N/A: Sarah e Antonio não são criação minha, mas sim de Regina McGonagall, que escreveu a belíssima fanfiction "Uma Prece Por Snape", onde Sarah é a protagonista.
CAPÍTULO IV
Sob a Luz das Estrelas
Mary
se levantou e abriu a janela do quarto de par em par. A noite estava
belíssima: as estrelas estavam tão brilhantes como na
noite em que Tonks resolvera falar dela para Lupin... invulgarmente
brilhantes, tendo em conta que conseguiam iluminar um pouco daquela
noite escura de lua-nova.
Mary adorava noites de lua-nova. Eram
as únicas em que se sentia segura e podia olhar o céu...
e como ela gostava de olhar o céu e as constelações:
a Ursa Maior, a Ursa Menor, a Cassiopeia... Lá estava elas,
lindas, brilhando para ela.
Pensou na janela da sala. De lá,
certamente, veria melhor o céu e as estrelas. Sim, seria
melhor do que a janela do seu quarto, que tinha um prédio
Trouxa bem na frente.
Resolveu descer. Empunhando a varinha,
disse:
- Lumus! - Imediatamente, na ponta da varinha surgiu uma
luz, forte o suficiente para iluminar o seu caminho, mas não
para que ela visse as horríveis cabeças de elfos que
ladeavam a escadaria desde os tempos em que a mãe de Sirius
ainda era viva e que jamais haviam consehuido retirar dali.
Ao
chegar a meio da escadaria, teve uma panorâmica da sala e o seu
coração disparou: o lugar junto da janela já
estava ocupado. Outra pessoa se lembrara de contemplar as estrelas:
sentado no sofá junto da janela estava Remo Lupin.
A sua
primeira reação foi voltar para trás, mas, de
repente, parou, respirando fundo e falando para si mesma:
- Não.
Não vou fugir.
Desceu as escadas, sentindo o rosto queimar
de tão corado e se encontrou na sala. Lupin sentiu um barulho
atrás de si e se voltou, sobressaltado. O susto, contudo, foi
substituído por um certo constrangimento, ao deparar com Mary,
iluminada só pela tênue luz da sua varinha e vestida
apenas com uma camisola de dormir azul-escura, salpicada de estrelas
brilhantes, o retrato fiel do céu naquela noite... uma
camisola de tecido fino, que deixava antever os contornos do seu
corpo curvilíneo.
Engoliu em seco, mas se controlou. Toda
a vida fora mestre em esconder cada um de seus sentimentos e dessa
vez não seria diferente. Com um sorriço forçado,
cumprimentou:
- Boa noite. - Ela lhe devolveu o sorriso e o
cumprimento e ele resolveu continuar a falar, para evitar um silêncio
constrangedor. - De pé, tão tarde?
Mary se
aproximou um pouco, suspirando:
- É noite de lua-nova... -
Baixou os olhos, para esconder o seu rubor, o que ele agradeceu
interiormente, porque, assim, não teria que encará-la.
- É a única noite do mês em que eu posso andar
por aí, em segurança. Estava olhando as estrelas da
janela do meu quarto. Elas estão tão lindas... resolvi
descer, para olhá-las daqui. Dá para ver muito
melhor... Pelo visto, mais alguém teve a mesma ideia.
Ela
olhou para ele, sorrindo, e Remo não pode deixar de reparar no
quanto o sorriso dela o enternecia. Se pudesse responder à
pergunta que Tonks lhe fizera dias antes ("Está achando
ela tão feia assim?"), certamente responderia: "De
forma alguma. Ela tem o sorriso mais lindo que eu já vi na
minha vida!"
Mas não podia responder tal coisa.
Tampouco poderia pensar no efeito que Mary, com o seu ar tímido
e frágil, a camisola reveladora e o sorriso que ele achava
lindo exerciam sobre si mesmo. Disse apenas, cordialmente:
- Não
seja por isso. Pode ocupar o meu lugar. Eu já ia dormir,
mesmo.
Mary se aproximou mais, de varinha em punho, para iluminar
o caminho que a separava dele. Como sempre, quando estava nervosa,
começou a falar, com uma vivacidade que em muito lembrava
Tonks; não podia deixar que ele se retirasse sem, ao menos,
tentar conversar um pouco com ele e quebrar o gelo:
- Não
vá embora por minha causa, Sr. Lupin! - Pediu. Ele não
pode deixar de sorrir. Era tão estranho ouvir alguém o
chamando de "senhor". Ele nem lembrava da última vez
que alguém o chamara daquele jeito. Ela continuou, com um
suspiro. - Para o senhor também deve ser muito bom se sentir
seguro, ao olhar para o céu, embora o seu problema seja só
com a lua-cheia... Já eu... para mim basta um único
raio de luar, não importa a fase da lua... e, apesar de não
me transformar obrigatoriamente, quando isso acontece, não
tenho sequer uma poção como a sua para me tornar
inofensiva...
Lupin sentiu uma onda de piedade invadi-lo,
misturada com uma enorme simpatia. Sim, ele a entendia. Sentiu uma
vontade quase incontrolável de tomá-la nos braços,
de pegá-la no colo, de protegê-la, de lhe dar carinho...
mas é claro que não o fez. Preferiu aligeirar a
conversa, sorrindo e replicando:
- Se a Srta Hollow soubesse como
é horrível o sabor da poção mata-cão,
não lamentaria tanto... e depois, é extremamente
aborrecido ter que tomar aquela coisa durante toda a semana que
antecede a lua-cheia.
Mary soltou uma pequena gargalhada. Era tão
bom ouvir Lupin brincando com a sua situação que ela
resolveu entrar no espírito da brincadeira. Se aproximou mais
ainda e conseguiu olhá-lo nos olhos, apesar de estar em pé
e ele sentado, já que ele era muito mais alto do que ela:
-
Ah, mas a sua sorte é que isso é só na semana
que antecede a lua-cheia. Já eu, tenho que tomar umas ampolas
horrorosas todos os dias, senão o sol acaba me
esturricando!
Lupin riu, mais descontraído:
- Bom,
desse jeito, eu vou acabar me sentindo aliviado por ser apenas
um lobisomem!
Ela também riu... e o silêncio reinou.
Mary buscava desesperadamente alguma coisa inteligente para falar,
mas sentia que a sua língua estava colada e o cérebro
vazio. Sem dar por isso, baixou a mão e, com ela, a varinha,
que se apagou, os deixando naquilo que seria a mais completa
escuridão, se não fosse a luz de dois candeeiros lá
fora, ao longe, e também do brilho feérico das
estrelas... as do céu e as que enfeitavam a sua camisola
cor-de-noite... a mesma camisola de onde Remo não conseguira
desviar os olhos acinzentados até poucos momentos antes.
Estavam perto um do outro... muito perto... demasiado perto, no
entender de Lupin, que imediatamente buscou um assunto qualquer que
impedisse que alguma coisa acontecesse... algo que ele sabia que iria
se arrepender, caso acontecesse.
Se afastando, começou a
falar:
- A Tonks me disse que a srta vai lecionar em Hogwarts
esse ano...
Mary sorriu, dividida entre a decepção
por não ter acontecido um beijo entre eles e o alívio
por ter, finalmente, um assunto para conversar.
- É
verdade. - Respondeu. - Vou dar aulas de Adivinhação ao
sétimo ano.
Ele sorriu de volta:
- É uma classe
fantástica! - Assegurou. - Dela fazem parte o nosso protegido
Harry Potter, que é filho de um grande amigo meu e eu me sinto
responsável por ele, o seu primo Ron Weasley, que é o
maior amigo deles, e a maior amiga de ambos, Hermione Granger, a
bruxinha mais inteligente que eu já conheci. É quase
incrível que ela não tenha ido parar na Corvinal!
Mary
se mostrou entusiasmada com a conversa:
- A Tonks me contou! -
Disse, enrolando com o dedo uma mecha de cabelo, para tentar espantar
o nervosismo. - Estou louca para conhecer o Harry Potter
pessoalmente! E nem sei como vai ser dar aulas para o meu primo Ron.
- É mesmo, deve ser estranho dar aula para um parente. -
Concordou Lupin. - Eu lhe aconselharia a pedir umas dicas para a
Professora McGonagall de como agir numa situação
dessas. Ela já deu aulas para uma sobrinha, anos atrás.
O rosto de Mary se iluminou, perante a referência àquele
assunto:
- Eu sei! - Exclamou, com tom de entusiasmo crescente. -
O senhor está falando da Sarah! Ela é uma grande amiga
minha dos tempos da escola. Vivia para cima e para baixo com a Tonks
e comigo. Eu sempre a admirei muito.
Lupin a olhou, interessado:
- É mesmo? Não sabia disso. Eu conhecia a Sarah
quando ela era ainda uma criança e nos reencontramos no ano
passado. Ela é uma mulher fantástica!
Sem saber
porquê, Mary sentiu uma onda de mal-estar invadi-la. Levou
alguns segundos para perceber que estava com ciúmes. Nunca
dera conta de que era ciumenta... até então. Não
tinha qualquer motivo para tal. Sarah era sua amiga e, ainda por
cima, tinha uma eterna paixão escondida, desde os tempos da
escola... algo tão forte quanto impossível.
Mesmo
assim, o mal-estar não pareceu, por mais que fizesse uma força
sobre-humana para combatê-lo.
- É. - Concordou, com
um tom de voz subitamente frio. - Fantástica, mesmo.
Quase
falou de Antonio, o irmão de Sarah, sua paixão secreta
adolescente, como uma espécie de vingança... mas se
deteve a tempo... e o silêncio constrangedor reinou de novo
entre eles.
Mary lutava furiosamente para afastar os ciúmes,
que sabia que não tinham o menor cabimento, mas não
conseguia deixar de senti-los... E se Lupin nutrisse algum tipo de
paixão secreta por Sarah? Ao mesmo tempo, tentava encontrar
palavras para desviar o assunto mas, mais uma vez, o seu cérebro
parecia vazio.
Foi Lupin quem quebrou o silêncio, mas
apenas para dizer, com um sorriso simpático, porém
formal:
- Bom, já é tarde. Vou dormir. Boa noite,
Srta Hollow, até amanhã. Lumus! - Empunhando a
varinha, fez com que a sua ponta se acendesse, para iluminar o seu
caminho e saiu da sala, sem olhar para trás.
Sozinha, Mary
se recriminou pelo seu nervosismo e ciúmes, que haviam deitado
tudo a perder, tinham impossibilitado a continuação da
conversa (ou até algo mais) entre ela e o homem do seu destino
.
Tentou se convencer de que teria outras oportunidades, de que
nada estava realmente perdido. Contudo, parte dela dizia que não;
que ela não nascera para ser feliz; que não nascera
para o amor; que jamais teria jeito com os homens; que jamais seria
amada de verdade...
