Capítulo 10: A Grande Perda
Alguns dias passaram-se. Mitch nem sabia o que estava acontecendo: as lembranças do baile de máscaras ainda estavam vivas na mente de Mitch.
- Ei, Terra chamando McGregor. - disse Enya.
- Ahnnn... - disse Mitch
- Você tá abobado desde o baile! Confessa logo de uma vez, Mitch McGregor, você tá apaixonado pela Helen!
- E se eu tiver? Algum problema? - disse Mitch brincando.
As aulas estavam ficando animadas, ainda mais agora que os alunos das três escolas estrangeiras estudavam com eles. Os brasileiros do Liceu eram muito simpáticos e estudiosos, o que fez com que eles caíssem nas graças dos alunos da Lufa-Lufa e da Grifinória. Já os estudiosos e aplicados alunos da Academia Imperial de Artes Arcanas caíram nas graças da Corvinal, da qual recebiam muito apoio.
Mas a pior coisa que poderia acontecer estava acontecendo. Uma rivalidade estava surgindo entre os alunos de Sonserina e o pessoal do Instituto Americano de Bruxaria. Isso porque alguns alunos do Instituto Americano de Bruxaria conseguiam ser tão arrogantes ou até mais que os sonserinos:
- Esse castelo parece que está desmontando! - disse Andrews Andersen, enquanto todos os alunos do 2º ano, inclusive os alunos das escolas estrangeiras qualificados como tal, estavam indo para uma aula de Poções. - Como é que alguém em seu juízo perfeito poderia dar uma aula nesse lugar?
- Como alguém em seu juízo perfeito poderia permitir um aborto como esse cara estudar em uma escola de magia? - resmungou Galahad Starshooter.
- Eu ouvi isso, garoto! Quer apanhar avisa! - disse Tiger Jonathan, um negro alto, corpulento e com cara de mal encarado.
- E aí, quer resolver isso como um bruxo de verdade? - disse Helga Travers, uma sonserina que conseguia (como a maioria das sonserinas) ser mais feia que briga de foice no escuro.
- Garota, você não conhece a gente! - disse Orion Marquez.
- Ei, vamos, gente! - disse Dennis Tomahawk, tentando conciliar - Isso não é lugar para briga!
- Qual é a sua, garoto? Você também é americano! Você tá do nosso lado ou do deles?
- Eu estou do lado do que é certo. - disse Dennis, conclusivo.
- Mitch, vamos sair fora antes que a batata asse para o nosso lado. Gustavo, segue a gente. - disse Carlos.
Gustavo Freire era amigo de Carlos Amaral e era trouxa pelos dois pais. Moravam na mesma rua em Salvador e, na mesma época em que Carlos recebera a coruja de Hogwarts, a ararajuba do Liceu chegou a Gustavo, o que surpreendeu Gustavo, ainda mais quando descobriu que seu amigo de longa data também era bruxo.
Entraram na sala de Snape, que conseguia ser tão fria quanto o coração do professor de Poções. Mitch e Snape pareciam ter entrado em uma espécie de trégua tácita: os dois se odiavam, inclusive Snape conseguindo odiar tanto Mitch quanto odiava Harry Potter, mas Mitch reconhecia a competência de Snape e Snape reconhecia o esforço de Mitch. Para falar a verdade, Snape possuia uma certa, digamos assim, admiração pelo jovem grifinório, pois o mesmo prestava atenção em cada detalhe das poções e levava a sério a delicada arte de preparar as poções mais poderosas.
Mitch também tinha uma certa admiração por aquele "corvo velho", que parecia que não sairia do sério nunca, mesmo com as maiores trapalhadas de todos os tempos sendo cometidas por Neville Longbottom. Na verdade, para Mitch, Snape era uma pessoa que não sabia expressar sua preocupação com o aprendizado dos jovens, então Mitch aprendeu a respeitar o estilo de aulas de Snape, apesar de ainda se sentir injustiçado ocasionalmente em seu julgamento.
Enquanto Mitch preparava uma poção de esquecimento junto com Carlos, Gustavo, Helen e uma garota da Academia Imperial chamada Nakuru Hiiragizawa, uma coruja conseguiu, sabe-se lá como, entrar na sala de Snape e ficou sobrevoando o caldeirão de Mitch:
- McGregor, é bom o senhor acalmar essa coruja, ou serei obrigado a descontar vinte pontos da Grifinória! - disse Snape, em seu tom sempre calmo, quase fleumático.
- Tudo bem, professor. - disse Mitch, estranhando o que aquela coruja estaria fazendo ali. Era uma coruja de igreja muito bonita, mas que Mitch não conhecia. Ela trazia uma carta. Mitch a retirou e viu que era endereçada para ele por seu avô. O coração de Mitch ficou apreensivo. Mitch percebeu que o envelope possuía um brilho estranho, mais ou menos dourado. Mitch sabia que não se tratava de um berrador: já tinha visto Neville receber alguns e sabia que eles eram vermelhos e quando abertos, liam seu conteúdo em um volume equivalente a um show de heavy-metal. Porém, explodiam se não fossem abertos, liberando seu conteúdo de qualquer forma do jeito padrão.
- Professor, é do meu avô! E parece ser urgente! Tem algo estranho nela! - disse Mitch.
- Professor, é uma Emergencial! - disse Olivia.
- Como? - disse Snape, observando lentamente a carta. Quando a tocou, uma imagem projetou-se, liberando a forma do avô de Mitch. A forma-fantasma disse:
- Professor Severo Snape, eu sou Elric McGregor, avô de Mitch McGregor. Essa Emergencial foi escrita com o objetivo de avisar Mitch de um acontecimento importante na família. Infelizmente não posso prestar mais esclarecimentos na frente de toda a sala de aula, mas acredito que depois Mitch poderá contar ao senhor em particular. Peço que o deixe ler a carta imediatamente e em particular, pois é um assunto de extrema importância. Acredito que o senhor entenda a gravidade de mandar-se uma Emergencial. Obrigado desde já.
A forma então desapareceu. Snape observou Mitch e disse:
- Vá, McGregor! Pode ler a correspondência! Mas quero que o senhor explique-se depois!
- Tudo bem, professor!
Mitch saiu e procurou uma sala vazia, aonde abriu a Emergencial. Dentro dela, um papel de pergaminho saiu, com a letra de seu avô escrita nervosamente:
"Mitch
Queria nunca ter que escrever isso para você, mas é necessário.
Seu pai e sua mãe foram encontrados mortos na entrada do Vale dos Reis, próximo a um local chamado a Torre de Ma'at.
Todos os Aurores que acompanhavam-os secretamente também foram abatidos em combate, exceto um que conseguiu fugir com o corpo de seus pais e com o diário de viagem e equipamentos dos mesmos.
Mitch, você precisa ser forte. Enya e Cedric também serão avisados, assim como o professor Dumbledore, a quem mandei Ceridwen.
Os ritos funerais, segundo a tradição, darão-se no início da semana que vem.
Volte para Londres. Angus o estará esperando.
Sinto muito.
Peço que seja forte para ajudar seus irmãos!
Elric McGregor"
O mundo parecia ter desabado, de uma hora para outra, aos pés de Mitch. Mitch não se sentira tão mal desde o ataque do Bean-Sidhe.
Retornou lentamente, enxugando as lágrimas, à sala do professor Snape, aonde alguns perceberam sua cara. Rony Weasley estava lá, estranhamente:
- McGregor, o diretor deseja falar com o senhor! O que está... - disse o professor Snape.
- Por favor, professor Snape, leia! - disse Mitch, sem saber o que dizer.
Snape leu a carta. Não parecia ter sido tocado, mas mesmo assim disse:
- Está dispensado da aula hoje, McGregor. Quero que o senhor entregue um relatório de três metros sobre essa poção na próxima aula. Acompanhe o Sr. Weasley até a sala do diretor Dumbledore.
Mitch pegou a mochila e recolheu seus materiais:
- Mitch... - disse Helen, estranhando o comportamento cabisbaixo de Mitch.
- Desculpe, Helen! Vou contar tudo para você, mas em um momento mais propício. - disse Mitch, baixinho para a grande pessoa de sua vida.
- Tudo bem.
Mitch saiu e foi sendo conduzido por Rony Weasley:
- O que aconteceu, Mitch?
- Meus pais, Rony...
- O que aconteceu com seus pais?
Mitch estendeu a carta a qual Rony leu:
- Desculpe, cara. E eu sei o que eles foram fazer lá! Foram investigar essa tal Torre de Ma'at pro Ministério! Papai me contou!
- Não se preocupa, Rony. Não é culpa do seu pai!
- Acha que...
- Voldemort?
- Não-diga-esse-nome-pelo-amor-de-Deus! - explodiu Rony como um berrador, depois de ter pulado quase um metro de susto.
- Isso é besteira! Essa história de Você-Sabe-Quem! - disse Mitch, amargo. - Meu avô sempre me ensinou a nunca temer esse cara!
Caminharam até à gárgula aonde encontrava-se a entrada da Torre aonde ficava o escritório do Professor Dumbledore:
- Bomba de chocolate! - disse Rony, abrindo a passagem.
A sala do professor Dumbledore continuava muito bonita e aconchegante, como sempre fora desde que Mitch entrara pela primeira vez. Enya e Cedric estavam lá, junto com Mione Granger e Harry Potter. Enya estava só as lágrimas, enquanto Cedric tentava ocultar sua dor. Mitch porém sabia: nenhum dos três, nem mesmo ele, estava pronto para essa notícia.
- Mitch, sinto não poder chamá-lo em um momento mais propício para uma conversa mais agradável. Seu avô, meu velho amigo Elric McGregor já me falou tudo. Bem, normalmente não permito que alunos ausentem-se às aulas durante o ano letivo, mas dessa vez abrirei uma exceção. Seu avô pediu 15 dias para acertar uma série de documentos com vocês e para o ritos funerários de seus pais. Bem, a permissão será concedida, mas com as seguintes condições: primeiro, vocês serão acompanhados por três alunos veteranos que irão supervisioná-los e verem se não vão aprontar nada de errado enquanto estiverem fora de Hogwarts. Esses alunos serão Harry Potter, Hermione Granger e Ronald Weasley. Os pais dos mesmos já foram avisados e está tudo dentro dos conformes...
Mitch nem prestou muita atenção no que o professor Dumbledore estava dizendo: ele parecia estar com a mente a milhares de quilômetros dali. Mais exatamente, na Torre de Ma'at, vendo o corpo de seus pais mortos.
- Entendeu, Mitch? - disse Dumbledore ao terminar de dizer as condições.
- Ahn... Desculpe, professor, eu...
- Compreendo. Não é fácil lidar com a morte, mas acho que seus pais sabiam dos riscos.
- Professor, o Profeta Diário já deu a notícia?
- Já, mas o caso parece estar sendo abafado pelo Ministério. Parece que existem suspeitas do envolvimento de alguns Comensais da Morte no caso.
- Os homens de Voldemort? - disse Cedric.
- Garoto, NUNCA-MAIS-DIGA-ESSE-NOME! - disse Rony, apavorado.
- Eu vou pegar esses infelizes e... - disse Cedric.
- Cedric, por favor, não tente isso! - disse Enya.
- Enya...
- Cedric, agora temos apenas uns aos outros! - disse Mitch, resumindo tudo.
A ficha de Cedric caiu. Agora era eles e eles. Mesmo seu avô estava a grande distância, em Caer Slaeun. Ali em Hogwarts, mais do que nunca, teriam que se apoiar em tudo.
Dispensados, Mitch e Enya foram até a Torre de Grifinória, enquanto Cedric ia à de Sonserina, para ajeitarem em suas mochilas algumas roupas e materiais. Uma das condições impostas por Dumbledore seria que eles deveriam ainda fazer as lições que os professores prescrevessem.
Mitch separou suas roupas e enviou uma carta por Hawking para Angus, informando que teriam companhia, enquanto usou Brigitte para avisar seu avô de tudo. Depois, pegou um pedaço de pano preto e rasgou-o em três grandes fitas. Pegou-as, deixou-as separadas junto com suas roupas e materiais para a viagem e foram almoçar. Enquanto desciam da Torre de Grifinória, encontraram Helen e os demais:
- Mitch, o que aconteceu? A professora McGonagall parecia muito estranha quando fez a chamada e chegou no seu nome! É como se ela sentisse uma pontada no coração! - disse Helen.
- A Madame Hooch parecia também desestabilizada quando chegou no seu nome, Enya! O que está acontecendo? - perguntou Boris.
- A coisa é muito mais triste do que vocês imaginam.
Mitch explicou aos amigos o que acontecera. Enquanto tentava comer alguma coisa, pois seu estômago parecia ter deixado de existir, ele contou todas as coisas que já sabia.
- Mas o que será que tinha na tal Torre de Ma'at? - perguntou Carlos.
- Não sei, mas seja o que for, deve ser bem poderoso para valer a vida de meus pais! - disse Mitch.
- Os homens de Vocês-Sabem-Quem não precisavam de desculpas para matar! - disse Mione. - Veja o caso do Harry: os pais dele foram mortos sem motivo nenhum a não ser a ganância de poder de Vocês-Sabem-Quem.
Começou uma discussão sobre os poderes e sobre a malignitude de Voldemort. Mitch pouco se importava. Estaria pegando o Expresso de Hogwarts dali a alguns minutos para o funeral de seus pais. Sabia da inevitabilidade da Morte e da impossibilidade de voltar atrás no fato. Ele próprio já estivera perto da morte no ano anterior, quando, em um jogo de quadribol, caiu de sua vassoura mais de 15 metros de altura até o chão. Se não fossem os recursos de cura por magia da Madame Pomfrey, ele estaria paraplégico até hoje, e mesmo com eles, levou bastante tempo para ele se recuperar plenamente. Só queria era entender por que tudo aquilo tinha acontecido.
Depois do almoço, buscou sua mochila com as roupas e a atirou nas costas. No Salão Comunal, encontrou Mione, Rony, Harry e Enya, todos com mochilas prontas. Então foram encontrar Cedric, que esperava próximo ao Salão Principal. Mitch pegou as três fitas e entregou duas delas a Enya e Cedric.
- Para que essa fita, Mitch? - perguntou Harry.
- É o começo dos ritos funerários, Harry. - disse Mitch.
Tão logo puseram os pés para fora do Saguão Principal de Hogwarts, os três amarraram as fitas na cabeça.
- A partir daqui, estamos de luto. - disse Mitch.
Os seis entraram na carruagem que os esperavam à porta de Hogwarts. Mitch sentia um aperto no coração. Voltar para Sligo não estava em seus planos para o meio do ano, ainda mais para ver os funerais de seus pais. Olhou para o lado e viu seus irmãos mais jovens. E esse olhar o explicou porque ele tinha que ser forte:
- Enya parecia que tinha sido drenada por um dementador. Ela estava triste e cabisbaixa, diferente da Enya alegre, espevitada e jovial que Mitch conhecera. Já Cedric parecia tentar ocultar uma revolta que Mitch sabia que ele tinha em seu coração. Os amigos Harry, Mione e Rony também pareciam bem calados, como respeitando a dor dos três irmãos ruivo-sangue da Irlanda.
A primeira conversa aconteceu quando eles já estavam no Expresso de Hogwarts, indo à Plataforma 9 e Meia:
- Rony, vou pedir um favor para você! - disse Mitch
- Qual? - disse Rony
- Tente não demonstrar surpresa com as coisas dos trouxas...
- Ah, qual é, Mitch? O Harry sabe que eu não tenho problemas com as coisas dos trouxas. Até mesmo sei usar um feletone!
- Ah, Rony! - disse Mione, rindo - Acho que é telefone o que você queria dizer!
- É! É isso mesmo! - disse Rony, encabulado.
- Na verdade, nós vamos viajar com meu irmão Angus de carro até o Norte e de lá vamos de balsa até a Irlanda do Norte, atravessando a fronteira com a Irlanda e chegando em Sligo, aonde fica Caer Slaeun, aonde serão os ritos funerais de meus pais.
- E como o Angus irá levar a todos nós? - perguntou Enya, lembrando do velho Sedan preto de Angus.
- Na verdade, aquele Sedan não é o único carro de Angus. Ele também tem uma pequena van que vai dar para levar a todos. Eu já avisei a ele que iremos ter companhia por obrigatoriedade de Hogwarts.
- Bem, Enya, Cedric, acho que vocês sabem que não poderemos usar as magias, exceto em caso de extrema urgência. - disse Mione.
- Não precisa passar sermão! - disse Cedric cabisbaixo.
- Cedric... - ralhou Enya.
- Tudo bem, Enya. Teu irmão tá certo. Acho que eu é que deveria ter sido mais discreta.
- Eu é que tenho que pedir desculpas! - disse Cedric.
- Aquilo surpreendeu Mitch. O restante da viagem, foram conversando amenidades e dividindo chocolates. Aquilo parecia ter animado um pouco os irmãos irlandeses, tirando-os da depressão. Chegando na estação, foram pegos pelo irmão Angus que os levou até sua casa no subúrbio de Londres. Por dentro a casa parecia muito maior do que por fora.
- Anya, a casa de vocês é enorme! - disse Enya.
- Na verdade, apenas a encantei por hoje para caber todo mundo! - disse Anya, que agora todos perceberam estar com o cabelo amarrado por uma fita preta, obedecendo o ritual funeral dos irlandeses.
Todos comeram sem animação e foram dormir. Mitch começou a pensar, então, no que estaria mudando dali por diante.
