Capítulo dezesseis – A despedida
"Você dividiu comigo a sua história e me ajudou a construir a minha. Hoje mais do que nunca somos dois. A nossa liberdade é o que nos prende. Viva todo o seu mundo, sinta toda a liberdade. E quando a hora chegar, volta. Porque nosso amor está acima das coisas deste mundo" - Jota Quest, Mais uma vez.
Naquela sexta feira Melane estava bastante agitada do que o normal. Estava visivelmente avoada, mais do que o normal, estava quieta e passou o dia inteiro comendo porcarias. Remo estava distante também, pensando em sua mãe e a falta que ela fazia. E perguntou-se como ele estaria se Melane não tivesse feito companhia para ele durante aqueles dias.
Remo repouso o livro em seu colo e encarou Melane, que estava com os pés no sofá com o olhar fixo em algum lugar do cômodo. Não demorou muito para ela notar que estava sendo observada e tirou os pés do móvel rapidamente sorrindo amarelo. Ele sentou ao lado de Melane e beijou levemente seus lábios.
O que está acontecendo, Melane? Outro dia você me disse que tinha coisas importantes pra me dizer. Eu estava esperando você tocar no assunto sozinha, mas...
Ela mordeu o lábio inferior e suspirou meio nervosa.
Eu não sei por onde eu começo.
Por que não pelo começo?
Eu gostaria de saber onde é o começo, Remo... Eu preciso sair.
Quer ir pra onde?
Você não entendeu, eu preciso ir embora, Remo. Era para eu estar longe a estas alturas. Da primeira vez que decidi ir embora eu pensei em passar aqui para dizer tchau mas eu sabia que minha vontade de ir embora ia diminuir e com o tempo desaparecer. Eu escrevi uma carta pra Rouge...
Ela nos mostrou a carta.
Eu comecei a trabalhar e juntei dinheiro para poder sair da Inglaterra. Então eu fiquei sabendo que a sua mãe tinha morrido – ela contou com os olhos marejados – Decidi passar aqui para ver como você estava, n-não planejava ficar aqui. Não planejava é... Falar com você, sabe? Porque e-eu sabia que se eu fosse falar com você, Remo... Eu, eu perderia a minha coragem. Mas daí eu desisti quando estava indo embora, eu queria conversar com você, sentir o seu cheiro de novo... Mas daí... Eu vi que perdi a minha coragem e não posso desistir dos meus planos agora. Eu tenho que ir embora hoje de noite. Era melhor eu não ter aparecido.
Também acho – Remo concordou levantando-se do sofá.
Você tem que me entender, Remo. Você precisa.
Melane, você não sabe do que eu preciso... Não mesmo.
Remo, não dificulte as coisas. Eu resolvi passar aqui porque eu sei que é horrível perder alguém querido. A primeira semana é terrível... Você tem o Tiago, a Lílian, Sirius, Pedro. Tem uma porção de amigos... Eu vou embora, mas eu volto – ela disse indo em direção a ele.
Mas a pessoa que mais preciso vai embora e vai me deixar de novo, como fez da última vez. Não vê que eu quero você perto de mim, Melane? Você gosta de sair por aí destruindo corações.
Eu não gosto! – negou Melane – Remo, você tem uma identidade... Tem uma casa, está procurando um emprego.
Lá vem você com este papo de novo.
É lógico! Você tem que entender, Remo. Vou ficar fora por uns tempos mas eu vou voltar e nos podemos começar de onde paramos.
Melane, a gente nem começou nada direito.
Por que não vem comigo então?
Porque eu não posso!
Por quê?
Porque eu tenho um trabalho a cumprir aqui. E você poderia se unir a gente, mas não, você quer ir embora... Ir pra não sei aonde, construir uma vida e depois largar tudo isso e voltar para a Inglaterra. Grandioso o seu plano.
Não distorça as coisas! – disse nervosa – É importante isso pra mim... Me especializar em D.C.A.T na França, me graduar em Poções, estudar vampiros na Romênia, ver as pirâmides no Egito. Eu preciso ver o mundo, preciso estudar pra ser alguém. Ter orgulho de mim mesma.
E pretende se bancar como?
Não sei... Fazendo bicos, trabalhando em alguma coisa, eu não sei. Eu me virei bem durante estes meses. E lá eu não vou ter meu pai metido com Artes das Trevas até o pescoço, me caçando como uma Comensal da Morte e querendo que eu me case com um monstro. Não vê o meu lado? Você também não quer ceder.
Antes da minha mãe morrer ela me aconselhou duas coisas. Eu poderia ir embora e ficar aqui.
Escolheu ficar aqui, por quê?
Alguém vai precisar da minha ajuda, a Ordem e tudo mais. Minha mãe disse que se eu ficasse aqui ajudaria muitas pessoas.
E quanto a você? A sua felicidade? – perguntou colocando a mão no ombro de Remo. Ele virou-se e respondeu:
Eu vou ficar feliz em ajudar os outros e mais ainda de saber que minha missão está cumprida...
E você acha que está certo eu ficar aqui pensando nas coisas que eu poderia ter feito, Remo? Está sendo incompreensível...
Talvez...
E nós, como ficamos? – Melane perguntou limpando os olhos.
Nós? – e riu nervoso.
Vamos ficar brigados pro resto da vida?
Remo cruzou os braços em resposta.
Okay... – concordou mal humorada. Ele assistiu Melane subir as escadas e seu coração ficou pequeno. Talvez aquele fosse um sinal de que ele nunca poderia ficar com ela como um dia havia sonhado. Melane desceu as escadas com as roupas que Daniel tinha havia deixado para ela.
Vai embora agora? – perguntou olhando pro relógio. Eram seis e meia da tarde - Você vai sair do país hoje?
Vou, meu navio saí às oito – ela contou - Tenho que pegar a minha varinha também.
De navio? – perguntou preocupado – Isso é perigoso...
Mais perigoso que recuperar a minha varinha não é – Melane falou amarrotando as roupas em um mala – Peguei esta mala emprestada. Quando eu voltar – ela frisou – Eu te devolvo, isso se você lembrar de mim e não se corroer neste ódio e egoísmo que você virou.
Não ponha palavras na minha boca, Melane. Eu não te odeio – ele disse tomando as roupas de Melane – Guardar!
As poucas roupas de Melane arrumaram-se sozinhas na maleta.
Obrigada, eu odeio fazer e desfazer malas.
Onde você largou a sua varinha?
Meu pai tomou de mim e está na minha casa.
E você vai sozinha?
É o que parece – respondeu como se o desafiasse.
Melane, você...
Sermão agora não, Remo – replicou mal humorada - Eu não sou criança e sei muito bem dos riscos que estou correndo e não posso ficar sem a minha varinha agora.
Eu vou com você.
Achei que ficaríamos brigados pro resto de nossas vidas.
Melane, a gente tem que fazer algo mais importante. Depois decidimos o que vamos fazer de nossas vidas...
Remo convocou para o resgate Tiago, Lílian e Sirius. Pedro não pode vir porque estava em uma missão pela Ordem da Fênix. Remo bolou um plano e os cinco foram para a mansão Valentine. Ele observava Sirius, Tiago conversarem com Melane mais a frente.
O que você vai fazer agora? – perguntou Lílian.
Como assim? Eu já te disse, o plano é ... – começou Remo – Você, Tiago e...
Não se faça de cínico – interrompeu a ruiva – Sabe do que estou falando. O que vocês conversaram? A atmosfera está tensa entre você e a Mel.
Esperava o quê, Lily? Que eu soltasse rojões ao ver que ela vai embora de navio pra França? – falou bastante mal humorado.
Eu esperava que você fosse compreensível, Remo. Ela está sendo com você...
Est�? – perguntou em um tom irônico.
Est�, Remo. Abra seus olhos... A Mel tem uma sede enorme de provar pra ela mesma que é capaz de sobreviver sozinha. Ela sempre sonhou em estudar na França, é um sonho dela. Assim como é o seu sonho estar na Ordem da Fênix. Você não a incluiu em seus planos.
Porque eu pensei que ela estivesse do meu lado, do nosso lado – ele disse.
Mas ela está... E se Melane não se envolveu nisso ela têm seus motivos. Ela conversou com Dumbledore...
Como você sabe?
Porque ela contou para mim e pra Rouge, já faz um tempo isso. E acho que Dumbledore, de certa maneira, alimentou os sonhos dela, deve ter mostrado que o lugar dela não é aqui, Remo. E nós temos que aceitar.
Eu já aceitei.
Não parece.
Eu aceitei a decisão dela, mas não concordo.
O amor de vocês é muito mais do que isso – animou Lílian – Quando Melane voltar você vai estar esperando por ela.
Eu tenho medo que ela não volte e que se envolva em alguma enrascada e não posso fazer nada para ajudar – ele disse – Apesar que ela esteve fora e enfrentou algumas coisas e também não pude fazer nada.
Olha, no seu lugar eu teria medo mesmo – confessou Lílian – Mas se o Tiago tivesse esta necessidade de descobrir outras coisas e se eu quisesse ficar aqui, eu o deixaria ir. Sem mágoas, sem rancores.
Eu não tenho nenhum rancor só não quero sofrer mais – ele disse parando de andar. Estavam na esquina da casa de Melane.
Melane, vê se não estraga nada – caçoou Sirius – Vamos, lá.
O grupo separou-se. Tiago, Sirius e Lílian seguiram para casa de Melane enrolando os pais da garota com falsos paradeiros dela. Já Melane e Remo entrariam pelos fundos da mansão e procurariam a varinha no escritório de Kian, pai de Melane.
Está brava comigo? – ele perguntou antes de pularem o portão da casa.
Lily fez uma lavagem cerebral em você, hein – falou ressentida.
Lílian não fez nada, Melane.
Ele iria continuar a falar mas Melane começou a subir o portão de sua casa. Então ele começou a fazer o mesmo.
A minha casa não tem a mínima segurança nestes portões – comentou Melane andando pelo jardim – Os vigias ficam ali... Mas não estão lá. Me empresta a tua varinha.
Ele estendeu a varinha para Melane que advertiu para não pisar nas pedras brancas espalhadas ao longo do jardim porque eram armadilhas. Ela estuporou os cinco vigias facilmente e os dois entraram na mansão. Como já era tarde, a maioria dos empregados estavam recolhidos em seus quartos. Andaram por muitos corredores e pararam em frente do quarto de Melane.
É perigoso você entrar ai, Melane... Vai que tem alguma coisa, um alarme, não sei. Vamos...
Ela passou a mão na porta de madeira grossa e ameaçou a girar a maçaneta. Remo colocou sua mão no ombro de Melane que disse:
Eu estava com algumas dúvidas... – ela disse baixinho – Se era certo mesmo sair daqui do jeito que eu saí. Eu estava com medo ainda... – confessou olhando para Remo – Mas eu não pertenço a esta casa, Remo. Nunca vou pertencer... Tô feliz - e abriu um sorriso. – Temos que achar a minha varinha agora.
Quando Remo estava prestes a onde os dois estavam indo Melane abriu uma porta. Era uma biblioteca enorme, imensa e os olhos do rapaz brilharam ao ver tamanha grandiosidade.
Eu achei! – disse animada.
J�? Não vai vasculhar nada? Jogar papéis e livros pro alto e estas coisas?
Não...
Tá fácil demais isso – ele comentou aproximando-se de Melane – Sua varinha jogada com um monte de penas e pergaminhos velhos em uma gaveta.
É, mas eu tenho que correr o risco – ela hesitou um pouco antes de apanhar a varinha. – Agora eu posso dominar o mundo! – caçoou. – Quer algum livro? Eu percebi que você anda lendo mais do que o normal.
Não, obrigado... Melhor a gente sair daqui rápido. Sirius, Tiago e Lílian não vão agüentar muito tempo lá embaixo.
Melane assentiu e os dois deixaram a luxuosa biblioteca para trás. Passaram pelos mesmos corredores cheios de quadros. Andavam apressadamente, quase que desesperados.
Aqui fica o quarto de minha mãe... – ela disse parando de falar. Os olhos faiscantes de Melane estavam envoltos de uma neblina densa, olhar melancólico. Ele quis falar que não havia tempo de se despedir, argumentar que a qualquer momento algum serviçal ou até mesmo Kian Valetine poderia surpreender os dois, mas Remo não fez nada. Ela tinha o direito de se despedir decentemente de sua mãe antes de embarcar em um navio pra França. Ele pensou em sua mãe naquele momento e desejou ter uma segunda chance de despedir-se novamente. Se Melane tinha esta oportunidade ele não negaria isso a ela.
Remo ficou do lado de fora, tenso. Não queria nem pensar em ser apanhado pelo Sr. Valetine em sua casa. Mas não agüentou de ansiedade e entrou no aposento. Havia uma saleta, com poltronas, quadros e janelas cobertas com grossas cortinas carmim. Mais a frente era o dormitório da Sra. Valetine, ele escutava o som choroso da voz de Melane.
O que está fazendo aqui? – a mãe perguntou em uma voz seca.
Eu só queria dizer adeus para a senhora.
Melane, eu passaria muito bem seu o seu adeus...
Sra. Valetine vestia um longo vestido preto, estava abatida, branca e com enormes olheiras arroxeadas embaixo dos olhos opacos. Ela não possuía mais o ar de superioridade que apresentava das vezes que Remo a viu. Parecia indefesa até, mas tentava manter a pose forte em frente de sua filha.
Afinal, você escolheu o que queria, não é mesmo? – Sra. Valetine continuou - E vejo que você tem companhia nesta sua insanidade louca de vir até aqui...
Melane virou-se e viu Remo ao pé da porta.
A senhora nunca vai mudar, não é mesmo? – Melane falou amargurada – Eu achando que estava preocupada comigo, quem me dera.
Por favor, Melane! – ela ralhou – Não se faça de vítima. Agora vai embora e leve seu amigo junto, não vai demorar muito para teu pai aparecer aqui e matar os dois.
Adeus, então.
Melane aproximou-se desajeitada da mãe e abraçou-a.
Me deseje sorte.
Te desejo juízo, é disso que precisa – e abraçou a filha formalmente.
Sra. Valentine lançou um olhar duro para os dois e virou as costas para a janela. O rosto de Melane estava banhado de lágrimas e os dois saíram da propriedade sem maiores dificuldades. Os dois agora andavam sem rumo, em baixo de um céu cheio de estrelas e sem a luz do luar.
Quero estar bem longe quando meu pai dar por falta da varinha – ela comentou.
Você estará – Remo respondeu – E quando voltar, estarei te esperando.
Mudou de idéia ou foi a Lily quem fez a tua cabeça?
Eu já sabia que você iria embora, Mel. Mas eu quis tapar meus olhos... Não queria ver que, sei lá... Perder duas coisas que eu amo ao mesmo tempo é difícil. Mas também não quero sair daqui agora. Sou importante aqui, de alguma maneira. E... – ele suspirou – Não posso te privar dos seus sonhos.
Ela sorriu, quase querendo chorar novamente. As cordas vocais de Remo tinham se transformado em um bolo. Não queria se despedir, não queria vê-la chorar.
Somos escravos da nossa liberdade... – ela disse em um suspiro.
O que faremos agora? – Remo perguntou desolado.
É hora de dizer adeus.
Eu odeio despedidas... – ele falou, aproximando-se de Melane.
Eu também odeio. Eu estou tão assustada, Remo – a garota confessou.
Mas você quer isso, não quer?
Quero, mesmo assim eu estou com medo. Desta vez eu sei que você não vai estar por perto... Tem certeza que não quer ir comigo mesmo?
Remo sorriu com a pergunta de Melane.
Nós podemos dar um jeito! – ela disse com uma animação repentina – Estaremos em um navio trouxa, e... Qualquer problema nos usamos mágica e pronto!
Tem certeza que não quer ficar aqui comigo? – ele perguntou. O sorriso de Melane desabrochou como uma flor no outono. – Por mais que eu queira que você, fique, eu torço para que tudo dê certo lá na França. Com seu curso, com os seus trabalhos provisórios. Eu só peço que você me de notícias. Eu vou rezar por você – ele contou – E vou rezar para que você não caia nas graças de nenhum francês almofadinhas.
Ela sorriu fraquinho e disse:
Remo, eu amo você. E não vou cair nas graças de nenhum francês.
Ele ficou congelado por alguns segundos, processando as palavras de Melane, que o abraçou com força. O cheiro do shampoo que ela usava adentro as narinas de Lupin, que perguntou-se quanto tempo ele ficaria sem sentir o cheiro de Melane. Quando tempo ele acostumaria a pensar que ela estaria na França e ele na Inglaterra. Um oceano iria separílos daqui há alguns minutos. Então, ele abraçou Melane com força e ela chorou baixinho em seu ombro.
Eu amo você, Mel... E não vejo a hora que você volte para cá cheia de novidades e histórias para contar.
Remo secou as lágrimas de Melane e segurou-se para não derramar as suas também. Ele então a beijou. E pela última vez sentiu os lábios de Melane sincronizarem junto com os seus.
N/A: Desculpe a demora, estava com preguiça de escrever. Continuem deixando reviews porque vocês me animam muito D Eu terminei de escrever o capítulo neste exato momento, se tiver muitos erros, me dá um desconto. Fiquei com preguiça de betar!
Yasmine Você virou minha comadre agora, né? Que bom. Realmente, o Remo estava meio (pra não dizer inteiro) folgado pra cima da Savana, coisa de homem.
Kirina Você voltooooooou! – faz festa – Não entendeu o lance do cabelo liso, né? Talvez porque você tenha um cabelo liso! Todo homem BABA, por um enorme e cabelo liso. É sério, já fiz a minha boca de urna com meus amigos. Por que tanta menina sofre fazendo chapinha? Pra aguadar os homens, em sua maioria. Entendeu o por quê do escândalo da Melane? Ela tem o cabelo cacheado e sentiu-se ameaçada. Mas todas nós sabemos que o Remo gosta um tantãão dela.
Mariana: Estou fazendo uma lista das fics que eu li e vou mandar pra você por e-mail. Não li muitas, porque sou meio preguiçosa... / Obrigada pelos elogios e fico muuuuuuuuuuuuuuito feliz de saber que você acompanha a Recomeço. Acho que ainda nesta semana, saí o próximo capítulo. Eu também sou louca pelo Snape.
Cena do próximo capítulo:
– Tive a sensação que nunca mais a veria, sabe? – o lobo comentou.
Sirius sentou-se no sofá ao lado de Remo e fitou-o por alguns segundo, ensaiando o que tinha para dizer.
- Por que não foi com ela, Aluado? Vocês dois parecem tão certos quando estão juntos. Por que deixou ela ir embora?
