Reunidos à luz da Lua

Minhas orelhas estavam vermelhas quando eu saí da sala da professora. Eu nunca tinha visto ela gritar daquele jeito! Eu não entendo como o nariz do Seboso pode afetar tanto alguém, aliás, ela devia ter me agradecido, porque ele devia estar bem melhor naquele momento!

Logo que eu fechei a porta da sala da McGonagall, escutei uma voz (deliciosamente) conhecida.

- Potter?

- Evans! Ora ora ora, quem vemos por aqui? - eu sorri.

Ela revirou os olhos.

- Eu estava passando e...ah, quem eu estou enganando? Ok, Potter, os meninos me contaram o que aconteceu e...eu agradeço o que você fez. Ainda acho que você exagerou quebrando o nariz do garoto, mas... obrigada.

Se eu não tivesse na frente dela, eu faria minha dança da vitória. Lily Evans estava corando! Lily Evans estava me agradecendo! Lily Evans goooooosta de mim!

- Você sabe que eu nunca ia permitir ninguém, ainda mais ele, falando de você daquele jeito. - eu sorri.

- É, eu sei. - ela disse impaciente - Mas, tá, o que a professora falou?

- A McGonagall tá viajando! Mandou eu pedir desculpas pro Snape. Como se isso fosse acontecer.

- Ela pediu, é?

- Pois é. Tantã, não? - eu fiz sinal de que ela estava louca com o dedo. - É a idade.

- Ótimo! Ela está certa, Potter. Nós vamos agora visitar o Ran-...o Snape na ala hospitalar! - Evans grudou no meu braço e me puxou! E por mais que eu não quisesse estragar aquele belo momento, eu tinha que perguntar delicada e sutilmente...

- O que diabos você pensa que está fazendo, garota? - eu puxei meu braço. - Eu não vou pedir desculpas praquele...aquele...

- Tiago Potter, você vai vir comigo agora ou eu...eu... te dou uma detenção!

- Você não pode, e eu nem ligo.

- Eu tiro cem pontos da Grifinória!

- Como se eu me importasse... - eu cruzei os braços.

- Eu te dou um beijo se você for!

Eu até engasguei! Será que meu ouvido estava falhando? Evans... me beijar, por vontade própria??

- Só se for agora! - eu sorri.

- Claro. - ela se aproximou de mim, segurou meu rosto e...me beijou. Na bochecha. Cruel!

- Pronto. Agora vamos!

A minha cara de bobo deve ter sido ótima, porque ela disse isso rindo, e ficou rindo até chegarmos na ala hospitalar. Como ela consegue me deixar assim?

Bom, chegamos lá, e Snape estava no último leito, ao lado da janela. O efeito do beijo de Evans já tinha passado, e eu não estava nem um pouco interessado nessa história de se desculpar com o Ranhoso. Afinal, ele merece, não? Quem o imbecil pensa que é para ir ofendendo as pessoas dessa maneira? Ainda mais... chamar a Evans de sangue-ruim! Ela é muito mais bruxa de qualquer "sangue-puro" dessa escola, principalmente ele! Essa mania de sobrenome, sangue e o escambal me irrita muito. E quem são os Snapes hoje em dia, além de uma família decadente que se arrasta atrás dos Malfoys e dos McNairs e se agarra à um passado de "glória" muito distante? Pensando bem, Ranhoso merecia mais que um nariz quebrado.

Estava pronto para dar as costas e esquecer tudo isso, se Lily não me olhasse tão significativamente.

- Vamos, Potter. - ela me puxou. Andamos apressadamente até a cama dele. - Snape, o Potter quer falar com você.

- O que você está fazendo aqui, seu animal descontrolado? - ah, a audácia! Se Lily não tivesse me segurado...

- Ele veio em missão de paz, Snape, escute-o. Potter?

- É. - eu cruzei os braços. - Estou apenas fazendo uma visita, Sevinho! E o nariz? Tá endireitado agora?

- Por que você não vai...

- Por Merlin! Potter, diga logo o que tem a dizer!

- É, Potter... antes que sua namoradinha diga tudo sozinha.

Evans cruzou os braços e fez cara feia.

- Então, Seboso, eu estou profundamente, não, extremamente, ah, melhor, dolorosamente arrependido de ter quebrado seu belíssimo nariz. Estou me remoendo de culpa.

- Da próxima, eu quebro todos os seus ossos. - ele disse, entre os dentes. Evans fez cara de assustada. No mínimo, ela achava que Snape era um pobre coitado que não tinha como se defender dos marotos...

- Quero ver você tentar.

Ele esticou o braço pra pegar a varinha na mesa ao lado do leito, mas eu fui mais rápido.

- Patético, Ranhosinho. Até mais ver.

Eu sai rodando a varinha no dedo e Evans veio atrás.

- Você se acha grande coisa, não é, Potter? Você e sua namoradinha sangue-ruim! Vocês ainda vão ter o que merecem, e a última gargalhada será minha, Potter, minha! - ele gritou do fundo da sala. Evans bateu a porta.

- Potter, eu não sabia...

- Está satisfeita, agora? - eu joguei a varinha de Snape nos braços dela. - Percebeu por que eu odeio tanto esse garoto? Severo Snape é um dos piores tipos de gente que eu conheço. Com ele, você tem que sempre vigiar suas costas. Ah, e já ia me esquecendo...

Eu me virei rapidamente e segurei o rosto dela. Sem reação, Lily apenas estremeceu quando meus lábios tocaram o dela.

- Não me provoque, Evans. - eu pisquei e saí.

No caminho para o Salão foi que eu dei por mim: eu tinha beijado a Evans! Era a segunda vez que isso aconteceu em todos esses anos, e ela não me deu um tapa como da outra vez! Puxa, por que eu me senti tão culpado daquela vez que tentei beijá-la? Se eu soubesse que a reação dela seria... não ter reação nenhuma! Melhor ainda...ela gostou! Tenho certeza! Você gostou do beijo, Lily Evans! Você adorou!

Cheguei na mesa da Grifinória e percebi que os caras estavam meio misteriosos e tal...e então eu lembrei: era a primeira Lua Cheia do mês! Como pude me esquecer? Nós sempre ficamos estranhos nessa época, como diz a Arista. Aliás, nem ela nem Evans apareceram no jantar. Mas era de se esperar... aposto que Lily está super-irritada...hehehe.

Nós saímos da mesa antes do jantar acabar, afinal já estava anoitecendo. Como sempre, Remo foi se encontrar com Hagrid, que iria levá-lo ao salgueiro, porque oficialmente, Rúbeo era responsável por Moony. Eu disse oficialmente...

Como sempre, nós esperamos a sala comunal ficar vazia. Quando já era hora de dormir e todos tinham ido para seus dormitórios, eu apanhei a capa de invisibilidade, joguei por cima de mim, do Sirius e do Pedro e nós saímos pelo retrato. Andávamos a passos largos, e logo chegamos à entrada do castelo. Por mais que já tivéssemos feito isso dezenas de vezes, era sempre emocionante!

Quando fechamos cuidadosamente a porta atrás de nós, ouvimos um "crack". Pedro tinha se transfigurado. A escuridão e o silêncio eram totais, só se ouvia os guinchos de Wormtail andando pelo gramado. Em segundos, ouvimos um pequeno ruído: o esconderijo embaixo do salgueiro estava aberto. Eu e Sirius nos transformamos e acompanhamos Pedro.

Atravessamos o túnel subterrâneo correndo: para nós, aquilo era pura diversão. Encontramos Moony encostado na parede, olhando a Lua por uma fresta do telhado. Ao nos ver, ele pareceu ficar muito animado e, em pouco tempo, ele já tinha esquecido toda a melancolia de antes. Eu sempre penso como devia ser pra ele quando nós ainda não éramos animagos...

Num canto da Casa dos Gritos estava o Mapa do Maroto, que criamos ano passado. Agora, a gente não precisava mais usá-lo... nós já sabemos todas as passagens de cor! Saímos todos da casa pra nos divertir lá fora.

Ser um animago foi uma das melhores coisas que me aconteceu! Bem... de uma certa maneira. Andar por Hogsmeade, vasculhar a floresta, não precisar se preocupar com nada, é muito bom! Dá uma sensação de liberdade... é lógico que nós não podemos fazer tudo que nos der na telha mas... é quase isso!

Cansados de Hogsmeade, já era altas horas quando decidimos entrar na floresta. Não teria nenhum perigo, afinal, até Hagrid estaria dormindo uma hora daquelas, certo? Errado.

Escutamos vozes, sussurrando, não muito longe da gente. Eu apurei meus ouvidos para tentar escutar melhor, mas estava muito longe. Padfoot, porém, tinha uma audição perfeita e soltou um grunhido estranho. Algo não estava agradando ele. Fiz sinal para ele ficar com Remo e eu e Wormtail seguimos em frente...e meu, que surpresa! Vimos um bando de sonserinos reunidos em volta de uma fogueira verde, vestidos todos com túnicas pretas. E lá no meio deles... o Snape, ainda com faixas no nariz! Mas o que o Seboso estava ali?

Voltei para onde Remo e Sirius estavam.

- Pads, está tendo uma reunião muito estranha de verdinhos ali, e o... - eu disse, mas nada mais que ruídos saíram da minha boca.

- O Snape, eu sei, eu sei... - Padfoot respondeu, e ainda que ele estivesse latindo, eu entendi o que disse. Nossa, isso ainda é estranho depois de todos esses anos... - Eu senti o cheiro dele. Merda de faro. Pior, o Reg está aí também.

- Regulus, seu irmão? - Pedro guinchou.

- Não! Regulus Pettigrew, o seu irmão! Claro, né? - Sirius estava irritado. - Você sabe o que é isso, não, Prongs? - ele virou-se pra mim.

- Ah, não me diga que é aquela porcaria de...

- Comensais. Sim, virou mania entre os sonsinhos, agora. - Sirius parou pra dar uma patada no chão. - Reuniões no meio da noite, missões misteriosas e ainda um uniforme! Eles devem achar tão divertido...

- Mas o tal de Voldemort não deve querer nada com eles, certo? Quero dizer... o pirralho do Regulus, o Snape... fala sério!

- Num sei, num sei... mas é melhor ficar de olho neles.

- E se a gente assustasse eles daqui? - Pedro girou, como se fosse morder o próprio rabinho.

- É uma ótima idéia! Às vezes você pensa, hein Pettigrew?

- Esquece, Sirius! É melhor eles não saberem que nós...

- Se liga, Prongs! Como eles vão saber? Tudo que eles vão ver é um cachorro e um...

- Cervo!! Eu sou um cervo!!

- Que seja...

Por que eles sempre implicam com isso, por quê? Um cervo é um cervo e um veado é um veado! Por Merlin!

- Não, sério... eu acho que é melhor nós ficarmos aqui e escutarmos o que eles estão dizendo... mais produtivo, né Pads?

- Bom, isso é verdade...

E foi isso o que fizemos. Pedro ficou atrás, distraindo Moony, e eu e Pads ficamos um pouco afastados, e perto dos sonserinos. Quanta porcaria eu ouvi... eles realmente acham que esse doido com mania de grandeza vai dar a mínima pra eles! E ainda o chamam de Mestre... de Lorde das Trevas... patético.

A verdade é que nenhum de nós sabíamos direito o que esse tal de Voldemort estava fazendo. O nome dele estava sendo pronunciado bastante ultimamente, mas não entre nós alunos. O que a gente sabia mesmo é que um bando, que se auto-denominava Comensais da Morte e diziam trabalhar pra ele, estava assustando trouxas e famílias de bruxos "amigos de trouxas", como eles dizem. Mas Voldemort até agora não havia se pronunciado. Aliás, ninguém nem viu ele até agora. Talvez ele nem exista!

E agora, Ranhoso e seus companheirinhos de casa queriam entrar na gangue... ridículos. Só sonserinos mesmo.

Por volta das três e meia da manhã, estávamos de volta no dormitório da Grifinória. Sirius estava com uma cara péssima.

- O que foi, cara?

- Esses verdinhos... se eu pego o Regulus... eu quebro cada dente daquela boca nojenta dele! - Sirius chutou o pé da cama. - Eu nunca pensei que ele era tão estúpido... tão estúpido!

Pedro e eu nos entreolhamos. Se Sirius estava nervoso daquela maneira, a situação devia ser mesmo grave. E ele, afinal, entende muito mais disso do que nós, tendo vivido tantos anos com...aquela família.

Estranho, os olhos de Pedro estavam diferentes. Brilhantes. Vivos, como eu nunca os vi. Acho que toda essa história nos deixou muito esquisitos...


N/A: There you go, mais um capítulo...

Obrigada pelos reviews!!!

Próxima atualização: 25/01/2005