SOB UM CÉU VERMELHO SANGUE
22 Por enquanto...
Olhando um enorme tomo sobre simbologia e ritos antigos e esquecidos deixou-se levar pela dormencia que se instalava mesmo após o segundo bule de chá forte... anotando ao lado todos o símbolos que lembrava, tentando esquecer onde os vira...
Tentando esquecer que o vira.
Tentando lembrar que Dumbledore se mostrava muito tranquilo no momento e que o Lorde também não dava sinais de movimento.
Prenúncio de tempestade a frente.
Cansado esticou-se na cadeira e olhou o teto... no primeiro ano como professor em Hogwarts fizera aquela runa... para lhe razer força e sabedoria...
-Como sou idiota...- disse ao ver a runa já um pouco apagada no teto.
E com uma estranha sensação de proximidade, de presença...procurou um dos livros de Runas que sabia ter escondido num canto, de pé olhando para a estante achou-o escorando alguns pergaminhos com seus estudos mais antigos.
Runas Arcaicas e seus derivativos - Armand Dagda.
-Eu sabia...
Enquanto preocupadamente terminou de marcar o livro entre as páginas das runas cerimoniais primitivas e se dirigia a escrivaninha algo soou duro vindo da porta.
Apenas três vezes.
E talvez já soubesse quem era ao abrir a porta.
Apenas confirmou ao se deparar com os olhos verdes...
Acusadores... predadores... brilhantes olhos de gato no escuro do corredor.
Mesmo que ele negasse, sumisse, fugisse, tinha uma estranha certeza que ele estava ali, quase como esperando e quando abriu-se a porta o encarou. E entrou sem cerimônia alguma, afinal duvidava que ele fosse convida-lo para entrar...
E tinha razão, a mão forte o segurou pelo braço a voz grave o censurou:
-O que está fazendo fora de sua torre nessa hora Potter? Andando pelo castelo... Invadindo os aposentos de um professor...
-Ora cale a boca.- disse seco e se desvencilhando dele e se virando, olhando o homem parado ao lado da porta.
O mesmo olhar assassino... o mesmo olhar frio e contrariado que Snape lhe reservava desde que botara os pés naquele lugar.
Maldito homem impossível!
Encostou a porta ainda o olhando, a figura pequena, arrepiada e claramente irritadiça... como um gato na qual se pisa o rabo. A veste pende aberta, amarrotada como se tivesse sido colocada ás presas.
"Ele sabe... ah, que todas as formas de evitar o pior como sempre se tornam inúteis"
Como se tudo que pudesse ser dito já tivesse sido dito, mas o jovem, talvez pela inexperiência em perceber essas coisas, ainda insiste perguntando no mesmo tom... seco, mas sem acusação, apenas isso.
Seco, como a realidade.
-Porque mentiu?
Vamos jogar Potter... mostre-me até onde vai essa revolta inútil enquanto penso.
-Menti sobre o quê?
-Sobre isso!- o rapaz disse inclinando o pescoço e mostrando a marca ao afastar um pouco a gola do pijama.
Pijama porque ficara um bom tempo rolando na cama sem saber o que fazer com a verdade.
Incapaz de dormir, de engoli-la sozinho.
Da mesma forma que fica incapaz de se mover... olhando-o, olhando aquele homem de olhos negros profundos que também o olha, ainda com o pescoço inclinado como se convidasse um vampiro...
Se nem se aperceber disso... apenas o olha...
Olhar... sim, uma marca incontestável de que maculara a pele branca e macia do longo pescoço branco...
"Chega a ser indecente você se mostrar assim..." pensou olhando-o.
De pé em seus aposentos... olhando-o como uma esfinge, olhar indecifrável, as vestes abertas mostram um puído pijama enorme... Os primeiros botões da camisa abertos... o cabelo já um tanto longo e negro... Talvez pudesse olhar aquilo um bom tempo, pudesse absorver o movimento tão leve da respiração do garoto.
Garoto, rapaz, difícil por na cabeça que ele está a um ano de ser considerado um adulto... o corpo miúdo enganadoramente lembra o de uma criança, embora claramente se lembre... se lembre que ele já tinha bem as formas de um adolescente...
Atraente no conjunto geral... atraente na postura corajosa.
"Você sabe onde está Potter? Sabe o que posso fazer com você? Seu tolo imprudente, impertinente".
E mal percebeu quando afastou a mão do rapaz que caiu inútil ao lado do corpo... e em seguida passou muito de leve os dedos sobre o hematoma causado por seus dentes... lembrava bem do gosto daquela pele.
E sabia, só sabia, que se subisse um pouco, se passasse os dedos por trás da orelha dele, num carinho igual ao que se faz nos gatos, se fizesse isso, ele fecharia os olhos arrepiado... E talvez entreabrisse os lábios... e assim devagar os dedos subiram pelo pescoço.
Um leve e prazeroso arrepio lhe percorreu a espinha quando sentiu o afago do outro por trás de sua orelha... fechou os olhos... era impossível não faze-lo.
E o calor da proximidade dele... puxou o ar pela boca devagar... entreabrindo os lábios e sabia, só sabia, que se passasse a língua por eles discretamente...
Snape o beijaria.
Potter entreabriu os lábios e passou a língua neles... ainda de olhos fechados e face inclinada sobre sua mão...
Impossível resistir a tentação de beija-lo... num gesto forte agarrou o pescoço dele e passou o outro braço pelas costas o puxando.
A mão se entramou pelo cabelo negro o segurando com força enquanto a outra segurava a veste negra com o tecido preso no punho cerrado que pressionava a curva no fim das costas.
Possuiu a boca dele com a mesma selvageria... mordendo os lábios cheios.
E ao sentir as mãos dele passarem por suas costas acordou.
"Oh, por todos os deuses do mais profundo inferno!!!"
Segurou os ombros dele e o afastou com força.
-POTTER!!! CONTROLE-SE!!!
Dois passos para trás... com o cabelo um pouco mais arrepiado de um lado, com a veste repuxada e com os lábios vermelhos, os olhos verdes o procuraram.
-Não fui eu que perdi o controle para dizer a verdade.
"Cínico!"pensou o olhando... apesar de um pouco surpreso, sabia disso porque o outro estava corado... e apesar disso havia um quase sorriso, não, era um sorriso, um sorriso leve de vitória...
-Você não está em seu juízo perfeito Potter! Está sob um encantamento...
-Imagino que sim.- Harry disse baixo.- Que você fez... porquê?
Criatura completamente incontrolável... se afastou rumo a escrivaninha... trincheira de guerra... melhor mesmo colocar algum obstáculo entre eles... Por segurança... pois sabia muito bem que o outro estava no limite de se jogar em cima e... e seria melhor que não houvesse chance.
Podia cair em tentação... vítima do mesmo encanto.
-Não fiz Potter... foi um acidente.
-Não pareceu um acidente... aqueles... aqueles... traços... em mim!
Agora havia algo de acusatório no olhar...
-Não posso afirmar... eu não sabia o que estava fazendo...
-Que cômodo!
-Não seja petulante.
-Então não seja cretino.
-Devo lembrar onde está?
-Me poupe de lembra-lo que não ligo a mínima...
-Quem começou foi você Potter, me beijando... onde sua mente tinha o controle.
-Posso usar a sua frase.- disse o olhando firmemente apesar do frio que sentira na barriga.- "Eu não sabia o que estava fazendo..."
-Imagino que não, uma vez que você alterou a poção juntando Belladona em vez de Sílfia...
-O quê?
-A poção Potter... a poção... claro que pedir que você se lembre de algo relacionado esteja além de suas capacidades...
-O que isso tem a ver com a situação?
-Tudo, a poção que tomamos é desconhecida.
E podia sentir que havia algo de perdido no olhar do outro, entre o excitado e o temeroso, desejável e por isso muito perigoso.
-E o que vamos fazer?
-Por enquanto? Manter distância.
