Capítulo 1 – A captura
"Tire suas mãos de mim!" – Gritou a garota de cabelos castanhos acorrentada na masmorra. Ao perceber que seu algoz sorria sarcasticamente diante de sua impossibilidade de se libertar e defender-se, ela fez a única coisa que podia. Cuspiu na face pálida de seu captor.
Tomado de um nojo e ódio profundo pela ousadia da prisioneira, mas sabendo ser necessário se controlar para não prejudicar os malditos planos aos quais estava seguindo ordens, deliberadamente ele levou a manga de suas vestes ao rosto e o limpou com aparente tranqüilidade.
"Sujeitinha de sangue-ruim, nunca mais se atreva a lançar seus fluídos imundos em mim!" – Antes mesmo de terminar de falar, ele friamente desferiu-lhe em ambos os lados da face fortes bofetadas, fazendo com que ela perdesse o já precário equilíbrio.
Ao ver que a garota tentava arduamente conter as lágrimas e o grito de dor que as pancadas causaram em seu rosto mordendo com força seu lábio inferior, ele sentiu uma certa satisfação. Um pequeno filete de sangue escorria de um dos cantos do lábio dela, mas mesmo assim ela não abaixava a cabeça, que continuava erguida, olhando fixamente para ele, com enorme ódio no olhar.
"É melhor você aprender a se comportar sua vadia, eu não tolero atos de insubordinação ou rebeldia. Se eu não tivesse ordens para manter você viva para meu mestre, eu mesmo a mataria!" - Ele falava tão baixo que era quase um sussurro. De certa forma era assustadora a forma como ele a olhava, em seus olhos não havia o mínimo traço de piedade, mas ela sabia que não podia demonstrar fraqueza.
"Entretanto, como hoje eu me sinto um tanto quanto condescendente, eu apenas mandarei que lhe dêem 30 chicotadas". Ele mais que percebeu do que viu o corpo da garota se retesar, possivelmente imaginando o suplício que receberia.
Surpreendeu-se quando não a garota não esboçou fisicamente reação alguma, somente notou que o brilho do olhar dela refletia um ódio ainda maior dirigido a ele.
Nada mais tendo ali a fazer, ele virou-se bruscamente e com passos firmes saiu da cela. Ao fechar a porta, ele ordenou ao guarda que o esperava do lado de fora:
"Faça com que ela receba o castigo sem perder a consciência. E se a garota morrer, você também morre...".
"Farei como que pede meu Lord!" Assegurou o carrasco, com um último olhar de malícia para a prisioneira antes de se afastar para cuidar de sua tarefa.
Quando fecharam a cela e percebeu que estava sozinha novamente, a prisioneira relaxou o corpo e, meio que caiu, meio que sentou sobre os joelhos, pois seus braços estavam amarrados a suas costas e não teve como utiliza-los como apoio.
Estava completamente exausta, sedenta e faminta. Há dias não lhe davam comida, vez ou outra despejavam bruscamente uma caneca de água mal cheirosa e um pouco salitre em sua boca, mas a sede era tamanha, que mesmo assim era bem-vinda. Sabia que assim o faziam para evitar que morresse de desidratação.
Não sabia se era dia ou noite, pois estava em uma cela e imaginava que o local era um porão ou calabouço, pois era úmido, abafado, sem correntes de ar, por isto deduzia que não existiam janelas ou portas de acesso a parte externa do local nos corredores próximos.
Sabia que existiam outros prisioneiros nas celas ao longo do corredor, embora não conseguisse visualizar nada, pois sempre ouvia gritos e pedidos desesperados de ajuda, possivelmente de pessoas sendo torturadas.
Acomodou-se próximo à janela, buscando a melhor posição possível e encostou a cabeça na parede de pedras frias. Deixou sua mente vagar e lembrou-se do dia em que a raptaram e trazida para o cativeiro.
Hermione estava dando aulas a seus pequenos alunos na aldeia em que vivia, quando ouviu um grande alvoroço na rua. Ela e as crianças correram para as janelas mais próximas e ficaram espantadas com o que viam. Vários homens trajando vestes pretas e máscaras que lhes escondiam as feições, apontavam compridos gravetos em direção aos aldeões e estes imediatamente caiam ao chão contorcendo-se de dor. Alguns eram jogados de encontro às paredes e lá jaziam desacordados. O que mais os surpreendia era que nenhum deles era tocado pelos agressores, pareciam voar...
Ao ver a gravidade do ataque, temeu pela vida das crianças e rápida e silenciosamente, fez com que se afastassem das janelas, para se protegerem e as orientou para que fossem para o abrigo que seus avós haviam construído sob a escola há muitos anos atrás quando era comum ataques de saqueadores a região. O abrigo possuía um longo corredor que dava acesso à floresta próxima.
Antes de abrir o alçapão, orientou os alunos mais velhos a levarem as crianças para uma clareira e que lá se escondessem até que alguém fosse buscá-los, como era o combinado na aldeia há várias gerações.
Empurrou com agilidade e destreza a mesa que escondia a tampa do alçapão, e enquanto descia uma a uma das crianças, dizia:
Fiquem calmos e aconteça o que acontecer não façam barulho, também não saiam de lá. Esperem até que alguém vá buscá-los. Anderson, você que é o mais velho cuide dos menores. – Pegando o lanche que havia preparado para à tarde, entregou aos meninos e pediu que servisse um pouco às crianças quando estivessem seguros, reforçando a necessidade de ficarem quietos.
Ao fechar com cuidado o esconderijo, recolocouo tapete velho sobre o alçapão e retornou a sua mesa para cima dele. Observou se não faziam barulhos ou se havia indícios que pudessem leva-los as crianças, mas nada encontrou. Cautelosamente aproximou-se da janela para observar o que acontecia lá fora.
A quantidade de aldeões feridos ou desacordados era ainda maior. Quando percebeu que um dos homens encapuzados vinha em direção a escola, pegando o machado que utilizava para cortar lenha, resolveu sair, para evitar que ele entrasse. Talvez assim, pensasse que somente ela estivera lá.
Abriu a porta abruptamente e correu para fora em direção ao caos, tentando ajudar de alguma maneira. Parou ao perceber que muitos pais de alunos estavam jogados ao chão, com os olhos totalmente abertos e tinham a expressão de alguém que fora pego de surpresa. E de certa forma soube que estavam mortos, embora não soubesse como.
Viu que vários aldeões conseguiam fugir para a borda da floresta e nela encontravam abrigo. Estava tão atordoada com o que visualizava que havia se esquecido do encapuzado que determinadamente vinha em sua direção e quando o percebeu, ele estava a poucos metros de distância.
Embora não pudesse ver suas feições, sabia que se tratava de uma figura impositiva, pois sentia a aura de poder que dele emanava. Não sabia se era o medo que sentia ou a impotência de nada poder fazer, que a paralisaram, o machado em suas mãos.
O homem não demonstrou receio algum em se aproximar. Quando ele chegou a menos de umas três passadas largas de distância, ele apontou o graveto para ela girando-o algumas vezes enquanto murmurou algo que Hermione não conseguiu ouvir. Sem que ela exatamente soubesse o que acontecia, o machado foi lançado a uma boa distância de suas mãos, por forças invisíveis, e ainda mais estupefada ficou ao ser brutalmente agarrada.
Logo tentou reagir, contorcendo-se, chutando e esmurrando seu agressor, entretanto com apenas um dos braços ele conseguiu imobilizá-la e sem muitos rodeios arrancou a manga esquerda de seu vestido expondo o pálido braço.
Hermione viu o rosto do brutamontes levemente demonstrar triunfo, quando ele viu a marca de nascença que possuía, uma forma que sutilmente lembrava uma pena.
Quando ele girou seu braço para olhar melhor a marca, a dor no pulso foi enorme e tentou se desvencilhar, mas o homem novamente girou o graveto e dizendo algo incompreensível, apontou para ela, que no mesmo instante sentiu seu corpo se endurecer e perdeu totalmente o controle sobre ele. Ele voltou a murmurar algo e desta vez ela pode perceber que eram palavras em latim, e antes de perder completamente os sentidos, ouviu-o gritou para seus companheiros em sua própria língua:
Eu a encontrei!
Acordara com o jato de água fria que em seu rosto e percebeu que estava com os pulsos e tornozelos amarrados, jogada em chão de pedras imundo. Todo o seu corpo doía insuportavelmente, as extremidades estavam dormentes devido à falta de circulação de sangue e de certa forma ficou grata por não estarem na época do inverno, senão teria morrido de frio neste lugar inóspito.
Não sabia precisar onde estava e há quanto tempo, se era dia ou noite lá fora. Tentou naqueles primeiros minutos de consciência descobrir o motivo de sua captura, mas por mais que pensasse não conseguia compreender.
Hermione precisava fazer algo para escapar dali. Iniciou as tentativas de soltar-se das amarras, mas viu que os nós acabavam por machuca-la ainda mais. Seus pais sempre disseram que sua maior característica era a persistência, por isto não desistiu de desatar os nós, mesmo com os ferimentos que cada vez mais abriam-se em seus pulsos.
Enquanto lutava para livrar os pulsos das amarras, passou a imaginar e tentar entender os motivos que levaram aqueles homens a atacarem sua aldeia e a capturarem. Sentiu uma forte angústia ao se lembrar das pessoas que conhecera durante toda a sua vida e que haviam perdido a vida em questão de minutos. Pediu à Deus para que as crianças estivem sã e salvas.
Estavam fazendo uma prece, quando ouviu passos de pessoas descendo uma escada. Percebeu que se dirigiam à sua cela, quando um barulho de uma chave sendo inserida na porta de sua cela se ouviu e logo após a porta foi cuidadosamente aberta.
Um homem alto de rosto anguloso, de cabelos finos e prateados, semi longos à altura dos ombros e de corpo bem delineado, trajando finas vestes, o que demonstrava tratar-se de um senhor feudal, entrou na cela e logo seu rosto aristocrático e belo se transfigurou ao olhar com malevolência para Hermione que estava sentada no centro da cela. O que mais chamou atenção dela naquele primeiro encontro, foram os olhos do homem, eram cinzas e frios, e demonstravam um grande desprezo por ela.
O que a inquietou foi que ele ficou parado, apenas observando-a por vários minutos, como se estivesse analisando um objeto. Ela sentiu-se dissecada perante aquele olhar. Tentando mostrar que não se renderia facilmente, encarou-se firmemente, disposta a demonstrar que não o temia.
Ele parecia não notar o desafio nos olhos da garota, com um leve aceno de mão, dispensou os guardas que com ele estavam, estes saíram da cela e fecharam a porta cuidadosamente, aguardando do lado de fora.
Ainda impassível, o homem se aproximou e bruscamente puxou-lhe o braço, para fitar a marca. Neste momento, Hermione começou a pensar que talvez esta marca tivesse alguma importância...
"Ora, finalmente tenho a honra de conhecer a ´sujeitinha de sangue-ruim´ que meu mestre tanto procurou." Disse ele em uma voz de tédio, arrastada e sarcástica. – "Não sabia que sangues-ruins podiam ser tão difíceis de localizar". Enquanto ele falava, começou a andar ao redor de Hermione, analisando-a com desdém, como se sentisse repulsa com o que via.
Hermione não era pessoa de se intimidar por atitudes ou palavras. Não agüentando mais reprimir sua necessidade de saber os motivos, ela perguntou:
"O que aconteceu com as pessoas da aldeia? E por qual motivo fui feita prisioneira?" – Seu tom de voz devido à falta de uso soara rouco, mas firme. Por um momento pensou que ele iria responder a sua pergunta, pois ele a fitava com uma expressão contemplativa. Talvez por isto tenha ficado tão surpresa ao sentir o forte impacto da mão dele em sua face esquerda.
"Vejo que não lhe ensinaram a se comportar perante um superior. Nunca abra esta boca imunda para dirigir-se a mim". As palavras dele zumbiam no cérebro de Hermione, que tentava entender o que estava acontecendo.
"Quem é você e porque está..." Ela não pode completar a pergunta, pois desta vez ele lhe chutou no estômago o que fez com que ela caísse de lado no chão, contorcendo-se de dor.
"Acho que gosta de apanhar sangue-ruim... Aconselho você a não falar em minha presença, pois até mesmo sua voz é insuportável". - O desprezo nos olhos dele era percebível e Hermione viu que se continuasse a demonstrar impertinência apanharia até morrer.
Após alguns longos minutos de silêncio, em que Hermione tentava recuperar o controle de sua respiração e controlar a dor que sentia, enquanto o observava por entre os cabelos que caíram sobre seu rosto. Como se nada tivesse acontecido, após alguns segundos ele apenas se virou em direção à porta e saiu, mas antes de fechar a porta completamente ele disse, mais para ele mesmo que para ela:
"Para que exatamente o mestre deseja você eu ainda não sei... Mas deve ser algo importante, muito importante, para que tenha gastado tantos anos e homens nesta busca!" E sem mais delongas bateu a porta atrás de si e desapareceu.
Tão logo se viu sozinha, deixou escapar um gemido de dor e grossas lágrimas caíram de seu olhos.
"Porquê? Porquê?" Era também a única pergunta que não saía de sua cabeça.
Ao se recordar destas primeiras horas, Hermione percebeu que esta primeira visita do desprezível Lord Malfoy não seria a mais ´dolorosa´.
Logo voltou a realidade ao ouvir a porta abrir e o guarda chamado Molbeq se aproximar, sôfrego por iniciar a tortura do dia.
Na primeira vez que fora determinado a sessão de 30 chibatadas, após ela ter dirigido a palavra a Lord Malfoy novamente na segunda visita feita por ele, audaciosamente perguntou os motivos de seu cativeiro e como ele havia prometido, ele determinou que Molbec infringisse o castigo naquela mesma tarde.
Quando o carrasco chegou para a sessão de chibatadas, ele tinha um sorriso irônico no rosto e um olhar cheio de desejo sobre o corpo de Hermione, que logo chegou a conclusão que o castigo não seriam só a surra de chibata, sabia que o guarda aproveitaria a ocasião para violentá-la. Temeu mais o pensamento de ser invadida à força do que as chicotadas.
Naquela ocasião, logo após ele começar a acorrentá-la, teve início o pior pesadelo de Hermione. Molbec realmente aproveitou-se da situação, percorrendo suas mãos calejadas lascivamente por cima das vestes que cobriam o corpo de Hermione. Ela contorcia-se freneticamente tentando se livrar de tamanha humilhação. Mas isto parecia excitá-lo ainda mais. Percebendo que o esforço para era inútil, passou a gritar quando ele desabotoou suas vestes e deixou que as costas dela ficassem à mostra.
Ao ver a pele translúcida de Hermione desnuda para o castigo, ele levou a mão para mais uma vez tocá-la, mas a mão ficou suspensa a centímetros da pele de Hermione quando uma voz forte e imperiosa disse:
"Caso queira ficar sem suas mãos Molbec, continue a sujar suas mãos com esta sujeitinha...".
Hermione sentiu um certo alívio ao ouvir as palavras, ainda que fossem um insulto, declaradas pela voz forte e arrastada de Lord Malfoy que viera presenciar o castigo como havia prometido.
"Não encoste um único dedo na prisioneira, a não ser que eu o mande! Apenas cuidem para mantê-la viva". - Disse enquanto aproximou-se de Hermione e sussurou ao ouvido dela de forma que só ela o ouvisse:
"Este desprazer infelizmente será meu!" declarou friamente.
O alívio que Hermione sentiu logo se desfez ao perceber que havia se livrado da profanação a seu corpo naquele instante, e que este castigo seria ministrado pelo próprio Lord. Ainda assim o pensamento era abominável. Como estava acorrentada a parede, de costas para o restante da cela, não conseguia ver o que se passava a suas costas.
"Molbec inicie logo as chicotadas, não tenho o dia todo. E não permita que ela perca a consciência". - Ao ouvir isto Hermione preparou-se para o pior.
Durante as primeiras chicotadas que lasceravam sua pele fina, Hermione mordeu fortemente os lábios na tentativa de evitar que Lord Malfoy e Molbec tivessem a satisfação de saber que podiam subjulgá-la. Entretanto após a sexta ou sétima chicotada bem aplicada sobre uma ferida já aberta, Hermione não conseguiu impedir que o grito de dor que sentia.
Malfoy ficou durante todo o castigo, observando com um olhar indecifrável, as cerdas descerem velozmente e com precisão sobre a pele antes imaculada da garota e suas reações a cada chibatada. Notou o esforço da garota em conter os gritos de dor, algo que o impressionou, pois já vira homens serem chicoteados e logo nas primeiras lascerações berravam como bebês.
Quando Hermione pensava que não agüentaria mais o suplício e logo sua visão ficava desfocada, indício que perderia a consciência logo, Molbec aguardava alguns segundos que eram suficientes para que o corpo reagisse a agressão e retornava lentamente.
Nas últimas chibatadas Hermione não mais gritava, apenas emitia pequenos lamentos de dor, pois não tinha mais forças.
Lord Malfoy verificou ele mesmo se Hermione não tinha perdido a consciência ao final do castigo, antes de ir embora.
A partir daquele dia, Molbec apenas aproveitava a situação de acorrentá-la aos ferros na parede, quando o Lord não estava presente, para passar suas mãos pelo corpo de Hermione, quando Malfoy estava presente Molbec mantinha suas mãos o estritamente necessário nela e furtava-se de fazer os comentários asquerosos de sempre.
E naquele dia soube que precisavam dela viva e que o mestre de Lord Malfoy, tinha planos para ela dentro de um futuro muito próximo. Só não gostava de pensar na suspeita que tinha em relação a estes planos e como o Lord deles fazia parte.
O castigo de hoje não seria muito diferente dos anteriores. Hermione desenvolvera um método em que focava sua mente e concentração na sua vida antes do cativeiro, nas crianças e no sentimento de que era melhor ela sofrer do que seus pequenos pupilos. Estes pensamentos, embora não a livrassem da dor, tornavam-na menos insuportável.
Notas: No próximo capítulo Harry e o motivo do cativeiro de Hermione.
