N/A: - vaias - TÁ, EU MEREÇO! Se eu contar que possa me atrapalhar nestes meses vocês não vão acreditar. Eu escrevi este capítulo em três dias (13/10/04, 15/10/04, 19/10/04) quando me deu um surto de insparação. Meu computador pifou, perdi todas as minhas fics. Sorte que este capítulo estava com a minha beta. Passou muito tempo e eis que surge uma luz rosa no meu MSN, o espírito sagrado chamado Lary-Chan. Ela me lembrou que eu tinha que atualizar a Lobos. EU TINHA ESQUECIDO! DESCULPAAAAAAAAAAAAA! Daí eu vi que tinha os capítulos treze e quatorze pronto, mas cadê o doze? Afê. Foi uma luta conseguir ele de volta. Uma luta achar a Pati (minha beta) e fazer com que ela me mandasse o capítulo. E finalmente estou atualizando! Os outros capítulos não vão demorar, até porque estou adiantada e estou com mais tempo de escrever.
Espero que gostem do capítulo, porque eu adorei escreve-lo.
LARY, BRIGADA POR ME AVISAR SEMPRE, VIU?! E obrigada a todos pela paciência D
Capítulo doze - Savana
Convencer Rabicho a comer menos estava sendo difícil. E convencer Sirius a parar de comer na frente de Rabicho mais difícil ainda. Sirius podia comer um elefante recheado de chocolate, com direito a granulados e um copo imenso de suco de abóbora bem doce. Sirius poderia comer o planeta Terra e outros planetas do sistema solar que nada aconteceria com ele. Rabicho costumava o acompanhar nestas comilanças, mas ele não era igual ao amigo. Se Rabicho comesse muito o efeito era instantâneo. Sua barriga ficava cada vez maior e a gordura aumentava.
Antes de ingressar na Ordem da Fênix, era necessário fazer alguns testes, uma preparação e Remo ficava pensando como Rabicho teria passado se ele era lento demais. Demais. Para tentar aguçar a agilidade de Pedro, Sirius e Remo, nas horas vagas, faziam com que Rabicho praticasse exercícios. E era o que eles estavam fazendo agora... Rabicho corria de um lado para o outro no jardim dos Potter.
- Rabicho, você tem que respirar pelo nariz e DEPOIS soltar pela boca - Sirius gritou pela vigésima vez. - Você está pegando o ar pela boca e soltando pela boca!
Pedro parou de correr e estava bastante ofegante. Deitou na grama cansado, seus pulmões imploravam por ar e suas pernas por descanso. Remo e Sirius se entreolharam.
- Ok, acho que já chega por hoje... - disse Remo piedoso, olhando para o amigo estupefado no chão.
- Aluado, ele está correndo há pouco tempo, foram vinte minutos! - discordou Sirius - Rabicho, levanta. Você tem que queimar todas estas suas calorias acumuladas. Quer ser um grande bruxo? - perguntou, levantando Rabicho do chão.
- É lógico...
- Então comece por aqui - disse Sirius colocando a mão na barriguinha de Rabicho - Depois nós vemos o que vamos fazer com você.
- Estou com fome... - informou Rabicho - Estou suado e quero ir embora. Tchau Almofadinhas, tchau Aluado.
- Meninos! O chá está na mesa! - chamou a Sra. Potter - Andem senão esfria!
- Pensando bem, acho que vou ficar... - continuou Rabicho.
Os três rapidamente foram tomar o chá das cinco. A mesa estava linda, com bolos, tortas, pães e vendo tudo aquilo o estômago de Remo deu um solavanco. Tudo aquilo estava lhe deixando com mais fome. Sentaram-se na mesa e apressadamente, Rabicho apanhou uma enorme (e excelente) fatia de bolo de laranja. Foi quando Sirius berrou:
- RABICHOOOOOOOOO!
Remo e Rabicho olharam meio apavorados para o amigo.
- Cê tá de dieta, não pode comer nada que tem nesta mesa - continuou Sirius - Devolve este pedaço de bolo de laranja.
Pedro arregalou seus olhinhos pequenos e olhou a enorme fatia de bolo que tinha em suas pequenas mãos.
- Devolva isso, agora - disse Sirius autoritário, levantando-se da mesa. Nisso, Sra. Potter adentrou na sala, ela tinha a varinha em punho e o rosto assustado.
- Que gritaria é esta? Aconteceu alguma coisa?
- Não - respondeu Remo - É que Sirius é meio exagerado. Rabicho está de dieta e não pode comer nada que tem aqui, em vez do Sirius falar pra ele não comer ele prefere berrar.
- Sirius Black! - chamou Sra. Potter, bastante brava - Pare com isso, já. Vocês dois, parem com isso!
Sirius tentava arrancar o pedaço do bolo das mãos de Rabicho. Os dois estavam quase brigando e o que Rabicho tinha na mão nem poderia mais ser chamado de bolo, era uma massa amarela e havia muitos farelos no chão. Sirius só soltou o amigo quando conseguiu lhe tirar o "bolo" das mãos.
- Ahá, aqui está! - finalizou Sirius todo orgulhoso - Vamos comprar algo que você possa comer.
- Sem antes você limpar toda esta sujeirada - interrompeu a Sra. Potter - E acho besteira esta coisa de dieta!
- Besteira? Rabicho sempre arruina os nossos planos. Muita gordura localizada...
Sra. Potter pediu para que não voltassem tarde e saiu da sala conversando consigo mesma. Sirius empurrou com o pé os farelos de bolo para debaixo do tapete e isso lhe rendeu uma bronca de Remo.
Os três aparataram em frente do Caldeirão Furado. Fazia uma tarde cinzenta em Londres, uma brisa fria balançava os cabelos de Remo e aquilo lhe fez lembrar Melane. Será que ela o procuraria mesmo ou era balela de Daniel? Mas ele parecia tão verdadeiro... Ora Remo se apegava na esperança de que ela voltaria, ora ele achava melhor ela não voltar. A única coisa que ele tinha certeza era que ela fazia mais falta do que ele podia imaginar. Tantos anos juntos de convivência para serem interrompidos deste jeito. Uma forma brusca, inesperada e dolorida.
- Wow, Aluado? Tá difícil hoje, hein? - reclamou Rabicho.
- Difícil o quê?
- Falar com você, vai ficar aí parado feito um besta?
- Tá falando de quê?!
- Rabicho está falando que nós não vamos comer no Caldeirão - explicou Sirius com calma - Tá meio aéreo, né? - completou rindo. - Vai, vamos lá...
Quinze minutos de caminhada e Rabicho já estava reclamando de fome, de sede e de mais outras coisas que Remo não se preocupou em ouvir. Até ele estava cansado, parecia até que estavam andando em círculos.
- Almofadinhas, onde nós estamos indo, exatamente? - perguntou Remo.
- Procurando uma loja... - ele respondeu.
- Uma vez a Lily me disse que as coloridas são as melhores - comentou Remo - Que tal aquela ali?
- Aquela está ótima, vamos que estou faminto! - disse Rabicho atravessando a rua.
Na loja, Sirius foi atrás de Rabicho para que ele não pegasse nada muito calórico e Remo foi olhando nas prateleiras. De todas as lojas de Londres que eles poderiam entrar, foram na mais errada que fosse possível. Era uma loja de doces. Doces para tudo quanto é lado e isso o fez lembrar que Lílian viva de doces e balas. "As lojas coloridas são as melhores", ressoou a voz da amiga em sua cabeça. Remo virou-se para procurar seus amigos e assustou com uma moça estava prontamente a sua frente.
- E... Oi?
- Desculpe pelo tropeção.
- Ah, não foi nada... - ela disse encabulada - Eu te conheço de algum lugar?
- Não - ele respondeu rapidamente. - Eu não me lembro de você. Desculpe...
- Melane, é você? - perguntou de repente.
- Não, meu nome é Savana McTalon - disse ela, estendendo a mão.
Savana era morena, sua pele tinha cor de sorvete de chocolate. Cabelos negros e escorridos, os olhos bastante escuros. Remo forçou seus olhos, por frações de segundos achou que era Melane disfarçada, mas foram apenas segundos.
- Sou Remo Lupin - ele apresentou-se, apertando a mão da garota.
- Quem é Melane?
- Uma amiga minha...
- Suponho que eu me pareça com ela - disse o analisando e isso o incomodou.
- Nem um pouco...
Savana tinha o nariz empinado e Remo achou curioso.
- Mas eu conheço você. Talvez da escola ou alguma coisa assim...
- Hogwarts? - ele perguntou.
- É... - ela respondeu sem ter muita certeza do que tinha afirmado.
- De que casa você é?
- Aluado, aí está você! - disse Sirius - Que raio de loja é esta? - perguntou nervoso - Só pode estar de brincadeira comigo. Você nos trouxe em uma loja de doces trouxas!
- Cadê o Rabicho?
- Eu não consegui segurar ele, está se empanturrando de torta de morango lá nos fundos.
- Vocês vieram em uma loja de doces para não comprar doces? - riu Savana.
- Opa, olá! Quem é você? - perguntou Sirius.
- Savana McTalon, a quase dona da loja - ela respondeu, esticando a mão.
- Sirius Black – e cumprimentou a morena - Amiga de Remo?
- Eu conheço ele de algum lugar... - contou Savana.
- Talvez Hogwarts. Mas nunca te vi lá... Você é sonserina?
- Não - ela respondeu rindo. - Que conversa maluca é esta?
- Haha - riu Sirius - Gostei de você. Os sonserinos fedem mesmo... Quantos anos você tem?
- Dezenove...
- Ahhh! - exclamou Remo - Você é mais velha que nós, por isso não a conhecemos.
- Quantos anos vocês tem?
- Dezessete - respondeu Sirius - Em breve, dezoito.
- Pirralhos - zombou Savana.
- Vamos lá ver o Rabicho, senão ele acaba com a sua loja.
- Se ele pagar, tudo bem - brincou a garota.
- Rabicho está de dieta e viemos parar aqui por acaso... Não conheço bem a Londres trouxa.
- Trouxa? - ela perguntou.
Sirius sentou-se ao lado de Rabicho, que comia outro tipo de bolo. Havia três pratos sujos em cima da mesa.
- Que bom que está gostando - disse Savana - Vocês são os últimos clientes, eu estava fechando a loja quando vocês entraram.
- Isso é bom ou isso é ruim? - perguntou Rabicho de boca cheia.
- Isso é ótimo, minha mãe diz que sempre quando fico na loja não entra ninguém... - falou sentando-se na mesa.
- Como consegue trabalhar aqui? Com todos estes doces? - perguntou Sirius.
- Uma hora a gente enjoa. Minha mãe sempre teve loja de doce e eu aprendi a não gostar de doce... E só fico aqui nas férias...
- Ah, você faz o que depois que terminou Hogwarts? - Sirius perguntou.
- Faculdade de Medicina.
- Medicina? - perguntaram os três. Da boca de Rabicho voaram algumas migalhas de bolo.
- É...
- Você é louca, garota. Medicina? Por que não se torna uma curandeira em vez de médica? - perguntou Sirius. - Mexer com sangue e todas aquelas coisas.
- Curandeira? Tá brincando... - disse ressentida.
- De que casa você falou que era mesmo? - perguntou Remo.
- Eu não disse. Até porque nem sei de que casa é esta que estão falando...
- Céus... - disse baixinho Remo - Você não sabe o que é Hogwarts, não?
- Durmstrang! - exclamou Sirius faceiro.
- Lá eles ensinam Artes das Trevas - comentou Remo. - Bem, chega de comer, Rabicho. Vamos embora, vamos!
Sirius sacou a varinha e fez desaparecer os doces que estavam sobre a mesa e Rabicho nem teve tempo de dizer "não". Savana olhou assustada para Sirius.
- Ele come demais, né? Rabicho, você vai ter que recuperar o tempo que gastou nesta doceira. Vai sofrer, meu querido - falou Sirius se divertindo.
- Quanto foi tudo isso? - perguntou Remo, tirando dinheiro do bolso.
- Sete libras - respondeu olhando a varinha de Sirius - De onde vocês vieram?
- Da barriga das nossas mães - zombou Rabicho - Olha, eu não tenho dinheiro trouxa... Quanto é que dá vinte sete... Vinte sete quanto?
- Sete libras! - ela repetiu - Estão tentando me dar um golpe?
- Golpe? - perguntou Sirius - Que nada... Ô Aluado, cê não tem nada aí contigo?
- Nada de libras... - respondeu Remo - Mas Savana... é Savana, né?
- É! - respondeu desconfiada dos garotos.
- Depois você dá uma passada no Gringotes e troca o dinheiro, amanhã, hein? Bom, acho que isso dá... - e Remo colocou uma porção de moedas douradas na mesa, Sirius e Rabicho fizeram o mesmo.
- Obrigada pela comida! - agradeceu Rabicho.
Quando os três estavam há uma quadra de distância da loja ele ouviu um zum-zum-zum logo atrás. Remo virou-se despreocupado para atrás viu Savana correndo atrás deles.
- Ah, céus. Ela está correndo atrás da gente... Ou não? - Remo disse.
Sirius e Pedro olharam para atrás e viram Savana acenando para eles.
- Hum... Talvez devêssemos acenar pra ela - comentou Pedro, levantando o braço e fazendo cara de feliz - Bem, vamos.
- Espera aê, Rabicho. Vai ver que ela está atrás do Aluado - disse Sirius sorrindo - Vamos deixar eles sozinhos - e riu do seu próprio comentário.
- Té mais, Aluado - despediu-se Rabicho e logo em seguida aparatou. Sirius olhou para os lados e acenou para o amigo e aparatou também. Remo não teve tempo de dizer absolutamente nada, foi tudo muito rápido. E a única londrina que percebeu o desaparecimento instantâneo de seus amigos fora Savana que olhava assustada para Remo. Ele andou até ela e disse oi, mas Savana não pareceu ouvir.
- Savana? - ele chamou, colocando a mão no ombro dela. Ela tentou esconder seu olhar surpreso mas não conseguiu.
- Olha... Se a minha mãe não tivesse visto vocês três na loja eu até aceitaria o golpe de vocês. Foi o mais divertido de todos, até agora. Iria guardar todas estas moedas - disse ela tirando o ouro do bolso - de recordação, mas... Minha mãe viu vocês, por isso quero que você me pague em libras. Ou dólar, menos isso que me deram.
- Mas não aplicamos um golpe em você. Só não tenho nenhum dinheiro trouxa aqui, nada de libras muito menos dólar - ele explicou novamente - Já que faz tanta questão das libras, eu lhe trago o dinheiro amanhã e você fica com este, como garantia que eu vá voltar.
Savana continuava desconfiada.
- O Gringotes não está aberto esta hora, já passa das seis - continuou Remo. - Eu tenho cara de ladrão?
- Não - ela disse rindo - Você jura que nunca nos falamos antes?
- Cismou com isso - respondeu Remo, continuando a caminhar - Não me lembro de você. Você é diferente...
- Diferente como? - perguntou interessada acompanhando os passos largos de Remo.
- Seus traços não são ingleses.
- Ah, sim.... - suspirou aliviada - Meu pai é indiano, minha mãe inglesa.
- História de amor.
- Se não fosse pelo fato do meu pai ter abandonado minha mãe ainda grávida, até poderia ser - ela contou.
- Nossa... Eu, é... Não sabia. Desculpe.
- Não se preocupe - ela falou rapidamente - Eu não me preocupo, nem minha mãe... Muito menos o meu pai - ela riu. - Onde é que você mora?
- Longe pra caramba... Longe do centro, longe.
- Longe quanto? Liverpool?
- Conhece o Bosque do Uivo?
- Sei! Uma vez, quando tinha quinze anos, minhas amigas queriam ir lá. Fiquei sabendo que aquele vilarejo era amaldiçoado e no bosque morava lobisomens vorazes e estas coisas. Toda noite de lua cheia os lobisomens vão pra lá. Principalmente na época de férias. Minha mãe nunca me deixou ir para aqueles lados do país. E você mora lá?
- Moro...
- E não tem medo? Se bem que... - ela disse séria - Eu acho que isso tudo uma grande besteira. Lobisomens não existem. Isso é tão claro, como pessoas normais podem acreditar nisso.
- Ah, existem - disse Remo bruscamente - Pra quem estudou em Durmstrang isso deveria ser bem claro.
- Já vai começar com esta história? - Savana disse, parando de andar. - Estava conversando numa boa até este papinho besta.
- Que foi? - perguntou sem entender.
- Nada! - disse virando as costas - Até mais!
- Ei! - Remo chamou - E a nossa dívida?
Mas ela não respondeu então, Remo seguiu o seu caminho.
Remo acordou de súbito. Estava suado, bastante suado. Passou a mão por entre seus cabelos castanho claro, tentando lembrar o que tinha sonhado para acordar naquele estado. Vasculhou a mente a procura de algo e não achou nada, apenas a sensação de um buraco no estômago. Sentou-se na cama, acalmou-se... Deitou novamente mas o sono havia ido embora sendo assim, levantou de vez. Abriu a janela de seu quarto e o Sol estava bastante alto. "Dormi demais", concluiu. De repente sentiu-se movido de uma pressa. Tomou seu banho, arrumou seu quarto e desceu para comer alguma coisa. Engoliu um copo de leite e enfiou uma maçã no bolso. Achou estranho sua mãe não estar em casa, ela sempre lhe avisava de suas saídas assim como ele. Remo rascunhou um bilhete dizendo que iria para o Beco Diagonal e não voltaria tão cedo. Apanhou os livros que havia emprestado da Biblioteca Nacional e aparatou para o Caldeirão Furado. Estava começando a ficar bom em aparatação mas não tão confiante como deveria e isso o atrapalhava um pouco.
O Beco estava cheio e Gringotes também. Remo tinha encasquetado com a idéia das sete libras. Tanto, que ficou um bom tempo na fila do banco para sacar o dinheiro. Agora ele fazia questão de pagar Savana. "Golpista!", ele pensou sorrindo. Poderia não ser provido de dinheiro, de ser econômico (mão de vaca, como Tiago gostava de frisar) mas ele assumia as suas dívidas. Mesmo que a tal garota não fizesse questão, ele fazia. Após sair do banco foi até a biblioteca devolver os livros e apanhou mais dois exemplares. Um deles sobre lobisomens. Ele sempre costumava a ler livros sobre lobisomens para aprender um pouco de si mesmo. Geralmente os livros sobre Licantropia eram tão vagos, inexatos e nunca alimentavam suficientemente a sede de saber de Remo. Apanhou suas coisas e circulou por Londres, procurando a loja mais colorida da cidade. Andou cerca de horas e não achou a fabulosa loja de doces. Como uma loja tão colorida poderia desaparecer no cinza de Londres? Como ele pode esquecer o caminho? Era algumas quadras do Caldeirão Furado, ele tinha tanta certeza daquilo. Mas, aos poucos, aquela certeza transformou-se em incerteza, confusão e depois loucura. Então, tomou seu rumo novamente. Parou em pub que ele costumava encontrar-se com Lílian. O lugar era tão agradável que passou a voltar lá mesmo sem a companhia da amiga. Tomava café, chocolate quente e de vez em quando alguma cerveja. Não era do seu feitio, mas de vez em quando lhe batia uma vontade, de tanto ver as pessoas no lugar desfrutando da bebida. Ele preferia dez milhões de vezes a cerveja amanteigada do barulhento Três Vassouras. Sentiu falta do lugar, sentiu falta de Hogwarts e consequentemente de Melane. Suspirou tristemente e seu coração pulsou vagarosamente com a lembrança da garota. Fazia tempo que ele não se pegava pensando nela... A marca que Melane havia feito nele era bastante intensa.
Ela tem mel no nome, assim como nos lábios. Eu sou o ácido do limão. Ela o mel dos deuses.
Foi o que escapou de seus dedos naquele instante. "Limão...", disse para si mesmo. A primeira vez que Melane havia provado de seus lábios sentira gosto de limão, sempre achou isso curioso. Foi um toc-toc no vidrou que lhe chamou atenção. Era Savana lhe direcionado um olhar animado. Ele observou a garota entrar no pub com certa graça, ela tinha um andar elegante.
- Oi!
- Olá, por favor, sente-se - ele pediu, afastando seus papéis da mesa - Eu procurei a sua loja por toda cidade e não a encontrei.
- Isso porque nós estamos de mudança. Minha mãe comprou uma loja maior, mas eu te vi.
- Me viu?
- Sim, passou diversas vezes pela loja...
- Por que não foi falar comigo? - perguntou sério.
- Porque minha mãe iria te reconhecer e me aplicar um sermão. Mas não quero falar sobre isso.
- Ah, não? Pois dê isso a sua mãe - disse colocando o dinheiro em cima da mesa - Eu queria lhe entregar isso.
- Oh... - Savana suspirou surpresa - Você não tem cara de golpista de loja de doces. Não quero mais o seu dinheiro, deixa este papo pra lá. Não vim aqui atrás dele. Eu queria dizer que foi uma honra te receber em minha loja e de seu amigo provar os bolos de minha mãe.
- Está dizendo isso por causa que agora você sabe que não sou golpista? - perguntou rindo.
- De maneira alguma! E me sinto honrada de estar falando com você agora - ela disse bastante séria - Eu sou sua fã.
Então, Remo engasgou-se com o chá que estava bebericando. Fã?
- Fã? E desde quando eu tenho fã?
Savana pareceu não entender.
- Se isso é alguma brincadeira de Sirius e Tiago peço que me fale agora - pediu ele - Meus amigos adoram pegar peça nos outros.
- Você J. Lupin, não? - perguntou meio incerta - Autor de "Os últimos poemas". Ou não?
- É... - afirmou assombrado.
- Eu sabia que era você! - disse animadíssima com os olhos negros brilhando - Quando você disse "Lupin", eu fiquei matutando que te conhecia de algum lugar. E depois os seus cabelos... Como não tem fãs? Você deve ter um monte delas! Eu li "Os últimos poemas" até do avesso, já escrevi para a editora para saber quando sairia o próximo livro mas eles nunca sabem de nada. Já decorei até alguns sonetos. Gosto mais dos sonetos... - contou. - Mas as poesias são ótimas - acrescentou rapidamente. - A forma como você escreve, acho fascinante. É como se fossem milhares de cartas de amor encadernadas.
Remo sentiu suas bochechas vermelhas e quentes como magma. Sentiu-se nu na frente de Savana. Ela ficou mais alguns minutos falando de seu livro. Disse muitas coisas que nem ele mesmo conhecia sobre si. Ela sabia muito mais dele (através de sua poesia) do que ele mesmo jamais soube. Falou sobre a técnica. Não havia técnica algumas, ele apenas escrevia. Deixava seus dedos deslizarem sobre o pergaminho. E aquele livro eram cartas de amor mesmo. Poesias e sonetos frustados. Todos escritos e feitos para uma pessoa. Para Melane.
- Me empolguei, certo? - ela disse parecendo encabulada.
- Não. Eu nunca tinha encontrado alguém que lesse os meus poemas. Ou melhor, que gostasse deles. Eu me sinto até... Envergonhado.
- Está brincando?
- Não, é sério - ele riu - Você é a primeira... Obrigado apreciar a minha poesia dor-de-cotovelo.
Savana riu divertidamente.
- Os poemas, foram escritos para alguém? - perguntou curiosa - Veja só, você estava escrevendo.
Ela apanhou o pergaminho que Remo havia rabiscado alguns minutos atrás.
- Hm... A garota dos lábios de mel. Ela existe?
Remo apanhou com grosseria o pergaminho de Savana. Odiava que mexessem em seus poemas sem a sua autorização. Ele nem sabia o que tinha levado aquela idéia de publicar seus versos. Rouge era bastante persuasiva e ele anotou mentalmente não cair mais na insistência da amiga.
- Eu realmente não quero falar sobre isso - respondeu amargamente. Levantou-se, apanhou suas coisas rapidamente - Peço que fique com o dinheiro, por favor.
E saiu levantando poeira do pub. Só depois de estar três quadras a frente do pub lhe ocorreu a grosseria que tinha feito a Savana. Mas não importava mais, foi ela que tinha começado com todas aquelas perguntas indiscretas ao seu respeito, a respeito de sua poesia. "Isso, porque ela gosta das coisas que você escreve", ressoou a consciência do lobo. "E ela não tem culpa alguma de sua a vida amorosa ser uma Terceira Guerra Mundial", a consciência voltou-lhe a falar. Mas a cagada já tinha sido feita e para completar, ele sentou em cima. Haveria outras oportunidades de falar com ela? Ou não haveria? Os pés de Remo deram meia volta, entrou no pub, espiou e nem sinal da garota.
N/A: Gostaram da Savana? Ela me atormentava tanto em minha mente, mas tanto que tive se pular algumas coisas e apresentá-la logo de uma vez, antes que ficasse tarde demais. Conseqüentemente, as pendências do capítulo onze serão respondidas no próximo. Tem muita coisa a ser esclarecida, né? E não sei quanto a Melane. Lógico que penso bastante nela (mais do que o Remo pensa nela), mas Melane está reclusa em algum lugar e não sei quando ela aparecerá. Sempre acho que é no próximo capítulo, no próximo, no próximo e nunca ela dá as caras.
