Desculpem os palavrões mas eram necessários.


SOB UM CÉU VERMELHO SANGUE

30 Seu e sem nada.

Sentia a respiração quente do rapaz no seu rosto... queria esbofeteá-lo até arrancar cada um desses sentimentos dele... se pudesse ajudá-lo sem vê-lo, sem tê-lo por perto... sem que ele precisasse morrer de desejo em sua presença.

Se pudesse, mas ao contrário do que o rapaz sentia, estava progredindo, a passo de lesma, mas estava, mas não percebia porque estava obcecado.

E não podia dizer que o desejo do rapaz não era o seu, mas se mataria antes de fazê-lo... não era a pessoa certa... não era a companhia ideal, ele tinha que odiá-lo, seu papel era mostrar o mal a Potter... ser odiado por ele, isso que lhe coube desde o primeiro dia. Isso que queria fazer pelo bem daquela criança... ensiná-la que o mal existe.

Que o mal é cruel e sedutor... por isso odioso. mas ele não queria mais aprender isso.

Sentiu a boca do rapaz leve na sua, independente do quanto apertava o frágil e longo pescoço, ou quanto se esforçava para manter o feitiço de contenção que havia no bracelete... sentiu um leve puxar de ar...

Potter estava um pouco pálido... cedeu para trás e caiu sentado no chão massageando o pescoço.

Você tem nojo de mim? Me acha feio? É isso? Ou porque sou... homem?

Qualquer resposta positiva acabaria com suas ilusões não é?

Harry ainda olhava para o chão massageando o pescoço.

Porque me beijou antes então? Depois de tudo...

Vá embora... vá descançar.

NÃO! Não suporto mais... fale algo... faça algo.- disse com raiva puxando-o.- Pare de evasivas... diga logo na minha cara o que quer!

Não quero...

Não minta!

Não...- disse como uma cobra que cuspia veneno, tinha que ser duro agora, era a chance que pedira para matar tudo.- Não... porque você é um nojento grifinório... um Potter... e definitivamente se fosse escolher entre meus alunos encontraria coisa mais atraente no meio da Lufa-Lufa.

Os olhos verdes ainda o encararam por um tempo, aquele brilho furioso que foi sumindo e se tornando frio, já vira essa frieza antes, quando o olhar do rapaz era suficiente para dar-lhe um ar perigoso. E ele se aproximou novamente.

Para o diretor da Sonserina... você mente muito mal quanto a isso.

Havia uma fúria gélida no fundo dos olhos verdes, como se olhasse para outra pessoa, finalmente ali estava mais que a chave... algo no rapaz refletia um poder diferente... uma força fria.

Você um dia vai se arrepender disso... e eu, não farei nada.- disse e se levantou.

Não disse para se levantar Potter.

Foda-se Snape... - disse puxando com força o bracelete.

O que está fazendo Potter?- Se levantou, recebeu o bracelete de prata no peito.

Enfie essa argola onde lhe aprouver... se é que me entende.- disse olhando o braço ferido, o vergão um pouco abaixo do pulso e o arranhão vermelho vivo na mão.- Acabou... não quero mais porra de ajuda nenhuma.

Você sabe o que está em jogo. Foi você que implorou por ajuda.

Sorriu, o rapaz sorriu, um sorriso sem felicidade alguma, um sorriso mau.

Exato... por isso mesmo te liberto desse desconforto e não me siga... não vou ter vergonha em azará-lo.

E se virou para sair... quando Snape o segurou.

Não se atreva a sair assim! Não lhe dei perm...

Olhava o amanhecer enregelante... sentia o peso da neve acumulada sobre sua cabeça... ainda havia o risco de sangue na mão onde a pele se rompera ao arrancar o bracelete de prata de seu pulso.

Livre, olhou trêmulo para o lago congelado. LIVRE!

E sem nada, não tinha nada, por isso não havia porque se preocupar... nada lhe pertencia no mundo, nada lhe tinha ligação... não tinha nada a perder.

Não conseguia se mover mais... não sentia os pés a mais de uma hora... não fazia diferença. Não havia para onde ir. Logo o procurariam... o achariam e se estivesse bem mal, talvez se compadecessem... talvez nem ligassem que havia azarado seu... professor.

HAHAHA... havia azarado Snape.

As lágrimas escorreram quentes de novo... será que havia sido muito forte? NÃO! Ele mereceu... depois de tudo aquele filho da puta mereceu.

A madrugada inteira sob a neve sem saber o que fazer... se arrancasse o próprio coração com as mãos... pararia de doer? Se por um acaso conseguisse silenciar o mundo inteiro... pararia de escutar o eco do que ele lhe dissera... estava tão frio... que respirar doía.

O corvo pousou a sua frente... tinha as penas estranhamente arrepiadas como se tivesse apanhado um vento contrário, ou se tivesse sido surrado por outro pássaro.

Vá embora!- disse rouco. -V�!- ergueu a mão de articulações doloridas e jogou um punhado de neve em direção errando ridicularmente.- Vá bicho desgraçado... suma da minha frente!

O corvo voou. foi além do castelo. Harry apenas se encolheu mais no grosso casaco, sentindo os olhos pesados... doídos. O que ia fazer agora, era o que pensava no meio de tudo... daquela dor, daquela rejeição, porque inferno sempre procurava abrigo sob lugares que não o abrigariam? Os Dursleys... Hogwarts... não se sentia mais totalmente bem ali, e ela o lugar que mais amava no mundo, não que conhecesse muitos lugares não era mesmo? Seus amigos que não esperavam para lhe pôr uma regra nas fuças... Cho, Sirius... como fazia falta, se bem que ainda sentia remorso em pensar nele, não era como se houvesse com quem falar... Snetiu um bafo quente e algo pesado o derrubou.

Sai canino.- gemeu.

Ande Harry... pra minha cabana.- disse Hagrid o guindando com um braço.- Que idéia moleque... estão todos lhe procurando... que lhe deu na cabeça?

Nada Hagrid.- disse baixo tropeçando sériamente.- Meus pés doem.

Claro que doem... queria morrer de frio? Vamos direto para minha cabana.

Despertou com todo o corpo dolorido, cabeça vazia quando fora azarado assim de frente? Quando o homem, fora enfrentado assim pela última vez, respirou profundamente sentindo uma dor no peito e na cabeça... claro, Potter, tinha que ser...

Só lembrava de tê-lo puxado pelo braço... e então o cotucão no meio do peito e a voz fria, calma.

ESTUPEFAÇA.

Era isso... por isso tinha acordado caído no meio de sua sala e deveria ter sido uma azaração entanto, pensou sentando-se, para jogá-lo da porta até o meio da sala. Pra isso o desgraçado do moleque servia.

Voltou a deitar e se perguntar por que inferno os deuses não libertavam Potter daquilo? Sabia que o garoto sofria... sabia, mas tinha visto o que ele fizera, estava certo... correto, não havia mais feitiço algum sob Potter, se houvera provavelmente fora um encanto de deslumbramento, nada mais.

O que Potter sentia era verdadeiro, real, assustador. Algo de devoção que não poderia corresponder, não enquanto sua sanidade não permitisse. Agora sabia que tinha passado todos os limites... não podia mais afastá-lo ignorá-lo, não podia mais esfregar a verdade na cara do rapaz se ele não compreendia, por que não podia ocultar a verdade de Potter... poderia mentir para Dumbledore, podia mentir para o Lorde... mas não podia mentir para Potter, ele sabia o que sentia, podia ler em seus olhos e se feria... estava morrendo, mas não era como se pudesse correr pelos campos de Hogwarts e abraçá-lo... haviam passado do limite, não conseguira fazer o rapaz voltar a odiá-lo, não conseguira dar a ele forças para se mover...

E nunca... nunca poderia dar a ele o que desejava.

Levantou-se e foi procurar pelo rapaz porque sabia que ele não iria para a torre nervoso daquele jeito. Procuraria por todo o castelo se preciso.