Prólogo
Sete horas da manhã. Ninguém merece ser acordado num domingo às sete horas da manhã. Principalmente por um despertador como o meu. Que tipo insano de pessoa acha que é digno de acordar um ser humano com uma sirene como essa? Minha mãe. Óbvio que, conhecendo seu querido filho (e sua característica dificuldade de acordar tão cedo) essa foi a única saída que ela encontrou. Francamente, ela quer me ensurdecer? Parece cem doxys gritando ao mesmo tempo...
Após levantar e lavar o rosto, estou me sentindo bem melhor. Talvez a sirene nem seja tão ruim, afinal, eu consegui levantar, não é? Ao lado da minha cama, em cima da minha cadeira, o meu uniforme estava cuidadosamente lavado e passado, como minha mãe fazia questão de deixar, pelo menos nos últimos cinco anos. Algo fez barulho no quarto ao lado e foi aí que eu me lembrei de alguma coisa. Ou melhor, de alguém.
- Prongs- Sirius entrou no meu quarto com um vasto sorriso nos lábios. - Ah, eu vou sentir saudades daqui... olha- ele apontou para as vestes que carregava nas mãos.
- Sim- eu ergui uma sobrancelha. Merlin, eram roupas! Acho que Sirius está se transformando muito em cachorro, isso está o afetando!
- Passadas- ele disse isso tão "alegremente" que eu realmente me preocupei que Sirius estivesse tão feliz com roupas...passadas. - Você sabe quando minha mãe ia se preocupar com o meu uniforme? No dia que os Black fossem morar em um bairro trouxa e dessem um jantar amigável pros vizinhos.
Pensando bem, Sirius realmente não estava acostumado com as demonstrações de carinho maternal da sra. Meredith Potter. Também, pudera, com uma mãe como a que ele tem... na verdade, tinha. Há dois meses, Sirius tinha fugido de casa após a maior discussão que já tivera com seus pais. Ele finalmente não agüentou mais e disse a eles tudo o que estava guardando pra si desde que tinha entrado em Hogwarts. Durante um jantar em que grande parte da família Black estava presente. Provavelmente, ela já tinha sido deserdado naquele momento. Ou pior. Na verdade, quando Sirius apareceu em casa com um olho roxo e uma pequena mala, e me contou toda história, eu fiquei surpreso que tudo que ele levou foi um soco de seu pai. Desde então, por insistência minha e de meus pais, ele estava hospedado em nossa casa.
- Bem, essa é a sra. Potter- eu respondi, rindo. A corujice de minha mãe era bem conhecida entre os marotos.
- Eu devia ter saído daquele lugar anos atrás... - a voz de Sirius ecoou no corredor. Eu me arrumei devagar (ainda tínhamos muito tempo) e meia hora depois, estávamos eu e Sirius tomando café no andar de baixo. Meu pai estava lendo o Profeta Diário, e no minuto em que encarei o jornal um Ministro da Magia muito confuso tentava atender a dezenas de repórteres ao mesmo tempo.
- Bom dia, sr. P. - Sirius disse, mastigando um bolinho de batata.
- Bom dia, garotos. - meu pai disse, por detrás do jornal. Seus olhos apareceram por detrás da folha para me observar. - A srta. Andrômeda Tonks me mandou uma coruja essa manhã.
Eu olhei para Padfoot e ele, por sua vez, olhou curioso para meu pai. Joseph Potter sorriu paternalmente.
- Ela se mostrou muito preocupada com você, Sirius. Quis ter certeza de que estávamos o tratando bem, e de que você iria para a escola hoje.
- Espero que não expulsem ela da família por se preocupar com a minha saúde. Mas bem, ela está casada com um "sangue-ruim" - Sirius fez sinal de aspas com as mãos - então não há muito que se possa fazer.
- Não se preocupe, Sirius. - minha mãe apareceu na sala de jantar, e acariciou os cabelos dele. - Seus pais um dia se darão conta do grande homem que você é.
- Obrigado, sra. P. - Sirius disse, levemente constrangido. Obviamente, aquilo não era algo que a mãe dele fazia constantemente. - Ei, Potter... acho que está na hora.
- Deixe eu pegar as suas coisas. - minha mãe pegou sua varinha e murmurou alguma coisa. Segundos depois, os dois malões com o símbolo de Hogwarts estavam à nossa frente. - Tem certeza de que pegou tudo, filho- ela virou-se para mim, e sem sucesso tentou arrumar um pouco meu cabelo.
- Sim, mãe. - resmunguei. Ela sempre tinha que fazer essa pergunta como se eu fosse um idiota sem memória? Bem, tratando-se de dona Meredith Potter...
Sirius e eu carregamos os malões para a sala.
- Diga olá para o velho Seymour por mim. - meu pai disse, acenando da mesa.
- Falou, pai. Até mais- acenei de volta e peguei um punhado de pó de flu. Aproveitei que minha mãe estava ocupada agora arrumando a gravata do Padfoot ( " Como se eu fosse deixar você ir desse jeito...") e joguei o pó na lareira. "Chifre de Dragão " eu disse, pausadamente, e após alguns segundos girando, com dezenas de lareiras passando à minha frente, cheguei ao famoso Chifre de Dragão. À primeira vista, o lugar parecia um pub como todos os outros, a não ser pela decoração ligeiramente exótica, claramente inspirada em todas as espécies de dragões possíveis e imagináveis. Para as pessoas que passavam na rua, a fachada até parecia convidativa, porém quando trouxas pensavam em entrar no bar, subitamente sentiam-se completamente sem fome ou sede e continuavam seu caminho. Eu me afastei da lareira para dar espaço à Sirius e avistei o sr. Seymour se aproximando com um gigantesco galão de vinho.
- Ol� jovem Potter- ele exclamou, nenhum traço de cansaço na voz dele, apesar daquele galão parecer pesadíssimo. - Boa viagem!
- Obrigado, sr.Seymour- acenei. - E meu pai mandou um oi!
- Sua mãe é muito... cuidadosa.. - Sirius apareceu, soltando um pouco a gravata.
- Pelo menos ela parou de chorar de soluçar depois do terceiro ano. - eu sorri.
- Eu realmente não imagino o seu pai num lugar desses... - ele disse, rindo.
Nós atravessamos o bar, que ainda estava fechado para os clientes, e chegamos à calçada. Do outro lado da rua estava a estação King's Cross. Atravessamos com os nossos malões e alcançamos as plataformas. Um casal atravessava a barreira com um garoto (que tinha cara de primeiranista).
- Você não está esquecendo nada não- Padfoot disse, tranqüilo.
- O quê- eu perguntei, olhando em volta. Então entendi a pergunta. - Ah, o Fedorento foi passar férias com a Arista. Você sabe que ele adora a Bolinha-de-Neve...
Sirius deu um de seus sorrisos marotos e nós dois atravessamos a barreira ao mesmo tempo. A plataforma já estava lotada de primeiranistas perdidos, pais emocionados e muitos, muitos alunos. Era praticamente impossível encontrar alguém, então eu decidi que era mais fácil procurar por Remo ou Arista dentro do trem. Padfoot virou-se para me dizer alguma coisa, mas seu olhar se desviou para algo atrás de mim. Antes que eu pudesse me virar, duas mãos taparam meus olhos.
- Adivinha- uma voz suave e alegre sussurrou no meu ouvido.
- A melhor artilheira de Hogwarts- respondi, sorrindo.
- Ah, Tiaguinho, você é tão fofo- Arista me devolveu a visão. - Mas não mesmo. - ela sacudiu a cabeça, modesta. - Não quando se compara a você...e então, como passaram de férias vocês dois? Como você t� Sirius?
- Ótimo. - ele sacudiu o ombro, como quem não entende o porquê da pergunta.
- Que bom. - Arista sorriu. - Coitada da sra. Potter, com vocês dois juntos...
- Nós até nos comportamos dessa vez, não é Prongs- Sirius olhou para mim com uma cara de dizia exatamente o contrário.
- E o Fedorento- eu desconversei.
- Ele tá ótimo- Arista sorriu. - Ele é um amor de gato, Ti. Só tivemos um pequeno incidente: ele quase arrancou a pele do amigo do meu irmão, mas aí nós descobrimos que o pirralho estava fuçando na minhas coisas da escola... esses trouxas curiosos...Ei, vocês viram a Lily?
- Quem? Ah, aquela sua amiga que mal pode olhar pra nossa cara que já vai nos tirando pontos- Sirius riu e eu olhei pra ele ligeiramente contrariado. Ok, muito contrariado.
- Como se vocês não merecessem... - Arista sacudiu a cabeça com ar de desaprovação. - Eu vou procuríla... até mais!
Arista saiu caminhando no sentido contrário, seus cabelos ondulados chacoalhando no ar. Eu e Sirius nos olhamos e, como se tivéssemos lido nossos pensamentos, pegamos nossas coisas e entramos no trem. Como sempre, andamos pelo corredor e escolhemos o último compartimento. Os pivetes do primeiro ano podem ser muito barulhentos e irritantes! Sirius, ao ouvir isso, disse que eu estou ficando velho e que era tão barulhento e irritante quanto eles quando estava no primeiro ano. Idiota... ele é mais velho que eu e ainda é irritante! A verdade é que todos nós marotos gostamos de ficar isolados na última cabine simplesmente porque isso dá um ar tão mais conspiratório ao nosso grupo...
- Ah... - eu me esparramei no assento mais próximo. - depois de cinco anos isso começa a ficar entediante... - eu disse rindo, e recebi um "roof" de resposta. Abri os olhos ainda na posição de espreguiçar e vi um cachorro preto deitado na minha frente, ocupando os três lugares do assento. - nossa... você deve realmente estar entediado...
O cão levantou os olhos para mim, deu um latido baixo e deitou a cabeça novamente. Sirius só se transformava em Padfoot em três ocasiões: pras nossas "reuniões" na Casa dos Gritos, pra sair despercebido da casa dos pais ou quando estava chateado demais para ser humano. Como as duas primeiras estavam fora de cogitação... bem, melhor assim, é muito mais fácil de lidar com a forma "animal" dele.
A porta da cabine ainda estava aberta, e quando eu me levantei para fechar um vulto arroxeado passou por mim e pulou no banco.
- Ei, Fedorento... - eu sorri e, depois de fechar a porta, me sentei e acariciei seu pêlo. - Férias agitadas, não garoto? Vê se não ataca as pessoas por aí quando eu não tiver por perto, ok?
Fedorento ergueu os olhos amarelados para mim e fez um som de reprovação, encolhendo-se no canto com uma pose de "me-incomode-e-eu-arranco-seu-olho-em-um-segundo". Aparentemente, ele e Sirius estavam conspirando contra mim dessa vez. E eu faço uma correção: não é mais fácil lidar com animais! E já que tédio é contagiante, a única coisa que me restou foi pegar um pedaço de pergaminho e minha pena e desenhar. Pelo menos é muito mais eficiente que ficar olhando pra janela e bufando.
As bufadas e olhadas não duraram muito, contudo. Logo Padfoot se levantou e virou-se rapidamente pro lado da porta, o focinho tremendo de um lado pro outro. Os pêlos de Fedorento se eriçaram.
- Que foi- eu disse, parando a pena no meio do traço que estava fazendo. Mas Sirius se limitou a se transformar de novo em...Sirius e parar em frente à porta com um olhar muito sério.
- Que foi- eu disse novamente e ele simplesmente abriu a porta e apontou a varinha para alguma coisa. Eu dei um pulo do banco e, espiando pelas costas dele (o que é muito difícil, ele é muito mais alto que eu) eu vi um garoto um pouco menor que eu, cabelos escuros e olhos cinzentos como Sirius, e o mesmo olhar de desprezo. Fedorento rosnou alto.
- O que diabos você tá fazendo aqui- Sirius murmurou, os dentes cerrados.
- Até onde eu sei, esse ônibus é para todos os alunos de Hogwarts, incluindo os mais... imbecis. - ele disse indo olhando pra mim. Pra mim! Ah, pirralho... se não fosse o irmão do Sirius... - Eu ando por onde eu quero.
- Não dê uma de espertinho pra cima de mim- Sirius rosnou de volta, e sua varinha encostou no rosto de Regulus. Por alguns instantes, o garoto olhou pra varinha com medo, mas depois ele recompôs o seu jeito sonserino de ser.
- Bem, alguém tinha que herdar o bom-senso da família.
- Eu vou te mostrar o...
- Não se atreva. - uma voz ecoou no corredor. Era uma voz feminina, fria e carregada de arrogância. Eu empurrei Sirius pro lado pra poder ver quem estava vindo. Hmmm só podia ser...essa família é mesmo incrível. - Não se atreva a azarar seu irmão.
- Ah... Narcissa! Virou garota de família, agora- Sirius agora tinha um sorriso bem maroto. - Falando nisso, como está o Lucius? Espero que não tenha perdido um dente!
- Ele está ótimo, obrigada por perguntar, primo. - ela devolveu o mesmo sorriso. - Apesar da sua selvagem tentativa de homícidio.
- Oh, não. Eu achei que você me conhecia melhor, priminha. Eu não iria tão longe. Malfoy não vale a pena. - Sirius riu alto, eu também, e Narcissa nos presenteou com uma cara péssima!
- Não ouse falar do Lucius dessa maneira, enquanto você anda com esse tipo de gente! Esses covardes amiguinhos de trouxas- ela apontou a varinha para Padfoot, mas seus olhos brilhavam de ódio na minha direção. T� era ótimo causar aquele tipo de emoção na futura senhora Malfoy, mas era da minha família que ela tava falando!
- Ha. Como se fosse possível comparar os Malfoys com os Potters. Cai na real, sua vaca.
Por algum motivo obscuro, Narcissa escolheu ignorar minha "simpática" observação!
- Eu já mandei você abaixar essa varinha. - ela olhou de novo para Sirius.
- Vem fazer. - ele disse, devagar e desafiador.
- Com prazer. - Narcissa girou sua varinha e estava sussurrando um feitiço quando...
- Eu não faria isso se fosse você.
O rosto de Narcissa virou na direção do corredor.
- Aaah, isso não é adorável? O sr. Trapo-Humano e a srta. Impertinente-e-Nojenta . Que casal bizarro.
Senti meu rosto arder de raiva. Essa víbora não apenas passou dos limites, ela estava a quilômetros dele!
- Eu estou enganada ou você estava prestes a atacar um aluno? Porque se estava, eu vou ter de reportar isso ao Diretor. - a voz suave de Evans soou. - Um péssimo exemplo vindo de uma monitora, eu diria...
- Não se atreva a ameaçar um Black, sua sangue-ruim prepotente!
" Ok. Dane-se. Sirius nem liga pro irmão dele mesmo." foi o primeiro pensamento que passou pela minha cabeça quando eu percebi que já estava apertando a garganta do moleque contra a parede da cabine em frente à nossa.
- REPITA ISSO E VOCÊ ESTÁ MORTO, PIRRALHO!
Regulus (o filho da mãe!) sorriu.
- Potter, solta ele- Evans exclamou.
- Prongs, deixa quieto, cara. - Remo murmurou, junto com ela. Eu soltei um pouco o pescoço e Regulus me empurrou, saindo atrás de Narcissa, que já estava alguns passos longe.
- Ah, e Tiago Potter atacou um aluno mais novo. Que péssimo exemplo para um sextanista. Acho que vou ter de reportílo para o Diretor, Evans. - Narcissa repetiu as palavras de Lílian, alto, saboreando cada palavra. - Isso é que os monitores devem fazer, não é?
Evans respirou fundo, revirando os olhos. Então eles se abriram e olharam fixamente para mim.
- Seu idiota!
- O quê- arregalei os olhos. Meus ouvidos devem ter me enganado. Ela não podia...
- Por que você fez aquilo- ela cruzou os braços.
Oh, Merlin. Ela podia e ela estava furiosa comigo. Um babaca sonserino tinha acabado de ofendê-la e ela estava nervosa com quem? Tiago Potter, obviamente. Quem mais? E que tipo de pergunta estúpida era aquela?
- Espera aí. Você escutou bem do que ele te chamou, Evans?
- É claro que sim! E eu não me importo nem um pouco com o que aqueles imbecis pensam de mim! Desculpe, Sirius... - ela disse, rapidamente. Ele balançou a cabeça como se dissesse "Ah, não esquenta..." - Mas agora eles conseguiram o que queriam! Eles estavam provocando vocês e você, Potter, caiu feito um pufoso na conversa deles! E você já ganhou uma detenção, o ano letivo nem começou!
Evans disse a última frase com uma carinha de decepção tão característica que, quando eu dei por mim, estava sorrindo. Sorrindo! Sim, por que no meio de todo esse discurso dela eu percebi o verdadeiro motivo de toda a irritação: Evans estava preocupada comigo! Bem, talvez as palavras dela não dissessem exatamente isso, mas era tão claro! Não era?
- Ah, Evans, não precisa fundir sua linda cabecinha com isso... eu já estou acostumado com detenções, já estou ficando até amigo do Filch...
Ok, se ela estava preocupada comigo, ela conseguiu disfarçar bem com uma cara de ira fenomenal.
- Remo... - ela se virou pra ele depois de bufar e revirar os olhos. - Eu vou fazer a guarda agora, você fica descansando aqui, ok?
Quando ela se afastou, eu me ouvi dizendo algo como:
- O que é isso agora? A Evans virou sua babÿ
Lupin olhou para mim confuso. Então eu achei melhor entrar logo na cabine de volta, e pra minha surpresa, achei Pedro mastigando alguma coisa, deitado no banco.
- Quando foi que você entrou?
- Ah, oi Prongs! Eu estava no banheiro quando ouvi a discussão e me transformei e entrei sem ninguém perceber- ele sorriu todo orgulhoso. Wormtail ainda estava tão feliz consigo mesmo por ter conseguido virar um animago que passava grande parte do tempo como rato.
- A Lílian tá certa, você não parece muito bem... - Sirius se sentou na frente do Pedro.
- Ela se preocupa demais, não devia. E vocês também não. - Remo sorriu tristemente e respirou fundo.
- Eu ainda não acho uma boa idéia você ter contado pra ela... - eu murmurei. A Evans, desde que tinha descoberto, estava sendo muito protetora, quase maternal, com o Moony! Muito irritante. Levando chá pra ele e perguntando a cada dois minutos como ele estava se sentindo. Francamente! Não que eu estivesse com ciúmes, mas...
- Ela é minha amiga, Tiago! E ela sempre foi muito legal comigo. - ele respondeu. - Ela não é como os marotos, claro, mas acho que não tem problema nenhum dela saber. - ele sorriu.
- Graças a Merlin que ela não é um maroto- Pedro disse na sua vozinha esganiçada. - Imagina, ela na Casa dos Gritos, tirando pontos toda vez que a gente sai pra assustar os outros?
E por alguma razão cosmicamente inexplicável, eu me peguei olhando muito feio pra ele.
Já estava bem de noite quando chegamos em Hogwarts. Os marotos, como sempre, foram os últimos a descerem do trem. Assim que pus o pé no chão, vi uma figura enorme dando as boas-vindas ao primeiranistas: nosso grande amigo, e guarda-caça de Hogwarts, Rúbeo Hagrid.
- Primeiro ano! Aqui comigo! Oh, cuidado com essa gaiola mocinha... Primeiro ano, primeiro ano! Olha a cabeça...oh, olá garotos!
Ele abriu bem os braços quando nos viu e, segundos depois, abraçou nós quatro de uma vez só. Quando ele nos soltou, eu passei a mão pela minha coluna, certo de que alguma coisa ali tinha quebrado. Os outros também não tinham uma cara muito "confortável"...
- Ei, Hagrid... como vai?
- Bem, Tiago, muito bem- ele sorriu. - Vamos andando, garotos... e tratem de não causar muitos problemas por aí esse ano, hein?
- Nós? Causando problemas? Da onde você tirou isso, Hagrid- Sirius fez a cara inocente mais convincente que conseguiu, e olha que ele quase chegou lá.
- Nós não causamos problemas, Hagrid! O problema é que vem até nós- eu acompanhei os outros que já estavam embarcando nas velhas carruagens que nos levariam pro castelo. Lupin, logo que entramos, torceu o nariz para os Testrálios que conduziam a carruagem. Nenhum de nós podia ver além dele, mas pelo olhar dele, não devia ser uma visão muito agradável. Além disso, eles lembravam Remo de algo que ele tentava com todas as forças esquecer.
- A gente vai chegar rápido, Moony... - Sirius disse, amigavelmente. Remo virou-se e sorriu.
Chegamos então ao Salão Principal e, como sempre, sentamos nas mesas esperando os primeiranistas chegarem para a cerimônia de seleção. Nós fomos os últimos a se sentar à mesa da Grifinória, e Arista já havia reservado quatro lugares para nós. Um deles era entre ela e Evans, e certamente era reservado para Remo, mas ei, tinha o nome dele lÿ As duas me olharam muito surpresas quando eu me sentei no meio delas. Remo tentou disfarçar um resmungo indignado.
- Olá garotas- eu sorri para elas. Apenas Arista o retribuiu.
- Potter. - Evans sacudiu a cabeça, ainda olhando para o seu prato.
- Lily me disse que você já arrumou confusão... - Arista conservava o sorriso, mas agora tinha um pouco de sarcasmo no olhar dela.
- Eu não arranjei confusão com ninguém. - eu respondi, calmamente. - A culpa de tudo é do Regulus.
Arista não sorria mais. Por conviver muito com a gente, ela sabia exatamente quem era Regulus Black, e ela também já havia sido alvo da impertinência característica dele.
- Mas você podia não ter levado em conta o que ele disse!
Sirius soltou um ruído alto e ele e Arista trocaram olhares significativos. Por que ela e os marotos insistem em fazer isso quando nós discutimos? Aliás, se nós discutimos, a culpa é toda da Evans e dos lindos olhos verdes dela. Essa garota realmente precisa se acalmar às vezes. Não que ela não fique maravilhosa quando está nervosa...
- Evans! Ele te chamou de sangue-ruim- os olhares de outros grifinórios perto da gente me fizeram perceber que, provavelmente, eu não devia ter dito isso tão alto. - Eu não ia permitir uma coisa dessas! Ponto final!
Evans pareceu ficar atônita com a minha determinação em defendê-la, pois ela, milagrosamente, cruzou os braços e ficou em silêncio, olhando fixamente para o prato vazio. Os alunos do primeiro-ano chegaram e pela primeira vez desde a minha seleção eu prestei atenção na cerimônia. Estávamos todos muito quietos, Pedro ocupado aplaudindo os novos grifinórios, Remo folheando um dos livros que sempre trazia à mão, e Sirius olhando fixamente para a mesa da Sonserina, mais precisamente para seu "querido irmãozinho". Depois da seleção, Dumbledore disse algumas palavras (que, como sempre, não fizeram muito sentido!) e o jantar apareceu nos pratos.
- Ei, Pads... comida, cara... se concentra... - eu o cutuquei, rindo, pois ele ainda estava prestando atenção nos verdinhos.
Sirius resmungou alguma coisa que eu não ouvi e começou a comer. Assim que terminaram, as meninas subiram pra Torre da Grifinória. Remo reclamou que estava cansado e nós também subimos, e foi só na hora que eu me joguei na cama que eu percebi como também estava morrendo de sono. De acordo com o Pedro, segundos depois eu já estava roncando. Tiago Potter, roncando? É ruim, hein! Eu durmo como um anjo... ainda mais com o sonho que eu tive...
