Retratação: Ui ui... essa é a derradeira vez que lhes digo isso, infelizmente não são meus!

Algum dia...

– Menino, como veio parar aqui? Quase me colocou louco! – sem sequer se lembrar que o pequeno não compreenderia, dirigiu-se para ele em grego, agarrando-o pelos ombros como se quisesse impedir que desaparecesse novamente.

O guarda, surpreendido por aquele gesto e ainda sob o efeito do olhar congelante de Camus, se interpôs entre Miro e Hyoga, empurrando violentamente aquele que ele considerou um louco tentando atacar o discípulo de um Cavaleiro de Ouro.

– Não vai encostar nem um dedo nele! – bradou arregalando os olhos.

Miro reequilibrou-se sem a mínima dificuldade e olhou para o guarda com descrença, quase rindo de tamanha idiotice.

– O que? – e começou a ascender o cosmo.

O guarda, já sem a mesma convicção de instantes atrás, tentou repetir a sentença.

– Eu disse que...

– Não estou para piadas hoje – e afastou o guarda com um braço, reaproximando-se do pequeno que ainda estava sentado no chão, dessa vez escolhendo entre o seu vasto vocabulário em russo as palavras para que o menino o compreendesse.

– Como você veio parar aqui?

– Eu subi – disse isso apontando para as escadarias.

Miro fez uma cara de decepção, que tipo de resposta queria? Fui abduzido por um disco voador...

– Vamos voltar para Escorpião antes que o seu Mestre...

– O Mestre Camus pediu que eu o esperasse aqui, ele está lá dentro.

Miro recebeu uma descarga de adrenalina e ficou pálido. Camus havia encontrado o garoto antes dele, já podia prever a bela discussão que teriam.

– E você... – nem teve tempo de terminar a pergunta, avistou o francês, em sua reluzente armadura dourada, retornando do Salão do Grande Mestre – Merda.

Ele se aproximou lentamente, parecia que se movia em slow-motion, cada passo era uma tortura para o escorpiano.

– Muito obrigado, Miro, por ter atendido magistralmente o pedido que eu te fiz... Estou realmente muitíssimo agradecido, não conheço ninguém que tome conta de uma criança de 7 anos melhor do que você!

– Me desculpe.

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Camus e Miro já não discutiam mais, os argumentos e paciência de ambos os lados já haviam se esgotado completamente, os três jantavam silenciosamente em Escorpião.

– Que foi, Hyoga? – foi o jovem Mestre que perguntou ao pequeno, notando que ele olhava com certa insistência para o céu, através de uma das janelas da 8a Casa.

– Por que estamos jantando tão tarde, Mestre Camus?

– Não está tarde.

– Está sim.

– Não, Hyoga. Que horas são naquele relógio? – disse apontando para um relógio de parede talhado em madeira.

– Aquele relógio está errado.

Camus virou-se para o relógio afim de verificar a veracidade do que Hyoga dissera. Miro apenas observava tudo, pescando uma ou outra palavra daquela conversa em russo.

– Oito e dez, está certo sim.

O garoto ficou pensativo.

– Mas... Na Sibéria ainda está claro à essa hora.

Camus sorriu, finalmente compreendendo a confusão do pequeno.

– Aqui anoitece mais cedo, bem mais cedo.

– Então aqui não deve ter sol da meia-noite, deve ter sol da... – pensou um pouco – das onze – disse rindo.

Camus riu também e Miro ficou bastante confuso, repetindo em russo e, em seguida, em grego a expressão sol da meia-noite, afim de saber se significava aquilo que tinha entendido. Camus apenas confirmou com um aceno de cabeça, voltando a se dirigir à Hyoga.

– Aqui não há sol da meia-noite, Hyoga... e nem sol das onze – disse entre sorrisos.

– Não? Por que?

– O que é sol da meia-noite? – foi Miro quem perguntou em russo, não se agüentando de curiosidade sobre aquela conversa maluca.

Hyoga riu e Camus também.

– Explica para ele, Hyoga – disse rindo e lançando um olhar gozador para Miro, ele demoraria para compreender o que era o sol da meia-noite, ainda mais em russo e com a ajuda de um garoto de 7 anos.

– Quando lá dá meia noite o sol reaparece no céu, é isso? – perguntou descrente para Camus, depois de ouvir alguns minutos a explicação de Hyoga, complicada e pouco coesa, típica das crianças.

– É.

– E por que aqui não...?

– Depois do jantar eu levo os dois até o observatório e explico – Camus disse encarando alternadamente os dois – lá tem um modelo do sistema solar... vai ficar mais fácil para entenderem.

Miro sentiu-se um pouco ridículo por fazer parte da mesma classe que um garoto de 7 anos, mas...

O passeio ao observatório astronômico fora divertido e servira para, além de saciar a curiosidade dos dois sobre o fenômeno do sol da meia-noite, amenizar definitivamente o clima entre Miro e Camus.

De volta à Escorpião ainda ficaram alguns minutos em uma discussãozinha boba sobre quem dormiria aonde.

– Vocês ficam aqui no meu quarto, a cama é grande...

– Não, Miro, fique no seu quarto, não se preocupe conosco.

No final das contas acabou que o garoto dormiu sozinho na cama do escorpiano, achando o máximo aquele conforto todo, enquanto os outros dois se arranjaram pela sala mesmo. Acordaram embalados pelo mesmo lençol.

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Já fazia alguns bons minutos que um Cavaleiro loiro de sotaque latino discutia com uma Amazona de voz irritante sobre alguns métodos que ela utilizava no treinamento do seu aluno. Não concordava por completo com o que o loiro dizia mas, dentre todos aqueles bárbaros, a opinião dele lhe chamava atenção, se destacava naquele mar de ignorância.

Nunca o havia visto no Conselho, certamente era a sua primeira vez e, de alguma forma, se identificou com aquele rapaz. Lembrava-se claramente da primeira vez que participara daquele circo, defendera os seus pontos de vista com a mesma voracidade dele. E agora, quanta covardia, limitava-se a admirar silenciosamente a coragem do novato, com uma estranha e triste certeza de que, assim como ele próprio, aquele Cavaleiro também desistiria em breve de tentar trazer alguma lucidez àquelas pessoas.

Apesar disso sentia-se incomodado. Outros Cavaleiros entraram na discussão apoiando a Amazona de voz insuportável e o loiro, seu herói, tinha cada vez mais dificuldade em argumentar, não por carência de argumentos, mas por que a sua solitária voz era facilmente suplantada pelas dezenas de vozes em sua oposição.

O Mestre Ares, por sua vez, mantinha uma inabalável impassividade, que Camus conferia com discretos olhares na sua direção. Só ele poderia interromper aquele massacre, mas o Mestre era um homem de atitudes muito contraditórias, parecia estar apreciando aquilo com uma morbidez assustadora. Como se tivesse a intenção, com a sua não-interferência, de transformar o loiro em um mártir, mártir de uma causa que ele próprio não apoiava. Sim, por que se o corpo de tutores do Santuário era assim de tão baixo nível, ninguém além do Mestre poderia ser culpado, era ele quem decidia quais Cavaleiros treinariam aprendizes para quais armaduras.

A confusão já estava instaurada quando Ares finalmente se decidiu por uma atitude e, levantando uma das mãos conseguiu, imediatamente, silêncio.

– O que pensas disso, Camus?

O jovem Cavaleiro de Aquário olhou para o Mestre descrente, ficando ainda mais confuso. Será que não bastava martirizar o loiro? Agora queria coloca-lo na baila também?

– Acho que o Senhor sabe perfeitamente o que penso, Mestre. Não quero parecer insubordinado, mas...

– Então não seja insubordinado. Responda – disse friamente, exigindo uma posição do francês.

Camus perdeu alguns segundos encarando as faces daquela sala e, então, principiou o seu discursso. Vez por outra alguém precipitava a voz em sua oposição mas o Mestre, com gestos sutis, logo conseguia silêncio novamente. A falação não durou mais do que 5 minutos e foi mais contundente do que o mais poderoso Execução Aurora que ele seria capaz de desferir. Não hesitou em condenar os modelos de treinamento que estavam sendo amplamente difundidos entre os tutores e, mesmo sendo as suas críticas direcionadas, em última análise, ao Mestre, Ares parecia exultar com cada palavra que o aquariano dizia, como se ele próprio tivesse a intenção de dize-las e, por algum desconhecido motivo, não podia faze-lo.

Assim que Camus terminou o Mestre deu por encerrado o Conselho e, enquanto todos já se retiravam silenciosamente de Salão, ele se aproximou discretamente do aquariano.

– Muito obrigada, Camus.

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Saiu do Salão onde ocorrera o Conselho confuso e, de certa forma, feliz por estar indo embora do Santuário aquela tarde. Havia um clima de instabilidade no ar, o Mestre parecia estar mais estranho do que nunca, e aquilo o incomodava.

Chegou ao jardim interno onde havia deixado Hyoga aos cuidados de uma serva e logo avistou o pequeno, que veio correndo na sua direção, trazendo uma borboleta azul na mão e falando sem parar de pássaros, esquilos, formigas e tudo mais o que era vivo e que tinha visto durante aquelas horas da manhã que passara no jardim interno. Não surpreendia o jovem Mestre que ele se impressionasse tanto com aquilo, na Sibéria tudo era muito inerte, não-vivo.

– Precisamos mesmo ir embora daqui, Mestre Camus?

– Precisamos, Hyoga.

– Mas eu não quero ir, aqui é tão mais legal.

– Não quer voltar para o seu treinamento?

– Não podemos treinar aqui?

– Não.

Ele abriu a mãozinha, libertando a borboleta azul. Os dois foram caminhando, lado-a-lado, em direção à Escorpião. Quando chegaram lá Miro os recebeu com o almoço já pronto. Hyoga não percebia, mas os dois rapazes trocavam olhares.

Assim que o almoço terminou, após despedidas discretas, os dois partiram escadarias abaixo, rumo à Sibéria. O trajeto de volta pareceu à eles muito mais longo que o de ida, ambos estavam bastante cansados. Hyoga dormiu quase o tempo todo e Camus cochilou em alguns momentos.

Depois de algumas horas de avião e outras tantas na barca, finalmente estavam de volta ao seu lar. Incrível como era fácil se acostumar ao que é confortável. Haviam passado apenas 2 dias longe daquele frio e, de volta à Sibéria, Hyoga reclamava da baixa temperatura como se não tivesse nascido e se criado nas vastidões congeladas da Planície Siberiana.

E também não parava de falar do Santuário. Camus se questionou se não havia sido cruel levando o garoto para fora daquilo que seria o seu "mundo" pelos próximos anos. Afinal, era mais fácil se abster de algo desconhecido do que de algo que já se provou bom.

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Ainda lia deitado em sua cama, com os óculos de armação leve enfeitando o rosto, um romance de Dostoievski quando os primeiros raios do sol da meia-noite lhe invadiram o quarto. Desde o primeiro verão que passara na Sibéria adquirira o hábito de apenas dormir depois do sol da meia-noite. O fenômeno era impressionante, o sol subia um pouco no céu como se fosse um amanhecer comum, mas logo descia novamente, sumindo no horizonte. A beleza estava justamente em observar os dois mais belos momentos do dia em seqüência. Um privilégio que não era oferecido à maioria dos comuns mortais, como um singelo prêmio que os Deuses deixaram escondido na noite siberiana para presentear os sobreviventes daquelas planícies congeladas.

Jamais cometeria a desfeita de recusar aquele delicado presente. Imediatamente largou o livro de lado e foi até a janela, debruçando-se sobre o batente frio à espera do espetáculo. Conforme o sol ia subindo no céu este ia adquirindo uma coloração laranja frequentemente bem retratada em telas impressionistas, as poucas nuvens sequer chegavam a atrapalhar, pelo contrário, tornavam o nascer do sol ainda mais charmoso.

Estava tão distraído naquela contemplação que não ouviu um ruído metálico que vinha da sua sala.

O alaranjado perdia, pouco à pouco, para o azul claríssimo o domínio dos céus, o sol já emergira completamente das planícies alvas.

Um novo barulho entrou pelo quarto, dessa vez um pouco mais alto, chamando finalmente a atenção do francês que apenas moveu ligeiramente a cabeça na direção do som, afim de captar mais algum ruído que justificasse um possível abandono do seu posto de espectador daquele show.

Sentiu-se contrariado quando novos e suspeitos ruídos se fizeram ouvir e ele se viu obrigado à preocupar-se com isso. Saiu do quarto apressado enquanto tentava imaginar o que poderia estar causando aquele barulho. Algum bicho? O barulho era insuficientemente alto e desordenado para que fosse produzido por algum bicho. Ou um ladrão, desses comuns que entram pela janela... Também não, além da certeza de ter trancado tudo antes de se recolher, sentiria a hostilidade do cosmo. Talvez Hyoga...

Entrou pela sala e logo encontrou o que procurava. Em um canto, iluminado pelos tênues raios de sol que passavam pelos vidros da janela, avistou a pequena figura debruçada para dentro da urna da Armadura de Ouro de Aquário, metade do corpo já se perdia no interior da imensa caixa dourada.

Chegaram até a sua garganta palavras em reprovação à atitude do pequeno, mas foram engolidas prontamente e sem uma aparente justificativa. O fato era que um estranho desejo surgiu em seu peito, o desejo de saber o que aconteceria depois. E o depois não tardou em vir. O garoto pulou para fora da urna da armadura trazendo na mão uma das suas peças douradas, o elmo.

Camus passou a sentir uma excitação absurda, o coração acelerou, ou impediria o pequeno agora ou... Ou o veria levando o elmo dourado até a própria cabeça e tentando, sem o mínimo jeito, acerta-lo sobre os próprios cachos, em vão. Anteviu a cena e chegou mesmo a se julgar ridículo, óbvio que o elmo da Armadura de Aquário, sua armadura, não aceitaria cobrir uma cabeça, mesmo a cabeça de um discípulo tão bom quanto Hyoga, que não fosse a sua. Mas o que seus olhos viram em seguida foi o dourado do elmo se misturando ao dourado dos fios do pequeno.

Uma lágrima rolou pela face, e não era uma lágrima de tristeza, era uma lágrima de satisfação. Sua consciência ainda tentava, inutilmente, encontrar uma explicação para que Hyoga tivesse conseguido vestir aquele elmo, mas isso já era irrelevante. Sentia um grande prazer preenchendo o peito, um prazer que estava alheio à todas essas questões práticas e racionais, mas que o satisfazia plenamente.

E também não era prazer de Mestre, não era orgulho do seu trabalho, sabia que o aceite da armadura em cobrir o corpo de Hyoga pouco tinha a ver com a capacidade que ele demonstrava enquanto aspirante à Cavaleiro. Era um sentimento sublime e único, que implicava em desprendimento total, irrestrito. Prazer de pai, orgulho de pai, amor de pai...

Secou a lágrima do rosto, o sol lá fora já atingira o seu ponto mais alto e começava a rota descendente.

– Hyoga, o que está fazendo? – a voz era tranqüila e firme.

O garoto virou-se assustado, afinal estava fazendo algo proibido, ainda tentou retirar rapidamente e elmo, como se Camus ainda não o tivesse visto na sua cabecinha, mas não conseguiu.

– Eu...

Camus se aproximou dele e abaixou-se bem em frente, encarando o olhar assustado com o seu, que tentava fazer parecer zangado mas que não passava nem perto disso.

– Me desculpe, Mestre Camus.

Sentou-se no chão colocando o pequeno sobre o seu colo. A intenção de retirar o elmo de Hyoga foi se esvaecendo e Camus encontrou muitos motivos para adiar um pouco aquilo. Tentou repreende-lo mas o que conseguiu dizer para ele não passou de uma justificativa prática para ele não poder usar aquele elmo, aquela armadura.

– Você não acha que ainda é muito pequeno?

Não seria capaz de usar um argumento como "essa armadura não lhe pertence" simplesmente por que a armadura o aceitara, e por mais que pudesse questionar isso, não queria faze-lo. Acertou o elmo sobre os cachinhos loiros e o fez mirar-se no tampo da urna dourada. Em seguida, com um sorriso nos lábios, retirou o elmo da cabeça dele, sentindo dentro de si a certeza de que aquele ato não era definitivo. Pela janela já podia ver o sol se despedindo lentamente.

– Algum dia, Hyoga. Algum dia...

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Oba! Finalmente acabei!

Antes de começar os agradecimentos e comentários em geral, alguns esclarecimentos. Quem quiser compreender o fenômeno do sol da meia-noite, qualquer professor de ciências pode explicar facilmente (química, física ou biologia). E quanto à cena do Camyu no Conselho, o "loiro com sotaque latino" é o Albiore (ele é argentino, se não me engano) e a "amazona de voz estridente" é a Sheena (culpa dessa nossa dublagem tooosca). E lembrem-se de que Ares é Saga e que ele tem seus momentos de lucidez de vez em quando...

O fanart em que me inspirei retrata justamente essa última cena, Camyu com Hyoguinha (utilizando o elmo da Armadura de Aquário) no colo. Há apenas uma dúvida: se o Camyu está retirando ou colocando o elmo no Hyoguinha. Essa aqui foi a minha visão, ele está retirando mas, fora eu, todo mundo para quem eu fiz essa pergunta respondeu que ele está colocando, enfim... Quem ainda quiser a fanart, pode pedir que eu mando.

Vamos às reviews.

Mme. Verlaine, minha amiguinha, agora não mais virtual! Camyu e Milucho que me aguardem, você é a única pessoa sobre a face da Terra que sabe o que eu estou preparando para eles. Lola má!

Betinha, minha psicóloga de plantão, aqui está! Eles realmente estão super-flufes, eu os amo demais!

Naninha, a mais pop das pops! Agora acabou mesmo, não tem mais volta. Porém, você sabe que eu tenho verdadeira paixão por Camyu e Hyoguinha e não os vou deixar quietos por muito tempo não, em breve estarão na baila em uma fic minha novamente. Espere e verá!

Ia-Chan, o Camyu como Mestre é tudo! Eu sou muito fã dele. Quanto ao Milucho, até que ele saiu no lucro, não? Hehe

Ada, to de mal contigo! Diz que vai me adicionar no MSN e não adiciona. Você é cruel, não se faz isso com uma ficwriter carente!

Desde já deixo um agradecimento para todos que vão mandar review pra esse último capítulo e para todos que vão ler e ter a pachorra de não me deixar nem um oi (apenas por questão de educação... hehe).

E quem quiser me procurar no MSN: lola underlined spixii arroba hotmail ponto com.

Bjinhos e até a próxima!

Lola Spixii