Capítulo cinco – Adeus
Dizer adeus é muito mais difícil e penoso. Conhecer pessoas, fazer com que elas se tornem amigas e confidentes é muito mais fácil, do que despedir-se. Haveria um amanhã, ele tornaria a vê-las, mas não com tanta freqüência e intensidade.
Na manhã seguinte, ele arrumou as suas coisas vagarosamente, aproveitando os últimos minutos que passaria ali. Tantas lembranças, sua vida estava impregnada por todo castelo. Rapidamente, falou com o professores e recebeu bastante votos de "boa sorte".
Pensou em Melane, não queria despedir-se dela, mas era preciso. Nem ele entendia porque a amava daquela forma, avassaladora. Eram os opostos. Ele a escuridão, ela a luz e um completava o outro.
Não existiria som se não houvesse o silêncio
Não haveria luz se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim...
Dia e noite. Não e sim
Sabia onde a encontraria e ficou feliz de estar certo. Ela estava no mesmo lugar de onde, sentada próxima a margem do lago.
- Hey, Melane... – disse ele, colocando a mão no ombro da garota. Ela virou-se e exibia um sorriso tristonho.
- Que foi? Já é a hora de partir?
- Também... Eu vim até aqui para dizer tchau.
- Quem ouve pensa que não vou te ver no expresso...
- Sem toda aquela indiscrição, com os outros ouvindo o que só você tem que ouvir – ele contou sério.
Cada voz que tanto amor, não diz tudo que quer dizer
Tudo que cala fala mais alto ao coração
Silenciosamente, eu te falo com paixão
- Nem sei como lhe dizer isso...
- Diga – disse Melane ansiosa – De qualquer jeito, mas fale.
- Eu não posso ficar com você. Simplesmente não posso – disse ele rapidamente.
- Anh? – ela resmungou.
- Eu não posso Melane... Por mais que goste de você. Existem coisas que você não sabe e que me impedem de ficar com você.
- E quais são elas? – perguntou ela, contendo as lágrimas. – Porque se forem meus pais, você sabe muito bem como eu cuido deles. Aliás, eles não tem nada haver conosco.
Eu te amo calado como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz
Nós somos medo e desejo
Somos de feitos de silêncio e sons
Tem certas coisas que não sei dizer
Antes fossem os pais de Melane, aristocratas demais, que o impedissem. Mas não era. Estava sendo duro para ele, conter todos os seus sentimentos quando conversava com Melane. Quando a cada palavra que ele mencionava, estraçalhava o coração dela, porque o seu já havia parado de bater desde o momento que havia tomado aquela dura decisão. De terminar uma coisa que mal havia começado. Não expressar sentimento algum, transforma-se em uma parede de ferro, sendo que estava se desmanchando por dentro e contendo as lágrimas.
A vida é mesmo assim...
Dia e noite. Não e sim
- Eu não estou entendendo aonde você quer chegar. O que está acontecendo com você? Quem sabe eu posso te ajudar.
- Não, você não pode. Ninguém pode e não quero que as coisas fiquem difíceis.
- Elas já estão – corrigiu Melane, com um sorriso nervoso. – Tem medo de quê?
- Eu não tenho medo algum, apenas não posso.
- O que te impede então, Remo? Não consigo entender estas coisas que você NÃO me explica. Tudo tem explicação, porque você não quer me contar?
- Nem tudo tem explicação, Melane – disse ele se aproximando e tocando o rosto moreno da garota.
- Me conte... Eu nunca conheci uma pessoa que tivesse o olhar mais triste com o seu. Sua vida é cheia de mistérios, porque você não os reparte comigo?
- Porque você não entenderia. Ninguém entende, nem eu mesmo.
- Então você me acha infantil demais para ouvir ou entender algo? – perguntou se afastando. – Melhor que acabe por aqui mesmo – e enxugou as lágrimas rapidamente. – Como posso amar um homem que tem medo de... De me contar as coisas que lhe afligem? Como posso amar um homem que me acha uma criança que usa fraldas?
- Não é bem assim!
- Então prove o contrário! Não, você não é capaz – ela retrucou.
- Eu não quero brigar com você, Melane. Por favor!
Ela respirou fundo e se afastou ainda mais de Remo, como se tivesse medo dele.
- Você me ama? – ela perguntou.
Eu te amo calado como quem ouve um sinfonia
De silêncios e de luz
"É claro que sim", ele respondeu mentalmente. Era o que ele mais sabia fazer. Amá-la. Mas um amor calado, quieto, reprimido.
- Não – respondeu ela mesma. – Adeus Remo Lupin – e correu em direção do castelo.
Uma parte de si dizia para ele correr até Melane, contar-lhe tudo. Mas como sempre, a razão falava mais alto. Ele ficou a observando de longe, até tornar-se um ponto no imenso verde do jardim e sumir de sua vista.
Quem sabe um dia ela entenderia o porquê daquilo tudo. Quem sabe um dia, ele entenderia porquê o medo sempre falava mais alto que o amor. Ele não se aceitava do jeito que era. Um lobo. Tinha medo de perdê-la pra sempre. Melhor que ficasse magoada ao invés de temer a sua presença, com uma série de preconceitos e mitos.
Quem sabe um dia, ele poderia vencê-los também.
Nós somos medo e desejo
Somos feitos de silêncio e sons
Tem certas coisas que não sei dizer...
N/A: Música é de Lulu Santos, Certas coisas. Obrigada pelos coments!
