SOB UM CÉU VERMELHO SANGUE

11 O Inocente

Respirou aliviado o ar de sábado a noite... livre das memórias de Potter... sentia-se saturado dele... e mesmo assim os progressos do rapaz eram irregulares... por vezes conseguia direcionar o que via, por vezes nem conseguia entrar... sentia um frio incomodo ao perceber a presença sorrateira do Lorde... com certeza essa era uma luta que o garoto estava perdendo...

Na verdade estava saturado das pequenas lembranças infantis do outro... sabia desde o nome do primeiro brinquedo dele... um soldadinho sem perna chamado Kurt... até o último presente que recebera... um manual sobre os princípios básicos da alquimia... que pretenção de Lupin... e no fundo achava que sabia muito pouco sobre Potter... quer dizer... o que mais sabia dele?

Afinal o que Potter queria pra si mesmo... havia um imenso abismo onde não havia nada... além das tristes lembranças de infância, as quais tinha acesso por serem as que ele menos gostava ou que queria esquecer... o tipo de lembrança que aflora primeiro... não havia nada... não haviam boas lembranças? Como podia um conjurador tão competente de patrono não ter boas lembranças?

Sistematicamente procurara lembranças de Hogwarts, da Ordem... mas nada... esas pareciam ter-se evaporado da mente do rapaz...

Seria uma forma de defesa? ele estaria escondendo essas lembranças? Isso seria um tipo de oclumência mais avançada...

Coçou a cabeça irritadamente e olhou a última lição corrigida... certo... tinha uma folga... e não aproveitava... pensando em certa criatura infeliz... pendeu a cabeça para trás e fechou os olhos cansado.

Sábado a noite.

Rony e Hermione tinham dado uma fugidinha para namorar... "eles podem... monitores...", ficou lendo o livro que Lupin lhe mandara... sobre os princípios básicos da alquimia... na verdade um histórico detalhado... era até interessante, visto que pulara meio livro para ler o que dizia sobre Nicolau Flamel... tudo que acontecera naquele primeiro ano parecia tão distante...

...Alquimia é o ramo mais refinado da manufatura de poções...

-Visto que eu sou um nada na matéria...- disse baixinho.- Seria o cúmulo eu entender isso.- pensou olhando os intricados desenhos.

Com um gemido deixou o óculos sobre o livro aberto no colo e descançou a cabeça na almofada apoiada no braço do sofá.

Conhecia aquele lugar... mas ele não existia... não do jeito que estava vendo... o som leve da brisa... e um sol tão saturado que a cerca branca parecia levemente azulada... a grama também... um verde tão intenso que parecia azulado e á sombra parecia negro... ao longe uma mancha cinza claro estava debruçada sobre algo...

A criança se levantou jogando as pedrinhas de uma mão para outra... parecendo dizer algo até parar ao vê-lo.

Era tão bonito em sua inocência... tão exótico na sua aparência selavagem e abandonada...

O garotinho correu para ele... parecia feliz em vê-lo... só então percebeu que a casa inteira estava fechada, janelas fechadas de cortinas fechadas...

Sentiu a criança segurar sua mão... e lhe sorrir, o puxando para o banco debaixo da pequena árvore... se deixou levar... curioso com tal aparição... vestindo uma larga camiseta listrada de azul e branco e uma calça curta branca... uma bermuda... os longos cabelos caindo no rosto.

Tinha os pequeninos pés brancos nús sobre a grama.

Sentiu suas mãos serem manipuladas pelas pequenas mãos macias... deixando as suas com as palmas viradas para cima... depositando duas pedrinhas em cada uma, apenas sentia isso... estava ocupado demais olhando a face concentrada da criança semi-escondida pelo cabelo, mordendo de leve o lábio rosado como se estivesse pensando em algo difícil e lhe sorriu fechando as mãos...

E lhe deu um beijo leve na testa.

Tão surreal... mas não pode pensar muito... com um riso cristalino a criança fez um gesto para que escolhesse uma das mãos... confundindo a bincadeira... abriu uma delas.

Havia uma pedrinha verde e outra vermelha na palma de sua mão... o dedinho pequeno traçou um círculo em volta das pedrinhas roçando em sua pele...

Sentiu algo quente e úmido pingar em seus dedos... mas a criança segurou seus dedos com força e por isso olhou-a.

O vento afastou os cabelos do rosto risonho... revelando os olhos escondidos pela franja... revelando a marca em sua fronte.

Quase se levantou do choque... os cabelos negros e selvagens ondulavam como uma crina... os olhos verdes olhavam os seus...

Sua mão estava úmida, desviou o olhar...

Havia sangue... escorrendo dos dedos, formando uma poça na palma de sua mão, submergindo as pedrinhas... então segurou as mãos da criança... as virou, o choque o fez exclamar...

O sangue escorria dos pequenos pulsos... profundamente cortados.

Ergueu os olhos e o encontrou como era agora... com o mesmo olhar perdido...

O rapaz se ajoelhou a sua frente e colocou a cabeça em seu colo... as mãos trêmulas e pingando sangue colocaram as suas sobre a cabeça depositada em seu colo.

Com um suspiro resignado desfaleceu, leve em seu colo.