Capítulo 12: O Funeral, a União e o Wake


Os dias até a chegada dos corpos de Andrea e John McGregor passaram rápido. Rony e seus amigos divertiam-se com os irmãos McGregor: era muito bom poder voar em campo aberto, sem ter que se preocupar com trouxas (árvores protegiam os arredores da fazenda). Isso sem falar nas caminhadas e na pescaria em um lago próximo. Apesar do frio, dava para pescar e nadar no lago e realizar caminhadas em cavalos treinados para não temerem os bruxos. Além disso, Mitch tinha jogos de xadrez de bruxo em seu quarto para eles se divertirem com as surras homéricas que Rony invariavelmente aplicava neles, mesmo quando mais de um jogava contra ele. Mas essa felicidade não desviava Mitch dos momentos duros que se passariam em alguns dias. Mitch seria o Tocheiro. Ele iria acender a pira para queimar os corpos de seus pais, no final dos ritos funerais McGregor. Era sua responsabilidade como filho mais velho de descendência mágica (ou seja, com a Marca).

Naquele dia, acordara cedo e descera as escadas. Na verdade, seus olhos denunciavam a noite mal dormida. O velório de seus pais estava acontecendo no andar térreo, embaixo do primeiro andar aonde ficavam os quartos. Ramon e sua noiva, a bruxa mestiça Medea Adler ficavam sentados, tentando não demonstrar tristeza: curiosamente, Mitch descobriu que Medea formara-se em Hogwarts por Sonserina. Mas ela parecia uma garota agradável, tendo como pior problema o ciúme, e mesmo assim nem tanto. Já Anya e Angus ficaram do lado dos corpos o tempo todo: Angus não transparecia dor alguma, mas Mitch sabia que isso era por causa de seu treinamento como guarda da abadia de Westminster (eles muitas vezes não podiam sequer se mexer ou até mesmo sorrir quando em guarda, mas Angus já tinha trocado essa comissão por uma melhor). Enya e Cedric não estavam no salão: os dois não conseguiam ficar perto dos corpos dos pais mais que alguns segundos sem terem que sair correndo de tristeza. Mitch desejava ter essa liberdade, mas tinha que ficar ali. A expressões de espanto e de terror de seus pais estavam estampadas nos rostos mortos. Aquela visão era suficiente para enlouquecer uma pessoa normal. Mitch mesmo não sabia de onde tirava forças para suportar a dor da visão.

Um padre local amigo de Elric, Andrew O'Daggerty, foi chamado para fazer a extrema-unção dos dois: ambos eram católicos, embora Andrea fosse católica romana e seu pai católico celta. Andrew sabia do sangue bruxo de Elric, mas o considerava um bom vizinho, e um fiel servo de Deus, temente a Ele e seguidor de seus Mandamentos. Além disso, os católicos celtas possuem menos preconceitos quanto à bruxaria: boa parte dos católicos celtas eram descendentes de famílias cujas linhagens desciam até os antigos druidas e sacerdotisas celtas, como era o caso dos McGregor.

Mitch observou Harry, que estava vestido com roupas irlandesas, que seu avô deu a Harry ao perceber como suas roupas trouxas eram demasiadamente largas para ele (Harry depois contara que todas elas eram roupas usadas de seu primo Duda, filho dos seus tios Dursley, e que era do tamanho e peso de um filhote de elefante): uma camisa branca de algodão, uma calça vermelha xadrez de flanela e um quepe do mesmo tecido, com suspensórios de cor negra para apoiar a calça. Ele estava sentado ao lado de Mione e de Rony ao redor de uma mesinha no canto da sala. Os três estavam tomando chá preto e comendo pão de centeio caseiro, com um pouco de ovos e salsichas fritas como café da manhã. Eles tinham uma cara melhor que a de Mitch, dormindo um pouco mais descompromissadamente que ele, embora também não tivessem muito felizes e respeitavam a dor dos McGregor. Ele foi até eles e começou a conversar:

- Bom dia, gente.

- Mitch, você está mal! - disse Rony.

- Não consegui dormir direito. Acho que não vou agüentar. - disse Mitch, apanhando ovos e pão de centeio e servindo-se de café que tinha em um bule de prata, ao lado do bule dourado de chá preto.

- O que? - disse Harry

- Ser o Tocheiro...

- Como assim? - perguntou Rony.

- Normalmente, em nossa família, não enterramos os mortos: nós os cremamos, ou seja, queimamos seus corpos. E na família, o primeiro filho tem como incumbência acender a pira dos pais. No caso nosso, deveria ser Angus, mas por causa da Marca, mudou-se essa tradição para que fosse o filho mais velho com descendência mágica...

- Que, no caso, é você! - disse Mione.

- Sim. Mas só de pensar em ter de atear fogo nos corpos dos meus pais, eu fico gelado...

- Só tem um jeito: você tem que pensar que eles NÃO VÃO mais voltar...

- Mione! Isso lá é jeito de falar? O cara tá na pior e você ainda esculhamba o cara? - disse Rony.

- Não fica bravo com ela, Rony! - disse Harry.

- Mas, Harry...

- Rony, o Harry e a Mione têm razão... - disse Mitch, acalmando os ânimos.

Depois Mione voltou a falar:

- Como eu ia dizendo: você tem que pensar que eles NÃO VÃO mais voltar, e que isso é tudo que você pode fazer para os homenagear agora, Mitch.

- Sei, Mione, mas isso continua me deixando com o estômago virado. - terminou Mitch.

Naquela tarde, uma grande pira foi preparada e os corpos de Andrea e John McGregor foram colocados na pira. O senhor Weasley chegara, como prometera, no finzinho daquela tarde, a tempo de ir até um local no gramado à frente da casa grande de Caer Slaeun, a meio-caminho do corujal e dos campos de centeio. Como combinado, trouxera um prato de comida (no caso, um enorme e maravilhoso pudim de pão feito pela Sra. Weasley). Nenhum dos outros Weasley veio, assim como mais ninguém: seguindo o desejo de John e a vontade de Elric, a cerimônia foi reservada apenas a alguns poucos, no caso o próprio Elric; os filhos de John Angus, Ramon, Mitch, Enya e Cedric; o Sr. Weasley, que representava o Ministério da Magia; os acompanhantes de Mitch e seus irmãos Harry, Rony e Mione; Anya Kievchenko, mulher de Angus, junto com o neto de John, Mikhail; Medea Adler, noiva de Ramon, noivado oficializado nessa triste situação; e alguns funcionários de Caer Slaeun mais próximos da família, quase todos bruxos, como Sean McAllister e Loreena DeMorgan.

Mitch observava o céu começar a se por: tão logo os últimos raios tivessem desaparecido, o rito da cremação de seus pais começaria. A ansiedade corria seu corpo: parecia que, a qualquer momento, seu estômago ia sair para fora. Os raios de sol desapareciam lentamente, assim como a coragem de Mitch. Porém, chegando a hora, ele respirou fundo e anunciou:

- Amigos, parentes, estamos aqui hoje para cumprir os ritos funerais de John e Andrea McGregor, bons professores, pesquisadores aplicados, bons filho e nora e bons pais. Muitos poderiam dizer que eles eram tudo isso que eu disse e até mais, mas eu apenas tenho uma coisa a dizer...

Mitch pegou a tocha e disse:

- John, Andrea... mãe, pai... descansem em paz.

Mitch então colocou fogo na pira em pontos específicos, correspondendo aos quatro pontos cardeais, começando pelo norte, e andando no sentido horário, como rezava a tradição. Depois de atear fogo à pira, fogo que formava uma cruz celta traçada no chão, e deixar a tocha junto à pira, aproximou-se de seus irmãos. Enya estava com uma cara péssima: não estava dormindo direito e tinha pesadelos constantes. Cedric também não estava legal: estava mais magro e fraco, à beira de um colapso nervoso. Pegara um saco de pano, enchera-o com areia e começara a socar e chutar o saco, até que o saco explodiu. Os dois encostaram a cabeça no peito de Mitch e começaram a chorar de forma leve e convulsiva. Mitch abraçou os dois, também desejando chorar, mas resistindo. Ele precisava ser forte:

- Acabou... - disse ele baixinho.

- Então... - disse Enya.

- Sim, Enya. A partir de agora, somos nós e nós. Cedric, Enya, vamos conversar...

- Sim. - disse Cedric que, para espanto de Mitch, perdera a capacidade de opor resistência às suas críticas e ordens.

Iam sair, quando seu avô disse:

- Mitch, você não...

- Preciso falar com os dois a sós um pouco. Vovô, o que eu precisava fazer aqui já fiz...

- Tudo bem, Mitch. Confio em você. Logo será o wake, então talvez seja melhor realmente conversarem e colocarem as diferenças no lugar.

Os três iam voltando para Caer Slaeun, aonde alguns funcionários preparavam o wake, o ritual de separação e revivamento dos irlandeses. Harry percebeu isso e disse para Mitch:

- O que...

- Desculpe Harry, mas tenho que ir sozinho. Tenho que conversar à sós com Cedric e Enya, tirar as diferenças, zerar o cronômetro, nem que tenhamos que sair na porrada para isso! Tenho que fazer isso por mim, por eles, pelo vovô e por meus pais. E tenho que fazer agora, antes do wake de meus pais.

- Tudo bem... - disse Mione, que estava emocionada com aquilo tudo. Mesmo aparentando o contrário, Mione tinha mais coração do que aparentava.

Os três cobriram o caminho até Caer Slaeun, aonde entraram por uma porta dos fundos e foram até o quarto de Mitch. Os três sentaram-se no chão mesmo:

- Olha, gente... Posso ter falhado demais, mas sempre foi para fazer com que vocês dois ficassem unidos...

- Bem, isso não foi muito o que aconteceu... - disse Cedric.

- Foi porque você não deixou, seu cabeça-dura. - disse Enya.

- Calma, Enya... Eu realmente falhei, mas nunca desisti, e você sabe disso, Cedric...

- Bem, não posso dizer que você não tentou. Mas é que para mim é difícil pensar que sou da Casa Rival de vocês: pombas, vocês são de Grifinória, e eu sou da Sonserina.

- Mas antes de tudo, seu xarope, você é nosso irmão! E que irmão ia deixar outro isolado, seu mané? - disse Mitch, sorrindo.

- Tem razão. - disse Cedric - Eu é que estava envolvido naquela atmosfera de rivalidade entre Grifinória e Sonserina. Na verdade...

- ... você extrapolou sua rivalidade comigo, né, seu mané? - disse Enya.

Cedric ficou com o rosto tão vermelho quanto o cabelo, de vergonha:

- Tem razão. Mas é que... sempre vi você tendo muitos amigos e tudo o mais...

- É que é parte da natureza da Enya, Cedric. Nem eu nem você temos essa capacidade de fazer as pessoas gostarem de nós, entendeu? Mas você também tem boas características: você tem uma garra que impressiona. A professora McGonagall vive me falando que você é um dos melhores alunos de Transformações. Pombas, é só você aprender a se entender. Ou você acha que é fácil para mim lidar com o Sangue?

O silêncio se abateu, até que Cedric respondeu, com um sorriso:

- Tem razão! - disse, oferecendo a mão à frente - Unidos?

- Unidos! - disse Enya, dando o primeiro sorriso desde que seus pais morreram.

- Unidos! - disse Mitch, vendo que, naquele momento, conseguira fazer o que tentara desde que seus irmãos foram separados pelo Chapéu Seletor.

Os três desceram as escadarias, aonde já estava acontecendo o wake: comidas e bebidas estavam sendo servidas, e todos falavam as melhores e mais inusitadas coisas das quais os presentes se lembravam e que envolviam os falecidos.

- Ei, Angus? - disse Ramon - Lembra de quando você assumiu posto na Abadia de Westminster?

- É! Quando papai foi em Londres ver a primeira vez em que assumiria posto, um cara estranhou ele ser irlandês e estar lá e chamou a Scotland Yard, acusando-o de ser um terrorista do IRA, só porque carregava uma grande e pesada mochila. Meu Deus, até explicar que focinho de porco não é tomada, que aquela bolsa tinha apenas roupas e equipamento de camping... Também o papai foi lá e pegou o cara e encheu-lhe a mão na cara com um belo direto de direita irlandês que o cara ficou vendo estrelas uns três dias, Ramon.

- Ei, Mitch, chega aqui! - disse Rony.

Rony estava observando um jogo de xadrez trouxa:

- Vamos jogar?

- Vamos, mas você não vai gostar... - disse Mitch, com um leve sorriso.

Os dois passaram a jogar com o velho conjunto de peças em mármore e jade que seu pai comprara no Peru. Claro que Rony ficou desconcertado: as peças não falavam e nem se mexiam. Mitch aproveitou a ocasião para aplicar uma surra homérica em Rony no xadrez:

- Xeque-Mate! - disse Mitch, fechando o rei de Rony no canto.

- Mas que droga! - disse Rony, que odiava poucas coisas como odiava perder no xadrez.

- Viu? - disse Mione, rindo - Você só vence porque tem ajuda das pedras no xadrez de bruxo!

- Ah, é? - disse Rony - Vejamos então. Que tal você jogar comigo?

- Tá legal!

Passado o susto inicial, Rony voltou ao seu nível habitual, massacrando Mione em uma partida rápida:

- Viu? Não é só as pedras: é o jogador. - disse Rony, com um sorriso irônico.

Os quatro riram, enquanto Cedric e Enya estavam correndo pela sala, brincando de pique um com o outro e com as duas bruxas Anya e Medea, enquanto Angus, Ramon, Elric e o senhor Weasley ficavam entretidos em um pouco de uma típica mesa de poker irlandesa, regada a cálices de conhaque e canecas de poteen (a poderosa e ilegal cerveja artesanal irlandesa). Mikhail dormia em um canto, ocasionalmente exigindo a atenção de Medea, Enya e Anya, que suspendiam suas brincadeiras para cuidar do neto do falecido John e bisneto de Elric, enquanto Sean, Loreena e outros empregados da fazenda conversavam entre si, tomando taças de poteen e contando casos em gaélico. Aquilo estava sendo ótimo para Mitch: claro que isso não curara a dor de perder os pais, mas ao menos cauterizava a ferida, o que impedia ele de sentir mais dor do que estava sentindo.

Conforme foi passando o tempo, muitas coisas aconteceram no wake: todos experimentaram o pudim de pão que a Sra. Weasley havia mandado. Angus contou algumas histórias sobre John e Andrea McGregor, entre outras coisa mais.

Enquanto Enya tocava, três corujas, uma branca como a neve, uma negra como a noite e última marrom como a terra entraram em Caer Slaeun. Mitch as reconheceu de cara:

- Odin? Zumbi? Neil? O que vocês estão fazendo aqui? - disse Mitch.

Ele recolheu os bilhetes de cada uma delas e leu:


"Mitch,

Fiquei sabendo o que aconteceu a seus pais pela Helen e pelo Carlos. Sinto muito! Sei o quão duro é não ter pais.

Espero que você não esteja chorando. Se tiver, eu vou te arrebentar! Brincadeirinha...

Estou torcendo para o Cedric não estar tentando nenhuma gracinha com você. Se ele tiver tentando, avisa para ele que eu arrebento ele a hora que ele pisar no Salão Comunal aqui da Sonserina! Brincadeirinha de novo...

Saiba que você tem amigos que muito lhe querem e que torcem para que só aconteçam coisas boas com você.

De sua amiga de sua Casa Rival,

Erika Stringshot."


- Aí está, Mitch! - disse Mione, brincando - Você realmente conseguiu uma amiga em Sonserina!

Mitch sorriu, lembrando que essa é uma coisa muito difícil. "A sorte de Mione foi que ela disse isso longe de Cedric", lembrou Mitch, enquanto lia a mensagem trazida por Zumbi:


"Salve, Mitch:

Espero que a coisa esteja legal pro teu lado. Parece que a parada é dura, o processo é lento e o negócio é nóia, mas espero que você esteja legal. Espero também que seus irmãos estejam bem. É dureza perder os pais, mas acredito que você está passando por tudo isso numa boa.

A galera amiga do Harry tá mandando um abração. Os gêmeos Weasley estão perguntando se não tem como aproveitar a viagem e trazer mais "sapatinhos irlandeses"... (hehehehe) A Angelina e a Alicia estão torcendo para você chegar logo, pois o jogo de quadribol será daqui a duas semanas, contra Lufa-Lufa (aproveitando a ocasião: a Sally Wittlesbach e seus irmãos mandam os pêsames também, e ela pede para você não pegar leve com ela no jogo dos juniores da Lufa-Lufa).

Jah rastafari pra você, mano, em nome de toda a nossa galera do 2º Ano de Grifinória e de seus amigos aqui em Hogwarts!

Carlos Amaral"


- Sempre o mesmo Carlos! Alegre e positivo! - disse Mitch, com um sorriso de alegria de quem se sente apoiado.

- E a da Neil? - disse Rony, reconhecendo a coruja marrom.

Só pode ser de uma pessoa!


"Mitch:

Espero que você esteja legal.

Deve estar sendo difícil suportar a dor de ter perdido os pais, mas eu espero que você esteja legal.

A professora McGonagall perguntou para mim se você estava bem. Parece que todas as suas lições estão em dia. O Snape pediu para eu dizer que você foi "razoável" em seu trabalho sobre poções de esquecimento ("razoável" do Snape... Meu, você é muito sortudo!). O professor Yanaga simplesmente adorou seu trabalho sobre estilos aberto e fechado em Artes Marciais trouxas e sua influência no uso da magia para combate, tanto que usou o seu trabalho em sala de aula! Os outros professores também vem falando bem de seus trabalhos. Acho que você vai estar bem preparado para retomar as aulas quando voltar.

E eu estarei te esperando, para ser, como dizia aquela música trouxa, ser a pessoa que vai te apoiar nesse momento difícil.

De sua amiga e (espero) namorada.

Helen Ebenhardt"


- Ah, tá namorando! - disse Enya, ao ler o final da carta por trás de Mitch. - Tá namorando!

- Enya, sua tonta! - disse Mitch, sorrindo - Porque você veio aqui?

- Queria saber se você quer que eu toque aquela música que você adora. - disse Enya, harpa na mão.

- Agora não, Enya! - disse Elric, aproximando-se. - Está na hora das Prendas.

Mitch aproximou-se. Sabia o que seu avô queria dizer com aquilo: era a hora na qual todos pegavam alguma coisa do falecido, ou falecidos, e carregava consigo. Aquilo era o encerramento do wake, aonde os objetos eram levados por todos, para que as histórias do falecido alcançasse os mais longínquos lugares do mundo.

- Mitch, você é o primeiro a pegar, segundo a tradição, por ser o filho mais velho com a Marca. - disse Elric, apontando uma pilha, aonde estava uma série de objetos de seus pais - Pegue três deles. Depois será a vez de Angus, como mais velho no geral, e depois os objetos serão divididos por mim entre todos.

- Vovô, a chave da casa de Belfast está aí?

- Sim!

- Separe-a.

Elric recolheu de um colete marrom um molho de chaves, e ia entregá-lo a Mitch quando:

- Dê a Angus.

- Como?

- Ele tem família. Vai precisar mais disso do que eu.

- Mas...

- Por favor, vovô, não me peça para explicar.

E ele, embora alegremente confuso, não perguntou o porque do gesto de Mitch, enquanto entregava a chave da casa de Belfast para Angus.

Então Mitch foi até a pilha. No meio de uma série de quinquilharias e objetos diversos de seus pais, ele viu o notebook aonde seu pai colocava as informações sobre as pesquisas que fazia, guardado na mesma velha pasta. Ele adorava brincar com aquele notebook, o que acabava quase sempre resultando em seu pai lhe dando algumas palmadas na bunda. Claro que aquilo lhe trazia boas lembranças. Então ele o apanhou e o mostrou a seu avô.

Em seguida, encontrou um livro de capa de couro marrom. Abrindo-o, viu escrito "Diário de investigação: Torre de Ma'at". Mostrando-o para seu avô, também o escolheu.

O último objeto que ele escolheu foi um canivete suíço que seu pai tinha e do qual gostava muito, mas muito mesmo: gostava de brincar com ele quando seu pai permitia e cansara de cortar o dedo nele quando criança. Mostrando-o, escolheu-o para si.

Depois foi a vez de Angus que pegou alguns objetos mais práticos: além das chaves da casa de Belfast, às do carro de seu pai e um telefone celular que o pai dele tinha.

Depois, Elric foi permitindo que cada um, por sua vez fosse pegando os objetos um a um e separando-os para levarem. Claro que cada um foi pegando os objetos que mais interessavam: Mione foi pegando os livros de arqueologia, Rony apanhou um jogo de xadrez de pedras russas do século XIX, entre outras coisas. Harry pegou um canivete igual ao de Mitch e uma bússola. Já Arthur Weasley pegou todos os objetos trouxas que pode: ele adorava colecionar objetos esquisitos dos trouxas e a filmadora, a TV portátil e o discman foram muito interessantes:

- Todos funcionam a base de ecleticidade, não é, Mitch?

- Se o senhor está querendo dizer eletricidade, Sr. Weasley, o senhor está certo.

A câmera fotográfica digital foi para Mitch. Mione pegou o livro de lendas celtas. Harry decidiu pegar o relógio de pulso digital. Rony foi no estranho broche em forma de escaravelho de ouro. Enfim, cada um foi pegando aquilo que mais agradava. Enya tinha também pego algumas tiaras, broches, pulseiras e brincos antigos que sua mãe utilizava. Cedric optara pelas antigas espadas orientais que seu pai guardara.

Após todos os objetos terem sido distribuídos, Elric tomou a palavra e disse:

- Cada um dos aqui presentes pegou para si os objetos que achava que eram convenientes e que lembravam os mortos a quem festejamos hoje. Porém, devem saber que, como tudo em um rito funeral, cada passagem possui um significado. A cremação permite que a alma de nossos irmãos subam aos Céus e que se aproximem de Deus. Já o wake é o nosso desejo que as histórias e os exemplos de nossos irmãos que partiram para a Outra Vida sejam espalhadas pelo mundo. E é isso que quero que vocês façam: olhando esses objetos, quero que se lembrem de como eram eles, de como eles viveram, do que eles significavam para vocês. E, dessa forma, eles sempre estarão vivos em nossa mente.

Depois disso, todos voltaram à festa. Enquanto Enya tocava "Greensleeves", Mitch foi pensando em que seu avô falara. E decidiu que era hora de assumir suas responsabilidades como "suporte" de Enya e Cedric. Custasse o que custasse.