Capítulo 2: O primeiro encontro


Dois dias se passaram e Harry estava entediado: não fora autorizado por Dumbledore para deixar a casa dos Dursley durante as férias, o que queria dizer que se tivesse sorte, iria realmente ter férias de matar de tédio. Todos estavam ainda sob a rigorosa dieta imposta por Tia Petúnia: Duda não emagrecera um nada durante o ano. Pior: ele continuava a engordar no mesmo ritmo de um porco para o abate. Então, todos tinham que entrar na linha em uma dieta ainda mais rigorosa.

Isso para Harry não foi problema: ele ainda contava com os fornecimentos regulares de comida pelo correio-coruja. Pichi e Errol, as corujas dos Weasley, mandavam regularmente pacotes de sapinhos de chocolate (que agora podiam também trazer cartões sobre grandes jogadores de quadribol, o que animava Harry, que adorava esse esporte bruxo como poucas coisas na vida), bolos de frutas e scones feitos pela própria Sra. Weasley. De Hermione, continuava a receber as barras de cereais e os doces sem açúcar, agora acrescidos de bebidas lácteas a base de soja que Hermione conhecera no Brasil.

Mas isso não era o grande problema: o problema era ele saber que Voldemort estava lá fora, doido para o pegar, e ele sem poder fazer nada. Claro que ele respeitava as decisões de Dumbledore, mas ele não gostava de ficar sentado, esperando as coisas, enquanto outros corriam riscos por ele. E pior que tudo isso era não ter com quem desabafar: seus amigos iriam ficar preocupados, enquanto os Dursley não dariam a mínima.

Foi quando, naquela noite, seu tio Valter disse:

- Moleque, eu e Petúnia estamos indo para uma viagem de negócios, então eu já mandei alertar tia Guida para vir cuidar de Duda e de você! Eu não quero gracinhas enquanto ela estiver aqui...

- Olha, é só ela não falar besteira que eu não vou fazer nada. Se ela me deixar no meu canto, tudo bem.

- Você realmente é um ingrato! - disse Tia Petúnia - Depois de tudo que ela fez por você?

- Ah, sim: depois de ela me esfregar na cara coisas sobre meus pais todo santo dia.

- Se acha ruim, pode ir para a casa de algum daqueles seus amigos anormais. - disse Tio Valter - Duvido que eles te recebam tão bem.

- Tem razão. Sem avisar... - disse Harry, ao lembrar que não comunicara a ninguém que precisaria sair da casa. Foi quando ele teve a idéia.

- Tio Valter, eu já vou precisar comprar mesmo meu material... Que tal você me levar para Londres? Eu fico por lá durante a sua viagem. E ninguém vai ter problemas...

- Está maluco! Você provavelmente destruiria a cidade!

- Bem, sabe o que é, tem um lugar aonde os bru... quero dizer, aonde pessoas como eu se encontram e podem dormir, tipo um hotel...

- Eu não estou nem aí para isso! - disse Valter ríspido.

- ... e meu padrinho poderá estar lá...

Tio Valter ficou branco como se tivesse visto um fantasma. Harry não contara que seu padrinho, Sirius Black, era inocente das acusações que sofrera, e isso fazia com que os Dursley o vissem como um assassino:

- E o que eu devo fazer?

- É só me deixar em um local onde eu te indicar, e tá tudo certo. Depois você pode ir para sua viagem sossegado de que nada de errado irá acontecer. - disse Harry, com um sorriso inocente.

Valter Dursley pensou muito: deixar ele ir era deixá-lo feliz, o que ele sempre evitava fazer; mas não deixar era colocar-se em risco de receber uma "visitinha" de um assassino foragido. Foi quando Valter disse:

- OK, fedelho! Esteja de pé amanhã de manhãzinha, com todas as suas... tralhas... prontas. Eu e Petúnia estamos indo para a viagem mesmo. Seja como for, espero que não tenha piadas nisso! - disse Tio Valter, terminando seu café.

Harry subiu, ajeitou seu malão e todas as suas coisas, pegou um pouco de pergaminho e sua pena, apanhou Edwiges e disse:

- Olha, Edwiges, você vai ter trabalho extra hoje. Quero que você envie algumas cartas para mim.

Edwiges inicialmente achou ruim, mas após alguns afagos de Harry, a coruja estava disposta a tudo.

Harry então escreveu os bilhetes para Hermione, Rony, Sirius e para o professor Dumbledore, colocou-os todos em Edwiges, que bateu asas e foi às entregas.

Tão logo acabou isso, armou o despertador para acordar bem cedo e foi dormir, imaginando o que estava para acontecer.


"Senhores Passageiros, em alguns instantes estaremos aterrisando em Londres. Por favor, voltem aos seus lugares e apertem os cintos. São oito e meia da manhã, horário local, o dia está nublado e faz 15 graus..."

O alto-falante do avião despertou Christine, que fez uma verdadeira maratona de vôos. Primeiro, quatro horas de Salem para Chicago. Depois, mais três horas de lá para Nova York. E de lá, oito horas de vôo sobre o Atlântico para Londres. Claro que ela tinha coisas que lhe ajudavam a passar o tempo: sua bolsa de mão tinha muitos livros trouxas e revistas, seu discman e seu laptop estavam à mão, com porta CDs repletos de puro blues e muito rock'n'roll de Joe Cocker, Janis Joplin, e claro, do Deus Negão Jimmy Hendrix, e usou e abusou dos confortos e regalias oferecidas pelas companhias aéreas, como chuveiros, necessaries para banho e mesas de frios e café nas salas vip. Mas mesmo assim ela estava detonada. Parecia ser um efeito da Jet Lag, a doença do fuso horário que dava nas pessoas que passavam muito tempo em aviões.

A preocupação de Christine com a Alfândega era grande: embora ela tivesse, após pedir autorização para o Ministério da Magia dos Estados Unidos, aplicado Feitiços Desilusórios em todos seus ingredientes de poções, caldeirões e afins, algum trouxa da Alfândega poderia acabar vendo o que não deveria. E então, tome ela obliviando gente. Ela odiava fazer isso, não por preocupações morais, mas porque ela era PÉSSIMA em obliviar pessoas, embora até aquele momento tudo estivesse correndo tranqüilamente.

Ela continuava pensando no Código da Bíblia: "Christine bas Tanenbaum... Você o mudará?".

"Adonai, por que colocaste meu nome no Livro?", pensou Christine. Mas ela tinha preocupações mais urgentes: ela acabara de sentir o solavanco dos pneus do avião encontrando o solo. Logo desceria em solo inglês e poderia ter que dar explicação de seus objetos ao pessoal da Aduana Inglesa.

Ela desceu do avião, procurando aparentar a máxima naturalidade possível. Claro que ela preferia ter vindo de navio: teria que dar menos explicações. A fila para passar pela Aduana foi se formando. Christine retirou seu Cartão da Seguridade Nacional (o RG americano), seu passaporte, a autorização para a viagem assinada por seus pais, por ser de menor de idade, e seu Cartão de Desembarque.

- O seguinte! - disse o fiscal da Aduana, quando Christine dirigiu-se a ele.

- Por favor, seus documentos. - Christine entregou então o Cartão da Seguridade Nacional, o passaporte e o Cartão de Desembarque.

- Srta. Tanenbaum, seu nome não aparece em nossos registros. Por favor, aguarde aqui ao lado alguns instantes, pois vou ter que checar os nossos registros internacionais.

Christine ficou de lado, preocupada. "O que estará errado? Eu regularizei tudo! Adonai Jire, me ajude!", pensou Christine. Ela só poderia mudar tentar mudar o que o Código da Bíblia dizia se conseguisse passar pela Aduana.

Christine estava aguardando junto com outros dois jovens. Um parecia um brasileiro, e pelo que Christine descobriu parecia estar tentando entrar ilegalmente na Inglaterra. O outro era aparentemente palestino, e parecia que estavam checando informações sobre ele nos registros da Interpol.

- Srta. Tanenbaum? - disse o fiscal, aproximando-se dela - Desculpe, é que os registros internacionais que o Consulado Britânico em Nova York envia ainda não estavam disponíveis. Realmente está tudo certo com o seu visto de estudante. Bem vinda à Inglaterra.

- Obrigada! - disse Christine.

Ela pegou seu malão, colocou em um carrinho e foi até a estação de Metrô. Lá chegando, pediu informações:

- Preciso chegar nesse endereço aqui. - disse Christine, entregando um pedaço de papel rabiscado com caneta.

- Bem, não conheço esse tal Caldeirão Furado, mas a rua que você deseja é essa aqui. - disse a moça do Serviço de Informações, rabiscando algumas coisas e circulando um trecho de um mapa - Essa é a estação aonde deverá descer. Fica a oito estações daqui. - disse ela, entregando o mapa a Christine.

Christine comprou o bilhete e entrou no trem. Uma viagem rápida se seguiu. Em menos de vinte minutos, Christine estava na rua indicada no mapa. Ela percebeu que a rua não tinha nenhum tipo de tráfego de carros. Para falar a verdade, Christine já ouvira falar nessas ruas de Londres: nessas ruas de comércio, ela sabia que os trouxas vendiam de tudo, e nelas, portanto, o trânsito de veículos era proibido. Foi quando andou e viu a placa escrito "O Caldeirão Furado". Ela entrou arrastando seu malão para dentro. Tão logo colocou os pés dentro do "Caldeirão Furado", largou o malão, sacou sua varinha, que tinha 22 cm, era feita de álamo com os pelos de um pé-grande como cerne, e, apontando para a varinha disse:

- Wingardium Leviosa. - executando o Feitiço de Levitação. Após erguer um pouco (não o suficiente para que os trouxas percebessem, apenas para tirá-lo do contato do chão), ficou muito mais fácil para a jovem garota trazer seu malão para dentro do pub. Foi quando o atendente se aproximou:

- Primeira vez em Hogwarts? Nunca te vi por essas bandas...

- Sim.

- Parece um tanto velha para ser primeiro-anista, mas jovem demais para ser formada...

- Estou vindo transferida do Instituto de Bruxaria de Salem.

- Ah, é americana. - pensou o bartender, um pouco pesaroso.

- Algum problema?

- É que os americanos são conhecidos por suas práticas, digamos assim, "pouco ortodoxas".

- Olha, senhor...

- Pode me chamar de Tom.

- Tom, se você acha que me envolvo com coisas como vodu, esqueça. Tudo isso é balela, mumbo-jumbo, se é que você me entende.

- Ah... E o que vai ser?

- Preciso de um quarto até o embarque para Hogwarts.

- Temos dois quartos sobrando, o 7 e o 11.

- Queria o 7.

- Tudo bem. São 5 Galeões e 5 Sicles a estadia... Adiantados.

- Nossa... Bem, seja como for, aqui está. - disse Christine, entregando o dinheiro a Tom, sacando algumas moedinhas douradas e prateadas.

- Certo. Eu vou levar suas coisas.

- Ah, Tom?

- O que?

- Sabe fazer comida kosher? - disse Christine.

- Você é judia?

- Algum problema?

- Não, nenhum! É que existem poucos bruxos judeus... Não sei porque. - disse Tom, carregando o malão de Christine.

Christine poderia fazer as compras dela naquele dia mesmo, mas era sabbath. Ela iria descansar naquele dia e no seguinte, passando a fazer suas compras na segunda feira. Ela não sabia aonde havia uma sinagoga em Londres, mas não se importou, procurando descansar e refletir no que a fizera abandonar tudo em salem e viajar para Londres.

"Christine bas Tanenbaum... Você o mudará?"


Harry tinha colocado seu malão no porta-malas do carro dos Dursley. Edwiges ainda não tinha retornado, o que levou Harry a imaginar que ela chegaria tão logo ele colocasse os pés no Caldeirão Furado. Ele estava mais preocupado nos possíveis comentários irônicos que seus tios viessem a fazer durante sua ida a Londres.

Mas a viagem foi muito tranqüila, até que, próximo a uma rua de comércio, o carro dos Dursley parou:

- É esse o lugar? - disse Tio Valter mal-humorado.

- Sim. É aqui que eu fico. - disse Harry.

- Agora, o seguinte: se eu ficar sabendo que você aprontou alguma, fedelho, eu juro que faço outra cicatriz em sua testa, igualzinha essa ridícula que você tem...

- Pode ter certeza que você não tem condição de abrir uma cicatriz como essa. Foi o cara que matou meus pais que me fez isso. - disse Harry, em resposta, retirando a gaiola de Edwiges e o malão de dentro do porta-malas do carro dos tios.

Tão logo Harry baixou a porta do porta-malas, os dois dispararam, como se não quisesse ficar próximos de Harry mais que o estritamente necessário. Harry, entretanto não se preocupou nem um pouquinho com esse comportamento dos seus tios: eles o odiavam, como odiavam a qualquer coisa que lembrasse a eles a existência de bruxos. E Harry achava até melhor que eles não ficassem perto.

Harry entrou na rua de comércio sozinho. Era Sábado, o que fazia com que as ruas estivessem vazias. Ele então aproximou-se do "Caldeirão Furado", e entrou...


- Ah, olá, sr. Potter! - disse Tom, o bartender.

"Potter? Será que é ele?", pensou Christine. E foi quando ela viu aquele garoto mirrado, pequeno, com olhos verdes e cabelos negros rebeldes em tudo batendo com a descrição do famoso Menino que Sobreviveu. Por sua vez, Harry viu aquela garota: ela era alta, tinha cabelos e olhos negros, e usava óculos como ele, mas de armação mais discreta que os óculos de aro de tartaruga de Harry. Seu rosto era bonito e jovial, mas ela vestia-se sobriamente: uma jaqueta de couro bege, calças jeans, botas de cano alto e uma boina azul-marinho.

- Oi, Tom! Tem quartos?

- Temos um sim, o número 11.

- Bem, quero alugá-lo até o dia do embarque para Hogwarts.

- Tudo bem. São 5 Galeões e 5 Sicles.

- Obrigado.

"É ele! Não devem haver outros Harry Potters por aí...", pensou Christine. Ela então aproximou-se de Harry. Conforme se aproximou é que ela reparou que realmente tratava-se do lendário Harry Potter: a conhecidíssima cicatriz em forma de raio marcava-lhe a testa. Foi então que ela disse:

- Shalom!

- Como? - perguntou-se Harry. Nunca ninguém o cumprimentou com um shalom antes. Além disso, reparou no sotaque estranho do inglês da garota.

- Ah, desculpe! É que eu sou judia, apesar de também ser bruxa. Meu nome é Christine Tanenbaum. Você é... - disse Christine, fazendo-se de desentendida.

- Harry Potter.

- Ah, você então é o famoso Harry Potter. Porque não se senta comigo?

- Ah, claro...

Harry foi para a mesa aonde Christine estava.

- Você não é inglesa, é?

- Não. Sou americana, de Salem.

- É seu primeiro ano em Hogwarts?

- Mais ou menos. Eu fui transferida do Instituto de Bruxaria de Salem para Hogwarts.

- Sei. Mas então, já fez suas compras no Beco Diagonal?

- Não. Mas vou fazer elas Segunda-feira. Hoje é sabbath, é o Sábado sagrado. Hoje é dia de descanso...

- Como assim?

- Se até mesmo Adonai trabalhou seis dias e descansou um, quem somos nós para julgarmo-nos perfeitos ao ponto de trabalhar todos os dias.

- Entendi. Mas o que foi aquilo que você me disse antes?

- Ah! Shalom quer dizer "paz" em hebraico.

- Ah... - disse Harry.

- Bem, você parece realmente com o que dizem. - disse Christine, bocejando. - Desculpe, é que estou muito cansada. Foram muitas horas de viagem de Salem até Londres. Vou aproveitar e dormir um pouco...

- Tudo bem. Acho que também vou subir.

Os dois, Harry e Christine subiram juntos as escadas para seus quartos. Quando chegaram nos respectivos quartos, desejaram um bom descanso um para o outro.

Mal sabia Christine que seu destino começava ali...