As rosas não falam
Capítulo 2 - Treinamento nada fácil...
Seu primeiro dia no Santuário não havia sido fácil, principalmente pelo 'bom humor' de seu mestre. Cypria se sentia extremamente cansada mesmo sem ter feito exercícios pesados, suas aulas não seriam nada fáceis. De volta a sua casa, ou melhor, seu quarto na casa das Amazonas, o qual só ganhou direito por causa de Saori, se não estaria na ala dos aprendizes.
Seu único desejo era tomar uma bela ducha e cair na cama. Ainda não se arrependera de ter aceitado treinar no Santuário, até estava gostando da idéia. "Aquele cavaleiro de câncer é muito gentil. Seria bom conversar mais com ele.", refletiu antes de pousar a mão sobre a maçaneta da porta. Um grande silêncio pairava no ar, até angustiante por sinal.
Ao entrar, cumprimentou Shina que permaneceu calada mexendo numa caixa, parecia algo novo. Adentrou na casa, procurando por mais pessoas, porém estavam sós ali. Na cozinha não havia nada pronto, na geladeira apenas um iogurte, que ela deixara ali de manhã. Sem alternativas e grande ronco no estômago, devorou o iorgute com pedaços de maçã e pêra. Suas energias pareciam ter voltado um pouco. "Talvez meu cansaço fosse mais fome..." pensou saindo dali em direção ao banheiro.
Na sala, Shina finalmente havia conseguido montar seu novo 'som', e estava pronta para inaugura-lo. E como Marin não estava ali, poderia escutar seus cds preferidos no maior volume do aparelho de som. E foi o que fez.
Na ducha, Cypria parecia não acreditar na altura da música escutada por Shina. Tocou uma das paredes do banheiro e a sentiu tremer com estrondo do som. Vestiu-se e voltou a sala para pedir explicações.
"Como pode escutar nessa altura?! É surda?!" pensou dirigindo-se para Shina que dança descontroladamente com o controle do som na mão, fazendo-o de microfone improvisado. Além de cantarolar algo indecifrável na maior altura que se pode imaginar.
Não percebendo, ou escutando mesmo, Cypria gritar para que pare, Shina continuava a cantar e dançar. Agora de joelhos no chão como se estivesse tocando uma guitarra num solo incrível. Tomada pela raiva, Cypria puxa o cabo de força do som, e a casa volta ao silêncio por alguns instantes.
- POR QUE FEZ ISSO?! - perguntou Shina fulminando-a com os olhos.
- Porque são mais de oito horas da noite, e eu gostaria de silêncio para descansar. - respondeu calmamente.
- Ah... VOCÊ quer descansar, né? - perguntou com ironia.
- Sim. Se for possível.
- Pois não é! Pelo menos até que eu escute todos os meus dez cds do Iron Maiden. Antes de isso talvez seja impossível, querida. - falou soltando o seu veneno.
- Mas... eu também estou morando aqui, acho que mereço uma consideração!
- De minha parte, não terá nenhuma. A única a quem ainda respeito é a Marin, mesmo não indo muito com a cara dela. Ela é uma Amazona de Prata, assim como eu, portanto estamos em pé de igualdade. Nossas diferenças são respeitadas, por termos cosmos quase iguais.
- Eu também sou quase uma Amazona. - falou Cypria tentando argumentar.
- Hahah!! Não me faça rir, menina. Você começou seu treinamento hoje! Não é adversária para mim, no caso de resolvermos esse impasse numa luta. E se não fosse amiguinha de Athena, estaria com as aprendizas, e não aqui na MINHA casa. Volte para o seu quarto e dane-se! - falou friamente religando o som.
Shina não estava falando mentiras, portanto sem opção, voltou para o seu quarto e trancou-se lá. Dormir com todo aquele barulho de rock pesado não é tarefa fácil, talvez quase impossível. Porém seu cansaço era tanto que adormeceu rapidamente.
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"Poxa vida, por eu tenho que me acordar às cinco e meia da manhã para chegar no campo de treinamento. Isso não é justo!" pensou enquanto colocava suas roupas, e um agasalho leve. Saiu do quarto e chegando na sala, encontrou várias garrafas de cerveja espalhadas pelo chão. "Shina deve ser viciada nisso, eca! Talvez isso explique sua chatice cotidiana.".
No campo de treinamento, não havia ninguém exceto Afrodite, que simplesmente chamava bastante atenção com suas roupas rosa-choque... bastante chamativas por sinal.
- Bom dia, mestre. - cumprimentou-o cordialmente.
- Bom dia. - respondeu seco. - Para começar, dê umas vinte voltas no campo, primeiro andando, e depois mais vinte correndo. Esse é o seu aquecimento.
- O quê?! Quarenta voltas aqui? - falou olhando para a extensão do campo, que medida deveria dar uns três campos de futebol alinhados um a um.
- Sim. E ainda estou sendo boazinha com você. - respondeu ajeitando uma cadeira de praia no chão. Sentou-se e terminou: - Acho melhor você começar, ou o sol se tornará muito quente. Acho que vou tirar uma soneca enquanto você faz o aquecimento.
- E vou correr como uma louca nesse campo, enquanto você descansa?
- É lógico! Eu sou a mestra aqui, e dito as ordens. Agora as cumpra. Ah..! Acordar cedo acaba com o meu rostinho lindo. Estou com os olhos inchados! - falou retirando os óculos escuros e olhando-se num espelhinho de mão.
Cypria pôs-se a fazer o aquecimento. Primeiro começaria andando, depois correndo. "Acaba com o meu lindo rostinho..." falou para si ironicamente.
- Seria bom se o rosto dele não desinchasse... Que ódio!! - falou sozinha andando pelo campo de treinamento. Sua romaria seria muito longa...
Após as primeiras vinte voltas, Cypria já estava sentindo bastante as pernas, entretanto ainda teria mais vinte voltas a correr. Aproveitando que o seu mestre estava num cochilo, parou para tomar uma água que trouxe de casa. Quando avistou mais cavaleiros chegando ao campo. Alguns ela nunca tinham visto, e outros até já havia conhecido. Marin e Shina também estavam lá com seus pupilos.
Perto de Shina estava Shura, que vivia a paquera-la sem conseguir nenhum avanço, pelo menos era o que ele achava. Do lado de Marin estava Aioria, que ela já conhecera posteriormente. Havia dois cavaleiros altos e iguais! Isso mesmo iguais eram os gêmeos de Gêmeos... Que ela apenas ouvira falar. Por último avistou, o cavaleiro de Câncer, que conhecera no dia anterior.
Terminou de saciar sua sede, e antes que pudesse voltar ao seu treinamento, sentiu alguém lhe tocar o ombro. Virou-se e disse: - Apenas parei para tomar água, mestre. Já vou voltar para a corrida... - parou quando percebeu que não era seu mestre.
- Olá ragazza! - falou com um leve sorriso. - Vai correr? Não sou o seu mestre...
- Oh! Desculpe-me. Pensei que fosse o meu mestre, mas... - olhando de lado. - Acho que ele nem percebeu que parei com o treinamento. - falou envergonhada.
- Hahah! Certamente! Então seu mestre é o Afrodite de Peixes?
- Sim. Agora tenho que voltar para o meu treinamento.
- Mas que coisa... Eu também ia correr pelo campo. Posso fazer-lhe companhia? - Sem enxergar nada de mal nisso, Cypria assentiu com a cabeça. E pôs-se a correr. Não tinha certeza, mas achava que Máscara não estava a correr de verdade, pois ela mantinha o mesmo ritmo dela, o que em termos não seria nada.
Afrodite abriu os olhos e olhou o relógio, ela estava demorando muito nesse aquecimento. "Melhor assim. Acho que o Masquinha já deve ter vindo para cá... mas não consigo vê-lo..", pensou enquanto pegava seu inseparável binóculo, apelidado de "lentes cor-de-rosa". Procurou por todos os cantos do campo, sem acha-lo. Mas quando olhou de novo o avistou do lado de sua aprendiza, correndo com ela, conversando com ela, e...até rindo com ela!! Isso foi demais para seus olhos, o susto que levou ao vê-los foi tão grande que virou para trás, caindo da cadeira de pernas para o ar.
- Aaaaiii... MAS QUE DROGA!!! - gritou com raiva, levantou-se chutando a cadeira aos olhares de todos. - NUNCA VIRAM ALGUÉM CAIR DE UMA CADEIRA, NÃO É?! - arrancou risadas de todos.
"Ainda mato aquela menina! Quem ela pensa que é para dar em cima do MEU MASQUINHA!!" pensou recompondo-se e controlando sua raiva. - Ainda quebrei a cadeira... - falou para si mesmo.
Perto dali, Máscara comenta: - Não foi o Afrodite que caiu da cadeira ali? - contendo-se para não rir do cavaleiro.
- Foi... Xiii... Acho melhor eu ir lá! Até outra hora! - despediu-se e chegou perto do mestre que mantinha uma cara de poucos amigos...
- Terminou o aquecimento, mocréia? Ou veio rir de mim na minha cara? - perguntou sarcasticamente.
- Já o terminei. E não gosto de rir na cara das pessoas. - falou seca. - Por que caiu?
- Porque a gravidade me atraiu para o chão, não vês?! - falou irônico. - "Se tu não estivesse usando essa porcaria de máscara, eu te daria um tabefe!! Para não se meter mais com o meu masquinha!!!" - pensou Afrodite num sorrisinho de lado.
- Perdoe-me, mestre! - falou fazendo uma reverência mais irônica ainda.
- É muito engraçadinha... mas agora faça 300 flexões! - falou juntando os pedaços da cadeira destruída.
- O QUÊ?! TREZENTAS FLEX'ES?! PARA QUE ISSO?! - perguntou furiosa.
- Para deixar de responder ao seu mestre!
- Mas...mas... - desistiu de reclamar, e por um momento desejou saber fazer rosas bem espinhentas e espetar-lhes em sua cara. Hoje parecia que os treinamentos eram de propósito, para irritá-la.
Depois de terminar as trezentas flexões, Cypria desabou no chão e sem forças pensou em dormir um pouco, mas...
- Levante-se! Agora vamos até o jardim. - Afrodite a cutucou com o pé, fazendo acordar.
- Só mais cinco minutos.. - pediu ela para descansar. Afrodite ameaçou arrasta-la pelos cabelos até o jardim da casa de Peixes, mas antes de fazer-lo, ela levantou-se e seguiu com ele até o jardim.
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No jardim, Afrodite parou quieto por alguns instantes, como se estivesse a refletir sobre algo sério. Remexeu numas caixas e colocou-as perto da pupila. Estavam fechadas, e pareciam ser pesadas. "Agora ela vai me pagar pelo que tem me feito."
- Para que essas caixas, mestre? - perguntou Cypria.
- Para lhe ajudar no próximo exercício que vou mandar fazer. - falou sério.
- Como assim?
- Você vai LIMPAR O JARDIM, e para isso dentro dessas caixas tem umas ferramentas, e adubos.
- Hã?! Acho que não escutei direito. LIMPAR O JARDIM?! - perguntou surpresa.
- Isso mesmo. Para lidar com flores, tem que se saber limpar e organizar o local de trabalho. Por isso, limpe o jardim para amanhã eu começar com verdadeiro treinamento. - falou com ironia tirando do bolso uma serrinha de unha. - Ai! Quebrei uma unha!! Meu Zeus!!!
- Verdadeiro treinamento? E hoje foi o quê?!
- Aquecimento, como eu lhe disse de manhã cedo. - manteve sua atenção na 'unha destroçada'.
- Grrr... NÃO ACREDITO!! TÁ PENSANDO QUE EU SOU IDIOTA, É?!
- Sim. E não me aborreça, faça sua tarefa, m-o-c-r-é-i-a...
Por ser uma pessoa prestativa e pacifista, Cypria começou seu trabalho sujo. Mesmo a contra-gosto. Arrancou algumas ervas daninhas, varreu o chão, podou algumas plantas e flores, enfim o jardim tornou-se outro. Bem cuidado e bonito.
- Terminei. - falou enxugando a testa com a mão.
- Não terminou não. Faltou por o adubo. - falou Afrodite levantando a vista de leve, ainda serrava as unhas.
- O adubo? Não o encontrei por isso...
- Está ali! Dentro da outra caixa! - apontou para uma caixa perto de Cypria. - Adube o jardim e poderá descansar por hoje.
Cypria abriu a caixa e torceu o nariz, era esterco da vaca, bem fedido por sinal. - Esse esterco de vaca? - perguntou fazendo uma careta.
- Sim. - respondeu Afrodite escondendo um leve sorriso irônico.
- Tem umas luvas? Ou uma pá, ou qualquer coisa que eu possa usar? - perguntou vasculhando o local com os olhos.
- Não. Use as mãos.
- O QUÊ?! USAR AS MÃOS?! Mas isso é muito fedido. - argumentou.
- Não tem problema, e não tem outra coisa. Use as mãos e adube o jardim.
- NÃO FAÇO! VOU PROCURAR A SAORI, ISSO NÃO ESTÁ CERTO! NÃO VOU FICAR AQUI, AGUENTANDO ORDENS ABSURDAS DE UMA BICHINHA MAL-AMADA COMO VOCÊ!!! - falou perdendo o controle.
Afrodite que mantinha uma expressão indiferente mudou drasticamente, tornou-se sério, até sombrio. "Bichinha?! Isso é jeito de me chamar? Eu sou um cavaleiro de ouro!!", pensou indignado com tamanha ofensa. Olhou-a no canto do olho, e num gesto um tanto delicado apontou-lhe uma das mãos e a atacou com milhares de rosas piranha, cheias de espinhos.
- Aprenda que sou um Cavaleiro de Ouro e mereço respeito por isso. Não me ofenda com esse tipo de palavra. Não sou bichinha, sou gay mesmo. Faça o que mandei. - saiu do jardim em passos lentos.
Cypria estava caída no chão, ferida e acompanhada de milhares de rosas. Estava só, e cada arranhão que sofrera com os espinhos das rosas lhe doía muito. Um misto de indignação, raiva e arrependimento formavam um turbilhão dentro de si. Se ao menos pudesse sair desse maldito Santuário e voltar para sua casa, seu lar. Não. Havia prometido aos seus pais que voltaria vitoriosa, e quem sabe talvez com uma armadura de Athena, realizando o sonho de seus pais. Não poderia desistir, e perder. Não tendo saída, ainda sentada no chão, Cypria desmanchava-se em lágrimas.
- Isso não vai ficar assim, quem ele pensa que é para me maltratar? - perguntou para si própria. E não obteve resposta. Levantou-se, terminou o jardim e voltou para o seu quarto na casa das Amazonas.
Foi recebida por Marin, a única que estava a lhe tratar bem nesses dois dias no Santuário. Marin olhou para Cypria e preocupada perguntou: - O que aconteceu? Você caiu numa roseira assassina?
- Mais ou menos isso. É uma longa história...
Continua...
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N/A:
Oi!!!! Essa fic está me saindo muito complicada! Hehheeh.. Adorei os reviews!! Muito obrigado! Fico feliz em saber que sou reconhecida... :P Bem...
lonestar karina: Para mim também não soa tão estranho assim, Afrodite com uma garota. Só é pouco explorado. Muito obrigado pelos elogios!! Beijinhos!!
Pandora-Amamiya: Pode ter certeza, menina: "O SANTUÁRIO NÃO É UM LUGAR SEGURO, NÃO... PORQUE PARA MIM AJOELHOU TEM QUE REZAR!!"... hehhe.. E Afrodite mostrará suas garras neste fic!!
Luka Mel: Obrigada pelo seu review, e se eu conseguir um nível na fic, a idéia de Afrodite com uma garota se tornará muito interessante...
Meliane: Hum... acho que a Cypria ainda vai sofrer um pouco mais... Porém... ah! Só lendo para saber!! Obrigado por seu review!!
Yoshino: Acho que agora me considero corajosa! E o jeitão de Afrodite não é tão de propósito... talvez até fosse a personalidade delicada dele. Espero que goste deste segundo capítulo. Obrigada por sua review!
Gente, é só! Agora começarei o próximo capítulo... Até lá!!
Kourin-sama.
(P.S.: Mudei de email! Agora é kourinsamahotmail.com )
