Capítulo 5: No Expresso de Hogwarts
Enfim, chegara o dia 1º de Setembro. Claro que Enya e Cedric estavam extremamente empolgados e era compreensível: sendo ruivos (ou como diziam os McGregor, tendo a Marca), sempre cresceram na expectativa de, a qualquer momento, começarem seus estudos de magia. E esse momento estava para chegar. Mas Mitch e Helen controlaram os ânimos dos dois jovens McGregor. Se dependesse de Cedric, ele teria ido a pé do Caldeirão Furado até King's Cross usando as vestes de Hogwarts para todos os trouxas verem. Foi apenas a prudência e os conselhos (para não dizer ordens) de Mitch, que aprendeu muitas duras lições no ano anterior a duras penas, e de Helen, que impediram que Cedric tentasse isso.
Depois de tomarem um bom café da manhã e ajuntar alguns lanches, comprados na Florean Fortescue (o próprio Florean providenciara a pedido de Mitch e dos demais os lanches), todos vestidos em ternos e tallieurs pegaram uma carona com Angus e Anya (que tinha encantado o porta-mala para caberem quatro malões com quatro corujas) até King's Cross.
- Vocês leram no Profeta Diário? - disse Anya.
- Não. - os quatro responderam em coro.
- Ao que parece, se entendi direito, tem um espírito agoureiro matando bruxos e trouxas na Irlanda. - disse Angus.
- Mas será que realmente é... - disse Mitch.
- Não sei, mas lembre-se da lenda... Eles tem que aparecer de quando em quando para se alimentarem.
- Eles quem, Mitch? - disse Helen.
- Os Bean-Sidhe! - disse Mitch.
- Bean-Sidhe? Que bicho é esse? - disse Helen.
- Já lhe contei sobre os Tuatha De Danann?
Naquele livro de lendas que você me deu no ano passado fala sobre eles e sobre a Guerra do Ocaso. - disse Helen lembrando-se do livro de lendas do povo irlandês que Mitch lhe dera no ano anterior como presente de natal.
Bem, depois da queda dos Tuatha De Danann, eles viram que eram poucos, então passaram a se relacionar com os seres humanos, gerando filhos mestiços, mas ainda assim imortais, até uma certa medida, chamado de Daoine Sidhe. Como os Tuatha apenas se relacionavam com os melhores e mais belos mortais, seus filhos, os Daoine Sidhe, eram a combinação da suprema perfeição humana com a suprema perfeição feérica: nobres, fortes, guerreiros, líderes e amigos eternos. Foi quando aconteceu...
- O que?
- Dizem que quando um Daoine Sidhe se corrompe para o mal, ele passa por uma transformação horrenda, o que pode tornar ele um de dois tipos de monstro: um é o Bean-Sidhe, que lembra um fantasma, mas que tem sede pela força vital do ser humano, que o alimenta e que lhe dá poder, coisa que ele mais presa em sua não-vida. Já o outro é o Leanan-Sidhe, que é semelhante a uma veela não-corpórea, mas para ambos os sexos. Ele rouba a criatividade do ser humano, e quando ela acaba, ele o deixa, o que acaba invariavelmente levando o ser humano a um estado semelhante ao de ficar próximo a um dementador, o que o torna um prato cheio para os Bean-Sidhe, ou banshee, como o chamam os que não falam o gaélico. Muitos os confundem com os espíritos agoureiros, que também são chamados banshee, mas um Bean-Sidhe verdadeiro é muito mais perigoso, poderoso e maligno que o banshee com o qual lidamos, por exemplo, no ano passado, em Defesa contra a Arte das Trevas.
- Nossa... - disse Helen.
- Esse ano, eu e Enya estamos levando coisas para artes: eu as minhas coisas de clown: roupas, sapatos, acessórios, maquiagem, claves e aros de malabarismo... Já Enya está levando sua harpa e seu livro de canções celtas. Estamos fazendo isso porque corria rumores na Irlanda de que um grupo de Bean-Sidhe e Leanan-Sidhe havia ressurgido. E isso vai ajudar a nos protegermos em Hogwarts, pois a única proteção efetiva vem das artes: o glamour das artes pode matá-los pelo excesso de alimentação. Da mesma forma que um cacto morre quando recebe muita água, esses dois monstros morrem quando recebem muito glamour.
- Esses seres parecem ser bem perigosos, não Mitch? - disse Anya - Parece que são piores que os Leshye das florestas da minha terra. Perto de Kiev, aonde morava, tinha muitos, mas eles nunca me perturbaram, pois respeitava suas normas. Mas ai daquele que não respeita os Leshye.
- Tá, isso é muito animador ... - disse Cedric.
- Bem, chegamos... - disse Angus.
Angus ajudou a descer os quatro malões, as quatro corujas e os quatro carrinhos (como no caso de Mitch, Enya e Cedric ganharam carrinhos para transportarem seus malões de seus irmãos trouxas, Angus e Ramon). Depois deram adeus a Angus (que tinha guarda para assumir) e a Anya (que ia para o Ministério ter uma reunião com Percy Weasley, assessor do Departamento de Cooperação Internacional da Magia, para resolver certos problemas).
Então, entraram na Estação de King's Cross. Enya e Cedric pareciam preocupados:
- Ei, Mitch, cadê a tal Plataforma Nove e Meia? - disse Enya.
- Isso mesmo! Olha aqui: oito, nove, dez... Cadê a Nove e Meia?
- Venham, nós mostramos a vocês. Helen, você passa o Cedric pra mim? Eu vou com a Enya. - disse Mitch.
- OK! - disse Helen.
Aproximaram-se da barreira entre as Plataformas Nove e Dez. Mitch então passou a fingir que conversava com Enya, quando uma leva de pessoas se aproximou. A sorte delas e que nenhuma reparou, pois quando elas passaram, Mitch deu alguns passos para trás, puxando Enya consigo:
- Ei, Mitch, você...
- Bem-vinda à Plataforma Nove e Meia! - disse Mitch.
- Então era só...
- Atravessar a parede. Na verdade, para bruxos ela não existe! - completou Mitch, enquanto ele via Helen e Cedric cruzando a barreira.
A Plataforma Nove e Meia estava tão cheia e barulhenta quanto de costume, pelo menos para um dia 1° de Setembro: os mesmos meninos e meninas carregando corujas, sapos, gatos e ratos por todos os lado. Foi quando por trás de Helen e Mitch aproximou-se os agora segundo-anistas de Grifinória: o brasileiro Carlos Amaral, a sangue-puro Olívia Gibbs, o americano indígena Dennis Tomahawk, as gêmeas escocesas Diana e Minerva Stargazer e o seu compatriota Tim Robbins, a senegalesa Wanda Willtaker e o descendente do fundador de Grifinória Cedric Gryffindor.
Todos então deram um jeito de se apertar em uma cabine no fim do trem. Erika não iria com eles porque precisava levar os novos alunos que estavam entrando em Hogwarts do Orfanato da Madame Kinnigan. Já Harry e seus amigos pareciam estar bem acompanhados de um adulto com cabelos já parcialmente brancos e vestes completamente rasgadas.
Passaram alguns minutos e todos passaram a conversar sobre as férias: Dennis passara as férias aprendendo magias de cura de seu povo. Olívia trabalhara nos milharais e assim por diante. Claro que Mitch novamente foi motivo de piadas por ter feito curso de circo durante o período de férias, mas ele sabia que precisava daquilo.
No almoço, os lanches e doces foram sendo consumidos vorazmente por todos, até que...
- Acho que você deveria aproveitar para fazer sua última refeição, McGregor! - disse uma voz arrastada à porta. Draco Malfoy.
- Ora, ora, e porque, Malfoy? - disse Mitch
- Eu li sobre os banshee e os lanshee, e acho que eles preferem atacar sangue ruim como você. - disse Malfoy, sorrindo.
Claro que Mitch sabia que o que Malfoy dissera era mentira, mas preferiu brincar um pouco com as próprias palavras de Draco.
- Ah, é mesmo! Tem razão, Malfoy! Mas eles nunca iriam se alimentar de um idiota com a mesma energia vital e criatividade do sapo de Neville! E é Bean-Shide e Leanan-Sidhe! - disse sarcasticamente Mitch.
- Ora, seu...!
Quando Draco sacara sua varinha, Mitch já estava com sua em posição:
- Eu não tentaria isso se fosse você!
Mas Draco parecia não querer ouvir conselhos:
- Expelli... - mas antes dele terminar, Mitch disse...
- Bobinn! - e novamente Malfoy apareceu vestindo roupas e acessórios de palhaço. Todos explodiram em risadas, exceto Malfoy e seus comparsas.
- Ora seu...
- Malfoy! Já cansei de lhe avisar! Se eu pegar você novamente para fora de sua cabine, eu vou escorraçar você desse trem, e aí você vai ter que ir até Hogwarts à pé! - disse uma voz feminina no corredor, em tom muito bravo, depois ironizando - Aliás, aproveite e tire essas roupas ridículas!
- Juro para você, McGregor, você vai me pagar! - disse Malfoy, correndo de vergonha, uma explosão de risadas atrás da outra, enquanto ele passava pelas cabines.
- OK! Qual de vocês fez aquilo? - disse uma voz bem séria.
Apareceu então Angelina Johnson, que era a atual Monitora-Chefe de Hogwarts.
- Fui eu, Angelina... - disse Mitch, meio cabisbaixo.
- Devo admitir, foi engraçado! - disse Angelina, tentando conter um risinho. - Só espero que os gêmeos Weasley não o tenham visto. Mas vou ter que pedir para que não use mais magia até chegarmos a Hogwarts.
- Tudo bem, Angelina. - disse Mitch.
- Quem é essa, Mitch? - disse Enya, que adorava conhecer novas pessoas.
- Essa é a Angelina Johnson. Ela é do time principal de Quadribol de Grifinória, e uma grande amiga! - disse Mitch.
- Obrigado, Mitch. Acho que vou dar um tempinho aqui, depois volto para a ronda. Essa é sua irmã?
- Sim! Eu sou Enyamarana Andaluzia McGregor, mas pode me chamar apenas de Enya.
- Ela nem parece ser sua irmã, Mitch! Tão educada! - disse Angelina rindo.
- Ah, vai passear, Angelina! - disse Mitch, também rindo.
Alguns minutos passaram-se e continuaram conversando. Mais ou menos naquele momento apareceram os pesadelos de Hogwarts: Fred e Jorge, os gêmeos Weasley.
- Cara, foi você que fez aquilo com o Malfoy? - disse Fred.
- Ah, não, Fred! Definitivamente você não está pensando em... - disse Angelina.
- Ah, qual é, Angelina! Você também não é tão certinha quanto aparenta. - disse Jorge brincando.
- Ah, vai se catar, Jorge! - disse Angelina - Vocês não estão pensando em usar aquele feitiço!
- Não estamos pensando! - disse Fred desconversando.
- Se eu descobrir que você... que você... eu termino tudo com você, Frederico Weasley! - disse Angelina saindo, o que fez os ossos de Fred gelarem.
- Não esquenta, mano! Você só tem que esperar o tempo agir! - disse Jorge.
- Ela tá ficando que nem o Percy: uma mala! - disse Fred.
- Ela não é que nem o maluco do Percy: ela aceitou ser a monitora-chefe porque quer o melhor para Hogwarts. Além disso, esse ano não vamos aprontar! - disse Jorge.
- Conta a do português, Jorge! - disse Carlos, usando as gírias brasileiras com as quais todos já estavam acostumados.
Todos explodiram em risadas, mas Fred disse uma coisa:
- Acho que vou pegar leve esse ano! Preciso de bons NIEMs, senão a Angelina acaba comigo, e para isso vou ter que estudar bastante! Ela até gosta da idéia das "Gemialidades" Weasley, uma loja de logros que eu e o Jorge pretendemos abrir quando sairmos de Hogwarts, mas sem bons NIEMs ela não quer saber de casamento... E eu amo aquela grande filha-da-mãe! - disse Fred, confessando aos segundo-anistas de uma hora para a outra.
- Tudo bem, Fred. Ela é legal! Só você não cometer nenhuma burrice e ela vai gostar de você! - disse Enya.
- Ah, fala sério! Você, que meu irmão falou ser o aprontão número um de Hogwarts, namorar aquela certinha? - disse Cedric.
- Cedric! - ralhou Mitch - Será que você tem o dom mágico de falar asneira?
- Só acho que...
- Uma coisa, Cedric: muitas vezes não escolhemos as coisas. As coisas nos escolhem e temos que fazer o melhor com o que temos. - disse Helen.
- Bem, não posso dizer que não gosto desse seu irmão, Mitch. - disse Jorge - Pelo menos, fala o que pensa na cara, não é que nem, por exemplo, a Hermione Granger. Ela tem a mania de ser crítica, mas de forma irônica.
Todos riram, o que pareceu animar Fred. Depois Mitch ensinou para os gêmeos Weasley a Azaração do Bobo Alegre, como era chamado o feitiço bobinn:
- Funciona que nem o Feitiço Anti-Papão. Mas vocês vão me prometer, Weasley, que nunca vão usá-lo para ferrar ninguém, OK? E uma coisa: eu já conheço algumas coisinhas sobre azarações bem interessantes.
- Tudo bem, Mitch! Não esquenta que a gente não vai fazer nada de bom com essa magia! - disse brincando Fred.
- Fred... Olha que eu conto para a Angelina! - ameaçou brincando Mitch.
- Tá legal! Não sabe brincar, não brinca! - disse Fred, amuado.
Depois todos resolveram descansar um pouco, pois logo estariam em Hogwarts e haveria a Seleção.
