Capitulo 20: Julgamento e Punição


- Parece que esses jovens de hoje estão cada vez mais impetuosos... Olha o seu estado! - disse Pomfrey, observando Mitch, enquanto ele voltava à consciência.

- Eu estou legal... - disse Mitch, com voz de quem tomou um barril de poteen, a cerveja ilegal artesanal irlandesa.

- Você foi vitimado por um Imperius, um Crucio e esquivou-se de uma Avada Kedavra, usou dois feitiços razoavelmente poderosos um após o outro, e fala que está bem? Menino, você tem que ficar de observação.

- Mas vou poder ver meus amigos, não vou?

- É claro, mas você terá pouco tempo com cada um deles! - disse Pomfrey, abrindo a porta.

Entraram então os sete outros companheiros de Mitch: Erika, Helen, Cedric, Carlos, Harry, Rony e Mione.

- Mitch, você tá melhor? - disse Harry.

- Sim, mas como eu desacordei?

- Você não lembra? - perguntou Cedric.

- Mais ou menos, acho que foi quando eu venci Derek...

- Sim! - disse Rony, empolgadíssimo - Cara, esquivar-se da Avada Kedavra! Como você...

- Simples: ele era sangue-puro. Eu ouvi ele usando uma expressão que apenas sangue-puros arrogantes utilizariam e que não vou dizer aqui por respeito à Mione! E como eu sabia, a maioria dos sangue-puros contam apenas com a magia e esquecem que seu adversário pode ter reflexos de gato para esquivar-se de seus ataques. Além disso, quando ele disse que ia valer tudo, eu fazia uma idéia de que ele tinha truques na manga. É claro, não imaginava que tratassem-se das Maldições Imperdoáveis, mas sabia que ele tinha truques. E eu também tinha os meus: a Espada...

- Mas, Mitch, como você soube que ela era como uma varinha? - disse Helen.

- Senti a mesma coisa na hora que puxei a espada que senti quando comprei minha varinha na Olivaras. Foi apenas questão de somar dois mais dois. - disse Mitch.

Passou-se alguns segundos de silêncio.

- E o Derek? - disse Mitch.

- Ele está preso na masmorra da Torre Norte, abaixo da Torre de Corvinal. Uma guarda de Aurores foi solicitada para impedir que ele fuja e que ele seja linchado antes do julgamento... Sim, os alunos da Corvinal e da Lufa-Lufa queriam linchar Derek. - disse Erika.

- O julgamento será daqui a três dias, aqui mesmo em Hogwarts. - disse Helen.

- Parece que Dumbledore quer que ele sirva de exemplo para outros que tentem o mesmo que ele fez. - disse Cedric.

- E Sonserina? - disse Mitch.

- Os covardes seguidores do Eliseo viraram-se contra Derek. Nem mesmo Malfoy o apóia. - disse Erika.

- Então, ele está sozinho... Agora ele percebeu quem está do lado dele: ninguém. - disse sarcasticamente Mitch.

Depois disso, todos sairam.

Três dias depois, Mitch foi retirado da observação pela Madame Pomfrey. Ele arrumou suas vestes e desceu para o Saguão Principal, pois aquele dia não haveria aulas, e sim um julgamento.

O julgamento de Derek.

Todos foram convidados a testemunhar. Mas os que realmente fizeram a diferença foram os dois: a Cobra Constritora e o Leão Destinado.

- Jura dizer a verdade, apenas a verdade e nada mais do que a verdade, com a ajuda de Deus e da Magia? - disse o Auror.

Juro! - disse Mitch.

Mitch agora era observado por todos. Apreensão nas diversas mesas. Todos sabiam que seu juramento era um juramento poderoso, pior que o Veritaserum. Nesse juramento, até mesmo as amarras da magia Fidelius caiam. Caso mentisse, poderia até morrer. Mas seu Sangue Auror o aconselhava e o impedia de mentir.

Ele começou a dizer o que se passou naquela noite. Ele então recebeu uma questão muito importante do imponente juiz, vestido em longas vestes negras:

- Como você imaginava que um bruxo do primeiro ano poderia ter aprendido a utilizar as Maldições Imperdoáveis? Claro que não questiono o que passou-se, pois as provas e a própria varinha do réu provam que ele utilizou-se das Maldições. E seu retrospecto como possuidor do Sangue Auror comprova sua verdade. Mas o que me intriga é como que você imaginava que alguém poderia aprender essas perigosas Artes das Trevas?

- Bem, meritíssimo, como o senhor deve saber, sou neto do ex-Auror Elric McGregor, do clã irlandês McGregor. E certa vez ele me disse como identificar alguém que era das Trevas. Eu gostaria que o senhor pedisse para que as vestes de McKinsey fossem rasgadas no seu antebraço esquerdo.

- Bem, eu não vejo no que isso irá mudar as coisas, mas tudo bem. Que seja feito!

O Auror agarrou o antebraço esquerdo de McKinsey, que olhava cheio de ódio para Mitch. Ao rasgar-se o antebraço das vestes alaranjadas de prisioneiro do Ministério que Derek usava, juiz e júri, até mesmo o próprio advogado de defesa de Derek, tiveram uma surpresa apavorante, exceto Mitch:

- Por Deus! - exclamou horrorizado o juiz.

- Sim, senhor juiz. Acho que todos em Hogwarts gostariam de ver isso e gostaria, se o meritíssimo permitisse, que o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, o professor Arthur Donovan, comentasse o que viu.

- Claro! Claro! - disse ainda em choque o juiz.

Quando o braço de Derek foi mostrado ao restante da Hogwarts, parecia que todos tinham visto um zumbi se mexendo, talvez com a exceção dos alunos de Sonserina e dos professores.

- Sr. Donovan, por favor, esclareça os presentes do que é esse símbolo no braço de Derek. - disse o juiz, ainda horrorizado.

- Bem, meritíssimo, muitos dos que estão aqui nunca devem ter presenciado a invocação desse símbolo, mas esse símbolo é conhecido como a Marca Negra, que identificava os Comensais da Morte, seguidores de Você-Sabe-Quem.

- Ao ver que ele havia utilizado-se das Maldições Imperdoáveis, mais exatamente, quando ele me atingiu com Crucio, eu imaginei que ele deveria ter aprendido com alguém. Durante a dor que senti na Crucio, que já comentei anteriormente nesse julgamento, me veio à cabeça que o clã McKinsey traiu os Aurores irlandeses para Voldemort... desculpem, para Vocês-Sabem-Quem, e que Derek podia muito bem ser descendente de Comensais da Morte que sobreviveram e mantiveram-se livres. O que me levou a pensar em ver se ele possuía a Marca no braço esquerdo. Então, foi que eu vi...

- Bem, senhor McGregor, sem mais perguntas!

Foi então a vez de Erika, que esclareceu sua importância na história: como era evitada por todos em Sonserina, o que causou um olhar de desgosto de Dumbledore para Snape e para a Sonserina, como no Natal Mitch foi o único a querer ficar com ela, como descobrira o livro, como descobrira o diário de Alaric Cinnabar, enfim, tudo que aconteceu. Em muitos pontos destacava como Sonserina tinha judiado dela, o que levou Snape a tentar parar o julgamento muitas vezes e a colocar em Sonserina um pouco do seu próprio veneno.

Passou-se alguns instantes após todas as testemunhas terem sido ouvidas. Mitch e Erika conversavam animadamente, junto com os demais. Foi quando a professora McGonagall aproximou-se do grupo, com o ar sério e competente habitual:

- Bem, os senhores irão cumprir uma detenção juntos, por entrarem na Floresta Proibida. Não, senhor McGregor, não pude impedir isso. Já está arranjado para que os senhores passem a próxima semana ajudando a Madame Pince nos afazeres da biblioteca durante seu tempo livre. A detenção começará no próximo sábado e terminará apenas no domingo que vem. Chegaram mais livros novos para o próximo ano e a Madame Pince soube que vocês seriam detidos e me pediu para mandá-los lá. Ao que parece o sr. McGregor fez um excelente trabalho na sua "aparição" anterior que muito a agradou. Bem, vocês estão avisados! - disse a professora, deixando escapar um leve sorriso.

- Puxa! Tinha que ser na biblioteca? - disse Rony, que detestava poucas coisas como detestava livros.

- Vai ser fantástico, Rony! - disse Mione, empolgada.

- Para mim, vai ser uma detenção como qualquer outra! Se vamos ter que fazer, podemos tirar algo positivo disso. - disse Harry.

- E aquela do Lockhart, ano passado? - perguntou Rony.

- Aquilo é outra história! - disse Harry.

- Bem, Rony, veja pelo lado bom: podia ser nas masmorras do Snape. - disse Cedric.

- Será que vão condenar o Derek? - disse Helen.

- Isso parece meio óbvio, não é, Helen? - disse Carlos.

- E qual será a pena? - disse Cedric.

- Se eu estou certa, pelo que li, só o fato de Derek ter usado as Maldições Imperdoáveis garantem a ele uma passagem só de ida para Askaban, mas temos que ver se os agravantes de ele ter tentado utilizar uma doença mágica para tentar matar toda a Hogwarts não vai piorar a situação dele. - disse Mione

- Por que? Quer que ele volte logo para matar todos nós? - disse Rony.

- Claro que não, seu tapado. - disse Mione em uma das pouquíssimas vezes em que estressava com alguém - Mas é que, dependendo da decisão do juiz ele pode pegar a pior pena prevista para um bruxo.

- Qual? - disse Carlos, que não sabia muito sobre a legislação dos Bruxos.

- O Beijo! - disse Erika, horrorizada, da mesma forma que quando contara a todos eles, no Natal, sobre sua vida pregressa.

- Como assim? - perguntou Carlos que não entendeu nada. - Como um beijo pode ser tão ruim?

- É que é o beijo do dementador, a pior criatura que existe! - disse Erika, que explicou, com mórbido detalhismo, tudo que ouvira em sua época de "Twist", que sabiam eles ser uma gíria de rua para despejado, sobre os dementadores.

- Nossa! É realmente terrível! Mas ele vai merecer... - disse Carlos.

- Esse é o tipo de coisa que não desejo para ninguém. - disse Mitch.

- Mesmo contra o cara que quase te apagou? - disse Carlos, usando gírias das ruas dos trouxas.

- Mesmo contra ele. - disse Mitch.

O juiz então chamou a todos. Dumbledore dirigiu-se até o saguão que ficara reservado ao tribunal. Mitch, Erika e os demais também dirigiram-se. O juiz, que todos sabiam chamar-se Alan Spinnet, que parecia ser aparentado com Alicia Spinnet, entrou com um grupo de jurados, e sentou-se. Esperou alguns segundos e viu que um dos jurados, como se fosse o líder deles, levantou-se e disse:

- Pelos poderes, direitos, deveres e responsabilidades a mim concedidos, eu, Emmanuel Carlsberg, presidente do Júri do julgamento "Hogwarts contra McKinsey", Ordem de Merlin de terceiro grau, declaro que o Júri aqui presente já tomaram sua decisão.

Os sete levantaram-se e acenaram com os polegares para baixo. Foi quando então o juiz levantou-se:

- Pelos poderes, direitos, deveres e responsabilidades a mim concedidos, eu, Alan Spinnet, Ordem de Merlin, segunda classe, juiz e Auror, declaro a ação procedente e considero o réu, Derek McKinsey, culpado por uso ilegal de magia, uso abusivo de magia, uso de magia destrutiva e manipulação de seres vivos para propósitos ilegais. Sua sentença será a expulsão da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, na qual ele está inscrito como aluno do 1º Ano da casa conhecida como Sonserina, sua proscrição da comunidade mágica, e sua detenção até segunda ordem na Prisão de Segurança Máxima de Askaban. Cumpra-se a sentença imediatamente! Caso encerrado! Professor Dumbledore, proceda com a expulsão!

Os olhos de McKinsey não eram mais de ódio, e sim de desespero! Encarava Mitch nos olhos, como se esperasse alguma coisa, como se esperasse que Mitch o ajudasse. Mas Mitch, pela primeira vez desde que entrara em Hogwarts, demonstrava frieza total: seus olhos verde-esmeralda, normalmente tão brilhantes quanto duas chamas verdes, agora possuíam a cor fria do líquen da floresta. Seus cabelos ruivo-sangue agora pareciam ter escurecido-se. Seu rosto, normalmente eufórico ou irado, agora era uma máscara impassível.

Mitch tinha feito seu papel.

Dumbledore aproximou-se e apanhou a varinha de McKinsey na mesa próxima:

- É meu dever, na qualidade de diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, embora isso muito me pese, punir esse jovem que, obcecado pelo desejo de poder, esqueceu-se do verdadeiro poder: o da vontade.

Dumbledore observou por alguns instantes a varinha de McKinsey.

- Trinta e três centímetros, pelo de unicórnio, mogno... Uma bela varinha, que é útil para bruxos que desejam defender os outros do mal. É uma pena que você não tenha entendido o significado de sua varinha.

Depois, segurou as pontas da varinha uma em cada mão e disse, em tom formal:

- Por causa de seus atos de malignitude, Sr. Derek McKinsey, eu, Alvo Dumbledore, Ordem de Merlin, Primeira Classe, Diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, sou obrigado, nas responsabilidades e direitos a mim concedidos pelo meu cargo, pelos poderes e deveres a mim atribuídos, a expulsá-lo de Hogwarts!

E, em um gesto rápido, partiu a varinha de Derek, que estilhaçou-se em vários pedaços. O som surdo da varinha partindo-se chocou a todos: era como se um pedaço de suas próprias almas fosse partir-se. O que aconteceu em McKinsey: o partir da varinha era mais do que tirar dele a capacidade de usar magias; ele sempre poderia obter outra varinha. Mas isso o marcava como um proscrito, alguém indesejável, menos que um sangue-ruim trouxa, menos até que um elfo doméstico.

Dumbledore jogou os pedaços da varinha no chão, sem ódio mas sim com pesar. McKinsey, chorando, tentou aproximar-se dos pedaços da varinha, o que foi impedido por um Auror, que o apanhou pelo braço. Mitch viu ele dirigir seu olhar para Dumbledore, que tinha uma máscara impassível no lugar do rosto. Dumbledore virou-se de costa para Derek, que começou a berrar de desespero. Todos acompanharam o gesto de Dumbledore, Mitch entre eles. Mesmo os sonserinos, que tanto diziam serem "unidos", viraram-se contra ele.

Quando os gritos cessaram-se, o que queria dizer que eles já tinham pego a Chave de Portal para Askaban, todos viraram-se e voltaram para suas casas. Blás Zabini parecia mais tranqüilo. Draco Malfoy parecia sentir-se incomodado e mirava com olhar assassino Mitch. Pansy Parkinson parecia não acreditar.

- Começamos a sangrar o sangue negro... - disse Mitch.

- Você acha que... - disse Mione.

- É um começo... - disse Mitch, vago mas conclusivo, enquanto separavam-se de Erika.