De uma infância sofrida a adolescência. Afrodite treina incansável, desejando ser o mais belo e forte dos cavaleiros...e o dia da prova final se aproxima...
2° Motivo da Rosa
Cecília MeirelesPor mais que te celebre, não me escutas,
embora em forma e nácar e assemelhas
à concha soante, à musical orelha
que grava o mar nas intimas volutas.
Deponho-te em cristal, defronte a espelhos,
sem eco de cisternas ou de grutas
Ausências e cegueiras absolutas
ofereces às vespas e às abelhas.
E a quem te adora, ó surda e silenciosa,
cega e bela e interminável rosa,
quem em tempo, aroma e verso te
transmutas!
Sem terra nem estrelas, presa
a um sonho, insensível à beleza
que és e não sabes, por que não me
escutas...
CAPÍTULO 2: ADOLESCÊNCIA
Aos 14 anos...
O exercício era simples. Chegar até o fiorde primeiro que o seu desafiante, e Afrodite sempre conseguiu se gabar de ser mais rápido que seu amigo e colega de treinos, Narciso.
Eles se conheceram quando a mestra Psique o trouxe a Groelândia, desde o inicio ela deixou claro que Afrodite e o menino de cabelos loiros seriam rivais pela armadura de Peixes, e que não haveria lugar para a amizade.
Mas pedi isso a duas crianças de seis anos era algo impossível! Ainda mais vivendo naquele lugar tão isolado no mundo! Logo eram amigos, companheiros de lutas, o irmão que nunca tiveram. Psique certamente percebera essa amizade e não dissera mais nada, talvez não tivesse nada a dizer ainda, ou sua mente possuía outros planos.
O treino imposto por Psique era muito rigoroso. Ela era bem severa com seus pupilos, mas apesar dos treinos intensos, das surras sofridas pelas mãos da mestra, ela sempre evitara feri-los em seus rostos. Não queria macular seus rostos, ela dizia.
Os dois eram belos, sem dúvida. Psique fazia questão de que seus discípulos fossem únicos, e a eles ensinava que a Beleza era fundamental. Que os belos eram abençoados pelos deuses e por isso superiores! Para os dois, essa era a verdade absoluta!
Apesar do frio intenso, ambos trajavam apenas surradas roupas de treinamento, que mal os protegia do ar gelado, e que em nada diminuíam as singulares belezas dos dois garotos. Se Afrodite era o mais rápido, Narciso era o mais forte fisicamente. Nas competições de resistência e nas lutas que travavam durante os treinamentos, o jovem loiro sempre levava a melhor. Mas desta vez, o jovem sueco estava crente em sua vitória.
Mas o destino mais uma vez resolve ser cruel com ele, um buraco escondido na neve e o chão rompeu-se sob seus pés. Mas Afrodite se segura firmemente na borda da armadilha natural e vê com certa frustração Narciso ultrapassa-lo.
Reunindo suas forças, Afrodite sobe rapidamente e recomeça a correr, tentando alcança-lo. Mas Narciso concluiu a corrida primeiro que ele.
"Outra vez em segundo lugar, Afrodite!"-gabou-se o outro.
"Desta vez você teve sorte!"
"Ou talvez os deuses não queiram que você seja vencedor em nada!"-falou com sarcasmo.-"Admita, amigo. Eu serei o Cavaleiro de Ouro de Peixes!"
Afrodite fica furioso com o comentário dele:
"A prova final é amanhã, Narciso! E eu serei o Cavaleiro de Peixes!"
"Não é forte o suficiente!"-replicou Narciso passando por ele e seguindo de volta para a casa .
Afrodite fica parado no mesmo lugar, pensando nas palavras de Narciso. Será que ainda não era forte o suficiente? Desde o inicio, a mestra Psique deixou claro que apenas um deles sairia vivo da Groelândia e sagrado Cavaleiro de Ouro. E ele desejava vencer e provar a todos a sua força.
"O que o preocupa, Afrodite?"-era a mestra Psique, que se aproximou sem que ele percebesse.
"Acredita que não sou forte o suficiente, mestra?"
"Você é mais forte do que pensa."-e fica parada diante dele.-"Eu vi em você uma força que você mesmo acredita que não possui. Diga-me Afrodite, conseguiu o feito de criar suas próprias rosas envenenadas com seu cosmos?"
"Eu...não."
"E por que não?"-ela o encara.-"Ensinei a Técnica das Rosas a você e a Narciso. Ambos estão igualados em quase tudo...o que determinará o vencedor é a intensidade de seu cosmo, e você se recusa a usa-lo. Por que?"
Afrodite não responde.
"Não quer matar Narciso?"
"Não. Ele é meu amigo..."
Um violento soco em seu rosto de sua mestra o impediu de continuar a falar. Sentado em meio à neve, o adolescente encara a mestra com surpresa, colocando a mão em seu rosto dolorido.
"Não seja tolo, Afrodite!"-ela exclamou e depois prosseguiu com a voz mais serena.-"Os fortes vencem, os fracos perecem. Essa é a lei mais antiga e natural do homem. Cabe aos fortes o direito divino de determinar o que é justo e belo. Narciso não hesitará em matá-lo, você também não pode."
Psique se ajoelha diante dele, tocando em seu rosto ferido com delicadeza.
"Nunca escondi que é meu aluno predileto. E Narciso sabe disso. Ele te odeia por isso. Sabe por que é meu predileto?"-ele nega com um aceno de cabeça.-"Porque sua beleza brilha entre o céu e a terra! E eu apenas amo e aprecio o que é belo!"
Com um gesto inesperado, a mestra retira a máscara revelando um rosto jovem, de tez pálida e belíssimos olhos violetas que causava um contraste exótico e de uma beleza impar. Seu rosto era tão perfeito que parecia ter sido esculpido pelas mãos de um hábil escultor. Em seguida ela recoloca a máscara, e se afasta de um surpreso Afrodite.
"Eu te contei o que acontece quando uma amazona revela seu rosto a um homem?"-ele confirma com a cabeça.-"Amanhã decido o que devo fazer...dependerá de você. Só se atreva a voltar quando conseguir elevar seu cosmo e fazer um milagre."
Psique se afasta e o deixa sozinho, com suas próprias dúvidas e pensamentos. O cosmo determinará quem é o vencedor. Por horas ele fica ali, imóvel, o frio rachando a pele perfeita, ferindo seu rosto. Mas ele não se move.
"Não serei um fraco."
Afrodite então procura se concentrar, elevar seu Cosmo, inflama-lo ao extremo! Então junta suas mãos, próxima ao chão e um brilho dourado surge entre elas. Momentos depois, ele as afasta e observa ansioso o resultado de seu esforço. Timidamente, uma raminho vai surgindo em meio da neve, e vai crescendo e breves segundos depois, desabrocha uma bela rosa branca.
"Bela e mortal!"-ele sussurrou.
Ooooooooooooooooooooooooooooooo
No dia seguinte, Psique e Narciso esperavam Afrodite no local onde eles lutariam pela armadura de Peixes. A urna dourada estava lá, em cima de uma espécie de altar, a espera de um cavaleiro.
Afrodite não havia retornado para casa no dia anterior, Narciso começava a imaginar que ele desistira de lutar, Psique não dizia nada. Tinha certeza de que sentiu um forte Cosmo vindo do local onde o deixara.
Então, ele aparece. Psique e Narciso notam um brilho diferente em seu olhar. Definitivamente ele estava diferente.
"Atenção."-Psique chamou os dos dois rapazes.-"Vocês estão aqui pela Sagrada Armadura de Peixes. Aquele que conseguir vencer o seu oponente em um combate justo, estará no alto dos oitenta e oito cavaleiros. A Elite dos guardiões de Atena! Comecem a luta!"
Narciso se colocou em uma postura de ataque e defesa. Afrodite permanecia parado, segurando algo em sua mão. Psique foi a primeira a notar que era uma rosa branca.
"O que está fazendo, Afrodite?"-Narciso indagou.-"Vamos lutar!"
"Se eu lutar, você morrerá Narciso."-falou observando a rosa em sua mão.-"Em nome de nossa amizade, desista e me entregue a armadura."
"Pfiu!"-Narciso zombou.-"Depois de passar anos nesse inferno gelado você quer que eu desista? Nunca! Serei o vencedor, e terei a armadura mesmo que o mate!"
"Não sabe o quanto me entristece ao ouvir isso."-ele mostra a flor.-"Diga-me, Narciso. Conseguiu o feito de criar suas próprias rosas envenenadas com seu cosmos?"
"Como? O que disse?"-Narciso não entendia o que Afrodite falava.
"Eu consegui isso ontem. Uma rosa branca e mortal, nascida em meio à neve e gelo. Ao fazer isso, consegui dominar a Técnica das Rosas, e criei uma rosa única...eu ainda não sei o ela pode fazer, e que nome dar a ela."
Psique refletia, ela os ensinou a dominar as Rosas Vermelhas Imperais e as Mortais Rosas Negras Piranhas. Mas a Rosa Branca na mão de Afrodite era um mistério até mesmo para ela. Se ele criou uma nova técnica, superou a própria mestra.
"Ambos dominamos a Técnica então."-Narciso estreitou o olhar.-"Acha que criou um novo golpe?"
"Se eu usar a rosa, você morrerá."-avisou.
"Tolice! Uma rosinha não vai me derrotar!"-e avançou contra Afrodite.
"Idiota!"-pensava Psique.-"Não aprendeu nada sobre o que eu te ensinei, Narciso. Não basta a força física, o que determina uma luta entre cavaleiros, é o Cosmos!"
Afrodite olhou bem para Narciso, e em seguida um fino facho de luz dourada atingiu o rapaz loiro em seu coração. Narciso para e olha espantado a delicada rosa branca, com a mão trêmula, tenta arranca-la, mas não consegue.
Aos poucos, a flor vai assumindo uma tonalidade vermelha, a medida que a vida do rapaz vai se esvaindo. Afrodite olha a tudo de maneira impassível, e se pergunta como não sente nada, ao ver o seu único amigo morrendo diante dele? Morrendo por suas mãos.
"Parabéns, Afrodite!"-disse-lhe Psique.
Afrodite nada disse, apenas olhava para Narciso e se ajoelhou a seu lado, em seus últimos instantes.
"B-belo...golpe..."-ele murmurava.-"Uma...rosa...sangrenta..."-depois, morreu.
"Rosa Sanguinária."-disse Afrodite.-"Um nome adequado."
A urna dourada emite um magnífico resplendor, de dentro dela a Sagrada Armadura de Peixes sai e separa-se em várias partes e cobrem o corpo de Afrodite. A armadura fez sua escolha. Ele era agora Afrodite de Peixes, um Cavaleiro de Ouro.
Oooooooooooooooooooooooooo
Naquela noite...Na casa de Psique.
"Está arrependido de ter derrotado Narciso?"-Psique perguntou, fazendo Afrodite desviar o olhar da urna da armadura dourada para ela.-"Deveria estar feliz! É um Cavaleiro de Ouro!"
"Não estou arrependido."-disse-lhe sorrindo.-"Os deuses quiseram que eu fosse o vencedor."
"Sim."-ela se aproxima dele.-"Partirá amanhã para o Santuário, assumindo sua verdadeira função. Sentirei saudades de você."
"Há algo que me incomoda ainda. Você deixou-me ver seu rosto, mestra..."
"Não sou sua mestra mais."-ela o interrompeu.-"Você há muito me superou, e irá crescer mais ainda...por isso não posso te matar por ter visto meu rosto, nem quero fazer isso."
"E o que quer fazer?"
Psique retira a máscara e toca o rosto de Afrodite, aproximando seu rosto do dele.
"Tem só mais uma lição que ainda precisa aprender...Para ser um homem adulto."-e o beija.
Ooooooooooooooooooooooooooooooo
Na manhã seguinte, Afrodite se prepara para deixar a casa de Psique, carregando a Armadura de Ouro de Peixes. Ele para na porta, olha para trás e para a bela mulher que ainda está adormecida, nua e enrolada nos lençóis de sua cama. O sorriso satisfeito em seu rosto mostrava que o Cavaleiro havia aprendido a última lição.
"Adeus, Psique."-e saiu, fechando a porta.
Estava na hora de voltar ao Santuário.
ooooooooooooooooooooooooooooooooo
Santuário, Grécia.
Afrodite chegou era de manhã, após alguns dias de viagem. Percorreu as mesmas trilhas que anos atrás havia passado. Naquele tempo, ele era um garotinho pequeno e assustado, saudoso de sua terra e de sua mãe. Agora, era muito mais que isso.
Os soldados e sentinelas ao verem um rapaz de aparência tão delicada se aproximando olharam curiosos, mas ao repararem que ele carregava uma das Doze Armaduras Douradas, mostravam seu respeito. Isso fez bem a Afrodite, aumentando seu ego. Sentia-se superior.
Pensou no pequeno Mu. Deveria estar com sua idade agora. Será que conseguiu seu intento de se tornar o Cavaleiro de Áries? E os outros garotos? Como estariam agora?
Chegou até as escadarias que levavam às Doze Casas, subindo por elas parou diante da Primeira Casa. Esperava que alguém aparecesse e nada.
"Quem está ai?"-apareceu uma pessoa, que Afrodite imediatamente reconheceu como sendo Píton, desta vez o Cavaleiro não o achou assustador e sim, patético.
"Sou Afrodite, Cavaleiro de Ouro de Peixes."
O homem arregalou os olhos e imediatamente fez uma reverencia.
"Os Cavaleiros de Ouro estão no Salão Dourado com o Mestre Ares. Esperam pelo senhor e por outros."-falou com respeito.-"Eu o levarei até lá."
Afrodite o seguiu e depois de subir toda a escadaria, parou diante da Décima Segunda Casa, admirando sua beleza.
"Senhor Afrodite."-chamou Píton.-"O protocolo exige que um Cavaleiro de Ouro deve usar sua armadura quando for encontrar o mestre."
"Está bem."-concordou e depois de estar devidamente trajado, o rapaz seguiu Píton até o Salão Dourado.
Esperava encontrar todos os doze cavaleiros, chegou ao Salão e por Píton foi anunciado, mas para a sua surpresa, notou que faltavam alguns Cavaleiros, incluindo seu amigo Mu. Então, cauteloso por não conhecer a todos, caminhou até um dos Cavaleiros. O mais alto deles, que o cumprimentou com um sorriso amistoso.
"Então você é o Cavaleiro de Peixes?"-ele falou.-"Sou Aldebaran, Cavaleiro de Touro."
"Sim. Diga-me Aldebaran, pensei que eram doze os cavaleiros, onde estão os outros?"-perguntou olhando ao redor.
"Não conhece a história?"-espantou-se Aldebaran.
"Que história?"
"Ora, Aldebaran...como ele poderia saber disso se ficou esses anos todos isolado em um cubo de gelo?"-falou um rapazinho de cabelos azuis e rebeldes.
Imediatamente a imagem de um certo menino, com a falta de um dente de leite, veio a sua mente.
"Miro?"-disse-lhe o nome.
"Miro de Escorpião."-corrigiu.-"Eu me lembro de você."
"De que história falam?"-o pisciano voltou a indagar.
Miro começou a contar sobre a traição de Aioros de Sagitário, sua morte pelas mãos de Shura de Capricórnio. Aldebaran ficou com uma expressão séria, como se não aprovasse a maneira que Miro se referia ao falecido Aioros, como um traidor. Afrodite se lembrava vagamente deste cavaleiro, e de um menino muito parecido com ele.
"E o menino que estava com ele?"
"Aioria?"-Miro fez uma careta.-"Acredita que o irmão do traidor se tornou Cavaleiro de Leão?"
"Não fale assim, mon ami."-um outro apareceu, de porte elegante e olhar serio e frio.
"Chegou Kamus de Aquário."-disse Miro com ironia.-"Tá sempre por cima do muro nesses assuntos. Totalmente neutro!"
"Apenas acho desnecessário ficar ofendendo uma pessoa que nem aqui está para se defender."-completou Kamus.
"Não é a ascendência que determina do caráter de um homem."-disse Aldebaran.-"Mas seus atos. O fato de Aioria ser o irmão mais novo de Aioros, não quer dizer que ele também o será."
"E como sempre, Aioria faz questão de mostrar que não respeita o Grande Mestre."-continou miro.-"Desde que cheguei aqui, semanas atrás, notei esse comportamento dele. Nem sabemos se ele aparecerá a essa reunião."
"Essa cambada de sangue sujo devia ser extinta da face da terra."-disse outro com um sorriso e olhares maldosos.-"E eu, Máscara da Morte de Câncer, adoraria fazer esse serviço."
"E onde estão Mu e Saga?"-Afrodite perguntou, tentando mudar o assunto que havia ficado pesado demais.
"Desde aquela trágica noite, ninguém mais viu o Cavaleiro de Gêmeos."-explicou Aldebaran.
"E o Mu é outro que adora provocar o Santuário."-Miro falou, ignorando os olhares reprovadores de Aldebaran e Kamus.-"Ele está em Jamiel, e se recusa a voltar ao Santuário, desobedecendo as ordens do Mestre!"
Mu não estava no Santuário, e se recusava a obedecer ao Mestre. Isso tudo espantou Afrodite, pois se lembrava do menino dizendo orgulhoso que seria o guardião da Casa de Áries.
"Mu tem seus motivos."-Aldebaran defendeu.-"Assim como o Cavaleiro de Libra tem os dele para não aparecer hoje."
"Então...são apenas cinco Cavaleiros de Ouro presentes."-Afrodite comentou.
Mas as portas do Salão foram abertas e um rapaz ruivo, com um olhar duro, entrou no Salão e se colocou em um canto, tentando não olhar para os outros.
"Seis. Aquele é o irmão do traidor. Aioria de Leão."-avisou Miro.-"Quer um conselho? Ignore-o."
"Francamente, Miro."-Aldebaran falou com desalento.
Então, o Grande Mestre apareceu, e ao seu lado estavam Shura de Capricórnio e um loiro que mantinha os olhos fechados, que Aldebaran explicou ser Shaka de Virgem. Ali estavam os Cavaleiros de Ouro de Atena, e Afrodite sentia que algo não estava certo.
Ooooooooooooooooooooooooooooo
Depois dos cerimoniais, cada Cavaleiro seguiu para a suas respectivas Casas Zodiacais. Afrodite ficou impressionado com o porte e o Cosmos que emanava do Grande Mestre. Com certeza, Ares era muito poderoso. O mais poderoso entre todos os Cavaleiros do Santuário.
Deitado na cama de seu novo quarto e planejando o que fazer com o seu tempo livre, Afrodite ouviu lhe chamarem e na porta encontrou um mensageiro. O homem lhe entregou duas cartas, e depois se retirou.
Pelas datas, viu que as cartas lhe foram enviadas anos atrás e em épocas diferentes. Abriu a primeira delas, que chegou ao Santuário dois anos depois que ele partira com Psique, com o nome de seu avô, Hans Tahil, e começou a ler.
"Como vai, Gustav?
Sinto muita falta de meu neto querido, de nossos passeios pelos jardins, de nossas partidas de xadrez e de como você conseguia alegrar esse velho coração.
Sei que essa carta demorará a chegar em suas mãos, pois sei que onde está é isolado e o Santuário não pode interferir com seu treinamento com as notícias de fora. Mas acho que é meu dever, e seu direito, saber disso.
Não quero que outro lhe conte nada, eu mesmo devo dizer, pois sou seu parente.
Gustav, seu pai Ian faleceu...em um terrível acidente de carro e..."
Não conseguiu mais ler, fechou a carta e olhou para o vazio. Não importava como seu pai morrera, estava morto e nada mais poderia ser feito. Morreu há muitos anos para se lamentar, e não sabia explicar se o que sentia com a noticia era alivio, pesar, indiferença.
Olhou para a segunda missiva, era um telegrama de um escritório de Advocacia, endereçada a uma agência fantasma que cuidava de todos os assuntos externos do Santuário. Abriu e leu as poucas e frias linhas.
"Lamento informar por meio desta que seu estimado avô, Hans Tahil, veio a falecer na data do dia...,e que é o único herdeiro da família Tahil e Bergman..."
Novamente não conseguiu ler, desta vez por causa das lágrimas que impediram sua visão. Seu avô, o homem que mais amava e respeitava, estava morto.
Desta vez, estava se sentindo a mais solitária das criaturas.
Ooooooooooooooooooooooooo
Alguns dias depois, Afrodite se acostumou ao cotidiano do Santuário, às índoles de seus companheiros. Tudo parecia estar bem, mas certa noite, Afrodite precisou ir até o Salão do Grande Mestre, precisava de sua autorização para voltar a Suécia e cuidar dos negócios pendentes em relação à herança deixada por seu avô e os bens de seu pai.
Estava saindo quando viu o Cavaleiro de Câncer também subindo as escadas.
"Aonde vai, Câncer?"-perguntou.
"Falar com o Mestre e dizer que cumpri a missão. Os rebeldes não incomodarão mais ele, entendeu?"-e sorriu sardonicamente.
Afrodite desconfiou que as cabeças desses rebeldes estavam agora fazendo parte dos bizarros adornos na Casa de Câncer. Achou melhor não entrar em detalhes com esse assunto tão mordaz e juntos subiram até o Salão.
Ao chegarem lá, os dois cavaleiros depararam-se com uma cena irreal. O mestre Ares caído ao chão, contorcendo-se como se travasse uma batalha com algum demônio interno poderoso. Afrodite o ajudou a erguer-se, enquanto Máscara da Morte permanecia parado com um olhar desconfiado.
Da boca do Grande Mestre, palavras desconexas saiam, uma confissão de seus pecados mais íntimos e foi assim que os dois cavaleiros ficaram a par de toda a verdade sobre a noite em que Aioros supostamente traiu Atena.
Esperaram que Ares se recuperasse.Muito tempo depois, parecia que ele tomava controle de si mesmo, e em silêncio sentou-se no seu trono, olhando os homens diante de si, estava sem a máscara e seu rosto era por eles visto.
"Então...você é...?"-Afrodite reconheceu o homem diante dele.
"Digam-me Cavaleiros. O que a Justiça dos deuses para vocês?"-Ares perguntou.
"Justiça dos deuses?"-os dois entreolharam-se.
"Isso é fácil."-falou Máscara da Morte.-"É a lei mais antiga da natureza. Os fracos morrem, os fortes governam."
"Sim."-e Ares elevou seu Cosmo.-"E não é certo que eu, sendo o mais poderoso dos mortais governe o Santuário e o Mundo no lugar de Atena, que é tão fraca? Que o proteja da Grande Invasão que se aproxima?"
Nunca Afrodite sentiu um Cosmos como aquele. Ao mesmo tempo bom e mau. Poderoso e assustador. Estava diante de um homem que por pouco se igualaria a um deus.
"Me sirvam. E juntos levaremos esse mundo a uma paz duradoura. Uma paz que manterei nem que seja a força!"-falou Ares.
Afrodite e Máscara da Morte se ajoelharam diante de Ares e juraram lealdade. Selando seus destinos.
FIM DA SEGUNDA PARTE.
A SEGUIR: Epílogo: Uma despedida.
Notas: No mangá ficou claro que tanto Afrodite quanto Máscara da Morte estavam cientes de toda a verdade sobre Ares e o Santuário. Imaginei como eles saberiam e escrevi uma cena que representava isso.
Narciso: Na mitologia era um belíssimo jovem, por quem a ninfa Eco se apaixonou. Diziam os Oráculos que se ele visse sua imagem morreria. Eco havia sido castigada por Hera, por ser tão tagarela, e não conseguia se comunicar com seu amor e lhe revelar o seus sentimentos (ela estava condenada a repetir apenas a última palavra que ouvia). Narciso nunca correspondeu a seu amor e a ninfa morreu de desgosto. Compadecida pela dor da ninfa e enfurecida pelo descaso de Narciso, Nêmesis, a deusa da vingança o atraiu até um lago e o fez ver o próprio reflexo nas águas. Apaixonado por ele mesmo, Narciso não conseguiu se afastar do leito do lago e lá ficou até definhar e ser transformado pela deusa em uma flor que leva seu nome.
