Capítulo Um – Nas reminiscências de uma vida a beira mar...
A primavera da pequena cidade de Pumpkin Springs era maravilhosa.
As árvores da pequena praça se enchiam de flores, os pequenos esquilos corriam de galho em galho, o sol batia fraco nas janelas das casas e a brisa soprava fresca. Os lírios se abriam, as borboletas voavam, as flores de cerejeira brotavam, as crianças felizes corriam de um lado para o outro para depois ir chorar no colo de suas mães por terem se esborrachado no chão. As montanhas pareciam mais altas, os vales mais verdes, o rio mais aguado... Uma beleza! Se o paraíso tivesse um nome, seria Pumpkin Springs.
Mas apesar de tudo isso, os moradores daquela pequena cidade zelavam por seu mais precioso tesouro. Nenhuma flor, nenhum esquilo, nenhum lírio, cerejeira ou borboleta conseguia ser mais belo e gracioso que a linda Hermione Jane. A linda moça era uma verdadeira jóia rara. Bela, inteligente e bondosa, Hermione Jane era querida por todos. Muitos vinham de longe apenas para admirar-lhe a beleza. Muitos vinham de perto para que ela lhes desse comida. Hermione Jane. Se beleza tivesse um nome, seria esse.
É na beira da praia catando conchinhas que encontramos agora essa preciosidade. Pés descalços, vestido estampado, cabelos ao vento e sorriso nos lábios. Hermione Jane corre, espalhando sua beleza para os coqueiros e os pequenos animais marinhos, que eram seus amigos.
"Foi você o sonho bonito que eu sonhei
Foi você o alguém que eu vi na minha visão
De repente então, um grande amor nasceu então
E foi você, somente você
Na mesma visão
Aquela do sonho que eu sonhei..."
Sabe qual é meu sonho? – se Hermione Jane falou para o vento ou para seu amiguinho caramujo, é difícil dizer – encontrar um grande amor. Alguém que possa dividir comigo a vida. De que me adianta esses livros, de que me adianta ser a mais inteligente, a mais bonita, a mais doce, se não tenho alguém para amar?
Rodopiando, Hermione Jane entoou novamente sua magnífica canção. Arrancou aplausos dos pequenos insetos e moluscos.
Ah, sou tão sozinha – lamentou ela apanhando uma cesta de palha que ela mesma havia feito – mas agora preciso ir, devo voltar para minha cabana...
Saltitando feliz da vida, Hermione Jane começou a procurar o rumo de casa. Andava entre as palmeiras e coqueiros quando foi surpreendida por uma infeliz criatura. Rony Billius. Aquele ruivo infeliz vivia assediando-a onde quer que fosse. E não bastavam os apelos da bela moça para que ele a deixasse em paz. Os dois viviam discutindo e apesar de estabeleceram relação amigável, Hermione Jane não gostava dele. Achava-o burro e medroso, mas tolerava-o, pois Rony Billius (a começar pelo nome), era digno de pena.
Olá minha flô – disse Rony Billius colocando-se no caminho dela – trouxe outra flô pra alegrar você...
Obrigada – disse Hermione Jane numa voz melodiosa – mas não posso me demorar mais, preciso voltar para casa.
Você é tão linda, Hermione Jane – falou Rony tocando os cabelos dela – tão linda...
Pare j�, Ronald – inquiriu a jovem afastando-se – já não bastaram todas as nossas brigas? Por que você ainda insiste? Por que ainda me segue? Eu só me casaria com alguém que eu amasse acima de todas as barreiras...
Eu sei disso, você já me disse ontem – murmurou Rony Billius numa voz tão sofrida que Hermione Jane sentiu pena – estou aqui para me despedir.
Despedir?
É – concordou o ruivo desengonçado – vou trabalhar na casa grande. Motorista do senhorzinho...
Na casa grande? – perguntou Hermione Jane intrigada – mas a família mais rica de Pumpkin Springs não vem aqui há anos... a casa está vazia!
Não sabe que eles voltaram? Estão aqui, e o herdeiro deles já chegou na cidade... venha comigo Hermione Jane, eu arranjo um emprego pra você na casa grande e você poderá ter mais dinheiro, uma vida melhor.
Ela suspirou fundo e respondeu:
Já tenho uma vida boa. O que mais poderia querer? Moro numa cabana à beira mar, faço minhas próprias roupas, tomo banho na água do mar, me alimento de algas e folhas de palmeira... não quero dinheiro. Sou feliz sendo simples como sou. Agora vá Ronald, eu tenho que ir para casa.
Tropeçando numa pedra, Ronald Billius seguiu seu caminho. Hermione Jane estava feliz por ele. Encontraria seu caminho longe dela e poderia ser feliz. Com lindo sorriso no rosto, andou mais depressa, precisava voltar para a cabana rápido.
Harry Tiago Luís Fernando Potter dirigia um carro vermelho conversível em alta velocidade.
Estava chateado. Gostava da vida em Londres e agora tinha de ir para Pumpkin Springs. Os Black tinham uma linda mansão na região e Harry Tiago herdara tudo de Sirius, seu padrinho. O caso é que os Potter já tinham morrido há umas boas duas décadas, assassinados pelo cruel Voldemort e Harry Tiago já tinha torrado boa parte do dinheiro deles comprando vassouras, doces para seus amigos, livros de escola e excentricidades, como esse carro trouxa. Foi com muito agrado que recebeu a notícia da herança dos Black, mas o testamento exigia que ele morasse pelo menos um mês em Pumpkin Springs para receber a bolada.
Ao seu lado, estava sua noiva. A ruiva ardente, Ginevra Malvina Soraya Weasley.
Oh, Harry Tiago – falou Ginevra colocando óculos escuros – não fique assim tão deprimido. Não será tão horrível viver alguns meses numa cidadezinha medíocre como essa. Pense que assim que pegarmos o dinheiro, iremos nos casar e logo depois deixar esse país para sempre, rumo à Espanha!
Sim, você tem razão Ginevra Malvina – concordou Harry Tiago sorrindo um pouco mais – além do mais preciso esquecer minha triste vida em Londres e Pumpkin Springs me ajudará a esquecer. Mas, às vezes, sinto falta daquele meu amigo, o Rony...
Esqueça-o – cortou Ginevra Malvina tentando parecer amável – ele está morto. Você está vivo. E comigo. Eu te dedico Harry, eu te dedico...
Harry Tiago concordou e deu um beijo na noiva.
Sabe de uma coisa – acrescentou ele assim que passaram da placa BEM-VINDO A PUMPKIN SPRINGS – POPULAÇÃO: 37 – um sentimento me atingiu o peito agora e acho que grandes surpresas nos aguardam nessa cidade...
Ginevra Malvina sorriu para depois murmurar baixinho, maliciosamente:
Você nem pode imaginar querido... nem pode imaginar...
Madrinha, cheguei! – anunciou Hermione Jane entrando na velha cabana à beira mar – trouxe peixe que eu mesma pesquei, conchinhas para nos alegrar e o leite que tirei da nossa vaca de estimação, a Judite...
Oh, minha filha – falou a madrinha de Hermione Jane, numa voz fraca e sumida – você é tão boa...
Mas o que é isso, madrinha – Hermione Jane deixou as compras em cima da velha mesinha e se aproximou de sua madrinha – a senhora que é boa para mim. A senhora que me acolheu quando fiquei órfã e sem dinheiro... sozinha no mundo. A senhora que é tão boa, agora se encontra nessa cama, tão doente e sofrida...
Lágrimas vieram aos olhos da bela moça. Quem a olhasse de longe, jamais imaginaria que sofrera tanto. Seu sorriso alegre espalhava felicidade para todos os habitantes da velha vila de Pumpkin Springs. Ela brincava com as crianças, ia à igreja todos os dias, dava aulas de magia para os velhos da aldeia e cultivava uma horta fantástica, cujos alimentos eram gigantes de modo que ela pudesse dar comida para todos os pobres. Aprendera esse ofício com o velho Hagrid, antigo funcionário do orfanato...
O orfanato. Desde que saíra de lá aos 19 anos, Hermione Jane enfrentara muitos desafios. Seus pais verdadeiros, José Ferdinando, fora assassinado por Voldemort e sua mãe, Maria Lucrecia, morrera de tristeza poucos meses depois. Aparentemente sozinha no mundo, Hermione Jane foi criada em um orfanato trouxa até que sua madrinha, Theresa Revitalina Zamira Naftalina, que aprendeu carinhosamente a chamar de Nazareth, contou que ela era uma bruxa e levou-a para morar com ela. Deixando tudo para trás, Hermione Jane se mudou para Pumpkin Springs a fim de esquecer os sofrimentos de sua vida na cidade cinzenta.
Hermione Jane, minha filha – gemeu Nazareth na cama – venha aqui, preciso falar-lhe.
A bela moça se aproximou da rústica cama dizendo:
Você vai ficar boa, madrinha. Vai ficar boa. Então poderemos juntas andar na praia, nadar no rio... e quando eu encontrar o verdadeiro amor da minha vida, você irá conosco para nossa linda choupana.
Me escute – a pobre Nazareth fazia um esforço sobre-humano para formular as frases – minha doença não tem cura, minha filha. Os trouxas não conseguiram curar, os bruxos também não... estou morrendo...
Não diga uma coisa dessas, madrinha – falou Hermione Jane chorando – não diga. A senhora vai ficar boa. A vida está melhorando... não é que aquele infeliz do Rony Billius arranjou um emprego na casa dos Black, que agora é dos Potter? Seremos felizes e...
Nazareth arregalou os olhos de susto, esquecendo-se momentaneamente que estava à beira da morte:
Os Potter? Mas eles já morreram... como podem estar indo morar na mansão dos Black?
Eu não sei madrinha, a senhora acha que é o...
Não diga nada, minha filha... acho que chegou o momento, preciso fazer-te uma declaração que mudará completamente os rumos de sua vida.
Hermione Jane empalideceu. Nazareth arfava e tossia, foi com muito custo que disse:
Eu errei muito minha Hermione Jane, preciso que me perdoe.
Não madrinha, a senhora que tem que me perdoar – falou Hermione Jane chorando desesperadamente, segurando a mão da velha – talvez eu não tenha sido boa o bastante.
Me perdoe, Hermione Jane...
Não, não, não... não há o que perdoar – as lágrimas lavavam o rosto da jovem moça. Linhas de dor e sofrimento se estampavam.
Diga que perdoa...
Eu perdoarei qualquer coisa...
Num momento de emoção sublime, as duas mulheres se abraçaram. Um esboço de sorriso apareceu nos lábios da velha Nazareth. Uma chuva torrencial começou a cair do lado de fora, como se anunciasse as tristezas e os obstáculos que ainda viriam.
Eu... hã... arf... coff... eerrrrrrr – Nazareth começou a tossir violentamente.
Madrinha, madrinha... acalme-se, eu vou buscar ajuda... madrinha...
Mais uma tossida e a alma da pecadora Nazareth se foi para sempre.
Não! – gritou Hermione Jane sacudindo o corpo da outra – madrinha, madrinha, acorde... acorde, por favor... não me deixe sozinha... não me deixe... não...
Em desespero, a bela Hermione Jane se atirou ao chão. Chorou tudo o que pôde chorar. Rasgou o próprio vestido, ela não fora boa o bastante. A madrinha estava morta. Morta. Levantou-se, utilizando toda a força que restara em seu corpo. Abriu a porta da velha cabana e deixou que a chuva a molhasse, lavando-a.
Completamente nua e descabelada na chuva, Hermione Jane pegou uma faca de açougueiro, levantou ao alto e fez um corte na palma da mão. O sangue vermelho como vinho veio em quantidade. Largando a faca ao chão e esquecendo completamente a dor, a jovem e bela moça se ajoelhou e disse:
Eu juro, juro por esse sangue... que jamais sofrerei novamente!
Continua no próximo capítulo de... ETERNAMENTE ABÓBORAS E BEIJOS
