Luthy entrou como um vento em sua casa e se trancou no quarto, logo atrás dela chega seu pai, com cara de poucos amigos.
- O que aconteceu para Luthy entrar desse jeito em casa e ainda por cima chorando? pergunta Saori.
- O QUE ACONTECEU! Fala Kal, com a voz totalmente alterada.
- Aconteceu que fui fazer uma surpresa pra nossa filha, mas quem teve a surpresa fui eu! Ela quase me acertou com um golpe e se não desviasse a tempo teria arrancado a minha cabeça.
- Acalme-se querido, aposto que você está fazendo tempestade em copo d'água e...
Saori não pode continuar, pois, foi interrompida por Kal.
- Que tempestade o que!! É que você não faz idéia do que ela me disse. Ela disse que quer ser uma guerreira igual a mim. Nem pensar que vou deixar minha filha se tornar uma guerreira, pra depois receber a notícia que ela morreu em combate e se ela continuar com essas idéias na cabeça vou manda-la para a China, morar com o Shiryu e Shunrey! Sem falar que ela não tem a menor idéia de como é um campo de batalha!
- Mas Kal, você não acha que está sendo intransigente demais.
- Não estou sendo intransigente coisa nenhuma, ela não vai tornar-se uma amazona e ponto final.
- Mas é o sonho dela e...
- PARE DE DENFENDE-LA SAORI! Você sabia que ela estava treinando escondida e não me falou nada, não é mesmo!!
- Eu...
Saori tenta explicar, mas Kal a interrompe novamente.
- Não quero saber demais nada! Essa conversa acaba aqui e não se fala mais nisso – disse Kal, gritando com Saori que ficou quieta, enquanto seu esposo entrava no banheiro para tomar um banho.
Kal não era sempre assim, pensou Saori - na maior parte do tempo era uma pessoa gentil e alegre. Só tinha visto ele assim somente em duas ocasiões, a primeira quando ele a salvou de ser violentada por Hades e a segunda quando ele a viu conversando com Seiya, Kal de vez em quando tinha esses rompantes, especialmente quando o assunto era Luthy querer se tornar uma amazona, isso o deixava muito nervoso, pois, não concordava com essa idéia de forma alguma, na verdade ele tinha medo de Luthy se ferir em alguma luta e ele não estar lá para salva-la, esse era o medo de Saori também.
Kal entrou no chuveiro e deixou a águacair portodocorpo, enquanto a água caia ele ficou refletindo em tudo o que havia dito a sua filha e sua esposa – "droga nem deixei a Saori se explicar, porque sempre tenho que perder a calma nesse assunto, sou um idiota mesmo"
Logo que saiu do banho, ele a viu sentada na cama, não pode deixar de ver uma lágrima que teimava em escorrer pelo rosto dela, passou a mão nos cabelos ainda úmidos e ficou ali parado olhando sua esposa, pensando em quão rude ele havia sido com ela. Saori vestia um vestido azul celeste de alcinhas e havia prendido os cabelos num rabo de cavalo com alguns fios soltos caindo no rosto. Kal ficou ali parado observando sua esposa por alguns instantes, até que finalmente resolveu falar com ela, se ajoelhando na sua frente.
- Saori, me perdoe por ter gritado com você, não queria fazer isso! Mas de novo descontei em você, que na verdade não tinha nada a ver com minha discussão com a Luthy e...
- Kal – diz Saori – você não tem culpa alguma, eu deveria ter te contado assim que chegou da viagem, mas você estava tão feliz que não quis importunar você com esse assunto.
- Então você me perdoa? Pergunta Kal, ainda se sentindo culpado.
- Claro que perdôo, não precisa ficar com esse olhar de cachorro sem dono, não. Saori diz isso com um enorme sorriso, o que faz Kal sorrir também e logo ele se aproveita e deita no colo dela e ficam conversando sobre a viagem, com Saori brincando com algumas mechas de seu cabelo.
- Kal...
- O que foi?
- Você precisa conversar com nossa filha.
- Ah, não Saori! Lá vem você com esse papo de novo! Já disse que não quero Luthy treinando por aí e nem que ela se torne uma amazona.
- Às vezes não sei quem é mais teimoso, você ou ela – diz Saori revirando os olhos.
- Você ta me chamando de teimoso! Eu não sou teimoso não, só não quero vê-la machucada e...
Kal ia continuar, mas foi interrompido por Saori.
- Kal, eu sei que você só quer o bem dela, eu também não quero vê-la treinando por ai, mas é o sonho dela ser uma guerreira como você e os outros.
- Saori, você melhor que ninguém sabe como são as batalhas e não quero que ela passe pelas mesmas coisas que nós passamos.
- Mas também não vai resolver nada manda-la para a China. – diz Saori fazendo um gesto de impaciência - Ela cresceu ouvindo as histórias sobre as grandes batalhas que você, os outros e eu tivemos que enfrentar, é natural que ela queira ser uma amazona, e alem disso ela me confessou que gostaria muito que você a treinasse.
Depois de ter dito isso, Saori pode ver um leve sorriso surgindo no rosto de Kal.
- Ela disse isso mesmo? Pergunta Kal um pouco desconfiado.
- Claro que ela disse, você acha que eu mentiria pra você! – diz Saori
- Ah! Não sei não, Saori.
- Kal, raciocina comigo.Se você treina-la, além de passar mais tempo com ela, você vai estar realizando osonho dela e ela poderá ser a próxima a vestir a Fogo de Perseu, não é mesmo! E também poderá passar para ela tudo o que você aprendeu, tanto em seu treinamento quanto nas batalhas que travou – diz Saori com um enorme sorriso, que faz Kal ficar totalmente hipnotizado por tamanha beleza.
- Está bem, está bem – diz ele revirando os olhos – você me convenceu, vou treina-la, como você me pediu. Eu não consigo dizer não pra você mesmo e se eu não fizer isso, você vai ficar tagarelando no meu ouvido até me vencer pelo cansaço.
Ao dizer isso Kal sai correndo, antes que Saori o acerte com o chinelo. Ele põe a cabeça para dentro do quarto e dá um enorme sorriso para ela, que também sorri fazendo um gesto de impaciência, pensando no quanto ele parecia uma criança às vezes, lembrando que foi justamente esse jeito de moleque travesso que a atraiu.
Kal chegou em frente do quarto de Luthy, respirou fundo e bateu na porta.
- Não quero falar com ninguém agora mãe! Por favor, me deixe em paz!
- Não é a sua mãe, filha. Sou eu. Será que podemos conversar.
- Também não quero falar com você! Vá embora!
Kal entrou no quarto assim mesmo, deixando sua filha mais irritada ainda.
- O Sr. é surdo? Já disse que não quero falar com ninguém, muito menos com você. Por um acaso veio me dar à notícia que irá me mandar pra China? – diz ela com total amargura em sua voz.
- Mas eu quero falar com você e não saio daqui antes de ter uma conversa muito séria com você.
- A mamãe tem razão, você é muito teimoso!
- Oras, você também é muito teimosa, na verdade nunca vi menina mais teimosa que você – responde Kal com um sorriso maroto.
Luthy dá um meio sorriso achando graça na resposta do pai – A mamãe diz que em termos de teimosia eu puxei o Sr.
- É acho que ela tem razão, nós somos uma dupla de teimosos, não é mesmo – diz Kal com um sorriso mais debochado ainda, o que faz Luthy rir.
- Luthy! Você sabe que não quero ver você treinando por aí e muito menos que se envolva em alguma batalha e se machuque.
- Mas pai, esse é o meu maior sonho e eu não vou me machucar, eu prometo.
- Você tem idéia de como é uma luta entre cavaleiros? Com certeza não, pois, você nunca viu uma luta, graças a Deus.
- Mas...
- Ainda não terminei de falar – diz Kal um pouco mais sério agora – Luthy, você sabe por que não quero que você se torne uma amazona?
- Não!
- È porque a vida tanto dos cavaleiros como das amazonas é relativamente curta e...
- Mas pai, todos os cavaleiros estão vivos.
- Graças a sua mãe, que nos tirou do coma, senão teríamos que ficar não sei quanto tempo até nos recuperarmos totalmente se é que um dia nos recuperaríamos e também não quero perder você com perdi meu pai – dizendo isso os olhos de Kal ficam rasos de lágrimas.
- Pai, eu não sabia – diz Luthy sentindo toda dor de seu pai.
- E também porque uma vez, quandoéramos jovens, sua mãe foi capturada por Hades, todos nós pensamos que ela havia morrido, e eu senti uma dor tão grande que achei que não poderia suportar, mas eu não desisti, fui atrás dela e consegui resgata-la e jurei pra mim mesmo, que não deixaria nenhum filho meu passar pelo que sua mãe e eu passamos.
- Você entendeu?
Luthy fica em silêncio, pensando em tudo que seu pai havia dito.
- Luthy! Você entendeu tudo que lhe disse? Pergunta Kal novamente.
- Sim pai, entendi tudo e pode deixar que não vou mais incomodar você com esse assunto, nem vou mais treinar escondido – diz Luthy com uma tristeza em sua voz.
- Sabia que você me entenderia – diz Kal levantando-se da cama e se dirigindo à porta.
- Então espero você amanhã no campo de treino depois que você chegar das aulas, ok!
- Hã... o que o sr. disse? Pergunta Luthy totalmente confusa.
- Eu disse que vou espera-la no campo de treino depois que você chegar das aulas, ou você não que mais treinar para amazona e ser a próxima a vestir a Fogo de Perseu?
- Claro que eu quero – responde Luthy com um brilho nos olhos – e vou ser a melhor aluna que o sr. já teve, vou fazer tudo direitinho, você vai ver só, serei a mais poderosa amazona do santuário e....
- Calma, calma – diz Kal rindo da atitude de sua filha – respire um pouco. Isso nós veremos quando formos treinar, ok! Agora vou dormir e sugiro que você faça o mesmo, para amanhã acordar disposta para o treinamento, pois, não pense que pelo motivo de ser minha filha, vou aliviar o treinamento. Agora durma, que amanhã o dia vai ser puxado. Boa noite princesa!
Luthy pula da cama e vai em direção a seu pai e lhe dá um abraço – Boa noite pai! Eu te amo! – diz ela ao seu ouvido, fazendo com os olhos de Kal ficassem rasos d'água.
- Também te amo, minha criança! Agora vá pra cama dormir antes que eu mude de idéia e resolva não treina-la mais – diz Kal com uma expressão de alegria em seu rosto.
- Está bem pai, já estou indo. Kal deu um beijo em sua filha e saiu do quarto.
Luthy estava muito feliz, pois, finalmente seu pai havia concordado em treina-la, pensando nisso adormeceu com um sorriso nos lábios, imaginando em quão bom seria o dia seguinte.
