Capítulo nove - Remo e Lílian
Definitivamente Remo tinha que aprender a descontar todo o rancor, ódio e tristeza que tinha dentro de si naquele momento. Seu estômago doía de nervoso, a cabeça latejava. Olhou para os lados, lá estava ele no coração do bosque que ficava próximo a sua casa.
Conhecia aquilo como a palma de sua mão, cada árvore, arbusto e alguns dos animas que lá moravam. Sentou-se no chão duro, apoiando-se em uma árvore, apanhou uma pedra e jogou longe. Como se o arremesso lhe fizesse algum bem. Como se todos os sentimentos angustiosos que sentia naquele momento, fossem embora junto com aquela pedra. Mas eles não iriam embora tão cedo, acumulariam junto com os outros que já faziam parte de si.
Então era isso. Melane não gostava de lobos. Ao pensar isso, Remo rui nervoso. Cada dia aquele amor por ela se tornava mais impossível. A cada obstáculo ele se tornava mais forte e sufocante.
Ele olhou para suas mãos. Vendo-as daquele jeito, parecia um homem normal, com seus dezessete anos. Mas por trás daquela mão de dedos cumpridos, moravam garras que só deixavam-se mostrar quando a imensa lua cheia tomava conta do seu azul escuro. Quando ele deixava de ser Remo J. Lupin e se tornava um lobisomem que tanto odiava.
Sua pequena esperança de ter Melane havia ido embora no instante que ouviu de Kian: quando minha filha souber de sua anormalidade, vai desejá-lo nunca ter lhe conhecido. Meu filho mais velho, Patrick morreu. Ele foi atacado por um lobisomem.
Destino cruel de Remo... Se apaixonar por uma garota, cujo irmão havia sido morto por um lobisomem, um igual a ele.
- Deus! - ele clamou, com as mãos trêmulas cobrindo o rosto - Porque faz isso comigo? Por quê?
Ele pode ouvir sua voz se dissipar pelo bosque. Todas as pessoas passavam por dificuldades e obstáculos, mas no final havia uma esperança, um traço de felicidade. Remo não conseguia ver nada em sua vida. Contava nos dedos quantos foram os momentos realmente felizes que teve ao longo de seus dezessete anos. Não conseguia enxergar uma luz no fim do túnel, um fio de esperança. Nada. Tudo era preto e frio. Triste e escuro.
Até quando duraria aquilo? Um dia feliz para cinco anos infelizes.
Nem ele soube quanto tempo ficou sentado no bosque. Já era escuro, podia ouvir as corujas, barulhos por de trás dos arbustos. E lá estava Remo, perdido em sua tristeza que não parecia ter fim. Foi quando pensou em sua mãe, deveria estar preocupada com a sua ausência.
Caminhou até sua casa, era uma longa caminhada pois estava no coração do bosque. Quando abriu a porta de sua casa, lá estava sua mãe sorrindo aliviada por ver o filho voltar para casa.
Ao lado de Francis, estava Lílian sorrindo aliviada também.
- Por onde esteve, Remo? - perguntou sua mãe, pulando da poltrona que estava sentada - Os meninos estão procurando por você - acrescentou, abraçando-o forte.
- Eu estava andando por aí, não tem porque vocês ficarem preocupados comigo - explicou, soltando-se dos braços de sua mãe.
Francis olhou o filho desconfiada.
- A senhora deveria estar deitada, de repouso - acrescentou Remo.
- Lílian me contou o que aconteceu - falou a mãe, sem rodeios - Não tente enganar a sua própria mãe. Sabia que aconteceria alguma coisa, eu lhe disse antes de sair.
- Eu estou bem... - falou olhando para Lílian - Estou bem. Só preciso de um banho.
- É difícil tirar as coisas de você, meu filho! - passou a mão no rosto preocupado - Vá tomar seu banho, depois desça e coma alguma coisa. Saco vazio não pára em pé - disse andando para a cozinha.
Remo passou por Lílian, que segurou o braço do amigo.
- Não me diga que está tudo bem, porque não está - ela falou rapidamente, arrastando o amigo pela escada - Quer você queira, quer não nós vamos conversar.
Entraram no pequeno quarto de Remo, que sentou-se na cama.
- O que está pensando? - Lílian perguntou enquanto fechava a porta.
- Em como estou cansado...
- Em como está triste, você quer dizer? - rebateu a ruiva, olhando os olhos tristonhos do amigo - Sabe, eu não tenho nada para te dizer, que te anime. Mas... Aquele pai da Melane é um idiota, estúpido e grosseiro. Só pensa em como pode ficar mais rico, em dinheiro e de quanto lucrará no Natal.
Remo sorriu fraquinho.
- Você sabia sobre a história do Patrick? - ele perguntou. Lílian pareceu apreensiva e sentou-se ao lado dele.
- Bem por cima... - ela contou. - Uma vez Melane estava imensamente triste, era aniversário de Patrick. Ela me contou que ele havia morrido em um acidente, salvando a vida dela. Não entrou em detalhes, só disse que fora um acidente, que ela era culpada de tudo. Nem eu quis saber de detalhes, porque ela estava chorando muito. Foi a primeira e única vez que a vi chorar daquele jeito. Assim como foi uma surpresa para você, foi para mim também.
Lupin respirou fundo e tentava controlar suas emoções para que elas não se tornassem lágrimas.
- Aquele idiota só falou aquilo para te magoar, Melane não consegue guardar rancor de ninguém. Não é próprio dela, sabe? - falou Lílian, apanhando a mão fria de Remo - Nem do Malfoy ela tem raiva e olha que aquele Lúcio enche a paciência dela. Então, não se preocupe tanto com isso... Você não tem culpa do acidente e nem ela. Ela gosta de você deste seu jeito, sendo um lobo ou um cara estudioso - Remo sorriu levemente com o comentário de Lílian - É questão daquela maluca dar as caras e vocês dois conversarem. Como adultos, você fala o que tem a dizer e ela o mesmo.
- Assim parece tão fácil, Li - comentou Remo, apertando a mão da amiga - Mas quando eu a vejo, travo.
- Remo, entenda uma coisa. Melane ama você. Eu falo sério, não é pra te consolar. Realmente gosta de você. Se ela não desse tanta importância a você, acha que o pai dela ficaria pesquisando sobre a sua vida, seus pais? Claro que não! Sempre insistiu que você fosse a casa dela, sempre. De onde vem toda aquela insistência? Aposto que saiu de casa daquele jeito, por sua causa.
- Não me fale isso, vou me sentir mais culpado do que já estou.
- Mas é verdade! - insistiu Lílian com os olhos brilhando - O único modo que ela encontrou de... De ficar junto de você, foi largando a casa, o conforto.
- Você já sabia que ela iria fugir? - perguntou desconfiado. Ela respondeu em um sorriso.
- Ela me deu a entender, na brincadeira. Na última noite na escola, eu, Rouge e Melane invadimos a cozinha e conseguimos cerveja amanteigada. Melane colocou alguma coisa na cerveja, ficamos meio bêbadas.
- Vocês três...
- E ela disse na brincadeira, que fugiria de casa pra poder fazer o que quisesse e ficar com quem quisesse - contou em um sorriso - Acho que ela não estava brincando.
- Os bêbados não mentem...
- Então, o que vai fazer? - perguntou Lílian, esperançosa.
- Lílian, não há nada para fazer! Vou continuar aqui, na minha casa. Não há nada para se fazer - ele repetiu, um pouco exaltado - Esta história nunca daria certo. Digo... - ele respirou fundo - Simplesmente não quero sofrer mais. Dói aqui dentro - e colocou a mão de Lílian sobre o seu coração - Machuca... Cada dia aparece alguma coisa que me mantém mais distante dela. Os pais, o irmão morto, a diferença social, o fato de eu ser um lobo. Não quero mais saber de sofrer, já não chega a minha mãe e as minhas dores na transformação. Chega, Li. Por mais que eu a ame... Não daria certo.
- Você já tentou?
- Já! - respondeu rapidamente.
- Então tente de novo - ela disse se levantando. - Vá tomar seu banho. Tenho que voltar para a casa...
Remo levantou-se e recebeu um abraço amigável de Lílian. Só havia uma coisa melhor que aquele abraço confortante e consolado de Lílian. Os lábios de Melane junto aos seus e infelizmente, ele não tinha certeza de quando seria consolado por eles novamente.
Finalmente Remo havia entrado de vez na Ordem da Fênix, não participava da frente de batalha, ele quem ajudava nas estratégias de combates. Lílian trabalhava no mesmo setor que ele, fazendo assim um companhia ao outro.
Foram meses estranhos, que passaram em piscar de olhos. Tantas noites mal dormidas, pesadelos, um certo medo lhe percorria ao deixar sua mãe sozinha em casa. Mas era preciso, estava ali para tentar acabar com Voldemort, para segurança de sua mãe e de todos aqueles que gostava. As batalhas foram se intensificando e as mortes também.
Era ele quem segurava a mão suada de Lílian toda vez que Tiago entrava em combate, era ele também que enxugava as lágrimas desesperados de Lílian e transformava-as em um sorriso fraco.
As noites de lua cheia eram bastante solitárias. Ele, a lua e sua dor. Algumas vezes Tiago aparecia em forma de cervo, outras ele percebia os olhos do cachorro em que Sirius transformava-se, perdidos no meio da escuridão. Não era sempre que isso acontecia, porque estavam todos envolvidos com a guerra contra Lord Voldemort. Ficava feliz, sentia-se menos sozinho.
Mas algo de inesperado havia acontecido. Remo recebia os cuidados de sua mãe, pois quando era a semana de lua cheia sua saúde era péssima. Gripe, febre, dores de cabeça e cansaço. Estava deitado na cama quando sua mãe lhe entregou uma carta. "Carta?", perguntou-se quando Francis estendeu o envelope pardo.
Era uma carta de uma editora, que havia se interessado em seus poemas. Desde que tinha quinze anos, quando Rouge havia descoberto dentro dos livros de Remo, alguns poemas que ele escrevia a esmo. Desde então, Rouge lhe incentivava para que mostrasse para os outros, uma forma de ter seu trabalho reconhecido e quem sabe, ganhar algum dinheiro com aquilo. Demorou para ser convencido, no momento achou que seria fácil. Doce ilusão, foram muitos os "não" e críticas que ele via recebendo ao longo dos anos. Tanto que já havia desistido, aquela não era uma boa forma de ganhar dinheiro e no fundo, aquilo eram coisas dele e sentia-se envergonhado quando alguém lia seus poemas, sonetos e contos.
O que lhe chamou atenção é que não era uma editora de livros bruxos, mas uma editora de livros trouxas. Ele não se lembrava de Ter procurado no meio trouxa, mas não importava como e porque seu trabalho havia chegado lá, mas sim que finalmente tinha conseguido sucesso em alguma coisa.
Marcaram uma entrevista, Remo levou mais rascunhos, tentou parecer o mais normal possível.
Não gostaram de sua aparência, de seu nome e nem de como falava. Mas gostavam do que ele escrevia. Então, os livros seriam publicados como J. Lupin.
Ele odiou, não gostava muito de Jonh, mas os trouxas queriam daquele jeito. Pediram que ele nomeasse o livro de poesias. Remo, envolvido demais no mundo mágico acabou esquecendo deste "detalhe", a editora nomeou como "Os últimos poemas". Nem precisa dizer que ele odiou o título, mas desta vez era o culpado.
O lucro com as vendas eram pequenos, mas ficou feliz de que alguém na Inglaterra havia comprado seu livro, isso o deixava orgulhoso.
- Remo... - resmungou Lílian cansada, com a cabeça apoiada em uma pilha de livros. Estavam pesquisando sobre poções para encolher, na Biblioteca Nacional - O que acha se fizermos o casamento em sua casa?
Ele parou de folhear o livro e olhou assustado para a amiga.
- É... Onde você mora é bonito. Igreja é tão... Tradicional - comentou levantando a cabeça dos livros e olhando esperançosa para o amigo - Assim, casamento em campo, verde! Eu e Tiago queremos uma coisa simples mas bonita, então nada mais simples do que um casamento em ar livre.
- Em minha casa? - perguntou achando estranho a idéia de Lílian - Minha casa é um pouco pequena, não acha?
- Eu e Tiago vamos nos casar e não morar em sua casa. Além do mais Remo, eu adoro aquilo lá. - e suspirou apaixonada - Tiago também. Quintal enorme, um bosque...
- Andaram namorando por lá? - perguntou voltando os olhos para o livro "Poções avançadas".
- Não! - respondeu vermelha - Nós fazemos umas tendas! - falou retomando o assunto do casamento - Flores, muitas flores! Vamos lá, Remo! - pulou e agarrou o amigo - Vai ser lindo!
- A questão não é esta, por mim tudo bem. Mas...
Lílian não o deixou terminar, berrou tão alto e começou a encher o amigo de beijos. E isso chamou atenção de todos os presentes na biblioteca.
- Certo, certo, Lily. Estava tentando dizer que minha casa é pequena - falou com a voz abafada, porque ela ainda o abraçava.
- Ai, Remo - e finalmente o soltou - Vamos lá, ao trabalho! Ninguém pode mais comemorar, não? - ela perguntou para as pessoas presentes com uma voz feliz. Remo a puxou para a cadeira.
- Temos que acertar isso e você, vê se me ajuda... - Remo disse baixinho - Eu odeio poções...
- Poções - repetiu - Melane gostava disso...
Remo parou por um instante ao ouvir o nome da garota, que não havia dado mais sinais e continuou a ler o livro empoeirado. Depois, sentiu os olhos verdes da amiga fitando-o. Desde o dia que esteve na casa de Melane, nenhum de seus amigos mencionava qualquer coisa que fizesse Remo lembrar-se dela. Lílian pegou em seu braço e ele a olhou.
- Me desculpe - falou tristonha - Não queria...
Ele sorriu.
- Não tem que se desculpar, Lílian. Melane gostava de Poções, não podemos apagar isso das nossas lembranças, eu não quero apagar. Você quer?
- Não...
- Bom, já chega por hoje... Tô com sono, fazem duas noites que não durmo direito - comentou, fechando os livros esparramados sobre a mesa. - Vou levar este aqui.
- Apareço na sua casa, para ver como vai ficar o casamento - avisou Lílian, com a voz triste. - Mande lembranças à sua mãe.
- Vai ficar aqui?
- Aham... Não quero voltar pra casa. Minha irmã, cada dia mais chata.
- Te conheço, senhorita Evans - falou Remo, sentando novamente na cadeira dura da biblioteca - 'Tá com medo de voltar para casa porquê?
- Não é medo, Remo. Apenas não quero. Petúnia não dá a mínima para os meus avisos sobre o que está acontecendo. Depois que a minha mãe morreu... - ela suspirou triste - As coisas ficaram um inferno.
- Então vamos, eu empresto a minha mãe pra você - comentou em um sorriso, fazendo com que ela sorrisse também.
- Aposto que vai nos atolar de comida - brincou Lílian, juntando suas coisas espalhadas sobre a enorme mesa - Mal posso esperar! - completou com um enorme sorriso.
Francis adorou a idéia do casamento no campo e fez Remo prometer que ele se casaria lá também. "Coisas de mãe", pensou. Com a ajuda de Francis, Rouge, Lílian organizou tudo. Tiago, logicamente, preferiu ficar de fora, do jeito que Lílian resolvesse estaria bom para ele. Uma estranha calmaria rondou o mundo mágico, como se soubessem que um casal que se amava iria casar. Um pouco de paz e dias ensolarados.
Fazia muito sol no dia do casamento. Não tinha pressa de colocar o seu terno e se cozinhar devido ao sol.
O pessoal do buffet corria de um lado para outro, ajeitando as comidas, os arranjos de flores espalhados pela casa. Estava linda a decoração, lírios amarelos, flor favorita de Lílian. Cadeiras brancas, um pequeno altar com flores. Mas a frente, estavam mesas e cadeiras, onde seria servido o almoço e um pequeno palco onde deveriam estar os músicos, que não tinham chegado até aquele instante. O casamento estava marcado para uma hora da tarde, já eram onze da manhã. Nada de músicos, padre e o padrinho. Ainda era muito cedo para os convidados chegarem.
Tiago estava uma pilha de nervoso, andava de um lado para o outro, desesperado devido ao atraso dos músicos.
- Remo! - disse ele, quando avistou o amigo no jardim da casa - Onde estão aqueles trasgos inúteis!
- Você está falando dos músico? - sugeriu, dando risada.
- Mas é claro! Logo o casamento vai começar - disse ele, chutando uma pedra.
- Sem o padre?
- Ai, Merlim! - lembrou, batendo a palma da mão na testa - O padre!
Remo sorriu com o nervosismo de Tiago, era estranho vê-lo assim, porque geralmente era calmo. Quem costumava dar "escândalos" de nervosismo era Sirius.
- E você, quando vai colocar a sua roupa? - perguntou Tiago, olhando as vestes do amigo.
- Pra cozinhar neste sol? - respondeu Remo - Pontas, você já sujou toda a sua roupa, quando Lílian ver vai te matar.
Tiago olhou para o seu smoking, estava meio sujo de poeira e tinha uma coisa grudada na barra de sua calça.
- É... - constatou Tiago - Acho melhor eu tirar esta roupa e usar algum feitiço para limpá-la. E você vai me ajudar.
A casa estava uma loucura, Sirius estava discutindo alguma coisa com um funcionário do buffet que servia a festa. Remo pediu calma, como se fosse possível, só duas pessoas o acalmavam: Rouge, que ainda não tinha chegado e Melane que havia fugido. Melane... Não era a primeira vez que pensava nela pela manhã. Gostaria que estivesse ali, assistindo o casamento, junto dele. Mas um grito o fez sair de seus pensamentos. Ele tinha esquecido que Lílian estava se arrumando no quarto de sua mãe. Ele tinha aberto a porta errada.
- TIAGO, SEU CACHORRO! - ele escutou a voz de Lílian soar estridente - SAÍA DAQUI.
Não deu tempo de ver nada, havia muitas mulheres ali e uma delas, fechou a porta antes dos dois repararem em alguma coisa. Tiago o olhou assustado, com os olhos arregalados por de trás dos óculos.
- Ela me chamou de cachorro... - relembrou Tiago, olhando para a porta e ouvindo os berros abafados de Lílian. - Me disse milhões de vezes que... Ver a noiva antes do casamento trás má sorte. - e olhou novamente para Remo - Coisas de trouxas.
- Você viu alguma coisa?
- Vi, mas não sei o que era exatamente - contou Tiago.
A porta se abriu mais uma vez, dela saiu Francis com o rosto suado devido ao calor que estava aquela casa.
- Ah, veja só o que vocês fizeram! - bronqueou Francis - Ela está chorando!
Remo e Tiago se entreolharam.
- Que raio de superstição trouxa é esta? - ela perguntou, olhando transtornada para os dois - Por Deus, Tiago! Por onde andou? Revolveu caçar o nosso almoço e entrou naquele bosque! - falou, olhando as vestes sujas de Tiago. - Venha cá, vamos dar um jeito nisso. E você, querido - e olhou para seu filho - Vá se arrumar também, logo os convidados chegam e você está todo cru!
- Mãe, eu posso entrar? - falou Remo - Não existe nada contra amigos, existe?
- Não, bata na porta antes de entrar - ela avisou, arrastando Tiago para longe. Ele pode ouvir "Você está proibido de subir aqui, senhor Potter".
Remo bateu na porta, apareceu uma senhora de cabelos brancos - que nunca tinha visto na vida - e o deixou entrar. O quarto de sua mãe estava enorme e saíram de lá umas quatro mulheres, carregando roupas, flores e uma porção de coisas.
Lílian estava linda, estaria mais se não estivesse chorando. Seu vestido era simples, branco e de alcinhas. Os cabelos ruivos soltos, como o de costume, só que usava uma tiara de flores pequeninas: amarelas, brancas, rosas e levemente azuladas. Tão simples e ao mesmo tempo tão belo.
Havia um ramalhete de flores do campo sobre a cama, o buquê da noiva. Ele sentou na ponta da cama e encarou a amiga, procurando sorrir para que ela fizesse o mesmo.
- Está chorando por causa da tal tradição? - ele perguntou.
Lílian passou sua mão esquerda delicadamente nos olhos, procurando secar as lágrimas. Olhou o amigo um pouco envergonhada.
- Também... - Lílian respondeu em um muxoxo. - Estou com medo, Remo.
- De quê?
- De me casar - ela contou um pouco cabisbaixa - Um frio na barriga constante, meu coração está tão acelerado que me sinto sem fôlego. E também, não paro de suar, olhe isso... - estendeu as mãos para Remo. Elas estavam geladas e um pouco soadas. - Quando vi Tiago pela fresta da porta me senti um pouco aliviada e depois extremamente nervosa. Tudo ao mesmo tempo...
- Eu nunca me casei antes, Li... Mas acho que é assim mesmo - acalmou Remo - Todo mundo está nervoso, Sirius já brigou com todos os funcionários do buffet e reclamou umas oitocentas vezes a ausência de Rouge. Ter medo é normal, acredite em mim.
- Remo, ele não poderia ter me visto ainda! Minha irmã vive dizendo que dá azar. Má sorte no casamento, praga de irmã mais velha é uma droga.
- Se você fosse esquentar a cabeça com que Petúnia fala, você odiaria os bruxos mesmo sendo um deles. Vê se pára de chorar. Está tão bonita e mas esta cara de choro está estragando.
Ela olhou para Remo e abraçou.
Remo cuidava de Lílian como se fosse uma irmã que nunca teve. No começo ele ficava um tanto sem jeito, quando Tiago e Lílian começaram a namorar, tinha medo de ciúmes. Mas isso nunca aconteceu, felizmente. Tiago entendia a relação que sua namorada mantinha com seu amigo. Uma amizade respeitadora e divertida.
Uma vez Lílian desejou que Remo se tornasse o seu irmão de sangue, como a intragável Petúnia. Mas logo concluiu que a irmandade não está no sangue e sim no coração. Definitivamente os dois já eram irmãos. Às vezes brigavam, como em toda relação e a parte melhor era quando faziam as pazes, mesmo que ficassem três dias com aquele bico enorme de insatisfação.
A porta se abriu novamente, três mulheres entraram. Com mais tralhas e isso fez com que Lílian suspirasse. Ele foi praticamente expulso do quarto e olhou no relógio. Logo os convidados chegariam, teria que arrumar-se.
Remo estava fritando naquele sol, olhou para os lados... Bem, não era só ele que estava fritando. Foi então que Rouge, teve a idéia de realizar um feitiço para que o sol não os castigassem tanto assim. "Esta é a minha garota", gabou-se Sirius orgulhoso.
Os músicos já estavam apostos, tocando uma música que fazendo com que Remo bocejasse. Agora tinha certeza, era o único que estava calmo. Sra. Potter, de tempos em tempos, subia no altar para ajeitar Tiago, que mesmo com o feitiço para barrar o sol, teimava em soar. Já o Sr. Potter, conversava com alguns convidados. Lá estavam alguns dos professores de Hogwarts, McGonagall, Flitwick e o guarda-caças Hagrid. Alguns colegas da Grifinória e Corvinal. Outras pessoas que Remo só conhecia de vista e por citações do casal. A maioria convidados de Tiago, aliás de Sra. Potter que obrigou o filho a convidar alguns, a seu contragosto. "Bando de parentes chatos!", comentou Tiago. Circulando entre os convidados, Remo não acreditou no que estava vendo. Sr. e Sra. Valentine, no casamento, na casa dele. Pelo que ele se lembrava, não estavam na lista de convidados. Atrás deles, vinha um garoto, deveria ser Daniel, o irmão mais velho de Melane. Se parecia demais com a irmã, os cabelos cacheados, o formato do rosto e a expressão de que não estava gostando nem um pouco de estar lá. Era forte, ombros largos, deveria ter mais de um metro e setenta. Segundo Melane, tinha vinte e anos e trabalhava na fábrica de tecidos do pai e não gostava nem um pouco.
- Você viu isso! - falou Sirius irritado - Olhem, aqueles idiotas! Que audácia!
- Almofadinhas, você não vai arranjar confusão no dia do casamento do Pontas, né? - perguntou Remo, olhando severamente para o amigo - Deixa que eu resolvo isso.
Os dois caminharam até o casal, mas a Sra. Potter chegou primeiro e tratou de acomodá-los em um lugar perto do altar. Neste instante, Sr. Potter se aproximou dos dois, com uma cara estranha.
- A menina ainda não apareceu, não é mesmo? - ele perguntou, referindo-se a Melane.
- Não e nem vai... - respondeu Sirius, fazendo com que Harisson Potter levantasse as sobrancelhas grossas.
- Ah, entendo - disse bebericando alguma coisa em seu copo - Tiago me contou alguma coisa sobre isso. Que ela brigava com os pais e tudo mais... E ela não é a única - e olhou rindo para Sirius, que fez uma cara estranha.
Sirius morava com os Potter há tempos, tinha saído de casa também. Os pais de Sirius não eram flores que se cheirassem e ele notou isso.
- Quando é que vai tomar vergonha nesta sua cara, Sirius e vai sair de lá?- perguntou Remo.
- Nunca! - respondeu Sr. Potter em uma alegre gargalhada, fazendo com que Sirius ficasse levemente vermelho, coisa rara de se ver. - Este aqui não sai de lá tão cedo! - e bateu nas costas de Sirius - Isabela não deixaria, ainda mais que Tiago vai embora! Temos que ter uma criança em casa.
- Eu não sou criança... - reclamou Sirius mal-humorado.
- Mais ainda fica de castigo! - retrucou Harisson, gargalhando mais alto. - Vou ir no banheiro, acho que a bebida tá fazendo efeito!
- Ele é louco - comentou Sirius, enquanto Sr. Potter, se afastando andando meio torto. - Às vezes dá vontade de ficar lá pra sempre.
- Já fazem quanto tempo?
- Hum... - ele começou a contar nos dedos - Três anos, mas eu tenho que ir também.
- Por falar em ir - lembrou-se Remo - Você deu um jeito naquela moto?
- Naquela moto? Sabe muito bem que não é uma moto!
Remo suspirou, Sirius começou a falar tudo o que a moto dele fazia, que era uma Harley Davidison e se chama Cassie. O mesmo blá blá blá de sempre. Cassie parecia mais uma pessoa do que uma simples moto, ou melhor, uma Harley Davidison. Rouge morria de ciúmes da moto e Sirius também. Não gostava que ninguém usasse, não emprestava para ninguém.
- Já disse para Tiago tomar cuidado com a Cassie, custou caro! E além do mais, ele nem sabe guiar direito.
- E você sabe?
- Larga a mão de ser chato, Aluado! - falou fazendo uma careta de zangado, que divertiu Remo - Posso não ter aquele papelzinho que os trouxas tem para...- e coçou a cabeça tentando se lembrar do nome do papel - Aquele papel idiota, para comprovar a capacidade de saber dirigir, mas eu sei! Você sabe disso! Todo mundo sabe disso... - terminou orgulhoso.
- Eles vão pra onde com aquela moto? Lílian sabe disso? - perguntou Remo e Sirius sorriu divertido.
- Não, se Lílian soubesse nunca subiria na Cassie. Mas está tudo bem, Tiago aprendeu bem, eu acho que sim... E eu não sei para onde ele vai, acho que nem ele sabe.
Sra. Potter apareceu toda apressada, dizendo para Sirius e Remo tomarem seus lugares. O casamento iria começar!
