Ninfadora Tonks, você me paga! - Exclamou Mary, irritada,
enquanto entrava no quarto que Molly lhe indicara, seguida da amiga.
- Como é que você teve coragem de me fazer pagar um mico
daqueles?
- E aí? - Inquiriu Tonks, entusiasmada,
ignorando a raiva de Mary enquanto se sentava na cama onde a amiga
iria dormir. - O que você achou dele?
Mary suspirou:
-
Ah, Ninfa, não deu tempo para achar nada, nós
praticamente nem conversamos. E pode parar com essas ideias malucas
de me juntar com ele, porque não faz o menor sentido.
Tonks
rolou os olhos:
- Não sei porquê. Para mim, faz todo
o sentido... - Um sorriso provocador surgiu nos seus olhos negros. -
E bem que eu reparei como você corou até a raiz dos
cabelos quando ele ajudou você a pular da mesa.
- É...
claro! - Gaguejou Mary. - Ah, Ninfa, você me conhece faz tanto
tempo... devia saber que eu sou toda envergonhada com homens,
principalmente desconhecidos. Não tem nada a ver com Remo
Lupin especificamente...
Tonks soltou uma pequena
gargalhada:
- Viu só? Até sabe o nome do cara
direitinho!
Foi a vez de Mary rolar os olhos:
- Ninfa, você
me falou dele trocentas vezes, como é que eu não ia
decorar o nome? E depois, o pobre tem mesmo nome de lobisomem, não
dá para esquecer.
- Nome de lobisomem? - Inquiriu Tonks,
com ar interessado. - Como assim?
Mary suspirou, meio enfastiada:
- Ai, mulher, às vezes parece que você não
está nesse mundo! Lupin significa "aparencia de lobo"
em Latim...
Tonks corou e encolheu os ombros, justificando:
-
Você sabe que eu sempre odiei as aulas de Latim. Só
escolhi a matéria para te acompanhar...
- E Remo -
continuou Mary - é o nome de um dos fundadores de Roma. Eram
dois gêmeos, Remo e Rômulo. Eles eram órfãos
e foram criados por uma loba.
Tonks assobiou:
- Como é
que você sabe tudo isso? Bom... acho que é por ter
convivido tanto com trouxas... Por isso que você me mandou
aquele berrador dizendo que não queria um lobisomem na sua
vida. Eu julguei que você tivesse adivinhado, com o seu dom de
vidente.
Mary sorriu:
- Pois é, não precisei do
dom para adivinhar. O destino é uma coisa muito complexa... e
Remo Lupin, com um nome desses, estava destinado a ser mordido por um
lobisomem assim que recebeu esse nome. Coitados dos pais dele, se
soubessem que seriam responsáveis pela desgraça do
filho, jamais teriam colocado nele o nome de Remo.
- Você
parece muito preocupada com ele... - Comentou Tonks, com novo sorriso
malicioso.
Mary tornou a suspirar:
- E desde quando
preocupação é sinal de outra coisa? Eu
nem conheço o homem direito...
- Mas vai conhecer! -
Exclamou Tonks, triunfante. - E bem a fundo, se depender de mim.
Mary jogou o travesseiro na cabeça de Tonks, sorrindo:
-
Acontece que não depende de você, sua tonta! Ah,
amiga, eu agradeço muito esse seu empenho em me arrumar um
homem bom, que me entenda... mas, honestamente, eu sempre vivi muito
bem sem namorados, não preciso de um agora... muito menos de
alguém tão problemático quanto eu... O que foi?
- Parou de falar, olhando para o ar abismado de Tonks, que logo
respondeu:
- Você está falando igualzinho a ele...
Mary corou:
- É mesmo?
- Igualzinho. - Sublinhou
Tonks, com vivacidade. - Mary, Mary, por favor, não deixe
escapar essa chance de ser feliz. É como eu sempre digo, vocês
são muito diferentes, mas têm tanto em comum que só
podem estar destinados um para o outro!
Mary baixou os olhos e o
silêncio reinou no quarto. Pensava em sonhos, em visões,
iguais aquelas em que previa o futuro, mas que ela toda a vida achara
que não passavam de sonhos impossíveis, jamais
previsões... Era ele... era o rosto dele que aparecia nos seus
sonhos, beijando a sua boca, alisando os seus cabelos, pegando a sua
mão... como pegara horas antes, ao ajudá-la a sair de
cima da mesa. A sua espinha foi percorrida por um arrepio bem maior
do que o que sentira naquele momento. Agora, se lembrava com toda a
clareza: era ele, sim, era ele que surgia nos seus sonhos desde
menina... aquele sonho, que ela julgava impossível, talvez não
fosse sonho, talvez fosse mesmo uma visão, uma profecia... Uma
lágrima escorreu pelo seu rosto, sem que ela pudesse impedir.
Tonks pegou as suas mãos, aflita:
- O que foi? Ah,
Mary, desculpa, eu sou uma idiota! Olha, eu prometo que não
vou fazer mais nada para forçar uma aproximação
entre vocês dois, eu juro! Desculpe, amiga, eu sei como você
é... Mas você merece tanto ser feliz...
Mary não
respondeu. Apenas se limitou a abraçar Tonks. Não iria
lhe contar da sua visão, não conseguiria, era algo
demasiado íntimo... e depois, se contasse, a amiga ia acabar
forçando ainda mais as coisas e mudando o destino. Ela sabia
que as coisas, quando forçadas, podiam mudar de rumo.
Preferiu ficar calada e dizer apenas que seria amiga de Lupin
mas, no seu coração solitário e medroso, surgiu
uma luz de esperança de vir, realmente, a ser feliz.
