Capítulo 14: O Salvamento
O clima tornava-se cada vez mais frio, o que indicava a proximidade do Natal. As aulas tornavam-se muito problemáticas, principalmente as de Snape, que eram nas masmorras. A grande vantagem de Mitch era que agora podia realmente concentrar-se nas aulas: seus irmãos se davam bem e estavam unidos. Claro que a Sonserina não gostava nada daquilo, tirando algumas exceções, como Erika e Annete: para os sonserinos, Cedric tinha que renegar seus irmãos grifinórios apenas por serem de Grifinória. E Cedric sofria com o preconceito de seus colegas de casa, contando apenas com a amizade de Anya Kirnikova, do Orfanato de Erika: Anya, sendo despejada, também contava com o preconceito dos sonserinos e via em Cedric um companheiro e aliado.
Mas isso também levou Cedric, assim como Mitch fizera no ano anterior e fazia naquele ano, a confiar em gente de outras casas: o grupo de estudo típico de Cedric era ele, Enya e Anya Kirnikova; Alanis Ahern, Thomas Fresno e Doris Struve, de Lufa-Lufa; Boris, Anastasia e o português do Orfanato João Paulo Martins, todos de Grifinória; e Hsien-Kwang Yuh e Esther Weiner de Corvinal.
Mitch também estava em um grupo semelhante: os seus amigos do ano passado receberam o reforço de Annete Wilkinson, da Sonserina, dos Trigêmeos Wittlesbach, da Lufa-Lufa e de Teo Fiorucci e dos gêmeos Augustin de Corvinal, além de dois representantes das outras escolas: Nakuru Hiiragisawa da Academia Arcana e Gustavo Freire do Liceu.
O feriado de Natal se aproximava e Mitch assinou a lista para ficar em Hogwarts, assim como Helen, Carlos, Dennis, Wanda Willtaker, Enya, os irmãos Kievchenko, além de Harry, Mione e dos Weasley, por Grifinória. Em Sonserina, Erika, Cedric e Annete foram os únicos a assinar. Os trigêmeos Wittlesbach, Alanis Ahern e Doris Struve ficariam pela Lufa-Lufa, e Teo Fiorucci ficaria em Corvinal.
Ou seja, o Natal prometia ser fantástico: só gente que se dava bem, exceto pelo pessoal das outras escolas.
Cada uma delas criara algum tipo de acampamento para os alunos. No caso, o Liceu montou algo que lembrava um quilombo próximo à orla da Floresta Proibida. Os alunos do Instituto de Bruxaria de Salém ficavam em uma espécie de porta-aviões trouxa que estava ancorado no Lago de Hogwarts, e o pessoal da Academia Imperial ficava em uma espécie de cidade medieval japonesa construída do outro lado do gramado de Hogwarts.
O que preocupava Mitch era a arrogância dos alunos do Instituto de Bruxaria de Salém. Eles conseguiam realmente ser chatos! Nenhum deles dava valor a nenhuma das casas de Hogwarts, achando-as "menores". Mesmo sonserinos realmente chatos como Draco Malfoy conseguiam achar os caras insuportáveis.
Isso foi até que certo dia, já no recesso de Natal, Mitch resolvera passear com Enya, Helen, os Kievchenko, Carlos e Erika. Eles tinham acabado de almoçar e tinham conduzido Nakuru e Gustavo até seus acampamentos. O frio que fazia era de rachar, e todos utilizavam as vestes de inverno mais pesadas que tinham à disposição em seus guarda-roupas. Eles então foram até uma árvore próxima ao lago; mais exatamente, a árvore aonde Mitch ficara no último dia do ano anterior, pensando no que acontecera com ele. Eles sentaram-se e começaram a conversar, olhando o "porta-aviões" do Instituto:
- Cara, já vi gente metida, mas esses caras de Salém conseguem ser as maiores malas. Além disso, são malas pesadas, sem alça ou rodinhas! - disse Carlos, ironicamente.
Foi quando Mitch escutou um grito:
- Socorro! - alguém gritava na direção do lago.
Mitch viu um garoto loiro, que parecia estar se afogando no lago gélido.
- Droga! O que um cara como aquele vai fazer no lago frio? - disse Boris.
- Ele é do Instituto! - disse Helen, reconhecendo o brasão do Instituto Americano de Bruxaria.
- Deixa ele então! - disse Erika, até que todos repararam que Mitch despira-se completamente, ficando apenas de cuecas, e corria em direção do lago, deixando até mesmo a varinha para trás.
- Você tá louco, Mitch? - gritou Anastasia.
- Alguém tem que socorrer aquele maluco, senão ele vai morrer.
- Se você cair na água, quem vai morrer é você! - disse Helen.
Mitch não ouvira isso, pois pulara de uma pedra e mergulhara em uma parte mais funda do lago. E entendeu o que eles queriam dizer com a possibilidade de morrer: se fora da água estava frio, dentro dela estava mais.
Ele começou a ver o cara se afogando, por baixo da água. Continuava batendo pés e mãos, enquanto sentia seu corpo perder temperatura rapidamente. Apanhara o cara e ia rebocando-o rapidamente para a beirada do lago. Mitch sentia que não conseguiria suportar muito tempo sem desacordar. E se desacordasse, seria o fim para ele. Lutando contra o próprio cérebro e contra o frio, não se entregava até que alcançou a margem, quando, ao sair, começou a sentir espasmos: o frio intenso o deixava com calafrios. Seu corpo tremia sem parar. E ele acabou caindo inconsciente...
"Mitch estava em uma floresta, vendo uma poderosa harpa sendo tocada por uma jovem menina de cabelos ruivos e olhos azuis-celeste. Ela vestia uma veste verde pálida, aparentemente feita de brisa, ou algo assim, pois era guirlanda de flores enfeitava sua cabeça, como se fosse uma noiva celta. Em seu vestido pendiam luzes feérica e flores de cores descomunais. A menina sorria e tocava, embora nem esse sorriso e nem a canção fossem de felicidade. Mitch reconhecera a canção que a jovem tocava:
- Goltraí! - disse Mitch, reconhecendo a Canção da Saudade, uma das três canções que apenas os bardos verdadeiros, aqueles que podem ampliar a energia mágica de uma região, podem tocar com verdadeiro poder.
Mitch então viu dois espíritos surgirem de cinzas espalhadas no chão. Um tinha a forma de uma mulher de longos cabelos negros e olhos azuis, de pele bem bronzeada. O outro tinha a forma de um jovem de cabelos loiros e opacos como o trigo e olhos verde-esmeralda, pele castigada do sol. Mitch sentiu as lágrimas surgirem de si.
- Pai! Mãe! Eu...
- Não, Mitch, você não está morto! - disse Andrea, sorrindo. Mitch tentou tocá-la, mas sua mão passou por dentro dela.
- Pai, porque...
- Você terá que ser forte, Mitch! Seus irmãos dependerão de você. Muitas coisas acontecerão a partir desse ano, e foi essa jovem quem nos explicou tudo. Seus poderes serão necessários mais do que nunca, para que você, seu avô, seus irmãos e amigos não esmoreçam com o que há de vir. - disse John.
- Quem é ela? - disse Mitch apontando para a jovem.
- Essa jovem é Brigitte, a Filha, uma das da Trindade Celta, e ela nos permitiu voltar para lhe falar.
A jovem começou a tocar a tocar outra canção, enquanto Mitch olhou para si: estava com as vestes de Hogwarts, mas em sua cintura pendia a Espada do Trevo de Quatro Folhas, que conquistara no ano anterior em aventura, tendo-lhe sido entregue pelos centauros da Floresta Proibida, que cuidavam da mesma.
Mitch sentiu a alegria pulsar de ver seus pais novamente, então ele entendeu que música tocava agora:
- Geantraí! - disse Mitch, enquanto reconhecia a Canção do Júbilo, outra das Canções de Poder dos bardos verdadeiros.
Mitch dançara por alguns instantes junto com seus pais, colocando a espada no chão e executando o step dance, que consistia em, mantendo o corpo duro da cintura para cima, fazer complexos movimentos com os pés enquanto pulava. Sua mãe observava-o, dançando com castanholas, executando os passo da dança flamenca, acompanhada por seu pai, até que, uma hora, Mitch viu seus pais começarem a perder a pouca substancialidade que tinham.
- Pai! Mãe! Vocês...
- Mitch, não estamos mais vivos! Você precisa entender isso! Nosso tempo nesse mundo aonde você está acabou, mas queria que você soubesse que amamos você e que estamos vendo seus esforços para manter seus irmãos unidos, mesmo com a adversidade de terem sido separados pelo Chapéu Seletor... - disse Andrea.
- Como a senhora sabe do Chapéu Seletor?
- Seu avô me contou pouco antes de nossa morte! Por isso, agora, mais do que nunca, você tem que justificar seu sangue McGregor. Lembra do lema de nossa família? - disse John.
Foi quando um jovem, de uns vinte e cinco anos com cabelos ruivos cor de rubi em corte feérico (semelhante ao corte militar, mas com os cabelos arrepiados para cima no meio da cabeça) e olhos verde-esmeralda, apareceu. Usava uma túnica encarnada com o brasão de Hogwarts de um lado e do outro um brasão extremamente familiar para Mitch: um trevo de quatro folhas sobre um fundo amarelo-ouro, no qual cruzavam-se a cruz celta, a espada e a flecha. Mitch reconheceu na hora o jovem:
- Vovô? O senhor também...
- Não, Mitch, não morri! Mas eu não sou o Elric que você está acostumado a ver. O que você está vendo é o meu eu passado! - disse o jovem Elric - O Auror e professor de Defesa contra a Arte das Trevas de Hogwarts Elric McGregor.
- Mas o que...
- Lembre-se, Mitch, o covarde não é o que recua, e sim o que desiste. Se você desistir de alguma coisa, algum dia, aí sim você estará trazendo a covardia e a traição para o sangue da família McGregor.
- Então é isso! O senhor...
- Vim lembrar você de nosso lema: "Covardia não é recuar, e sim desistir!"
- Obrigado, vovô! Obrigado, papai, mamãe! Vou ser forte, por vocês, por Enya, por Cedric, por mim e por meus amigos!
As três formas desapareceram em uma tênue fumaça, enquanto uma nova canção saía da Harpa de Brigitte e Mitch começava a sentir sono. Mas um sono gostoso, como se estivesse sendo acalentado por sua mãe, ou balançado no colo de seu pai. Uma alegre e saudosa sensação, que revelou para Mitch o nome da canção:
- Suantraí! - disse Mitch, mencionando a Canção de Ninar, a última das poderosas Magias Bárdicas.
Mitch começou a ver o local aonde ele estava desfazendo-se em névoa, enquanto ele próprio caia na penumbra do sono."
Mitch acordou em uma cama com dois ou três cobertores pesados o cobrindo. Sentia seus músculos parcialmente paralisados, duros. Sentia a coriza em seu nariz e o ardor nos seus olhos. Viu que a seu redor estavam os irmãos Kievchenko, Erika, Carlos, Helen e Enya:
- Até que enfim você acordou! Você quase nos matou de susto. - ralhou Helen.
- O que... atchim... aconteceu? - disse Mitch.
- Você quase se matou para salvar aquele garoto do Instituto de Salém. E o pior: o pessoal dele não quis saber de o salvar ou de vir aqui o visitar. - disse Boris
- Ele... atchim... está aí?
- Sim, ele está aí ao seu lado. - disse Enya.
Mitch viu o garoto: agora percebera que o garoto era mirrado, baixinho, com um rosto gordo e redondo. De certa forma, lembrava a Mitch Neville Longbottom. O garoto estava despertando naquele momento, voltando lentamente à consciência.
Mitch sentia toda a sua musculatura doer conforme ele virava o corpo para ver o garoto. Ele vira agora o rosto triste dele.
- Ei, garoto. - disse Mitch.
- Aannn... Onde... atchim... estou?
- Você está na Ala Hospitalar de Hogwarts. Como você se chama? - disse Mitch.
- Higgenbotham. Jonathan Higgenbotham. E você? - disse o garoto.
- Mitch McGregor. Pode me chamar apenas de Mitch. Você fez a Seleção?
- Não. O Instituto achou que era besteira. Eu sou da Catskill.
- Catskill? O que é isso?
- É a minha Irmandade. Acredito que seja o mesmo que suas Casas.
"O Instituto é dividido em quatro Irmandades. Catskill é a minha, aonde ficam as pessoas que ousam sonhar e mudar. Temos como símbolo o coiote.
Sigma é a Irmandade aonde ficam as pessoas mais inteligentes e estudiosas, cujo conhecimento é tudo. Seu símbolo é a coruja.
Galleus é a Irmandade dos que prezam a amizade e a honra. Seu símbolo é o urso pardo.
E a última é Gilgul. Os de Gilgul são desejosos de poder, mas são unidos e honrados. Seu símbolo é o lobo."
- E porque você pulou no lago gelado?
- Os meus irmãos da Irmandade decidiram que alguém tinha que ver como era o monstro marinho de Hogwarts. Eu pensei que não teria problemas, pois sou bom nadador...
- Não foi o que pareceu, Higgenbotham...
- Pode me chamar de Nathan, é como todos me chamam em Catskill.
- Não foi o que pareceu, Nathan!
- O problema é que não imaginava que o lago fosse tão gelado. Por algum motivo, tão logo cai no lago, minhas pernas congelaram e eu entrei em pânico. Eu vi vocês na beirada do lago então pensei em gritar por socorro. Depois que gritei, imaginei que tinha cometido uma besteira: vi que todos ali eram alunos de Hogwarts. E sabia que os alunos de Hogwarts não gostavam dos alunos do Instituto. Parece que foi por causa das críticas do pessoal da Gilgul. Parece que eles entraram em atrito com o pessoal da Sonserina. Mas quando vi você correndo e tirando sua roupa, imaginei que alguém iria me salvar. Mas não imaginei que você correria tanto risco para salvar alguém que é, digamos assim, inimigo...
- Por que você seria meu inimigo?
- Eu sou do Instituto, que tanto criticou vocês de Hogwarts.
- Escuta aqui: você pode ser de quem for, mas você estava correndo perigo. Acredito que se fosse o contrário, você também faria.
Aquelas palavras entraram fortes no coração daquele jovem. As lágrimas correram pelo rosto de Nathan Higgenbotham. Mitch se preocupou e disse:
- O que houve?
- Sinto falta de minha família, do meu país, da minha escola! Estou em uma terra estranha, com gente estranha próxima! E não posso nem contar com os meus companheiros da Irmandade. Eles me acham um erro. Eu não consigo ousar, nem sou um transgressor de regras como eles...
- Espera aí! - disse Erika - Transgredir regras não é o mais importante. O mais importante é você ser quem você é!
- Mas como...
- Já sei como.
Mitch pediu para que a Madame Pomfrey chamasse Dumbledore. Quando o diretor de Hogwarts chegou, Mitch explicou a situação e disse:
- Acho que seria interessante que o Nathan ficasse conosco na Torre de Grifinória, pelo menos até o retorno dele para Salém... - disse Mitch.
- Acho que o senhor Higgenbotham vai ficar aqui mais tempo do que imaginamos. - suavemente cortou Dumbledore.
- Como assim? - disse Nathan, estranhando.
- Senhor Higgenbotham, o senhor deve saber que Hogwarts solicitou que alunos dessas escolas que desejam ser transferidos para Hogwarts passassem por uma prova.
- Sim, eu mesmo me inscrevi e fiz a prova, mas acho que não tive competência para...
- Bem, já tenho o resultado, e o senhor já deve estar sabendo que o senhor vai ser transferido para Hogwarts. O senhor poderá deixar suas coisas na Torre da sua casa, que já saberemos qual é. Accio Chapéu Seletor! - disse Dumbledore, convocando o Chapéu Seletor, que veio pela janela do quarto e desceu sobre o jovem Nathan.
Alguns minutos se passaram até que a decisão chocou a todos:
- Grifinória! 2º Ano!
- Eu vou para Grifinória? - disse Nathan.
- Mais do que isso, cara, você vai estudar conosco! Vamos ser amigos de classe! - disse Mitch, supercontente.
- Que legal! Professor, e o diretor Willows? Já está sabendo?
- Sim. Semana passada tivemos uma reunião e os diretores das demais escolas ficaram sabendo quais seriam os alunos que iriam permanecer em Hogwarts. Alguns alunos também estão deixando Hogwarts para irem para essas escolas, como o Milo Carter, do 3º ano da Lufa-Lufa, que agora vai para a Irmandade de Catskill do Instituto de Magia, ou como o Takashi Soh, do 1º ano de Corvinal, que irá para o Clã da Garça da Academia Imperial de Artes Arcanas.
- Que bom! - disse Nathan, empolgado - Quando posso... atchim...
- Bem, senhor Higgenbotham, primeiro acho que você e o nosso McGregor aqui deveriam se curar de sua, digamos assim, ousadia. Depois, você poderá ir direto ao seu dormitório, aonde você receberá vestes iguais aos dos alunos de Hogwarts. Os livros serão providenciados para esse ano, mas a partir do ano que vem serão por conta do senhor. Acho que o senhor entende, não?
- Claro!
Aquilo passou a tranqüilizar a todos. Nathan Higgenbotham sentia-se mais feliz: parecia que queria sair a todo custo do Instituto de Bruxaria de Salém. Parecia não sentir-se feliz. E o que estava para acontecer parecia que iria melhorar a vida de Nathan.
