Capítulo sete – De volta para casa
- Sirius me contou sobre ontem – disse Tiago. – Devo concordar com ele, Remo.
Estavam na cabine do Expresso de Hogwarts, deixando a escola para sempre.
- Também percebi o seu estado... E Melane, com uma cara horrível. O que foi que aconteceu? Você quer conversar sobre isso?
- Não – respondeu Remo, olhando a paisagem na janela.
Tiago suspirou alto e olhou para Sirius.
- Do que estão falando? – perguntou Pedro, que até então não sabia de nada.
- Coisa do Aluado – respondeu Sirius restritamente.
Alguns minutos de silêncio, Lupin sentiu vontade de falar algo.
- O que vocês queriam que eu fizesse?
- A coisa certa a fazer – respondeu Tiago, encarando o amigo.
- E qual é a coisa certa a fazer?
- Contar a verdade – respondeu Sirius – Coisa que você não fez, ou seja, cagou em sua vida inteira e é suficientemente idiota de não sair desta cabine e conversar com ela.
Remo encostou-se no assento e passou a mão nos cabelos, que estavam bastante bagunçados.
- Você sabe muito bem o que acho, Aluado. Aliás, de nós quatro você sempre foi o mais racional, não sei porque está agindo desta forma – contou Tiago.
- Pontas, não é você que é um lobo sangüinário! – desabafou Lupin – Não está na minha pele, não sabe o quanto eu sofro com isso. Eu sou um...
- Animal – completou Pedro.
- Todos nós somos animais – falou Sirius, olhando severamente para Pedro.
- Você não é sangüinário! – Tiago falou – Achei que tinha tirado esta idéia da sua cabeça, mas vi que estava redondamente enganado.
- Não sou assim porque quero – ele disse, quando o trem deu um solavanco. Havia chegado em King's Cross.
Todos apanharam as suas coisas, o corredor do Expresso estava apunhalado de estudantes animados. Remo parecia ser o único a estar odiando tudo aquilo. Saindo do Expresso, encontraram Lílian, Rouge mas Melane não estava com elas.
Rouge o abraçou forte, com um sorriso triste e com lágrimas nos olhos. Então não era só ele que odiava as despedidas.
- Eu sei que não preciso dizer... Mas de qualquer forma, cuide-se – gesticulou Rouge.
- Pode deixar... – ele respondeu. – E você, cuida do tapado do Black.
- Eu não sou tapado – resmungou Sirius, bagunçando o cabelo de Lupin.
Olhou para trás e viu Rabicho aos soluços sendo consolado por Tiago e Lílian.
- Vem cá, deu rato fedorento. Me dê um abraço – disse Lupin, se aproximando e abraçando o amigo.
- Pare de chorar, parece uma menina! – disse Sirius bem alto, ao ponto que todos dessem risada.
- Ele é uma menina, só que extremamente feia – brincou Tiago.
Lupin abraçou Sirius fortemente, até ele ficou com vontade de chorar.
- Olhe lá Aluado... A família de Melane.
Ele olhou para trás, andavam em direção ao grupo, a procura de Melane.
- Você é Sirius Black, não é mesmo? – perguntou o Sr. Valentine. – Viu Melane?
- Não, eu não a vejo desde do embarque – contou Sirius.
Sr. e Sra. Valentine fingiram que não viram Lupin, que estava ao lado de Sirius.
- Sr. Valentine, Melane já foi – informou Lílian.
- Já foi? – perguntaram ao mesmo tempo Sr. Valentine e Remo.
- Já, ela foi uma das primeiras a sair do trem. Disse que estava com dor de cabeça e para que não se preocupassem com ela.
- Eu disse para ela nos esperar, mas parece que gosta de ser desobediente! Pelo menos a senhorita sabe se ela levava algum dinheiro?
- Provavelmente – respondeu Lílian.
- Muito obrigado senhorita Evans – agradeceu Sr. Valentine - Qualquer dia, apareçam em nossa casa, para tomar um chá com a nossa filha.
Quando o casal estava suficientemente longe. Rabicho comentou:
- Eles não gostam mesmo do Remo, né?
- Cala a boca, Rabicho! – exclamou Sirius, dando um tapa na cabeça do amigo.
- Mas é verdade... – concordou Remo, com um sorriso forçado – Bem, eu tenho que ir... Minha mãe está me esperando.
Despediu-se de Lílian e quando foi se despedir de Tiago ele lhe disse "Remo, os lobos também amam...".
A casa de Remo Lupin ficava extremamente longe de tudo e de todos. Não poderia viver em uma cidade, como Londres. Remo nunca poderia se dar ao luxo de Ter uma casa na civilização, sendo o que era. Imagine um lobisomem no meio de bruxos e trouxas. Por outro lado, já tinha se acostumado a morar naquele vilarejo.
No vilarejo, sua casa era a mais longe de todas, perto de um bosque que era onde passava as dolorosas noites de lua cheia. Ele pensou nisso bastante, enquanto andava em direção a sua casa. Desta vez, não haveria Almofadinhas, Pontas e nem Aluado para que fizessem companhia. Seria ele, a lua e sua dor.
Assim que abriu a porta de casa avistou sua mãe, cochilando em uma poltrona da pequena sala. Aproximou-se com cuidado e beijou o alto da testa de sua mãe.
- Mãe? – ele chamou baixinho, fazendo ela despertar e exibir um sorriso.
- Olá, querido... Eu acho que dormi um pouquinho – ela contou, passando a mão no rosto de Remo.
- Por que você não vai dormir em seu quarto? Quer que eu te leve até lá?
- Não, não! – disse levantando da poltrona – Fiz bolo de laranja para nós dois! – e caminhou para a cozinha – Vá tomar um banho, eu te chamo quando estiver pronto.
Da sala, ele observou sua mãe. Parecia ter envelhecido dez anos, desde a última vez que a tinha visto.
Francis era baixinha, tinha cabelos compridos sempre presos em um coque. E como estavam brancos os cabelos de Francis, que já tinham sido pretos feito carvão. Sua mãe estava envelhecendo à medida que ele se tornava um homem. Um homem triste e solitário, mas um homem. Apanhou sua mala velha e subiu para o seu quarto, que era bastante minúsculo. Uma cama, um armário velho e uma mesa redonda e atolada de livros se reduziam ao quarto de Remo.
Abriu a janela do seu quarto, a única coisa grande que existia ali e olhou o vilarejo de longe. Daqui alguns minutos a tarde cairia e o Sol, daria lugar a Lua. Sua eterna inimiga, mas não havia nada a temer, não era noite de lua cheia. De certa forma estava feliz, em casa e com sua mãe fazendo bolo de laranja. Mas ele sabia muito bem, que parte de seu ser havia ficado em outro lugar. Com uma pessoa que ao menos ele tinha se despedido direito...
Remo teve uma longa conversa com sua mãe, lhe contara que estava fazendo parte da Ordem da Fênix. Isso causou muitas lágrimas a Francis. Remo era seu único filho, sua família. Não era fácil lidar com aquela situação, para ambas as partes. Ele corria risco de vida, poderia morrer a qualquer momento e Francis ainda choramingava e rezava pelo filho. Remo ainda não sabia quando seria convocado, mas já vinha treinando. Havia passado no teste de aparatação (mais ainda não se sentia seguro para fazê-lo) e estudava noites a fio Defesa Contra as Artes das Trevas, maneiras como se defender.
Quinze dias haviam se passado bem rápido, tantas coisas para fazer. Tentar colocar a cabeça no lugar. Durante este tempo, Remo não deixou de pensar em Melane, seu coração doía. Quantas vezes havia se pegado escrevendo cartas para ela, pensando em visitá-la, em beijá-la mais uma vez. Mas, continuava irredutível, tentando se concentrar em outras coisas.
Ele estava na pequena sala de sua casa, lendo um livro de Poções (ele era péssimo em Poções) quando a porta se sua casa bateu forte. Eram Tiago e Sirius, ambos com um sorriso enorme no rosto.
- E aí, onde ela está? - perguntou Sirius, entrando e sentando-se no sofá velho que havia por lá.
- Oi pra você também, Almofadinhas - falou Remo, fechando a porta.
- Melane é louca mesmo... - comentou Tiago, sentando-se ao lado de Sirius.
- Do que estão falando? - Sirius e Tiago se entreolharam. - Hein?
- Melane não está aqui? - perguntou Tiago cautelosamente.
- Não, porque ela estaria? - rebateu Remo. - Por quê?
Sirius e Tiago entreolharam-se novamente.
- Bem... - começou Sirius - Melane fugiu de casa, nós achamos que ela estava "escondida" aqui.
- Deixou um bilhete para a Rouge que... - acrescentou Tiago, mas fora interrompido por Remo.
- O quê? - disse assustado - Como assim, fugiu?
- Fugindo oras! Arrumou algumas coisas e foi embora daquela casa... E que casa! Ela mandou uma coruja para Rouge, dizendo que estaria aqui, mas ela não deu as caras por aqui... - explicou Sirius.
- Os pais dela sabem sobre o bilhete? - interrogou Remo, franzindo o cenho.
- É claro que não, Aluado! - falou Tiago rapidamente - Ela fugiude casa e agora... - Tiago suspirou fundo e passou a mão nos cabelos bagunçados - Os pais dela colocaram um monte de gente para procurá-la.
- Logo eles aparecerão por aqui, então - concluiu Remo, ficando mais preocupado. - Porque ela não veio logo aqui? Há quantos dias está sumida?
- Desde o dia que chegamos da escola. Mas... Eu não me preocupo não - falou Sirius, tranqüilíssimo - Melane sabe se cuidar, aquela coruja foi um sinal de vida para que nós não ficássemos tão preocupados assim.
- Ela não sabe se cuidar, Almofadinhas - protestou Remo - Eu vou procurá-la!
Sirius sorriu malicioso e cutucou Tiago, que logo sorriu também.
- Pra quem não queria nada com ela, o senhor está me saindo bem preocupado - alfinetou Sirius, com um dos seus sorrisos enormes na boca. - Ela aparece, 'cê vai ver.
- Quinze dias são quinze dias! - exclamou Remo - E não tenho que ficar discutindo a minha relação com Melane com você, Sirius! Você é o homem mais enrolão que conheço, e a Rouge?
Sirius fez careta e Tiago deu risada e perguntou:
- Onde está a sua mãe?
- Dormindo... Ela anda um pouco doente - contou indo para cozinha - Está na hora dela tomar a poção...
- Tá vendo, se Melane estivesse aqui ela poderia lhe preparar a poção - falou Sirius, indo para a cozinha também - O que ela tem?
- Uma gripe forte.
- Gripe? Estamos no verão - estranhou Sirius. - Isso é normal?
- Isso é o que me preocupa... - ele desabafou - Minha mãe é a minha única família.
Dizendo isso, Remo percebeu os olhares tristes de Tiago e Sirius sendo lançado a ele. Continuou a acrescentar os ingredientes no pequeno caldeirão e ouviu os passos de Tiago indo para cozinha, logo depois sentiu o peso da mão do amigo em seu ombro.
- Nós somos a sua família também, Aluado.
N/A: Comentários! Não briguem comigo pelo Remo sofrer tanto, ele vai melhorar... Vai demorar um pouco, mas vai! :-)
