Esse joguinho de poder dos dois é deveras irritante... Harry ainda não conhece seu potencial, até porque se conhecesse Snape estava ferrado, e Snape é um teimoso, mas ao contrário das outras fic's voces vão acabar vendo como ele tem um pouco de razão... aqui as coisa não acabam bem...
SOB UM CÉU VERMELHO SANGUE
24 O vôo do dragão.
-Mione? O que está fazendo aqui-perguntou tentando parecer natural se dirigindo ao sofá.
-Estou sem sono também...- ela disse pondo o livro que lia no braço da poltrona.-Como está Harry... fiquei preocupada... você não apareceu...
-Estou bem.- disse afundando no sofá já imaginando que perderia muito tempo ali.
-Não minta Harry... últimamente você não anda bem.- Ela o olhou inquisidora.- Porque não se abre com a gente?
-Mione, não tem nada de errado comigo...
-Harry... você anda nervoso... e, bem, um pouquinho estúpido e não só comigo e com o Rony... com o pessoal do time e da AD... sabe ninguém tem culpa do que aconteceu com...
-POR FAVOR- acabou falando mais alto do que queria.- Não comece a falar do...
-Viu- ela o interrompeu.- Você anda nervoso.
Passou a mão pelo cabelo agora sim nervoso, e tremendo de vontade de estuporar a amiga.
-Sabe de uma coisa Mione... eu estou literalmente sem paciência para escutar de novo, "vai ficar tudo bem..." não vai ficar tudo bem, enquanto vocês não pararem de me regular... perseguir...
-Regular Harry? Perseguir? A gente é seu amigo e só está preocupado!
-Mas não me deixam em paz... que droga, quantas vezes nessa semana você tocou no Sirius Mione? Poxa, dói sabia?
-Todo mundo sente falta dele Harry... A gente só quer ajudar...
-Ajudaria se parassem de tentar me lembrar a cada dia que matei ele...
-Você não matou ele... ninguém disse isso...
-Não sou idiota Mione... ninguém precisou me falar... e isso não é importante, não traz ele de volta.
Ela suspirou alto irritada e segurou o livro... voltou a deix�-lo no braço da poltrona.
-Mas você anda mal... e não é só por causa do Sirius... São as aulas de Oclumência não é? O Snape anda pegando no seu pé? Harry é pro seu bem...
Não tinha o que falar... não queria pensar em oclumência agora, Snape sim, oclumência não...
-Harry... aconteceu algo? Algo sobre... V-Voldmort? Você não devia esconder essas coisas...
-Não ando escondendo nada Hermione...
MENTIRA! Gritou a pequena voz em seu íntimo, mentira... mentira... você está escondendo sim! De todos, deles, seus amigos, de Dumbledore, De Snape... mas não de Voldmort... Era uma questão de fechar os olhos e sentir... como uma ameaça constante...
Que Voldmort achava fascinante...
A escuridão que preenchia a maior parte de sua existência... era como se não houvesse mundo. Por isso o que sentia pelo outro parecia sugar toda sua atenção... era algo bom, no mar de sentimentos infelizes que o preenchia e como Snape mesmo dissera... se ele era só aquele vazio...
Talvez fosse melhor deixar Voldmort vencer... e morrer em paz. Pensou fechando os olhos. Sentiu a outra se levantar e passar a mão em sua cabeça... como se faz com uma criança.
-Se fechar pro mundo não resolve nenhum problema Harry... eu digo por que sou sua amiga... você não pode ficar vendo sua vida passar... você se isola... isso é ruim.
-Mione... você tem fé?
-Eu acredito em Deus... acredito que há algo maior e bom que cuida da gente... boa noite Harry.
-Noite.
Ficou muito tempo ali... ruminando... Mione tinha razão em algumas coisas... não podia ver sua vida passar... até porque ela podia ser bem curta... se moveu devagar... como um gato preguiçoso numa rua perdida... não tinha mais pressa de chegar lá... antes se movera pelo desejo e esperança de encontrar o que encontrara na vez anterior... aquele sentimento quente e entorpecente de desejo... agora não... se movia por outro desejo...
Desejo de acreditar...
Porque não acreditava em nada bom cuidando dele... e queria pelo menos fingir que havia algo de bom a ver... nem que fosse algo que fugisse dele... pensou olhando a porta do professor... não precisou bater... assim que passou um tempo, assim que ergueu a mão a porta se abriu e ele o olhou.
-Vá dormir Potter... é tarde para alunos vaguearem sem rumo...
Havia uma incômoda nota de cansaço na voz do outro... e haviam leves olheiras sob os olhos negros... o cabelo não estava caído como sempre, na verdade parecia um tanto quanto amassado.
-Você está bem?
-Potter, se você não der meia volta e chegar a sua torre em dois minutos lhe darei detenção pelo resto da vida.- disse Snape sério.
Harry sorriu e empurrou o homem entrando na salinha dos aposentos dele... aproveitou para fechar a mão na veste dele e pux�-lo.
-Eu senti... o que ele queria torturando você?
Snape não estava exatamente de bom humor para joguinhos, segurou o rapaz pelo pulso e o puxou encarando-o.
-Soube de seu ataque... não consegue mesmo evitar não Potter?
-Não...- disse baixo.- Não quando além de sentir Voldmort sinto você...
-Já disse para não mencionar o nome...- começou irritado, só então absorvendo o que o rapaz dissera.- Como assim?
Ainda com os olhos pregados no negro dos olhos do outro a mão se livrou do aperto dele e se enfiou por dentro da manga, com o reflexo obtido como apanhador, o outro mal tremeu antes de sentir os dedos passarem sobre o local da marca...
Sentia com estranheza a preocupação estampada nos olhos verdes do garoto... sentia mão por dentro de sua manga e os longos dedos sobre sua pele... contato demais... e ouviu-o murmurar.
-Queimou em mim também...- Harry disse o olhando.- Eu sabia que era você... senti sua dor... senti sua marca.
Era o que temia... das runas que vira... das marcas que fizera no outro... Potter estava preso a ele... e tinha que se libertar disso...
tinha que querer se libertar... tentou afast�-lo.
-Certo Potter, aprecio a preocupação, mas como pode ver estou inteiro, bem e já informei Dumbledore, agora você, além de perder pontos para sua casa, vai ficar encrencado se não for embora...
-O por enquanto já acabou...- Harry disse o puxando pelas vestes... guiado por instinto.
-Do quê está falando- Snape tentou ganhar tempo... o olhar de Potter era intimidador... sabia o que se passava pela aquela cabeça de vento e não podia permitir.
-Do tempo pra manter distância...- Harry ainda se mantinha agarrado ao outro mesmo com a força que o homem imprimia para que soltasse.
Sentiu o corpo do rapaz bater na escrivaninha com assombro... haviam andado praticamente a salinha inteira... assim como quem dança... o olhar dele pregado no seu... as mãos ainda fortemente seguras na sua veste por mais que tentasse solt�-las.
-Do que voce tem medo afinal- Harry perguntou irritado.
Conseguiu soltar as malditas mãos e forçou-as contra a escrivaninha fazendo o rapaz arquear-se para trás.
-O que você pensa que está fazendo Potter- disse friamente.- Acorde! Repare no que está fazendo!
-Sei bem o que estou fazendo.- disse num sorriso enviesado.
Snape sentiu incrédulo, as pernas do rapaz envolverem sua cintura... o olhar do outro era no mínimo divertido e malicioso não quase... mau... além do mais não podia negar que aquilo o... que tinha... que desgraça... sentia-se atraído por ele... não podia aceitar que ia se deixar "seduzir" por um moleque como ele... NUNCA!
A expressão do outro que era de surpresa e indecisão, voltou a velha máscara fria e em seguida voltou a ser aquela destinada exclusivamente a ele, fria e cruel, a voz do homem também se alterou, cortante enquanto soltou seus pulsos e deu passos decididos para trás... fazendo-o cair sentado no chão... olhou para cima, para ele, novamente, enorme, forte e inatingível.
-Você não tem sequer senso de decência Potter! Saia já de meus aposentos!
Harry levantou-se o olhando, Snape ainda o encarava friamente, voltou a sorrir e disse indo para a porta.
-Uma amiga acabou de dizer que "você não pode ficar vendo sua vida passar... você se isola... isso é ruim."- disse e o olhou da porta.- o mesmo pra você... boa noite...
E fechou a porta.
Não é só nos contos, livros e filmes que as pessoas ficam muito tempo paradas olhando uma porta fechada... Severo ficou ali... olhando a porta e lembrando das duas vezes que Potter viera... nas duas ele se entregara assim totalmente, nas duas quase o tomara, dessa vez, talvez pelo olhar do outro, se contera... mas acima de tudo... o olhar de Potter lhe deu medo... não era como se visse o garoto tímido que conhecia... o que veio lhe visitar parecia algo forte, quase agressivo demais...
Maldita criatura... maldita esfinge! Era isso que era! Criatura que ia e vinha só trazendo enigmas...
-Não tenho idade pra isso...- gemeu sentando-se na poltrona.
Na torre da grifinória alguém dormia pela primeira vez ao mero toque do travesseiro...
Havia uma sombra longa e oblíqua no chão poeirento onde estava... Severo lembrava disso, em algum canto de sua memória lembrava disso, não gostava da sensação de sujo sob seus pés descalços... aquele era um lugar maldito... frio e escuro de seus sonhos... onde suas memórias iam e vinham onde mantinha sua hidra...
Mas felizmente ela ainda era um dragão... o bom e velho amigo que o guiava por vezes... nunca mais mutara para aquela criatura que era antes e agora, olhando-o, serpentino, enrodilhado, com um sopro quente de vida que o recepcionava se perguntava se era essa a verdade que Dumbledore estava procurando em... Harry.
Os olhos de seu dragão eram o céu estrelado, e ele o olhou... a quantos anos não o via assim? Tão nítido? Seu espírito oculto? A Hidra domada? E a criatura pareceu despertar estendendo asas negras sob o céu eternamente vermelho de seus sonhos... voltou a olha-lo.
A mão passou pelas escamas lisas e negras, de um negro oleoso e brilhante, levemente esverdeado... quente e palpitante, vivo... a dragão abaixou a cabeça, Num movimento pôs-se sobre o pescoço do animal que alçou vôo...
Adorava voar... mas nunca tinha coragem de faze-lo por prazer porque de certa forma nunca se dera bem, principalmente em frente a outras pessoas... mas por obrigação era leve, ágil... e o vento levava o cabelo para trás... e agora no alto vendo os reflexos avermelhados nas escamas negras e sobre um chão de planície pantanosa eterna... agora em seu lugar e livre, deitou o corpo sobre o animal e agradecido perguntou.
-Porque me trouxe aqui? Depois de tanto tempo?
E o dragão desceu emparelhando com outra criatura... pequena, negra... o testrálio a frente parecia carregar algo.
-Potter- Gritou.
A criatura grudada ao testrálio se endireitou, era ele sim, que lhe lançou um olhar e voltou a instigar o cavalo reptiliano mergulhando mais rápido.
O seu dragão avançou indo até onde as terras pantanosas se tranformavam em montanhas e vales... precipícios.
O rapaz parou na beira de um dos precipícios rochosos, o testrálio empinou e fechou as asas coriáceas... Harry desmontou... ele desceu do dragão e se aproximou.
-Como entrou em meu sonho Potter? Como fez isso?
O rapaz continuava de costas olhando o maço de nuvens rosadas por causa do céu avermelhado... se aproximou.
-Ande Potter! Me responda.
Ele se virou... mas a coisa a sua frente... aquilo... Pelos Deuses! Severo deu um passo para trás.
Tinha a aparência de Potter... mas não tinha olhos... os olhos eram buracos negros...
Era a morte.
