Capítulo 19: A Herdeira da Canção


Aquele final de semana foi muito chato: trancados na Torre de Grifinória, muitos ficaram sem opção do que fazer. Então Mitch continuou pesquisando tudo aquilo, tentando entender qual a relação entre a morte de seus pais e os muito acontecimentos daquele ano: o sonho que teve não lhe revelou muita coisa, mas ele sentia que os ataques dos Bean-Sidhe e Leanan-Sidheestavam correlacionados com a Torre de Ma'at. Ele não sabia explicar porque: sentia que era uma intuição vinda do Sangue Auror. E isso bastava para ele confiar e ter quase certeza.

Na semana seguinte, Mitch saiu de Hogwarts depois das aulas certo dia para descansar. Tudo aquilo estava deixando ele louco. Foi quando ele viu alguém entrando na Floresta Proibida, e teve uma impressão ruim daquilo:

- Droga! Amplia Sensus: Video! - Mitch sussurrou, apontando sua varinha para os próprios olhos. Depois do uso, seus olhos passaram a ter a mesma acuidade de uma águia. Foi quando ele distinguiu Draco Malfoy entrando lá.

- Deamplia Sensus: Video! - disse Mitch, enquanto aproximava-se lentamente da Floresta Proibida. Foi quando ele viu uma forma translúcida, muito bela, aproximando-se dele e dizendo:

- Venha! Não se preocupe, pois não lhe farei mal. - disse a forma, muito bela.

Mitch foi tentar resistir, mas essa voz era tão bela... ele precisava ver se aquilo era verdade...

- NÃO, MITCH! - ele ouviu alguém gritar.

Mitch olhou para traz e viu sua irmã Enya, que estava observando-o a distância. Seu olhar de susto dizia a Mitch que algo ali estava errado.

- Saia daqui, garota! Eu quero ele, depois terei você. - disse a forma.

Foi quando ele se deu conta do que estava para fazer: aquele era um Leanan-Sidhe!

- Você me paga garota! - disse o Leanan-Sidhe, assumindo sua forma verdadeira, a de um elfo de olhos vazados e cabelos lanzudos e armados.

- Ninguém ameaça minha irmã, seu monstro psicótico! - disse Mitch, falando o gaélico, o que assustou o monstro.

- Você não pode ser um Bardo Verdadeiro! - respondeu também em gaélico o monstro.

- Não sou, mas sou irlandês, do Clã McGregor, e vou acabar com você, pelo poder que desce em minhas veias desde as épocas de São Patrício até hoje! - disse Mitch.

- Suas juras nada podem contra mim, garoto! Dê-me sua energia! Entregue-me sua criatividade!

- Nunca! Expecto Creativeus! - disse Mitch.

Algo saiu errado, pois não saiu nada de sua varinha, apenas uma nuvem de fumaça branco-prateada.

- Hahahaha! Eu sabia que você não era um bardo verdadeiro! Agora você irá morrer, tolo mortal.

O Leanan-Sidhe tocou Mitch com seus dedos cadavéricos, sugando aos poucos sua criatividade. Mitch sentiu seu espírito de luta murchar muito lenta e inexoravelmente. Sua energia estava indo embora. Ele sentia que não sobreviveria ao terceiro ataque. Até que:

- NÃO! - uma voz feminina gritou, em gaélico.

- O que? - disse o monstro, também na língua antiga irlandesa, temendo.

Estranhamente, Mitch sentiu toda a sua criatividade e energia voltando rapidamente. Foi quando olhou para trás e percebeu que Enya estava estranha.

Uma aura branco-azulada circundou a jovem McGregor. Ela trazia ao rosto uma serenidade que intimidou tanto o monstro quanto a Mitch. Mitch percebeu que ela estava com os olhos levemente mais iluminados que o normal. Ao mesmo tempo, percebeu que aquela parte do gramado brilhava com um brilho estranho, branco-azulado, como quando recuperou a Espada do Trevo de Quatro Folhas. Ele então sentiu um impulso obrigando-o a levar a mão até a Espada. Sacando-a, segurou a varinha em uma mão, enquanto com a outra segurava a espada. Mitch protegia sua irmã do monstro, que não sabia se avançava ou recuava.

- Enya, o que está... - disse Mitch. Todos os diálogos passaram a ser na língua mãe dos dois jovens nacionalistas católicos irlandeses, o gaélico.

- Mitch, lute! Eu vou lhe ajudar! - disse Enya, com uma suavidade na voz que intimidou e energizou Mitch.

- Tudo bem! - disse Mitch, guardando a varinha e empunhando com ambas as mãos a espada.

- Não pode ser! - disse o Leanan-Sidhe - Não deveria existir mais eles...

- Vá, Mitch! - disse Enya, enquanto ela própria começava a cantar. Uma canção que lhe enchia de alegria, esperança e vontade de lutar.

- Geantraí! - disse Mitch, reconhecendo a Canção do Júbilo. Então Mitch correu em direção do monstro e avançou sem medo.

- O Leanan-Sidhe ainda tentou drenar sua energia, mas era inútil. Quanto mais ele drenava, mais forte Mitch ficava. Ele sabia o que acontecia: suas suspeitas acabavam de se confirmar.

Mitch utilizou a própria espada como varinha e gritou:

- Expecto Creativeus!

Sua forma criativa (a forma de clown) apareceu, mas em um brilho prateado tão intenso que quase cegou Mitch. O Criativo agarrou-se firmemente ao Leanan-Sidhe. Então Mitch decidiu que era hora do coup-de-grace, do Golpe de Misericórdia.

Mitch pegou a espada e saltou. E deu um único golpe.

Foi o suficiente.

O Monstro foi dividido em dois pelo poder da arma. O sangue ectoplásmico pingava no rosto de Mitch, que, pela primeira vez, abatera um monstro. Abatera um ser vivo.

A aura desapareceu e Enya ficou meio tonta:

- Mitch, o que...

- Enya, você não se lembra de nada?

- Mais ou menos: lembro de você estar sendo atacado pelo Leanan-Sidhe e...

- Você não lembra que assustou o monstro com seu poder?

- Sim! - disse Enya, como se sua consciência, ou melhor, como se a consciência de quem ela era, despertasse de uma vez por todas. - Sim! Eu me lembro. Ele fugiu diante do meu poder. Eu então comecei a cantar uma canção que não sabia qual era. Você pegou a Espada do Trevo de Quatro Folhas e empunhou-a e batalhou contra o monstro, exterminando-o com um golpe.

- Sim! - disse Mitch. - E você não sabe qual canção que você usou?

- Não!

- Era a geantraí! - disse Mitch.

- Geantraí? A Canção do Júbilo? Mas como se eu não sabia tocar ou cantar ela?

- O que está acontecendo aqui... Um Leanan-Sidhe! Abatido. - disse o professor Lupin.

- Professor, foi o Mitch que abateu o Leanan-Sidhe para nos defender dele. - disse Enya.

- McGregor, não faz nem uma semana que você enfrentou um Bean-Sidhe e um Leanan-Sidhe! Como o senhor...

- Professor, vou contar tudo nos mínimos detalhes, mas tem que ser em particular!

- Tudo bem, senhor McGregor. Vamos então à minha sala!

Os três foram até a sala do professor Remo Lupin, aonde sentaram-se. Mitch contou a história toda ao professor Remo:

- E foi isso, professor...

- Se o que o senhor está dizendo é verdade, e creio eu que o seja, o monstro tentou fugir de sua irmã...

- Sim. - disse Enya.

- Mas a pergunta é: por que? Porque se formos avaliar, aquele monstro não deveria ter medo de uma garotinha como sua irmã...

- De uma garotinha talvez não, mas de uma Barda Verdadeira...

Os dois, Remo e Enya ficaram chocados:

- Mitch, você acredita que eu seja...

- Enya, você conhece as lendas celtas tão bem quanto eu...

- Mas se ela fosse uma Barda Verdadeira, não poderia ser uma bruxa, ao menos até aonde eu saiba. Pois o domínio de poder de um Bardo Verdadeiro é...

- O glamour feérico... Eu sei, professor. Mas a nossa família McGregor é uma família de mediadores e apaziguadores. Isso porque no nosso sangue corre o sangue feérico misturado ao sangue dos bruxos, formando uma combinação única de poder. Mesmo quando tomamos partidos em grupos mais, digamos assim, radicais, preferimos tomar uma postura de mediação. Eu mesmo, sendo irlandês do Eire, sou contra a divisão da Irlanda em duas partes. Para mim, a Irlanda tinha que ser uma só, uma República unida! Mas sei que é loucura total tentar comprar encrenca com o pessoal de grupos radicais protestantes. Eu sou mais favorável à uma postura como a do Sinn Féin de uma união pacífica. Isso deu-nos vantagens e favores frente aos Daione Sidhe em tempos imemoriais. Eu mesmo pesquisei o que pude antes de tomar essa conclusão. Descobri que Enya vêm trazendo os diversos sinais de um Bardo Verdadeiro desde a infância: empatia, capacidade de cooperação, entre outras. E apenas um Bardo Verdadeiro poderia fazer o que Enya fez...

- O que?

- Utilizar a geantraí com verdadeiro poder.

- A geantraí?

- Uma das Três Canções de Poder: goltraí, a Canção da Saudade, serve para reavivar a chama da nostalgia da nossa vida e nos oferecer apoio nos momentos difíceis. Suantraí, a Canção de Ninar, serve para acalentar as pessoas em um sono de vigor e recuperação. E Geantraí, a Canção de Júbilo que Enya usou, anima as pessoas a fazerem o que deve ser feito.

- Mas o que isso tem a ver? Podem ser canções tradicionais...

- E são, mas elas possuem muito poder. Poder esse que só pode ser usado em seu nível máximo por um Bardo Verdadeiro. E lhe digo, Enya é uma Barda Verdadeira.

- Então foi por isso que você conseguiu invocar um Criativo tão poderoso... O brilho do seu Criativo foi muito grande, Mitch. Para falar a verdade, nunca vi nada igual em toda a minha vida. Mas o que me preocupa é: por que os Bean-Sidhe e Leanan-Sidhe estão tão interessados em atacar Hogwarts.

- Isso eu não sei, professor, mas não é por boa coisa.