O longo capítulo final... aproveitem, peguem os lencinhos porque vem lágrimas inéditas á frente...
SOB UM CÉU VERMELHO SANGUE
35 Sob um céu vermelho sangue permanece a última lembrança.
Apenas mais alguns passos escada acima e vê a porta entreaberta. O que lhe atinge primeiro? impossível saber...
Talvez a imagem dele sentado olhando a frente, ainda enfiado no uniforme amarfanhado, pálido como a morte, mas vivo.
Talvez a voz rouca, jovem, concentrada e séria... não, as palavras, pelos deuses o que está escutando... não entra na sala... sente-se paralisado.
Não. Não houve incentivo.- Fala sinceramente porquê pensando bem, incentivo nunca houve.- Ele nunca incentivou meus sentimentos professor. Como eu já disse... fui eu. Sou eu.
Harry, você entende a gravidade do que ocorre?
Entendo. Sei o que fiz, sei que o que sinto é errado, sei que ele corre perigo, como correu agora.
Harry, você sabe então, que o tempo e o esforço do professor Snape foi desperdiçado nas aulas?
Eu sei.- sente a voz tremer.- Eu sei que desperdicei o tempo novamente, eu... sei.
Dumbledore suspirou, se não fosse o fato de reconhecer que o rapaz sofria... dessa vez teve vontade literal de castigá-lo. Pela segunda vez, corriam risco pelas atitudes dos dois, porque se Snape tivesse contado tudo realmente, não que ele não tivesse alertado antes...
Então concordamos com o que deve ser feito?- perguntou.
Harry encarou suas próprias mãos... a despeito do que conversara, a despeito do que falaram, a solução era maravilhosamente monstruosa... não faltava mais nada em sua estranha vida.
Sim... eu concordo.- disse olhando Dumbledore.- É... melhor assim.
Snape se move... o que é melhor, pelos deuses da escuridão? Toca na porta, vendo o rapaz sobressaltar-se e assim que o olha... e desvia o olhar ao outro, Severo faz o mesmo.
Severo, é bom ver que retornou bem.
Sim... não foi nada de diferente.- "Pelos Deuses Dumbledore, me pergunte logo!" Pensou.
Você deve ouvido, e compreendido o que se falava aqui... me engano?
Não.- disse calmamente.- Estou ciente do assunto.
Não cabe mais discutí-lo então, tempo é o que não temos... vamos aos fatos.- disse Dumbledore.- Harry me disse que Voldmort descobriu sobre seus sentimentos.
Sim descobriu...
Dumbledore concordou com a mão, e continuou.
Obviamente não descobriu a identidade da pessoa.
Não, recebeu um contra-ataque mental que o deixou muito debilitado.
Não sabia porque queria frisar que Harry se defendera, talvez porque o olhar perdido do rapaz era suficientemente culpado, talvez porque seus sentimentos estivessem sendo dissecados como parte de uma receita de poção que dera errado... talvez... porque queria lhe dar um pingo que fosse de coragem.
E ele desejava saber o quê, o que ele disse Severo?
Por um segundo pensou em pedir que Dumbledore, liberasse o garoto, quando Dumbledore iria lhe perguntar a verdade? Acreditara mesmo nas palavras de Harry? Nunca houvera incentivo? Pelo que é mais sagrado que Dumbledore não podia... a mente de Harry devia finalmente estar fechada, para Dumbledore acreditar piamente naquilo, sabia agora, pelo olhar de Dumbledore que deveria falar.
Era o olhar "Não o poupe da verdade."
Ele queria saber do estado de Potter. Disse-lhe que ele estava desacordado.
E? Ele deve ter ficado satisfeito?
Não, desacordado Potter não pode ser possuído.
Sentiu um suspiro leve, talvez uma puxada de ar ao seu lado.Dumbledore continuava o olhando.
Porque isso é importante?
Voldmort não planeja matar Potter agora... e sim possuí-lo para usá-lo como arma... contra o senhor diretor...
E quanto ao que descobriu... sobre...
Pediu-me para descobrir a identidade da pessoa, a fim de matá-la...
Isso é mais do que suficiente, para que aceitemos a decisão tomada. Certo Harry?
Tomou coragem para encará-lo... era mais díficil que encarar o... era mais fácil mentir para Voldmort, fingir para Dumbledore que encará-lo agora.
Harry sabia que suas mãos tremiam, não olhou Severo ao seu lado, como encarar o homem que condenara a morte? Não era digno de olhar para ele agora... nem Dumbledore, a quem poderia apunhalar pelas costas se fosse possuído, nunca se sentira tão nojento na vida. Disse sem saber de onde vinha voz.
Agora acima de tudo, não é? Acredito que não há mesmo outra solução e creio que será um alívio a todos nós.
Que decisão?- Severo perguntou.
Por mais que me custe, pedir a você Severo, eu e Harry chegamos a uma conclusão, é até melhor que seja assim já que vocês dois são os envolvidos... sei que acima de tudo, que nunca esperaria que eu lhe pedisse isso Severo... mas concluímos que Harry deve esquecer totalmente o que sente, não só o que lembra... não só isso, mas como o que sente, e devemos também prevenir... futuros sentimentos desse tipo.
Um tapa... não, um soco em seu estômago, um Cruciatus direto em sua mente, acaba falando com mais emoção que desejaria, pela primeira vez em tempo, sua voz quase falha diante de Dumbledore. Não... era por isso que mudara, por isso que pedira ajuda... nunca mais, se prometera, nunca mais iria fazer isso...
Você quer dizer... que...- se virou para Harry e perguntou quase furioso.- Que você concorda em se submeter a uma lavagem cerebral? É isso?
Severo, sei que isso é algo que você se prometeu nunca mais fazer, mas só confiaria tal tarefa a você já que tem experiência.- interviu Dumbledore.
Que diabos que tinha... mais que um torturador, era isso que mais fazia a mando do Lorde, antes... fazia pessoas esquecerem que tinham famílias, mulheres esquecerem o que sentiam pelos filhos, homens esquecerem o que lhes era de vital em suas honras... incutindo em cada um a veneração ao Lorde... e nunca mais... nunca mais, havia jurado...
Severo, acima de tudo pense que será um alívio a vocês dois, a você que até agora contornou a situação...
Seria um imenso alívio para mim.- Harry disse o olhando.- Seria o melhor para todos.
Vocês são as pessoas que tenho em mais alta conta...-Disse Dumbledore.- Não recorreríamos a medida tão drástica se não fosse estritamente necessário.
Era o olhar dele, os olhos verdes fundos que pediam, "não diga mais nada... não lute mais... liberte-nos." Cedeu.
Certo, o que exatamente deve ser feito?
Você vai dizer a Voldmort que houve um feitiço entre eu e Harry, mas não podemos confiar em um feitiço, ele pode ser quebrado em uma futura invasão...
Sim com certeza, mesmo o Fidelius pode ser revertido quanto a memórias... feitiços de memória não servem... não nesse propósito.
Devemos também poupar... futuros aborrecimentos.
Potter não pode virar um monge Dumbledore.- disse sério.
Não permanentemente.- disse rouco olhando para o chão.- Só por enquanto... não podemos por mais ninguém na mira de Voldmort... Não quero causar mais desgraças...
Você sabe como fazer isso.- complementou Dumbledore.
Sei.- disse com nojo de si mesmo.- Quando?
Agora Severo, devemos aproveitar o fato de Harry "ainda estar na enfermaria".
Sim, e quando acordar... estará l�, e não terá lembrança de nada.- acabou retorquindo.
É isso.- Dumbledore concluiu cansadamente.
Então levante-se... Potter e me siga. A penseira Dumbledore.
Sim... leve-a. -disse fazendo-a levitar e encolher, observando Severo guardá-la, agora no tamanho de uma moeda, nas vestes.- Peça a Minerva que busque a senhorita Granger e que venham para cá.
Claro.- disse se virando.- Venha Potter.
Diretor.- Harry disse baixo.-Vai... apagar a memória dela?
Snape também parou para olhar, pelo que entendeu a sabe tudo Granger já sabia de tudo, que inferno de garota intrometida, mas se surpreende também com a resposta de Dumbledore.
Não Harry, vou lhe ser sincero, vou pedir que ela fique ainda mais atenta sobre seu comportamento.
Não era preciso dizer mais nada, Harry se virou e o seguiu. Nenhuma palavra foi dita até chegarem em frente a Minerva que os olhou com a testa enrugada, Impaciente, disse frio.
O diretor pede que busque a Senhorita Granger e vá falar com ele.
Hermione Granger?Claro...
E seguiu um caminho completamente diferente do deles, mas sem deixar de dar-lhes uma estranha olhada quando complementou.
Vamos Potter... não temos tempo sobrando.
Seguiu-o, engraçado que como nos momentos mais difíceis da vida, ficava calmo, agora aquela calma lhe penetrava na alma, dolorida... já havia acontecido o pior, e o melhor, era que logo, não lembraria mais... mas olhando ali na frente o vulto negro... aprendera a gostar da veste enfunada dele e do andar rápido e firme, agora, não podia deixar de sentir algo doer por dentro sabendo que esses significados se perderiam... e tudo iria retornar ao vazio anterior... mas de certa forma, não tinha o direito de sequer sentir isso, logo nem lembraria disso, seria uma benção, estaria livre e ele também... valeria a pena perde-lo para si, do perde-lo inteiro. Morto.
Iria esquecer de tudo o que mais queria? pra quê se preocupar afinal? Olhou-o abrir a porta do aposento e esperá-lo entrar... Iria esquecer que ali o beijara, que ali fora beijado, do motivo que ali o jogara no chão com uma azaração.
Tem certeza disso Potter?-Snape perguntou.
Tenho. É o melhor... você mesmo sabe disso.- disse sem se virar.
Você tem idéia de que isso pode ter conseqüências para você?
Tenho que aceitar isso.-disse se virando.- É minha escolha, foi o que eu e o diretor decidimos, você não está fazendo nada que não tenhamos discutido e concordado.
Porque mentiu para Dumbledore?- perguntou o olhando firmemente.
Não menti. Menti?- disse firme.- Porque acha que menti...
Porque você disse que não houve...
Incentivo? Houve? Não houve pelo que me lembre...
Eu sei... mas não precisa ser legelimente para entender que você não contou tudo.
Uma noite que você negou e os beijos que você não quis? Porque contar? Eles vão sumir não vão? Agora... eles não existirão mais.
Severo o olhava ainda, olhava os olhos cansados e o corpo trêmulo, os punhos fechados... era fato consumado.Não havia mais nada a fazer...
Eu disse que quando você se arrependesse... eu não faria nada.- Harry disse com voz firme.
Sente-se.- disse saindo da sala para o corredor, atrás dos ingredientes necessários. Não se atreveria a olhá-lo agora... estava com vergonha.
E Harry por sua vez sentou-se mordendo o lábio, segurando algo que ardia no canto de seus olhos e embolava em sua garganta... estava tudo perdido e as lembranças afloravam... e fosse o que fosse, eram como cadáveres boiando em sua mente, porque elas estavam todas condenadas... as lembranças estavam todas mortas... não ficariam mais lhe espreitando os sonhos, nem ali disponíveis para serem devoradas por Voldmort. E agora, bem agora, elas pareciam tão... dolorosamente preciosas... como se pedissem mais tempo... o tempo que nunca teria, a vida que ia perdendo... esvaindo de suas mãos.
O processo é simples.- disse entrando, havia decidido pela frieza quase profissional.- A primeira poção é um combinado de veritasserum e Alimata, o efeito é muito parecido com a maldição Imperius... mas não tão agradável.- conjurou uma pequena mesa e com um gesto tranformou o sofá em divã- Se você não resistir... será mais fácil.
Não se preocupe.- resolveu encarar tudo como uma aula difícil, seria direto, faria o que fosse mandado.
Depois, usaremos a penseira para escoar suas memórias... que serão destruídas. Essa é a diferença, um feitiço de memória a mantém longe da consciência... em algum ponto ignorado da mente, mas que pode ser acessível sob um feitiço bastante forte.- voltou a penseira ao tamanho normal conjurou um conjunto de caldeirão pequeno e fogareiro.
Como no caso de Berta Jorkins.
Sim.- acendeu o fogo.- depois de escoadas as memórias certas, você já vai estar um pouco sonolento, usarei a poção de lakesh que visa apagar sentimentos de...
O silêncio caiu constrangedor, apenas cortado pelo retinir de frascos.
Depois que esse sentimento sumir...- interrompeu o outro.- O que mais?
Um feitiço vai te fazer dormir... em seguida a última poção... que vai cortar... todo seu... desejo por pelo menos cinco, seis meses.
Vou ser incapaz de sentir?
Pelo menos atração, sim... sentimento é algo diferente, mas sem atração é difícil, vira amizade.
É melhor... mais seguro.
Snape fechou os olhos, imaginado como podia concordar em transformar um rapaz de dezesseis anos em algo sem desejo. Em uma criatura fria.
Beba.- estendeu a primeira poção.
Harry bebeu sem pestanejar, desceu fria, leve como água, e em seguida foi como cair, um frio na barriga e um estranho vazio, tentou voltar a pensar, mas parecia difícil
Harry, agora, escute minha voz... e faça o que eu mandar.- disse o olhando.
Os olhos verdes se focaram nos seus, inexpressivos, nublados, distantes, tão diferentes do olhos sempre atentos que estava acostumado.
Pegue esta varinha.- passou a sua já que calculava que o rapaz não trouxera a sua.- E retire as memórias que tem de nós... e dos momentos que pensou em nós... como parceiros. Como... namo... amantes. E coloque aqui.- colocou a penseira em frente dele.
O olhar vago levou um segundo para piscar e num gesto mecânico pegar a varinha e leva-la a cabeça... mais alguns intermináveis minutos para a massa de teias prateadas encherem a penseira... agora ele parara e voltara a olha-lo.
Todas as outras lembranças... boas e ruins relacionadas a esse sentimento.
A varinha recomeçou o serviço, indo e vindo com leves teias... trabalho lento, demorado, quase de garimpo em busca das memórias certas, uma vez ou outra precisava pescar de volta uma aula inocente, um palavra e partir a memória no momento certo, não imaginava que o rapaz tivesse lhe dedicado tantos pensamentos, sentiu-se injusto.
Os olhos verdes piscavam devagar, sonolentos.
Devolva-me a varinha, tome essa poção agora... e esqueça o que sente, seu coração fica limpo agora Potter, nada sente. Nada.
Ele lhe devolve o pequeno cálice, como última provação Severo desvia o olhar da gota que maliciosa desce pelo canto da boca dele e escorre até o queixo, provocadora, maldosa. Faz o encanto para adormecer e antes que Harry desmaie, o puxa, o segurando, lhe serve o último cálice traidor... de certa forma é a garantia que ninguém mais, por enquanto, receba tamanha devoção dele novamente.
Pelo menos por enquanto, ninguém será amado por Harry Potter. Que agora, fecha os olhos e deixa o corpo amolecer.
Ele tem o rosto marcado de dores que talvez só Severo possa ver... e ao mesmo tempo parece tão tranqüilo assim... adormecido... não há expressão, parece mesmo um fino boneco de porcelana.
Dos mais delicados e finos. Uma lágrima escorre da bochecha pálida até o pescoço.
Mas não é de Harry.
A mão trêmula de Severo a enxuga... sua própria lágrima.
Depositando o rapaz no divã, não suporta sem lançar um último olhar antes de levantar engolindo um único soluço dolorido. Não toca-lo. Seria injusto faze-lo depois de tudo, mas não pode negar... o homem mais corajoso daquela sala é o que está dormindo. Porque o mestre de poções senta-se olhando a última lembrança que permanecerá.
Severo Snape rouba para si a imagem que paira sobre a penseira agora.
De dois amantes verdadeiros sob um céu vermelho sangue.
Acabou... bom... Sob um céu vermelho sangue acabou sim... mas continua em:
Sob um crepúsculo púrpura.
