Capítulo 3: O Orfanato da Madame Kinnigan


Naquele mesmo dia, no horário combinado anteriormente, Mitch, Helen, Enya e Cedric desceram para o Beco Diagonal, aonde encontraram-se na porta da Florean Fortescue com Erika. Ela estava vestida com roupas de trouxas: uma calça jeans com rasgos, uma camiseta branca com um crânio escrito "Born to Be Wild" e um colete preto de couro. Seu cabelo loiro-água estava agora mais curto do que no ano passado, e tinha sido cortado de forma a deixar mechas agressivas e pontiagudas para o alto. Dois brincos de argola e um par de luvas sem dedos adornadas com pontas de metal deixavam o look de Erika mais punk.

- Oi gente, tudo bem? - disse Erika.

- Tudo! - disse Helen.

- Só um minuto, Erika, nós já vamos! - disse Mitch, entrando na Florean Fortescue.

Mitch via aquele lugar e lembrava-se de como ele e Helen se conheceram melhor ali:

- Ah, Mitch McGregor, que bom revê-lo! - disse o senhor Florean, dono da sorveteria - Alguma coisa especial?

- Sim! Queria uma caixa grande de sapinhos de chocolate. - disse Mitch.

- Pegou a caixa e pagou ao senhor Florean. Então encontrou-se com os demais:

- Vamos então, Erika?

- Para que isso? - perguntou Erika ao ver a caixa de sapinhos de chocolate.

- Um presentinho.

- Vamos então. Acho que todos vão ficar muito contentes.

Entraram por uma viela ao lado da Olivaras e desceram dois quarteirões. Depois viraram e viram um prédio aonde estava escrito: "Orfanato da Madame Kinnigan para Bruxos Desafortunados".

O prédio era velho, mas bem conservado. Todo pintado em azul celeste, com parapeitos caiados e telhados vermelhos, possuía um jardim bem cuidado na frente. Muitas crianças brincavam no jardim:

- Erika! Erika! Quem são eles? - disse uma menina com metade do tamanho de Enya, segurando na barra da calça que Erika vestia.

- São meus amigos de Hogwarts, Sandra! Por favor, comporte-se. - disse Erika.

- Devem ser gente boa. Fiquei sabendo do que você passava lá... Eu sou Sandra Forsaker, e provavelmente vou para Hogwarts ano que vem! - disse Sandra.

- Não se preocupe. Não são todos que discriminam as pessoas pelas casas aonde estão. - disse Mitch.

- Você é o Mitch, não é? - disse um garoto loiro e sardento, mais ou menos do tamanho de Enya - A Erika vive falando de você. Eu sou Andrew Landers, e esse ano vou para Hogwarts, junto com a Erika!

- Meus irmãos mais novos também vão. - disse Mitch, apontando Enya e Cedric.

- Ah, sejam bem-vindos! Por favor, entrem! - disse uma voz de senhora.

Quando apareceu para fora, Mitch pode ver a senhora que os chamara, que ele presumiu ser a Madame Kinnigan. Roliça, grande, braços enormes e volumosos, um rosto sardento com olhos castanhos e cabelos negros, ela era bem simpática. Vestia vestes cor de rosa com babados e florzinhas costuradas.

- Vamos, entrem! - disse a Madame Kinnigan.

Ao entrarem, Mitch teve a mesma sensação que tinha no caso da casa de seu avô em Sligo: a casa parecia muito maior por dentro do que por fora. Por dentro, parecia ter mais de 10 andares, com quartos em todos eles. No térreo, um salão tinha quatro grandes mesas.

A Madame Kinnigan levou-os então até um quarto no térreo, bem espartano, aonde estavam alguns livros, uma cama, uma escrivaninha e uma foto.

Mitch reconheceu-a de cara. Era foto que ele tinha tirado no final do ano letivo e que cada um que estava naquela foto havia recebido uma cópia, pois ele tinha aprendido a duplicar negativos, os quais enviou para Harry Potter, Percy Weasley e para Carlos Amaral.

- Esse é o seu quarto, Erika? - perguntou Mitch.

Sim, é aqui que eu durmo! Não é muito grande, mas não tenho do que reclamar.

Então Enya puxou de sua mochila a guirlanda irlandesa que tinha feito com as flores que sairam de sua varinha na Olivaras.

- Erika, para você. - disse Enya.

- Puxa, obrigada! - disse Erika, corando.

Então, todos se sentaram e começaram a conversar:

- Na verdade, não acho tão ruim assim viver aqui! Aqui as crianças me admiram. Algumas delas vão para Hogwarts esse ano, como o Andrew Landers, o Thomas Fresno e outros. Claro que contei sobre as casas. Todos pensam em ir para qualquer casa, menos para Sonserina...

- E estão mais que certos! - disse Cedric, caustico.

- Escuta aqui, Cedric McGregor. Se eu ouvir mais um comentário desse tipo que seja, eu juro que vou virar você do avesso. E estou falando sério! - ralhou Mitch.

- Tudo bem, Mitch. Ele tá certo. - disse Erika.

- Mas...

- Na verdade, talvez seja melhor que eles entrem em outras casas, para não sofrerem como eu sofri! Apesar de estarmos começando uma mudança em Hogwarts, ainda vai levar tempo até todos entenderem a verdade.

- Que verdade, garota? - disse Cedric - De que vocês são...

Mitch olhou feio para Cedric, olhos verdes brilhando como duas chamas esmeralda, que levou Cedric a entender que estava passando dos limites.

- Chega, Cedric! A Erika nos convida e você ainda faz gracinha? - disse Mitch.

- Calma, Mitch! - disse Erika

- Desculpe, Erika, mas Cedric vai ter que aprender a respeitar os outros nem que seja na marra.

- Tudo bem, Mitch. Já estou consolada com o fato que todos detestam Sonserina, e estou pouco me lixando para isso. Eu quero saber é se seu irmão confia em mim, Erika Stringshot! - disse desafiadoramente.

Cedric não sabia o que pensar. Vista por essa ótica, Erika era uma garota legal... Mas ela era de Sonserina!

- Olha, eu não vou com a tua cara Erika, mas vou fazer de conta que confio em você.

- Se você acha que é assim que funciona as coisas, garoto, fique à vontade. - disse Erika, dando de ombros.

- Bem, vamos dar uma volta para conhecer outros daqui? - sugeriu Erika - A gente faz isso enquanto o jantar fica pronto... Vocês vão jantar com a gente, não vão?

- Não vamos incomodar? - disse Mitch.

- Claro que não, seu coió. Podemos conversar também sobre as férias e os planos para esse ano.

- Claro! - disse Enya, sempre com o seu quase doentio entusiasmo.

Então todos andaram e conversavam sobre como foram as férias. Helen contou que viajou para o Brasil, aonde conheceu a família de Carlos e tudo sobre a região de Salvador. Já Erika contou tudo sobre a reforma do Orfanato. Mitch contou sobre os cursos e Erika achou fantástico ele ter aprendido a ser clown.

Cedric parecia ter sentindo-se mal pelo que fez a Erika. Pela primeira vez em sua vida alguém tinha o deixado desnorteado, no sentido de confuso.

Continuaram conversando e conhecendo os outros jovens, inclusive os que iriam para Hogwarts esse ano:

Andrew Landers perdeu seus pais quando Voldemort os atacou. Seus avôs não tinham condições para manterem Andrews, mas conseguiram pelo menos ajuntar o dinheiro que precisavam para ele ir para Hogwarts. Recebia sempre a visita de seus avôs, que estavam muito contentes por ele entrar em Hogwarts.

Thomas Fresno era norte-americano de origem, mas perdeu os pais em circunstâncias semelhantes às de Erika. Porém deu mais sorte que Erika, pois a primeira pessoa que o encontrou foi a Madame Roberta Kinnigan. Ele adorava brincar e fantasiar, e desejava por demais ser colocado em Lufa-Lufa.

Anya Kirnikova era russa, mas seus pais morreram em um estranho acidente de trem trouxa, que ela acredita foi causado por Voldemort. Sobrevivendo em Orfanatos para trouxas, acabou caindo por acidente no Beco Diagonal (nem ela sabe explicar como) e passou a morar com a Madame Kinnigan.

João Paulo Martins era português, mas foi expulso de casa pelos pais trouxas por causa de seu retrospecto de danos aleatórios (na verdade, explosões de magia) nas coisas de seus pais. Acabou conseguindo ir parar na Via dos Magos (o Beco Diagonal português), aonde uma parente da Madame Kinnigan acabou levando-o para o Orfanato.

Claire Guiness foi despejada no sentido mais literal da palavra: foi rejeitada pela mãe bruxa, pelo pai trouxa e por ambas as famílias. Triste e amargurada, parecia não dar um sorriso. A visão dessa menina chocou a todos, principalmente a Cedric, que começou a ponderar sobre se estava certo o seu comportamento.

Depois desse passeio, foram jantar. Todos estavam animados: era 15 de agosto e faltavam apenas duas semanas para irem para Hogwarts. Passaram a janta conversando amenidades, rindo e brincando. Lembraram de casos interessantes do ano anterior, como os balaços errantes, o balaço que Mitch mandou no braço de Erika, e outros.

Depois abriram os sapinhos de chocolate e começaram a se divertir enquanto tiravam os cartões. Mitch viu a cara de espanto que Enya e Cedric fizeram, e lembrou-se de si próprio no ano anterior: um jovem teimoso e imaturo, mas cheio de confiança, no Expresso de Hogwarts, tomando susto por causa de fotos que se mexiam.

Foi uma noite espetacular. Até Cedric, que ainda não se sentia totalmente à vontade ao lado de Erika esquecera as animosidades e rira também. Depois, todos voltaram para o Caldeirão Furado, dando tchau.

Mas parecia que não estavam em um bom dia.

- Ei, Helen, tentando arranjar vaga no Orfanato da Erika? - ouviram uma voz esganiçada dizer.

Imediatamente viraram e viram em uma viela Galahad Starshooter e seus dois comparsas. Estavam rindo sarcasticamente:

- Galahad, se você não tem mais o que fazer, porque você não vai encher o saco de quem tem? - disse Mitch.

- Ora, ora! Se não é o "grande herói" de Hogwarts... Sabe o que eu acho sobre você, McGregor? Eu acho que você é um completo enxerido.

- E você, Starshooter, é um completo panaca! - disse Enya.

- Garotinha idiota! - disse Galahad, sacando sua varinha - Eu vou...

- Vai, faz uma magia! Deixa a gente feliz! - disse Mitch sarcasticamente.

Galahad pensou um pouco e resolveu deixar quieto. Ele era covarde mas não era idiota: se usasse uma magia naquele momento, que era tudo que Mitch queria, seria punido pelo Departamento de Mau Uso da Magia, que iria pegá-lo por usar magia fora do período escolar.

- Você vai me pagar, sua fedelha metida! - disse Galahad. - Vamos embora!

Os dois animais que o acompanhavam deram as costas e voltaram.

Foi quando uma voz conhecida, mas mais amiga falou:

- Então, parece que nosso McGregor não vive sem arrumar confusão!

Mitch virou-se e viu os cabelos castanhos de Cedric Gryffindor.

- Cedric, aonde você...

Eu cheguei hoje, agora à tarde, no Caldeirão Furado, e o Tom me disse que vocês foram visitar a Erika, então decidi acompanhá-los, mas vejo que estão voltando.

- Sim! Você perdeu, cara, a galera do Orfanato é muito gente boa! Vamos que eu conto tudo no caminho!

Mitch e Cedric Gryffindor conversaram animadamente durante todo o caminho de volta para o Caldeirão Furado. E quando foram dormir, Mitch pensou em tudo que vira.