Capítulo dezenove – Ordem dos Lobisomens
Hudson piscou várias vezes antes de abrir os olhos. O homem apodrecia por dentro. Estava magro, olheiras grotescas, hematomas ao longo do corpo. Hudson vestia trapos, estava sujo de terra e sangue. As transformações haviam sido mais cruéis com ele, pensou Remo.
"Eu não posso viver mais assim! Eu sou uma aberração agora – ele berrou. – Uma aberração!"
Remo não disse nada enquanto limpava o rosto sujo do homem.
"Isso não há cura?"
Remo sorriu.
"Não. Não existe cura."
"E você ri disso, desalmado?"
"Quer que eu chore? Não há cura. Isso é uma maldição..."
"Bem vindo ao inferno, Thompson – Remo disse – Tome isso daqui, vai aliviar as dores..."
"Por que está me ajudando?"
"Porque sou um idiota por completo. Eu já volto..."
Remo desceu a escada para pegar toalhas limpas e encontrou Sirius enfurecido na sala.
"Remo, você está ajudando o assassino de sua mãe."
"Sirius, você viu o estado dele? – questionou Remo – Viu o pé dele? Meio lobo meio humano. O cotovelo dele está em carne viva, sem contar o sangue pelo corpo, todos aqueles cortes e hematomas."
"Ele é um assassino – continuou Sirius."
"Você acha que não me dói isso, Sirius? Acha que é fácil. Mas se a minha mãe estivesse viva iria querer que eu ajudasse aquele trapo de gente."
"Ele tem razão – Rouge disse. – E outra, ele já teve o que mereceu."
"Às vezes eu queria poder pensar como vocês dois pensam. Thompson é procurado pelo Ministério da Magia, pela Ordem da Fênix. Liderava Comensais de Morte, matou a sua mãe e uma porção de pessoas. E agora ele está aqui" – completou Sirius nervoso.
"Sirius, ele vai pagar pelo que ele fez – a ruiva gesticulou – Assim que ele melhorar o estado de saúde, nós levamos ele para Azkaban e ponto final. Está decidido, não estÿ"
"Está – falou Remo – Tenho que pegar umas toalhas agora."
Sirius bufou alto. Remo voltou ao quarto e Hudson estava sentado na cama, analisando o quarto onde estava.
"Você não parece estar doente" – Hudson comentou mal humorado.
"Eu estava internado em St. Mungos desde ontem de manhã" – comentou Remo, puxando uma cadeira para perto da cama.
"Eu estive insano durante todos estes dias" – ele comentou – "Eu estava tomado, foi horrível... Na primeira noite eu me tranquei. Na segunda fiz a mesma coisa, mas quando acordei eu estava deitado em uma sarjeta e assim foram todas as outras noites. Acordava cheio de sangue, sangue que não era meu."
"Você mordeu mais alguém?"
"Eu não sei! Se eu pudesse voltar no tempo..." – lamentou baixinho.
"Mas não pode – falou Remo – Você é um lobisomem agora. Uma semana ao mês, no período da Lua cheia você vai dar lugar ao lobo que divide o corpo com você. Três dias antes da transformação, você vai pegar algo parecido com uma gripe. Vai ficar mal humorado, dores de cabeça, dores pelo corpo. E há cada dez anos virá a Lua Azul, que foi a que passamos nestas últimas noites. Ela serve para eliminar os lobisomens da Terra e se sobreviver, sorte sua... Ou azar – ele acrescentou. – Somos alérgico a prata. Qualquer tipo de contato com o metal sagrado causa coceira, irritação, queimaduras. E se a prata entrar em contato com a nossa corrente sanguínea é morte instantânea. Não diga para ninguém que você é um lobisomens, porque nós não somos bem vindos pela maioria dos bruxos."
"Você tem amigos e uma namorada" – ele comentou debochado.
"Qual era a sua opinião sobre mim antes de você se tornar um lobisomem? – perguntou Remo – Está entendendo agora? Eu demorei para conquistar os meus amigos. Ninguém aceita com facilidade os lobisomens, Thompson."
"Eu sei."
"Então fique esperto. Onde está sua varinha?"
Hudson retirou a varinha do bolso e Remo pegou-a.
"Vai ficar com a minha varinha?"
"Quer ajuda? Então vai ser do meu jeito..."
"Então o cara está lá em cima – comentou Pedro com uma voz entusiasmada – Deixa eu dar uma olhadinha nele, Aluado? Deixa, deixa?"
"Não fale besteiras, Rabicho – falou Remo."
"Eu sempre quis conhecer um assassino – comentou Rabicho."
"Na próxima Lua cheia lembre-se de ficar na minha frente – respondeu Remo."
"Rabicho, você é muito tapado... – Sirius disse, esticando-se na grama coberta de neve".
Os quatro estavam deitados no chão branco de neve, perto da árvore que Melane havia plantado.
"Estou cansado desta guerra... – Rabicho continuou a falar – A gente só perde. São vinte Comensais para cada cinco pessoas da Ordem. Todos nós vamos acabar mortos."
"Remo, meu amigo lobo, por favor... Mate o Rabicho! – pediu Sirius com uma voz chorosa."
"Mas é sério, Almofadinhas – reafirmou Pedro - Eu odeio perder, não gosto de perder... E toda vez que saio em combate a gente perde. Quantas baixas, quanta perda de tempo. Como vocês acham que estaremos daqui há dez anos? Todos mortos, com certeza...
"Eu espero até lá ter passado no exame para ser Auror. Ter uma casa boa. Ser livre e não ter muitos compromissos – contou Sirius.
"Aposto que o Tiago vai ter uma renca de filhos – comentou Pedro – Eu sinto falta dele, sabe... Agora ele só fica com a Lílian.
"Pedro, o Tiagose casoucom a Lílian – falou Remo rindo – Quer o quê? Que ele fique vadiando junto com a gente?
"Nós chegamos antes que a Lílian – respondeu Pedro. – Sabe que eu espero de mim mesmo?
"Mais cérebro? – arriscou Sirius.
"Mais espaço no estômago? – perguntou Remo rindo.
"Eu espero ser famoso – Pedro revelou.
"Um silêncio estranho ficou no ar. Remo sentou-se e olhou Pedro.
"Famoso?
"É... ter fama. Imagine só, todo mundo me conhecer... Não por ser o amigo do Tiago, aquele que andava com Sirius e Remo. Quero ser eu mesmo, sabe?
"Tà tudo bem. Famoso por fazer o quê? – perguntou Sirius.
"Eu sei lá... – o rato resmungou.
"Então comece a trabalhar nisso, seu cabeça de rato – disse Sirius.
"Vou dar uma olhada em Hudson – falou Remo levantando-se – Já volto.
Remo deu a volta em sua casa e encontrou duas pessoas paradas em frente a sua casa.
"Posso ajudar? – ele disse.
Os dois homens se viraram e Remo já os conheciam. Eram Hugh e Richard, os lobisomens que estavam internados em St. Mungos junto com ele. Remo espantou-se ao vê-los. Era extremamente i estranho /i os dois parados em frente a sua casa.
"Ol� Remo. Precisamos falar com você – anunciou Richard.
"Por favor, entrem... – e abriu a porta de sua casa. – Do que se trata?
"Somos da Ordem dos Lobisomens. Eu e Hugh estamos representando a O.L e queremos fazer algumas perguntas.
"Eu também – Remo disse surpreso.
Desde quando havia uma Ordem dos Lobisomens? E o que Richard e Hugh queriam com ele?
"Você mordeu um homem há duas semanas atrás? – perguntou Richard.
"Mordi.
"Era Hudson Thompson?
"Ele mesmo.
"Nós mantemos um controle de lobisomens e nunca tivemos graves problemas com você, Remo. Você é o i único /i que vive no meio de bruxos e trouxas, sabia?
"Não – respondeu. Para ele tudo ali era novidade.
"E você era motivo de orgulho nosso. Porque todos os lobisomens do Reino Unido moram em uma espécie de Universo Paralelo, que o Ministério da Magia nos colocou lá. Você era motivo das nossas últimas reuniões para voltarmos a conviver com os trouxas e bruxos normalmente – contou Richard.
"Até você morder o Thompson – terminou Hugh.
"Se o motivo fosse só este, mas não. Thompson durante esta semana fez onze vítimas, todas elas trouxas. A maioria andarilhos na cidade, sem parentes, ninguém sentirá falta deles. O problema foram os três trouxas que Thompson vitimou, uma delas virou lobisomem e este trouxa era uma mulher.
"E as mulheres não sobrevivem a mordida de lobisomens.É raro...– contou Hugh – Esta mulher tinha uma família, tinha dois filhos e estava esperando outro.
Remo simplesmente não acreditou no que estava ouvindo. Tantas mortes decorridas por causa de sua imprudência. Por causa de sua sede de vingança. Ele sentou-se no sofá e tentou respirar calmamente. O ar entrava e saia com certa rapidez de seus pulmões. Faltava-lhe ar. Faltava-lhe o chão.
"Eu não...
"Você não sabia – disse Hugh. – Por que fez isso, Remo? Quando você o mordeu? Nós queremos saber, porque as datas simplesmente não batem – perguntou o loiro.
"Hudson trabalhava para Voldemort – contou Remo – E eu trabalho para a Ordem da Fênix e...
"Nós sabemos desta parte – interrompeu Richard.
"Eu capturei o filho de Hudson, que foi mandado para Azkaban. Hudson quis se vingar, veio até a minha casa e matou a minha mãe. Ele simplesmente a matou. Minha mãe já estava doente, estava indefesa. Cheguei em casa e vi minha mãe – contou Remo sentindo sua vista embaçar devido as lágrimas que acumulavam em seus olhos – Ela morreu em meus braços. Eu desejei matar Hudson com todas as minhas forças, eu quis matar ele, quis sentir o sangue em minha boca. De repente eu era lobo e estava caçando ele aqui no bosque da minha casa, pra onde ele havia fugido depois do assassinato. Eu ia mata-lo, mas meu amigo me impediu. Depois daquele dia não tive notícia dele até ontem.
"Falou com ele? – perguntou Hugh.
"Ele veio aqui... Está horrível – continuou Remo – Da cintura para cima ele é humano e o resto ele é lobo. Ele não agüentou a Lua Azul e está morrendo... Eu acho.
"Tantas coisas de uma vez que... – Richard disse – Você transformou-se em lobo sem estar na Lua cheia?
"Exato. E não me pergunte como eu consegui isso – ele disse encarando Richard – Foi como se eu fosse um animago. Sem dores, sem ossos quebrados e cicatrizes.
Remo encostou-se no sofá e passou a mão pelos cabelos. Observou Richard e Hugh conversarem. Seu cérebro funcionava devagar naquele momento, não estava processando todas as informações que havia recebido nos últimos minutos. Ele seria preso por ter mordido Hudson? E todas as mortes que indiretamente ele havia Remo analisou Richard falando calorosamente com Hugh. Seus ouvidos não captavam som e vozes, apenas seus olhos de lince que trabalhavam. Richard tinha grossas sobrancelhas negras e olhos verdes. Parecia ter mais de cinqüenta anos e sua expressão era dura e amarga. Uma enorme cicatriz escura cortava seu rosto em diagonal. Já Hugh era mais sereno, os cabelos amarelo curtinhos. Mais jovial e Remo achou que fosse mais feliz que Richard.
Ei... Lupin.– chamou a voz grossa de Richard. – Não estava escutando né, garoto. Queremos ver o Thompson.
Remo levou os dois homens ao quarto de Thompson, que dormia pesadamente.
"O que vão fazer com ele? – Remo perguntou ansioso.
Hudson estava péssimo. Os travesseiro que usava estava coberto de cabelos, no lençol que usava havia manchas de sangue. Estava entregue e não havia muito o que fazer por ele.
"Ele não agüentaria... – disse Hugh baixinho. – O lobo está matando ele, você não vê? Ele não agüentaria nem uma Lua cheia normal.
"Ele é ruim, Lupin. O lobo está devorando-o por dentro – disse Richard – Thompson, acorde – e chacoalhou-o. – Vamos, abra os olhos, homem!
Hudson acordou assustado e um pedido de ajuda em forma de olhar foi lançado para Remo.
"Você sabe quantos problemas arranjou para nós, homem? – intimidou Richard – Uma série de assassinatos entre eles uma mulher. Grávida. Sabe o que isso significa?
"Eu não me lembro de... – Hudson começou a dizer.
"Não se lembra, homem? Tem certeza? – Richard falou e o doente encolheu-se na cama assustado. – Aposto que lembrou-se. Nós vamos levar você.
"Pra onde?
"Você verá. Levanta, homem. Se você matou vai ter que pagar agora – disse Richard parecendo furioso. Ele arrancou os lençóis da cama e puxou Hudson com a mão – Levanta-te. Quero ver você morder mais alguém.
Hudson era uma aberração. Tufos de belo marrom ao longo do corpo, os manchas de sangue e um cheiro fétido invadiu o quarto conforme o doente havia levantado. O estomago de Remo revirou-se e saiu do quarto enojado. Ele já não sabia o que era certo e o que era errado. Será que ele tinha feito a coisa certa ao morder Hudson? Desceu a escada pensando nisso e encontrou Rabicho e Sirius na sala, secando a neve dos casacos com a ponta da varinha aquecida.
"Que foi, Aluado? Viu um fantasma lá em cima? – Pedro perguntou.
"Ontem conheci dois lobisomens, no hospital. Hoje eles vieram aqui em casa e falaram que eram de uma tal Ordem dos Lobisomens. Me perguntaram sobre o Hudson e expliquei tudo – Remo contou depressa – Hudson saiu mordendo feito um louco por ai, matou uma série de pessoas. Agora eles vão levar o Hudson para uma espécie de universo paralelo que eles vivem.
O queixo de Pedro caiu e Sirius levantou uma sobrancelha.
"Que é? – resmungou Sirius – Universo paralelo? Ordem dos Lobisomens?
"Eles estão lá em cima. Acho que vão querer que eu vá junto com eles – falou Remo.
"Como assim? 'Cê está preso? – perguntou Remo.
"Quase... – disse Richard descendo as escadas. – Tem muita coisa a ser apurada. Hugh já levou Hudson através de uma chave de portal. Nós precisamos conversa, Lupin.
"Vocês o tempo todo sabiam de mim, então. Por que eu nunca soube de vocês?
"Porque não houve necessidade. Nós mantemos um certo controle dos lobisomens... Cuidamos para que outras pessoas não sejam mordidas.
"Controle de natalidade? – arriscou Pedro.
"É algo parecido... Daqui há alguns anos, não haverá mais lobisomens aqui no Reino Unido. E isso é uma coisa boa . Entrar em instinção, pelo menos aqui. Pra que passar a maldição para outras pessoas, não faz sentido, a não ser em seu caso, Remo. É completamente aceitável. Primeiro, porque o lobo tomou conta de você e eu nunca vi isso. Nunca. Só em livros – ele contou e Remo sentiu-se desconfortável – E Hudson matou a sua mãe, você teve razão ao querer morde-lo.
"É, mas se eu pudesse voltar no tempo eu não teria mordido.
"O que Hudson fez já passou, 'cê não tem nada a ver com isso, Remo – consolou Sirius – Ele foi a vítima. Se Hudson matou é porque sempre foi um assassino e quando virou lobisomem não foi diferente.
"O Ministério da Magia já resolveu o problema com os trouxas. Inventaram que um lobo fugiu do zoológico – contou Richard – Uma história completamente absurda mas parece que surtiu efeito e as vítimas que tinham parentes serão indenizadas. É aí que Remo entra. Você terá que prestar serviços ao Ministério da Magia e para a nossa comunidade. Nós mandaremos uma carta explicando e você será chamado pelo Ministério da Magia. Talvez eles obriguem você a viver conosco.
"Por quê? – espantou-se Rabicho – Remo nunca fez nada para ninguém... É, tirando o tal do Hudson.
Mas ele transformou-se em lobisomem sem estar na Lua cheia – Richard lembrou – Nós veremos, nós veremos... Agora eu tenho que tratar de outros problemas. Manteremos contato, Lupin. Não fuja – ele disse. Richard retirou um botão verde do casaco surrado e foi sugado pelo portal. O botão girou duas vezes no próprio eixo e Remo apanhou do chão.
Ele deixou a chave para você – falou Sirius. – Você vai?
N/A : Eu achei que já tinha colocado este capítulo. Desculpe MESMO pela demora. Foi escrito em dois dias e eu demorei um século pra atualizar!
