Capítulo quatorze – Here comes the sun

"Hoje só tua presença vai me fazer feliz, só hoje..." Hoje, Jota Quest.

Estava tonto, cansado, exausto. As pernas bambas. Olhou para seu corpo assustado, para suas mãos e em seguida para Sirius que também havia voltado para a sua forma normal.

- Como você fez isso, cara? - disse Sirius com os olhos assustados - Aquele lobo... Não parecia ser você.

Remo não conseguiu falar nada. Ele queria falar mas suas cordas vocais transformaram-se em um bolo; não era simplesmente um nó na garganta, era muito mais do que aquilo. Foi então que abraçou Sirius e chorou no ombro do amigo. Remo só sabia chorar. A tristeza, raiva, angústia transformaram-se em lágrimas. Sirius o apertou forte não entendendo realmente a razão das lágrimas.

- Sirius, minha mãe... - disse com a voz embargada - Ela morreu.

Os olhos de Sirius quase saltaram com a informação. Isso explicava muita coisa. Remo se soltou do amigo que lhe olhava tristemente. O lobisomem andou até Hudson, ajoelhou-se e o pegou pelo colarinho.

- Por quê? - perguntou com os dentes cerrados - Por que matou a minha mãe?

- Você levou algo precioso e vim buscar sua mãe, Francis Lupin, já que a menina Melane escafedeu-se de vez. Estamos quites agora.

- Do que está falando?

- Você levou Jonas... - contou Hudson com a voz fraca. Remo olhou bem no rosto do homem e percebeu que fizera um grande estrago. Vasculhou a sua mente a procura de alguém chamado Jonas, não se lembrou de nada e voltou olhar com fúria para o homem ensangüentado.

- Jonas Thompson, meu único filho. Capturou-o jogou em alguma sala fétida de Azkaban.

- Não existe ninguém em Azkaban que não mereça estar lá. Ninguém! Se seu filho está lá é porque não era uma boa pessoa, ao contrário de minha mãe. Ela não merecia este seu golpe sujo.

- Sua mãe está morta, Lupin. Morta. E se eu te matasse ela morreria dias depois.

- Ora seu! - disse levantando a mão para Hudson, mas Remo parou. Então, sentiu a mão de Sirius em seu ombro.

- Ele não vale a pena.

- Não mesmo - confirmou Remo.

- Meu filho está morto! – ele exclamou raivoso cuspido sangue da boca.

- Isso não é minha culpa! – berro Remo em resposta – Se você não soube cuidar dele! Não tenho culpa de você não ter ensinado a ele o que é certo e o que é errado. Ele está morto porque você o matou, fazendo com que ele entrasse neste meio através de você. Sentenciou o próprio filho.

Remo levantou-se e olhou para o homem deitado no chão. Desfigurado. Como aquilo foi possível? Sirius conjurou cordas para amarrar Hudson.

- Não, Sirius. Deixe ele aí.

- Como assim? Deixe ele aí?

- Quero que ele fique solto... – falou amargurado – Se ele ficar em Azkaban, ficará confortável. Não vai sentir a angustia de se esconder em dia de lua cheia. Seja bem vindo ao mundo mágico dos lobisomens, Hudson. Fez por merecer...

Remo deu as costas e caminhou para casa com um Sirius quieto ao seu lado. Sendo assim, Remo resolveu perguntar algo que pipocava em sua cabeça.

- Eu não entendo. Como? Como ele fugiu de Azkaban? É impossível sair de lá.

- Azkaban foi invadida - contou Sirius - Fui atrás de você, junto com os outros porque precisávamos de reforços.

- Foi assim que ele saiu então?

- Sim... Não foi uma fuga em massa, foram libertos apenas presos especiais. Em torno de vinte bruxos, estão fazendo a recontagem dos prisioneiros. Os dementadores estão inquietos e logo vão debandar para o lado do Lord das Trevas. Foram os dementadores que facilitaram a fuga...

- Melhor você ir embora então. Antes que todos os prisioneiros revolvam se vingar e sair matando por ai.

- Não vou deixar você sozinho.

- Sirius...

- Nada de Sirius – interrompeu o animago – Vou ficar aqui, vai precisar de mim seja lá pro que for.

- Eu realmente preciso ficar sozinho.

- Mas...

- Por favor...

- Remo, eu sinto muito - falou Sirius sério. - De verdade.

Sirius aproximou-se do lobisomem e o abraçou de novo, desta vez mais forte.

- Sua mãe faleceu... Mas seu irmão continua vivo – disse Sirius – E vou sempre estar contigo.

Aquilo confortou-o. Remo entrou em casa novamente e lembrou uma conversa que teve anos atrás com sua mãe. Ela queria ser enterrada perto do bosque, porque era lá que o filho ficava nas noites de lua cheia e era lá que queria ficar também. Conjurou uma pá e foi ao pé do bosque e lá começou a cavar. Ele nem sabia o que fazia direito mas ele cavava e passou muitas horas ali. Não pensava em mais nada, apenas no buraco que fazia e diversas vezes pensou em fazer um ao lado, para que ele se jogasse depois.

Ouviu três barulhos característicos de pessoas aparatando. Olhou para atrás e reconheceu os amigos mesmo no escuro. A primeira pessoa que reconheceu fora Lílian que, segundos depois, já havia pulado em seu pescoço soluçando bastante.

- Remo... Eu... - ela disse, no intervalo dos soluços - Não posso acreditar.

Ele afundou sua cabeça nos cabelos ruivos da amiga e chorou novamente.

- Sua mãe era muito querida por todos nós, foi uma pessoa boa e ela está em um bom lugar, acredite - disse Lílian, soltando-se do amigo e limpou as lágrimas dele. Mais a frente, estavam Sirius e Tiago munidos de pás. Tiago aproximou-se com os olhos vermelhos e envolveu o órfão em um abraço amigo.

- Acho que você precisa de uma mãozinha, né? Não vamos deixar você sozinho, não mesmo - Tiago falou fazendo com que Remo sorrisse fraco.

- Como nós vamos fazer? Velório e estas coisas? - perguntou Lílian.

- Nada de velório, muito triste, muito sofrimento - respondeu Remo - Quero enterrá-la o mais rápido que puder. Ela já sofreu muito.


De manhã a casa de Remo estava cheia de amigos e colegas. Amigos de Francis, colegas de Lupin. Nem ele mesmo sabia os dois eram tão queridos assim. Lílian ficou ao lado de Remo o tempo todo, segurando sua mão, fazendo com que ele comece algo antes do enterro. Formas de carinho era o que não faltava ali. Mas aquele era um dia negro para Remo, perder a sua mãe de forma tão brusca.

O principal motivo da morte de Francis fora a pancada que Hudson havia lhe aplicado na cabeça, mas ela definhava há vários meses. Escondia uma doença do próprio filho. Francis era uma encantadora, uma bruxa com muitos poderes. Possuía muitos dotes como curar pessoas com o toque das mãos. Existem muitos tipos de encantadoras e Francis costumava a curar pessoas e tinha certo Dom de Premonição, bem vago, mas tinha. Geralmente as encantadoras que prevêem não costumavam viver muitos anos, era muita concentração de poder em uma só pessoa e o nascimento dessas bruxas eram excepcionalmente raro. Francis estava doente e através de seus poderes, mascarou o seu verdadeiro estado para Remo poupando-lhe a dor de vê-la definhando aos poucos.

Mas uma coisa nisso tudo ainda não havia sido explicada: a transformação de Remo. Não era Lua cheia, ele não era animago, como então a transformação? Sem dor, sem nada. Talvez fosse o seu nervosismo. Ou não. Ele não costumava ficar nervoso, poderia contar nos dedos de uma só mão. As últimas vezes foram quando Sirius resolveu pregar uma peça em Snape. Ele ficara dias sem falar com Sirius. Na manhã seguinte do acidente ele subira nas paredes de tanta fúria. Tiago na época ressaltou que dava para ouvir os berros de Remo até em Hogsmeade. Aquela semana tinha sido péssima, Snape quase foi mordido, Sirius quase expulso e poderia ter sido o fim de Hogwarts. E a outra vez, foi o incidente em Hogsmeade e até hoje ele não sabia se havia mordido Melane ou não. Remo virou sua cabeça bruscamente para o bosque. Pensou na garota e olhou para o bosque.

- Aluado? Que houve? - perguntou Tiago, olhando para o bosque também.

- Nada, pensei ter visto um vulto... No bosque.

- Deve ser algum bicho assustado com a movimentação - disse Rabicho - A cerimônia vai começar, vem.

Remo aproximou-se da cova de Francis, amparado pelos amigos e o mago começou a falar de sua mãe. O barulho de soluços e pessoas assoando o nariz foi bastante alto e Remo se desconectou-se com o mundo. Ele não agüentava mais tudo aquilo e seus olhos se perderam, fixaram-se no bosque. Havia alguma coisa ali... Seus olhos não costumavam a enganá-lo. Sua visão era perfeita então um trovão rompeu a linha de seus pensamentos. Uma tempestade estava prestes a cair.

Francis já havia sido enterrada, havia muitas e muitas flores em cima da terra, Remo apenas olhava com os olhos vermelhos. As lágrimas escorriam e ficou firme. Apanhou um papel de seu bolso, uma carta para sua mãe e jogou junto com algumas flores. Lílian começou a dar vestígios que iria desmaiar. Ela também havia perdido a mãe, duas vezes. Francis havia adotado Lílian como filha, assim como Remo tinha adotado a ruiva como irmã. Ela sofria bastante ali e Remo pediu que Tiago a levasse embora. As pessoas passaram por ele o cumprimentando, dizendo o quão fabulosa sua mãe fora. Havia muitas pessoas ali, cuja Francis tinha as curado com o seu poder. Mas ele queria ficar sozinho. Com outro trovão uma chuva fininha começara a cair.

- Aluado, vamos. Vai ficar doente se continuar aqui. Todos já foram embora... - disse Sirius - Vem, vamos.

- Eu quero ficar um pouco mais.

- Remo, eu...

- Sirius, por favor, me deixe ficar. Eu sei o que estou fazendo.

Sirius abraçou Remo mais uma vez e foi embora. Ele fitava a lápide da sua mãe e se perguntava o que mais estaria por vir. Perguntou quem seria o próximo e desejou que se houvesse mais alguma morte, que fosse a dele. Não suportaria mais nenhuma dor, ele não agüentaria mais nada.

A chuva deixou as roupas de Remo pesadas e ele desabou no chão e encolheu-se. Ficou horas ali, tentando não pensar em nada, ficar quieto e deixar que a tempestade lavasse seu corpo e levasse sua dor junto com a enxurrada. Foi então que seus olhos miraram o bosque novamente. Ele fitou as árvores, as pedras e tentou enxergar mais do que mato verde e terra molhada. Levantou-se e andou vagarosamente para a sua casa. Ele sentiu seu estômago doer de ansiedade. Entrou em casa e fechou a porta e ficou bem quieto. Tornou abrir a porta novamente e observou a chuva molhando o chão. O cheiro de eucalipto e terra molhada invadiram as suas narinas. Assim como outro cheio familiar que pensou em ter esquecido: Melane. Ficou em pé, esperando algo acontecer.

Ele viu alguém bem longe caminhar com os braços encolhidos. Sentiu as pernas bambas e borboletas no estômago. Era ela, que correu e de repente estava em seus braços e quase quebrando suas costelas.

- Eu sinto muito – ela resmungou em meio as minhas lágrimas – Por tudo. Eu queria ter estado perto de você quando tudo aconteceu...

- Você está, Melane.

Remo a soltou delicadamente e olho-a tristemente. Observou o rosto dela, os olhos, matando sua saudade aos poucos. Aquilo parecia irreal para Remo e foi o toque da mão gelada de Melane que o acordou; percebeu que ela estava na sua frente chorando sem parar. Ela passou a mão no rosto molhado de Remo e ele beijou a mão da garota e perguntou:

- Por onde esteve este tempo todo? Pensei que nunca mais te veria.

- Em algum lugar que não pensasse em você – respondeu tentando enxugar as lágrimas – Mas tem sido impossível. Vamos embora comigo, Remo. Ir embora deste lugar...

- Melane, não é fugindo que resolvemos os nossos problemas. Eu não posso ir embora.

- Por favor... – ela continuou – Não há mais nada que nos prenda aqui. E a única coisa que me prendia, eu vim buscar...

- Eu simplesmente não posso fugir com você – ele disse sério. – Você quem virou as costas para mim. Foi embora não sei para onde, deixando todo mundo preocupado. Me deixou com o coração na mão – ele desabafou. Ela reivindicou, falou, falou e reclamou. Gesticulando bastante as mãos, apontando o dedo indicador, comprimindo as sobrancelhas como costumava fazer quando nervosa. Ele sentia falta daquilo. Não ouvia uma palavra sequer, apenas prestava atenção em seus gestos e olhar mandão. Foi quando ela virou-se e foi embora batendo a porta. Remo rapidamente e abriu a porta e segurou Melane pelo braço. Ela virou-se com certa surpresa nos olhos, ele encarou Melane. Simplesmente a amava e não queria que ela fosse embora novamente. Ele estava assustado por tê-la por perto, queria observar todos os seus movimentos, sentir o cheiro de seus cabelos molhados e dizer quão a amava o quanto ela significava para ele.

- Por favor, não me deixe sozinho – ele pediu – Esta noite não.

Remo puxou a garota para mais perto e secou suas lágrimas dela que se misturavam com a água da chuva. Eles se encararam e os narizes se encostaram. Melane fechou os olhos e ele beijou-a. Ela se entregou aos lábios de Remo que experimentava o seu sabor como se fosse pela primeira vez, explorando-a, devorando-a.

Eram apenas Remo, Melane e a chuva que tornou-se testemunha do casal. Os lábios se separaram e um sorriso escapou os lábios de Remo.

- Vamos entrar, vamos... – ele disse conduzindo Melane para dentro, ele fechou a porta e analisou rapidamente Melane.

- Faz tempo que não toma banho, hein – ele disse referindo-se aos joelhos da garota sujos de terra.

Remo apanhou no armário alguma das poções cicatrizantes que costumava usar quando ele se auto machucava quando virava lobisomem. Entrou na sala e viu que Melane estava jogada no sofá parecendo cansada e logo que notou a presença dele na sala sentou e se recompôs.

- Que é isso?

- Poção para estes seus arranhões. Não perde o costume de se arranhar toda...

- Você diz isso como se eu gostasse de me machucar.

- Você gosta – ele disse, embebedando o algodão em um líquido verde – Porque sabe que eu sempre dou um jeito neles.

Ele passou o algodão na mão arranhada de Melane. Aquela era a mão que supostamente havia mordido, não havia marca nenhuma e de certa forma aquilo o aliviou.

- AI, AIEEE! – ela reclamou puxando a mão - Isso arde, sabia?

Remo olhou mandão para ela que mostrou a língua em resposta. Voltou a molhar o algodão no líquido verde e olhou para o braço da garota todo arranhado.

- Você saiu rolando o morro para se arranhar deste jeito? – ele perguntou, em um gesto arrancou aquilo que um dia fora a manga da blusa de Melane. Imediatamente arrependeu-se de ter feito e sentiu o rosto quente. Passou o algodão no arranhão e percebeu que Melane ria dele. Ele odiava ficar vermelho perto dela.

- Remo, isso é apenas um braço.

Ele nada respondeu e continuou a passar o algodão nos ferimentos. Melane tinha uma pele macia, ele se distraiu e percorreu o algodão pelo ombro chegando ao pescoço. Aproximou-se do pescoço nu de Melane e o beijou, seguiu para perto da orelha e depois para a boca de Melane. Ela retribuiu o beijo ansiosa, afoita, sentindo o gosto de Remo e desejando que ele não parasse nunca. Mas ele parou ofegante e sorriu mais uma vez. Pegou-a no colo e girou-a no ar. Estavam feliz e juntos e isso era o que realmente importava naquele momento. Ele a tinha nos braços, nos lábios e no coração. Subiu a escada e colocou-a no chão. Melane passou a mão nos cabelos ainda molhados de Remo e beijaram-se novamente, Melane percorreu uma mão pelas costas de Remo e com a outra fechou a porta do quarto.


N/A: "Como assim, Cami?"O que vocês esperavam, hein? Melane estava fora há meses, os dois se amam, os dois sentiam falta um do outro. Os dois tem 18 anos, hormônios e paixão combinados, seguido de saudade! Deu no que deu. Quer saber o que aconteceu quando Melane fechou a porta? Maiores informações em "Esta noite não" , okay? Não coloquei aqui porque de principio não publicaria, ficaria só entre nós três (Melane, Remo e eu). Mas resolvi publicar como um bônus. Quem quiser dar uma espiadinha!

Mais uma coisinha, eu demorar um pouco pra colocar este capítulo mas eu vou viajar e sabe-se lá quando vou voltar, então eu já atualizei assim ninguém briga comigo.

Aluada-Digrin : POR MERLIM! – capota dez vezes, se levanta e dança feliz – Você lê o Recomeço! – solta fogos - Eu achava que ninguém lia mais aquela bagaça porque a cada ano luz eu atualizo e ninguém deixa comentário e tudo mais.... Você já sabe o que está por vir, né? Vai ficar daquele jeito mesmo, (pra você ver como os dois são enrolados) esta fic é uma sidestory (uma história dentro de outra história) do Recomeço, assim como Amo-te tanto. Então tudo o que acontecer lá envolvendo Remo e Melane vai acontecer aqui também. O Snape foi muito filho da mãe, né? Por isso que eu amo ele. Mas calma porque o Remo vai dar um jeito naquela situação e você vai ficar sabendo por aqui, daqui alguns capítulos.

Yasmine Lupin: Acho que suas perguntas foram respondidas com este capítulo!


Cena do próximo capítulo:

- Droga, Remo! Como ela é bonita! Ela tem o cabelo liso, você sabe o que isso significa?

- O quê?

- Não se faça de tonto porque você não é. Todo homem que se preze sabe o que um cabelo liso significa.

- Onde você quer chegar com isso?

- Bom, você e Savana. Savana e você...

- Cê tá com ciúmes? – perguntou Remo se divertindo olhando a carranca de Melane.

- Ciúmes, EU? – retrucou ofendida – Eu não tenho ciúmes, imagine!