguiu controlar e não desmaiou como Kagome. Ele se levantou e saiu do quarto dizendo que ia pegar um remédio.
Inu-Yasha estava sentado na cozinha. Olhando para o microondas ele tentava chegar à conclusão certa.
"É perigoso... Eu não sei fazer direito. Posso por a vida dela em risco. Quem eu quero enganar, a vida dela está em risco. Dessa vez foi mais forte, nunca senti tão forte assim... O que eu faço?"
Inu-Yasha começou a ter uma lembrança...
Era um garotinho de dez anos, cabelos brancos e orelhas de cachorro. Ele estava deitado na cama dele, coberto até o pescoço de cobertores. O rosto estava pálido e as bochechas vermelhas pela febre.
Ele estava muito doente, inconsciente pela alta temperatura. Inu-Yasha se lembrou que ele sonhava enquanto a febre não baixava.
No sonho, ele estava em um lugar escuro, ele não enxergava nada devido à escuridão que o envolvia. Mas ele sentia...
Sentia que alguém estava esperando por ele em algum lugar além daquela escuridão toda. Alguém estava chamando-o sem usar palavras, usando sentimentos.
Inu-Yasha ficou com medo de dar um passo para frente. Aquela escuridão parecia tão assustadora... Mas quem quer que estivesse chamando-o continuou, e Inu-Yasha deu um passo na direção que ele sentia estar lá.
Nada aconteceu.
Ele sorriu.
Inu-Yasha deu outro passo às cegas na escuridão e começou a cair.
Ele fechou os olhos para a escuridão e continuou a cair encolhido em torno dele mesmo.
Ele continuava caindo e um frio estava envolvendo ele como se quisesse arrancar qualquer calor de seu corpo.
Então ele sentiu algo quente se espalhando por seu peito. Abriu os olhos e viu que ainda continuava a cair na escuridão.
O calor continuava a ser bombeado por todo seu peito, mas não ia para as outras partes do corpo.
"Quente..." ele pensou. Então o calor parou.
Mas de algum modo, seu peito continuava quente.
Então sentiu como se alguém segurasse seu rosto e uma nova onda de calor fosse bombeada através de suas bochechas. Ele abriu os olhos e não viu nada além da escuridão de novo.
Levantou os braços com muito esforço e segurou os pulsos da pessoa que segurava seu rosto. Tentou abrir os olhos novamente, mas era muito difícil. A sensação de estar caindo tinha desaparecido, dando lugar à uma sensação de estar deitado em uma cama macia e quentinha, com um vento gelado batendo na janela do lado de fora da casa.
O calor começou a se espalhar por todo seu corpo, não só rosto e peito. Inu-Yasha abriu os olhos e os fechou por causa da grande quantidade de luz na sua frente. Sentiu algo macio raspando no nariz.
Abriu os olhos de novo e viu o rosto do irmão, com os cabelos caindo sobre o seu rosto.
Era Sesshou-Maru quem estava com as mãos no rosto dele.
Sesshou-Maru sorriu ao ver o irmão acordado.
Inu-Yasha voltou para a cozinha e para a realidade.
Ele suspirou, Sesshou-Maru já tinha salvado ele tantas vezes...
Outra lembrança tomou forma em sua mente...
Ele estava com dez anos, poucos minutos depois da lembrança anterior. Sentado em sua cama, com os cobertores em volta, ele tomava um copo de coca-cola.
Sesshou-Maru estava sentado em uma cadeira o lado da cama. Ele esperou o irmão terminar de beber e começar a falar.
- She... Por que eu fiquei doente de repente?
- Olha, como eu vou explicar isso?, você tem poderes de youkai no seu corpo. E eles se manifestaram agora que você fez dez anos...
Inu-Yasha se lembra do bolo que Sesshou-Maru tinha feito para ele de aniversário. Mais parecia uma lasanha do que um bolo.
- ... Graças aos seus poderes youkai, você pode perceber a energia sinistra de Tóquio, quando ela aumenta ou diminui muito.
"Ela anda aumentando muito nesses últimos anos. Papai me disse que é algum youkai muito poderoso que está se revelando aos poucos.
"Hoje, a energia aumentou bastante de uma vez só. Você sentiu a energia mais que eu. Acho que você tem uma sensibilidade maior para esse tipo de coisa. Até sua própria energia aumentar, você vai continuar sentindo como se estivesse doente quando a energia daqui aumentar.
- Então eu preciso aumentar minha energia?
- Claro! Se você aumentar sua energia não vai mais se sentir assim. Mas por enquanto não se preocupe, eu estou aqui pra te socorrer caso qualquer coisa aconteça.
Sesshou-Maru afagou a cabeça do irmão.
- Mas, She... - começou Inu-Yasha, fazendo bico.
- Que foi?
- O que você fez? Eu me senti... quente por dentro... como se... eu me senti protegido...
Sesshou-Maru sorriu.
- É por que eu estou aqui para te proteger... - ele fez outro carinho na cabeça do irmão. - Agora descansa.
Inu-Yasha segurou a mão dele.
- Mas eu quero saber o que você fez...
- Quer mesmo saber, seu curioso. Eu passei um pouco da minha energia para você. E é melhor você aumentar logo sua energia sinistra, por que quem sabe, amanhã eu posso não estar mais aqui para te proteger.
Lágrimas começaram a se formar nos olhos de Inu-Yasha.
- Oh, isso não quer dizer que eu vá embora amanhã e te deixe aqui - disse Sesshou-Maru, vendo que o irmão ia começar a chorar. - Só quero dizer para você aumentar sua energia e treinar para passar sua energia também, caso precise. Só isso.
Inu-Yasha deu um sorriso e sumiu com as lágrimas que se formavam.
- Tá, eu treino!
Inu-Yasha acordou para a realidade.
Olhou para a cozinha em volta dele. Depois olhou para as próprias mão e disse, num lamento:
- Eu devia ter treinado...
Miroku entrou na cozinha.
- O que?
- Não é com você que eu estava falando, Miroku.
- Tudo bem. Olha, a Sango mandou te chamar, disse que a amiga dela tá ruim. Ela agora está falando umas coisas estranhas, algo como energia, sei lá.
Inu-Yasha levanta derrubando a cadeira e sai para o quarto.
Quando entra, Kagome está do mesmo jeito que quando ele saiu, inconsciente.
- Ah! Que bom! - disse Sango se aproximando dele. - Ela estava falando alguma coisa sobre um youkai, Na alguma coisa...
- Naraku - fala Aya.
Kagome começou a falar baixinho e se mexer.
- Vocês quatro, - disse Inu-Yasha para eles - fora do quarto. Eu preciso falar com ela.
Miroku tira os outros três do quarto a força.
Inu-Yasha fecha a porta quando eles saem e fica encostado nela. Kagome começa a falar de novo.
Inu-Yasha se aproximou receoso dela. Kagome estava murmurando de olhos fechados, parecia doer muito nela.
- Você precisa impedir... Naraku... ele, é muito... forte... você precisa... não, ele é... Ai! - ela pôs as mãos no peito como se sentisse uma dor muito forte lá.
Inu-Yasha se ajoelhou do lado da cama e olhou bem para o rosto dela. Estava todo suado e vermelho, seu rosto estava contraído pela dor, mas ela se esforçava em sorrir.
Inu-Yasha segurou uma das mãos dela, que estava em cima do peito. Estava gelada.
Inu-Yasha ficou sem saber o que fazer. Encostou a mão livre no rosto dela, ainda estava muito quente pela febre. Kagome segurou a mão que estava em seu rosto e perdeu a consciência para os sonhos.
Ela estava andando por uma escura floresta. Mas ela sabia que alguma coisa a esperava em algum lugar na parte mais escondida da floresta...
Caminhar, caminhar... A floresta parecia se repetir a sua volta, brincando com ela como se fosse um labirinto de árvores. Mas ela não ia desistir de achar o que estava procurando.
Ela tropeça em uma pedra e cai.
Uma sombra se projeta sobre ela. Não podia ser uma árvore, ela estava andando por uma trilha e não tinha árvores atrás dela.
Ela se virou muito devagar e olhou para o vulto alto parado bem atrás dela.
Inu-Yasha entrou em desespero quando ela perdeu a consciência de novo. Todas as suas dúvidas se evaporaram quando ele soltou as mãos dela das suas e olhou de novo para o rosto inerte dela.
Ele apoiou suas mãos no peito dela e fechou os olhos rezando para que desse certo.
"Onde... onde eu estou?"
Inu-Yasha olhou ao redor e se viu em uma floresta.
Ele começou a caminhar até que viu alguém caído no chão. Ele reconheceu quem era, a... "Droga, preciso descobrir o nome dela."
Kagome estava sentada no chão com a sombra de Inu-Yasha em cima dela.
Ele estendeu o braço para ajudá-la a se levantar e ela pegou na mão dele.
Inu-Yasha a puxou para cima com força a mais que o necessário e Kagome foi parar em seus braços.
Ele abraçou Kagome com força e ela retribuiu. Kagome sentiu um calor forte onde Inu-Yasha estava encostando nela.
Inu-Yasha também se sentiu quente. Quente de uma forma que ele não tinha se sentido antes, quente de uma forma que ele não conseguia explicar.
Ele abriu os olhos e se viu em seu quarto de novo. Olhou para a cama, Kagome continuava desacordada, mas ela parecia menos vermelha agora.
Inu-Yasha encostou a mão em seu rosto. Ela não estava mais com tanta febre, mas continuava quente.
Kagome sorriu com o toque dele.
- Nada de abusar de garotas inconscientes - disse ela com uma voz rouca.
- Não vou abusar de você...
Kagome abriu os olhos e fechou-os por causa da luz forte.
Inu-Yasha percebeu e foi até o interruptor.
- Quer que eu apague a luz?
- Não preci... - antes que ela pudesse terminar, Inu-Yasha apagou a luz. - Você poderia parar de ser tão gentil. Está me dando nos nervos.
- Claro... - concordou Inu-Yasha. - Não saia daqui - disse ele saindo do quarto.
Kagome suspirou. Por que será que ela estava se sentindo tão bem?
Inu-Yasha entrou na cozinha e todos os olhares se voltaram para ele. Ele foi até a geladeira e pegou um copo de suco de laranja.
- Como ela está? - perguntou Shippou.
- Ela está bem? - perguntou Sango, juntando-se ao interrogatório.
- O que vocês estavam fazendo lá? - quis saber Miroku. Sango bateu nele.
- Ela já está melhor... Vou levar alguma coisa com vitaminas para ela - respondeu Inu-Yasha, saindo da cozinha.
Kagome estava sentada na cama observando o teto escuro. Inu-Yasha abriu a porta e perguntou em voz baixa:
- Eu... posso acender a luz?
- Pode - respondeu ela.
Inu-Yasha acendeu a luz e viu Kagome sentada sorrindo para ele.
"Será que eu já imaginei uma garota deitada na minha cama sorrindo ao me ver entrando no quarto?" se perguntou ele. "Não, nunca."
Kagome estendeu o braço para pegar o suco e tomou um gole.
- Bom... - comentou ela. - Foi você quem fez?
Inu-Yasha estava distraído olhando para o movimento hipnótico dos cabelos dela e não ouviu a pergunta.
- Como?
- Perguntei se foi você que fez o suco.
- Não, é daqueles de caixinha - Kagome mostrou desapontamento. - Mas eu pus no copo com todo carinho se é isso que você quer saber.
Kagome mostrou a língua para ele e tomou mais um gole. Inu-Yasha levantou da beira da cama, onde nem tinha percebido estar sentado.
- Ei, aonde você vai?
- Pegar alguma coisa para você comer - disse ele. - Não saia da cama.
Inu-Yasha entrou na cozinha em meio a uma discussão animada. Era sobre por que ele não era poluído mentalmente igual a Miroku, e que por isso podiam confiar nele.
- Eu NÃO sou poluído mentalmente! - se defendeu Miroku. - Eu nem sei o que é isso!
- Ah, nem vem com essa, Miroku. Você é um completo tarado! - rebateu Aya.
- É, é! - concordou Shippou.
Inu-Yasha foi até o armário e pegou uma sopa instantânea. Colocou água no fogo e depois colocou a sopa.
- E você, Sango? Acha que eu sou poluído mentalmente?
- Olha, eu não sei...
Inu-Yasha foi embora com o prato de sopa na mão, deixando os outros com sua amigável discussão.
Ele abriu a porta e entrou no quarto com Kagome observando-o.
- Oba! Sopa!
- Toda sua - disse Inu-Yasha dando a sopa para ela. - E se isso te faz ficar feliz, fui eu que fiz.
- Oh! Estou tão feliz! Vou comer com mais empolgação agora! - disse Kagome. Inu-Yasha teve certeza que ela estava brincando com ele.
- Eu fiz com muito amor e carinho, especialmente para você.
Kagome se segurou para não jogar a sopa na cabeça dele.
Capítulos...
Estou pensando em parar de escrever essas notas da autora, eu só escrevo coisa inútil...
Jujubinha
