Capítulo 14: Malfoy (ou O Aliado Inusitado)


Desde a morte de seu pai, Draco aparentava ter passado por uma mudança de comportamento, ou ao menos assim Christine imaginava: ao invés do ar arrogante e prepotente que Draco invariavelmente carregava em relação a tudo e a todos em Hogwarts, havia um menino triste e cabisbaixo. De certa forma, lembrava a Christine o Neville que ela conhecera no início do ano, antes do vinagre e das pedrinhas no lago.

Com a expulsão de seus dois "capangas", Crabbe e Goyle, Draco pela primeira vez ficou também preocupado com as conseqüências de seus atos. Todos os estudantes de Hogwarts, praticamente sem exceção (talvez com a dos alunos da Sonserina), metralhavam Draco todos os dias com o olhar: mesmo os alunos da Lufa-Lufa, em geral tão pacíficos e alegres, não deixavam de ter uma satisfação diabólica em deleitar-se no fato de Draco agora estar sozinho e desprotegido.

Draco sentia muito medo dos Weasley, principalmente. Além da vantagem numérica, eles contavam com a popularidade: se alguém não gostava dos Weasley (fato raro), ao menos respeitava-os como bruxos de alto gabarito, linhagem puríssima (tão ou mais pura que a dos Malfoy, ninguém sabia dizer) e pela respeitabilidade (apesar de pobres, os Weasley exerciam funções importantes no Ministério da Magia e eram membros ordeiros da sociedade bruxa).

Christine percebeu certa vez, na biblioteca, que Draco parecia sozinho: mesmo os sonserinos, como Pansy Parkinson e Emilia Bulstrode, não se aproximavam dele.

- Ei, Hermione?

- Que foi, Chris?

- Você notou alguma coisa diferente no Malfoy desde que aconteceu do pai dele?

- Olha, senti. Mas não estou nem aí para isso. - disse Hermione conclusiva - Ele está colhendo o que plantou... Você mesmo não falava sobre "salário do ímpio"? Tá aí.

- Mione, eu não quis dizer isso!

- O que está acontecendo, Chris? Não vai me dizer que você vai bandear para o lado de Draco?

- Não... É que... Ah, você quer saber de uma coisa, Hermione? Se o seu coração está tão endurecido assim, Hermione, talvez você deva repensar as coisas... Talvez deva pensar até que ponto você ser bruxa não acaba tornando seu coração duro... - disse de forma doce Christine, para espanto de Hermione, enquanto ela dirigia-se sozinha para a mesa de Draco.

- Posso sentar? - disse Christine

- Talvez você queira ficar com o pessoal de sua própria casa, Tanenbaum. - respondeu Draco, de certa forma lembrando o antigo Malfoy.

- Na verdade, precisava de uma ajuda nessa Poção do Sono Profundo aqui... - disse Christine, pegando o livro de Poções - Eu nunca fui muito boa de Poções e, bem, imaginando que você é da Casa que tem Snape como Diretor, talvez você pudesse me dar uma ajuda.

- E por que deveria?

- Motivo nenhum... Eu te pedi. Se não quiser, posso perguntar para alguma outra pessoa.

Christine acertou diretamente aonde mais doía Draco naquele momento: a falta de companhia. Draco nunca sentira-se tão solitário em sua vida:

- Desculpe, Tanenbaum... Pode sentar. Qual é o problema?

- É que eu não sei o que posso colocar no lugar desse sumo de losna aqui...

- Bem, vamos ver então para que serve losna... - disse Draco, de certa forma lembrando a Christine a amiga Hermione, enquanto sacava de sua mochila seu livro "1001 Ervas e Fungos Mágicos".

Draco e Christine gastaram algum tempo naquela discussão. Nesse meio tempo, Harry, Rony e Neville chegaram, os três discutindo quadribol, quando viram a cena e dirigiram-se para mesa aonde Hermione estava sentada:

- O que catzo deu na Chris? Ficar do lado, daquele... daquele... daquele... sangue-ruim nojento do Malfoy! - disse Rony.

- Eu também não estou entendendo? - disse Harry - Depois de tudo que ele aprontou para gente?

- Olha, eu não sei... - disse Neville - Mas algo me diz que a Chris está fazendo alguma coisa correta.

- Vai defender o Malfoy agora, Neville? - perguntou Rony.

- Olha aqui, Rony! Eu acredito no que Christine faz. Se não fosse por ela, eu era ainda aquele atrapalhadinho que todo mundo vivia zoando. Além disso, nunca tive notas tão boas nas aulas de Snape... Ou ao menos não perco mais tantos pontos!

Nesse meio tempo, Draco e Christine chegaram a uma conclusão:

- ... bem, então podemos entender que podemos mudar o sumo de losna pela vesícula de mandrágora cristalizada e aumentarmos a dosagem do arsênico para obtermos os mesmos resultados.

- Bem, obrigada, Draco!

- Agora, Tanenbaum, queria saber... Porque você não perguntou isso ao Longbottom? Se existe alguém que entende de Herbologia em Hogwarts é ele.

- Bem, não vou mentir... Queria me aproximar de você.

- E por que razão? - disse Draco - Para tentar me usar? Já basta Voldemort! Nunca vou permitir que minha família seja usada por mais ninguém.

- Draco, não precisa se exaltar. Sei como se sente...

- Não sabe! Você não faz nem idéia do que é ser um Malfoy, garota de sangue-ruim! - rosnou Draco.

- Que tal me contar então? Eu tenho a versão do Potter: ser um Malfoy é ser um sacana arrogante que acorda de manhã, olha-se no espelho e diz: "Hoje eu vou arruinar com a vida de alguém"! Que tal você me dar a sua versão, heim, Draco Malfoy? - disse Christine, em tom de desafio, seu olhos castanhos entrando BEM FUNDO nos olhos azul-acizentados de Draco.

- Você quer realmente saber? Tem certeza que está pronta para saber o que é ser um Malfoy? - respondeu Draco, em um misto de desafio e incredulidade.

- Tudo! Cada pingo no i! Quero a sua versão da coisa! - disse Christine.

- Beleza! Só te digo uma coisa: você vai ter que ter estômago forte para suportar! - disse Draco, em um misto de resignação e contida alegria.

Draco começou a contar toda a sua história: desde seu nascimento, que ocorreu apenas alguns meses antes da queda de Voldemort, até aquele momento. Christine ficou impressionada, mas ao mesmo tempo confirmou uma suspeita que lhe surgira depois da morte de Lucio Malfoy: na verdade Draco era "treinado" para ser maligno. Isso lembrava a Christine Star Wars: sempre alguém queria que o filho se bandeasse para o lado do Mal.

Cada minuto de história que Draco contava era mais um motivo que Christine via para não deixar o remorso e o ódio que ela tinha pego daquele loirinho metido no início do ano nublasse seu julgamento. Ela queria avaliar se Draco era confiável pelos seus valores, e não por uma babaquice idiota que ele tinha feito no início do ano. Afinal de contas, nas palavras do sábio Yoda: "Medo do Lado Negro o Caminho é! Medo à raiva leva, raiva ao ódio leva, ódio ao sofrimento leva!".

- E é isso! Agora você entende? Ninguém em Hogwarts vai acreditar em minhas palavras! Não sem razão, é claro! Mas se até aquele pobretão do Weasley quer dar orgulho ao pai e ter carinho dele, porque eu não iria querer ter? Não sou alguém frio e calculista ao ponto de ter desejo de matar os pais, que nem aquele maníaco do Voldemort! Entende?

- Claro... Mas você tem que admitir que criou essa situação, Draco: sei que seu pai queria que você desejasse poder e tudo o mais mas, catzo, querer ter poder não é o mesmo que pisar nos outros!

- Mas era o que esperavam de mim em minha família: que levasse o nome Malfoy até píncaros de glória e renome!

- Sei, e veja o que lhe custou: agora você é tão órfão quanto Harry!

- Na verdade, - disse Draco, resignado - sou MAIS órfão que o Potter: ele ainda pode contar com os pobretões Weasley e com a amiguinha de sangue-ruim...

- Ela tem nome: Hermione Granger! - disse de forma até um tanto ríspida Christine - Escuta aqui, man! Se você pensa que as coisas são assim, que você pode pisar em todo mundo e falar besteira de todos e sair incólume... espelhe-se ao menos uma vez em seu pai: você quer ter o destino dele? Viver odiado, ser alvo de desconfianças e acabar mais que morto?

Pela primeira vez em sua vida Draco ouviu uma repreensão sincera vinda de alguém que não fosse seus pais, e provavelmente até mesmo de QUALQUER pessoa. E aquela discussão continuou. E enquanto ela continuava, do outro lado da biblioteca, os demais ficavam se questionando da validade do que Christine estava fazendo:

- Eu não compreendo... Christine tem algum objetivo com o Draco? - perguntou-se Harry.

- Ah, ela não tem tanto mau-gosto! - respondeu rispidamente Rony.

- Francamente, Rony! Você só pensa besteira! - disse Hermione.

- E o que você acha então, se é tão esperta?

- Acho que eu faço uma idéia... - pensou alto Neville.

- O que, Neville?

- Será que o nome de Draco também não está na Bíblia, codificado?

- Quem seria o maluco que colocaria o nome daquele cara-de-passa em algo tão importante? - perguntou Rony, abismado.

- Simplesmente o mesmo maluco que criou todas as pessoas, bruxos e trouxas! - respondeu Hermione.

- Não faz sentido! - disse Rony - Além disso, qual é a da Christine? Ela acha tão importante assim defender esse cara-de-passa?

- Ela não está defendendo o Malfoy de nada, seu babaca! - disse Neville, demonstrando certa irritação, para surpresa dos outros - Ela nunca escondeu de mim que me achava desastrado e esquecido, mas nem por isso deixou de me ajudar! Se estou certo, é o que ela está fazendo com Draco.

E realmente, Christine estava esfregando Draco no chão:

- Olha, eu não vou pedir para você se tornar um doce com os outros, principalmente se você for falso para isso. Agora, será que é difícil demais para você ser um cara um pouco mais humilde e educado? Ou pelo menos não ser tão esnobe e andar por aí com o nariz de um jeito que parece que enfiaram bosta debaixo dele? Ou será que o teu pescoço tá com um tremendo de um torcicolo e você não consegue olhar para baixo?

Draco parou para pensar no que acabara de ouvir. Para espanto geral, a resposta foi simples e crua:

- Sim. Mas espero que isso valha a pena! - disse Draco.

- Olha Draco, - foi a vez de Christine maneirar - se você quer realmente saber, só tive muita raiva de você por causa da poção. Eu só não contei pro Dumbledore que sabia quem tinha aprontado comigo porque não sou do tipo delatora. Agora, se você pensa que todos vão te perdoar de uma hora para outra como eu estou fazendo, deixa eu te preparar para a decepção: muitos vão imaginar que o seu comportamento só mudou porque agora você não tem mais Crabbe, Goyle e seu pai para te dar "costa-quente", como dizia um colega brasileiro meu, e que você continua tão falso quanto sempre foi. Não vai ser nem um pouco fácil de convencer os outros que você mudou, principalmente aqueles que tem sangue puro e estão acostumados a ouvirem o nome Malfoy em rumores e intrigas. Mas você vai ter que dar tempo ao tempo.

- Tudo bem... - disse Draco - Agora, deixa eu ir indo, que quero dar uma descansada. Preciso pensar em tudo isso.

- Só vou te dizer mais uma coisa, e é uma proposta: você sabe que o que Voldemort mais quer é Harry, não sabe? E agora, pelo que estou sentindo, o que você mais quer é acabar com aquele cara-de-cobra, não é isso? Então... Pense em como seria vantajoso para você aliar-se a Harry. Claro que os riscos são grandes, mas pense nas vantagens... É tudo que tenho a lhe dizer agora.

Draco saiu da biblioteca, e Christine retornou a mesa aonde Rony perguntou-lhe, com a maior braveza do mundo:

- Chris, qual é a sua? Uma grifinória e um sonserino! Até parece que esqueceu qual é a sua Casa!

- Não, Rony. Minha Casa é Grifinória, fundada por Godric Gryffindor, atual campeã de quadribol e Casa do atual Campeão do Torneio Tribruxo! Ora, Rony, acha que minha lealdade está com essa ou com aquela Casa? Não! Minha lealdade é com Hogwarts, com todos os bruxos e com todas as pessoas livres desse mundo! E juro por Adonai Jire que se qualquer um se colocar entre mim e minha lealdade, que Adonai tenha piedade dele, porque provavelmente eu NÃO terei!

Rony ficou assustado ao ver que Christine tinha força. Foi quando Hermione perguntou, ao mesmo tempo curiosa e tentando esfriar os ânimos:

- O que você queria falar com Malfoy?

- É uma história bastante complicada, mas vou explicar-lhes certinho o que sucedeu-se, tintim por tintim.

Christine explicou sobre como achara o nome de Draco no Código da Bíblia, sobre como o destino dele estava marcado e como ela tinha o alterado:

- Espera um pouquinho! Draco seria Beijado e você impediu isso? - disse Rony - Chris, aonde você estava com a cabeça?

- Aonde está com a cabeça eu te pergunto, Ronald Weasley! - disse Christine, já não suportando mais, deixando a diplomacia de lado (ou antes, chutando a diplomacia para escanteio), como boa filha de Benjamin que era - Você não se tocou não! Ele tem algum destino importante, para o bem ou para o mal, mas que não podia ser ligado ao do pai! E se sua guerrinha de família está deixando você tão amargo, aconselharia você a repensar sua vida!

Christine pegou seu material e voltou para a Torre de Grifinória, muito pê da vida, imaginando se comseguiria unir Draco aos demais. Foi quando uma coruja, de um branco puríssimo, mas mais encorpada, deixou-lhe um bilhete:


"Tanenbaum:

Pensei no que me disse, e se eu puder acabar com aquele maldito Voldemort, estou disposto a tudo, até mesmo a me unir ao Potter.

Diga-me o que fazer.

Espero respostas.

Draco Malfoy"


Foi aí que Christine descobriu que as coisas estavam tomando um rumo correto. E ela sabia que poderia com a ajuda de todos impedir que Harry morresse e que Voldemort fizesse as coisas malignas que desejava fazer com todos.