"Afrodite treina uma aprendiza na poderosa arte das rosas, mas será que no final ele conseguirá se separar dela, ao descobrir algo diferente em si próprio?"
As rosas não falam
Capítulo 3 - Passeio na cidade
- O que aconteceu, Cypria? - perguntou Marin preocupada.
- É uma longa história...e ai! Esses arranhões estam doendo muito... - disse parando em frente do espelho da sala. - AH!! PARECE QUE SAÍ DE UMA GUERRA!! ESTÁ INFLAMANDO!!
- Tenho uns remédios aqui. Mas só os passe depois de um banho, hein? - falou sorrindo entregando-lhe uma caixa com o desenho de uma cruz vermelha.
Meia hora depois, Cypria vai até a cozinha guiada por um maravilhoso cheiro, Marin estava fazendo o jantar.
- Hum! Cheiro gostoso... - comentou Cypria puxando uma cadeira da mesa e sentando-se.
- Estou fazendo um yakisoba. E...o sistema de cozinha é rotativo aqui, viu? Amanhã é sua vez!
- Nossa...Vocês vão ganhar umas banhas rapidinho.. - sorriu discretamente. - Modéstia à parte eu sou uma ótima cozinheira.
- Shina também disse isso no começo e foi um desastre! Quase morri de fome!! Espero que seja diferente dessa vez. - desligou o fogão e serviu a comida em dois pratos. Aproveite que está quente! Adoro esse tipo de macarrão com Shoyu.
- Eu preferia azeite. Mas vou experimentar. - terminou a frase pondo uma garfada generosa na boca.
Marin também saboreou o prato feito por ela mesma. "Sempre tostadinho!", falou para si própria quando se lembrou: - Cypria! Você ainda não me disse o porquê de chegar do treinamento toda ferida...
- Nem eu mesma entendo o que aconteceu.
- Como assim? Você não caiu nas roseiras? Não me diga que...
- Isso mesmo! - ela parecia adivinhar os pensamentos da amiga, que a olhava surpresa, então comentou: - foi o meu mestre que me feriu.
- O Afrodite??!
- Sim. Só não sei o motivo que o levou a fazer isso... Já que a razão em reclamar é minha.
Marin permaneceu calada, e depois comentou: - Estranhou isso. O Afrodite é tão doce que não faria isso sem motivo. Mesmo sendo seu mestre, ele não pegaria tão pesado. Você o desobedeceu?
- Não de cara. Mas reclamei das tarefas que ele me impôs! - o ódio estampou-se no seu rosto.
- Que tarefas?
- Correr demais no campo, fazer muitas flexões e principalmente limpar a droga do jardim dele e ainda adubar o chão com esterco de vaca usando as mãos! - respirou fundo e procurou controlar-se tomando um gole de suco.
- Esterco de vaca??! - Marin ainda a olhava surpresa.
- Sim!! SIM!!! ESTERCO DE VACA!!! AQUELA BICHINHA DESGRAÇADA!! - gritou Cypria.
- Mantenha a calma. O Afrodite que eu conheço não faria isso se não tivesse um bom motivo... - pôs o dedo sobre a boca numa expressão de dúvida. - O que você fez para ele? Ou melhor, o que será que o fez ficar com raiva de você?
- E eu lá ou saber!?
- Hum...seria bom que você soubesse. Ou então treinar com ele vai ser impossível!
- Eu preferia nunca mais falar com ele. Mas prometi para minha família que voltaria Amazona de Athena, então, tenho muito chão ainda. - levantou-se da mesa sem nem ao menos terminar o prato de macarrão. - Desculpe-me Marin, o macarrão está uma delícia, mas esse assunto me fez perder o apetite. Vou dormir.
- Tudo bem. Eu entendo. Vou procurar descobrir o motivo desse comportamento. E...Cypria! Amanhã é dia de folga!
- Eu sei. Graças a Zeus. - disse antes de sair da cozinha.
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O sol clareou com seus brilhantes raios a manhã do dia seguinte. Cypria acordou cedo, e resolveu ajeitar umas coisinhas no seu quarto. Sua mala ainda estava jogada num quanto do quarto, afinal fazia apenas dois dias que ela havia chegado no Santuário. Depois de muito trabalho, enfim terminou. Como hoje é seu dia de folga, decidiu passear na cidade.
Chegou perto dos portões do Santuário e foi barrada pelos soldados que guardam o portão.
- Aonde vais? - um deles perguntou.
- Vou a cidade. Hoje é meu dia de folga, e sou apenas uma aprendiza. - respondeu.
Após uma vistoria feita pelos soldados em sua bolsa, o mais alto falou: - Uma mocinha assim tão jeitosa não deveria andar por aí sozinha... Fora do Santuário as coisas são mais perigosas... sabia?
- Não me importo, sei me defender sozinha. Poderia abrir o portão ou está difícil?
- Com todo prazer, gostosona... - piscou o olho e quando ela passava na porta, passou a mão na bunda.
Cypria virou-se para trás e com sua grande bolsa acertou-a no rosto do soldado que caiu no chão desacordado. O outro soldado olhou boquiaberto o amigo cair no chão apenas uma bolsada de mulher. Voltou-se para ela e a olhou mais uma vez: - O QUÊ QUE VOCÊ TEM AÍ DENTRO? CHUMBO?
Ela olhou para o soldado, sorriu levemente por debaixo de sua máscara de amazona e antes sair, falou: - Aprendam a não mexer com uma mulher! Sou uma moça de respeito, e não é qualquer um que se aproveita de mim!!
"Humpt! Era só o que me faltava!!" pensou irritada, olhando com desgosto para o lugar que camufla a entrada do Santuário. Um bar de quinta categoria que fede a mofo e é cheio de homens bêbados e chatos por todos os cantos. Aqui é o lugar dos cavaleiros, onde eles se reúnem para tomar uma bebida e se distrair. Tudo patrocinado por Athena. Os lucros do lugar vão diretamente para as mãos do Grande Mestre, que é o dono do estabelecimento.
Atravessou a rua e nossa... era o mundo normal! Fazia dois dias que ela estava num lugar em que o tempo parou, tudo remete a Grécia Antiga e agora teria um dia inteiro para descansar. A primeira coisa a fazer era tirar aquela máscara de amazona, lhe incomodava bastante. Fora do Santuário ninguém lhe reconheceria.
Alguns quarteirões depois, ela já tinha nas mãos algumas compras: umas roupas (cafonas...tsc tsc..) e uma sandália nova (pois a outra fazia-lhe calos terríveis!), além de alguns objetos de uso pessoal.
Nesses dias uma feirinha de artesanato e diversão com oráculo divertia a todos na praça central. Peças feitas à mão, vasos gregos decorados como peças de museu, entre outros artefatos.
"Adorei estas blusas!", falou para si mesma ao sair de uma das lojinhas da feira. Blusas brancas com detalhes na gola, presas por fivelas decoradas, tudo muito bonito. Ela olhou cada uma das banquinhas da feira e uma delas lhe chamou mais atenção. Era a barraquinha do oráculo popular, muito famoso na Grécia, desde a antiguidade. Todos que consultam o oráculo popular tem as mais impressionantes revelações sobre o seu destino.
Cypria entrou na banquinha e sentou-se numa cadeira. - Qual é o seu nome? - perguntou uma moça, de costas para ela.
- É Cypria. - respondeu meio insegura. Nem sempre as revelações sobre o futuro são boas. - Eu...eu só queria saber como será o meu futuro... será bom?
- Só se você souber que as aparências enganam. Sua felicidade está no mais errado e improvável. - respondeu-lhe a moça do oráculo. - Suas estrelas dizem isso para ti, moça. Escolhendo o errado, terás o teu destino nas tuas mãos.
Cypria escutou cada palavra com atenção, mas não conseguiu compreender o significado do oráculo. Saiu dali e lembrou-se de algo importante.
- Alô?! Mãe?
- Sim. É você, Cypria? Minha filha como você está? Está comendo bem, dormindo bem, emagreceu, ficou doente? - respondeu uma senhora de mais trinta anos, no outro lado da linha.
Cypria balançou a cabeça e sorriu, estava num telefone publico. - Mãe, eu estou bem. Não se preocupe! Como está o papai?
- Está bem. Com o velho problema dele..
- Ele não quer mais continuar o tratamento? - perguntou aflita.
- Não, ele está se tratando bem. Vou passar para ele, estava numa ansiedade que só vendo, sô! Morre de saudades de ti!
- Alô? Cypria, minha menininha você está bem? - perguntou o pai de Cypria. Um senhor idoso que sofria de labirintite, e estava quase surdo.
- ESTOU BEM PAI!! - gritou Cypria no telefone. Todos os que passavam no lugar na hora, olharam surpresos, ela corou de vergonha.
- Que bom filha.. O seu velho pai não vê a hora de ter você em casa de novo. Já aprendeu alguma coisa?
"Não posso dizer que até agora não tive uma aula decente..." - PAI! ESTOU APRENDENDO DEVAGAR, COMECEI HÁ POUCO TEMPO!!
- Oh, eu entendo... quando você começar a produzir as flores mande-as para cá!! Pode ser pelo telefone?
- NÃO PAI, MAS QUANDO EU CONSEGUIR MANDO-AS PARA O SENHOR! - respondeu com paciência.
- "timo filha, vou passar o telefone para sua mãe, ao se esqueça de mim!
- Cypria? Não deixe de nos ligar, viu?
- Sim, mãe! Tenho que desligar.. um beijão!!!
Cypria afastou-se do telefone e pensou nas palavras do seu pai: "Você já sabe produzir flores?" - Será que realmente serei capaz? Até agora não sei fazer nada... e meu treinamento é o mais absurdo possível... - falou para si própria.
Entrou num restaurante próximo, escolheu uma mesa na janela. Uma agradável brisa entra por ela. Cypria não gosta muito de lugares fechados, gosta do ar, do campo, e como sentia falta de seu lugar, de sua casa.
Era um restaurante tipicamente italiano. Cypria tinha uma descendência italiana herdada de sua avó materna. Talvez isso explique o fato dela gostar muito de massas e sentir-se atraída por homens italianos. Seus dois últimos namorados tinham uma ligação com a Itália.
O garçom aproximou-se com o menu do lugar, o restaurante é famoso por seus pratos de macarrão. Mesmo sendo pratos internacionais, o inconfundível tempero grego prevalecia dando um toque exótico aos pratos. O menu era consideravelmente grande, cobrindo-lhe o rosto.
- Este bilhete é para a senhorita, foi mandado pelo senhor da mesa em frente. Espero que aprecie os pratos do dia. - entregou-lhe o tal bilhete e saiu para atender a outra mesa.
Cypria olhou para o 'senhor' e voltou a cobrir o rosto com o cadárpio. O tal senhor era o cavaleiro de Câncer!
"És muito linda, ragazza. Meu telefone é 3869-3666. Carlo", dizia o bilhete escrito num guardanapo. Seus olhos pareciam pregar-lhe uma peça. "FOSTE DESCOBERTA, CYPRIA! ELE VIU O SEU ROSTO!" gritava uma voz em sua cabeça.
Ela abaixou o cardápio a fim de encara-lo mais uma vez, entretanto ele já não mais está a sua frente. Olhou pela janela que está atrás de sua cadeira e o viu saindo do restaurante com um saquinho na mão. "Ele leva os restos de comida para casa!", manteve-se observando e viu a cena mais fantástica de sua vida: Câncer dando comida à crianças de rua, e até rindo e brincando com elas! Pensou se era uma mentira a tenebrosa fama que ele carrega, um frio psicopata que não poupa nem as crianças. "Só pode ser brincadeira comigo...".
- Senhorita! Qual o seu pedido? - perguntou o garçom.
Cypria voltou-se para o garçom e pediu: - Eu quero esse prato aqui. - apontou no menu. - Er... aquele senhor que me mandou o bilhete, ele... ele vem sempre aqui?
- Toda a semana nesse mesmo dia. Em alguns minutos trarei seu prato.
"Hum... toda a senama. Será que ele me reconheceu? Não... isso seria impossível."
Depois de sair do restaurante, ela passou por uma floricultura, parou e decidiu entrar, pois algumas flores lhe haviam chamado a atenção.
Observou cada arranjo, cada flor com seus perfumes peculiares e a suavidade das pétalas. Seus olhos percorreram cada centímetro da loja, analisando cada planta ali vendida, sentiu-se em casa. Ela vendia flores com sua família, numa lojinha parecida em sua cidade, no interior.
Após cada pedacinho visto e revisto, seus olhos pararam num rapaz alto que escolhia uns potes de veneno para rosas.
"Hum... ele é até bonitinho!", pensou ainda olhando discretamente para o rapaz de costas.
O rapaz que tem os cabelos azul-piscina meio ondulados, presos num rabo de cavalo baixo, usa uma calça cáqui e uma camiseta branca que denunciava seu físico forte. Ele pôs as 'compras' numa cesta e dirigiu-se para o caixa.
- Senhor Afrodite! Vai pôr na conta como de costume ou vai levar à vista? Temos algumas novidades em mudas de flores, todas exóticas! - falou a balconista do caixa anotando as compras e somando o seu valor.
Afrodite sorriu e disse com uma voz estranha, mais masculina: - Vou levar à vista dessa vez, não se preocupe querida. Mostre-me as mudas novas, acho que vou levar algumas para minha coleção.
Cypria ouviu tudo, pois não que estivesse espionando, mas ficou curiosa em ver o rosto do rapaz que considerou tão apresentável. Ao ouvir o nome do seu mestre, arregalou os olhos e pôs a mão à boca. - Afrodite?! Não pode ser?! - falou meio abafado.
Ela saiu o mais rápido que podia da loja e até esbarrou numa velhinha que entrava no momento. Na agonia não percebeu que algo importante e precioso havia caído de sua enorme bolsa, sua máscara de amazona.
"Afrodite? Não acredito. Parecia um homem!! Se bem que... ele é um homem.", pensou confusa caminhando na rua. Passou por um parquinho, avistou um banco e sentou-se.
Pegou seu espelhinho de mão e olhou-se nele. - Você hein? Que dia! Na verdade que dias.. tudo aqui é diferente, e acho que não vou conseguir ficar muito tempo nesse lugar, o Santuário. - falou sozinha para sua imagem no espelho.
- Aquele era mesmo o Máscara da Morte? Não parecia, acho que ele não é tão 'sociável'... Deve ter sido alguém muito parecido. - passou a mão no cabelo tentando coloca-lo no lugar. - Essa é muito boa, eu com medo de mostrar meu rosto aos outros! Isso pode ser uma doença... - sorriu.
- Mas aquele realmente era o Afrodite? Pode ter sido outra pessoa... Se bem que nenhum outro teria esse nome, que é meio... meio feminino... - parou e olhou as pessoas que por ali passavam, todas comentando e apontando para ela, sentada sozinha conversando com um espelho no meio de uma praça. - "Nem ligo para vocês... humpt.", estirou a língua de leve.
- O que ele estava comprando? Era... era um potinho com o nome... nome... c-i-a-nu-reto?! O quê CIANURETO?! VENENO?! SERÁ QUE ELE VAI ME ENVENENAR?! Não... não vou pensar nisso... - sentiu-se tomada por um sentimento de medo, e lembrou-se que precisava chegar cedo no Santuário. Já estivera muito tempo fora. - Tenho que voltar...
Na loja, Afrodite saiu com vários pacotes de mudas novas nas mãos. Ele, literalmente deixou a 'loja sem novidades'... Quando passava pela saída da loja pisou em algo duro. Abaixou e pegou o tal objeto, surpreendeu-se com o que via. - Uma máscara de Amazona?
Ele olhou mais uma vez para a máscara e a reconheceu: - CYPRIA! Mas... o que a máscara dela faz aqui? Ela me seguiu?! Que cheiro de flores do campo... estranho...
Guardou a máscara e seguiu para o Santuário carregando várias sacolas de mudas novas, mudas de flores exóticas, mas em uma sacola ele carrega algo mais exótico ainda, a máscara de sua pupila.
Perto da entrada do Santuário, Cypria procura por sua máscara e não a encontra. Ela se desespera e liga para sua amiga: - Marin, eu... eu perdi a minha máscara! Não posso voltar para o Santuário.
- O QUÊ?! PERDEU A MÁSCARA? VOCÊ É LOUCA, CYPRIA?! - falou Marin do outro lado da linha.
- Não sei como isso aconteceu... guardei tão direitinho... e agora?! - falou com voz de choro.
- Põe um saco de papel na cabeça, e vem.
- UM SACO DE PAPEL?! - gritou.
Marin riu com a preocupação da amiga. - Não se preocupe, eu levarei outra para você. Tenho umas coisas a fazer aí na cidade. Espere-me! Onde você está?
- Estou próxima à entrada do Santuário. Venha logo. - desligou o telefone.
No portão de saída do Santuário, Marin prepara-se para sair, quando esbarra em alguém. - Você não olha por onde anda?
- Heheheh... Não. - ele respondeu.
- Agora saí da minha frente! Máscara da Morte.
Ele sorriu e perguntou: - Onde está a sua amiguinha, a pupila de Afrodite? Eu gostaria de conversar com ela um pouquinho...
- Não sei. Agora saí da minha frente, por favor!
Continua...
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N/A:
Oiee!!! Gente algumas coisas eu acrescentei por me basiei no Episódio G!! Como por exemplo, a entrada do Santuário, mas... eu coloquei uns toques pessoais nisso...
Espero que tenham gostado deste capítulo... prometo que o próximo sairá mais rápido...
Bem, meus sinceros agradecimentos à Meliane, Lonestar Karina, Megawinsone e Mari Marin por seus reviews, e sua atenção! Obrigado mesmo!
Até o próximo capítulo!
Kourin-sama.
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