"Esse poder especial assustava as pessoas. Tinham medo do que eu poderia fazer. Antes de vir para o Santuário jamais tive amigos, as outras crianças tinham medo por causa dos pais delas."
"Mas haviam pessoas que não me odiavam ou me repudiavam. Haviam pessoas interessadas nessa minha aptidão, curiosas com minha especialidade e eu sempre as atraía. Lembro-me que meus pais não a entendiam, mas sabiam que eu era especial por causa dela."
"Um dia veio um homem a minha casa. Ele tinha os cabelos curtos e escuros, assim como os olhos. Tive medo quando ele pisou dentro de minha casa, mas minha mãe disse que isso não era necessário, que ela me protegeria. Esse homem conversou durante horas com meu pai, mas eu não pude ouvir o que era."
"Não demorou muito e vi meu pai mandar que o homem se retirasse, mas ele apenas sorriu. Lembro de ver minha mãe tremendo, tentando manter-se de pé, encostada na porta. O homem caminhou até ela e disse que ficasse calma, ele não faria nada com nenhum dos dois se me deixassem ir com ele. Mas meu pai disse não e mandou que o homem se retirasse."
"Ele então sorriu e deu um soco tão forte, que meu pai caiu inconsciente no chão. Minha mãe proferiu um grito mudo e cheio de pavor, eu apenas continuei a observ�-lo. Ele fez o mesmo com minha mãe e prendeu os dois em duas cadeiras, uma de costas para a outra."
"As cordas prendiam os pulsos e braços, amarrando firmemente os pés também. Quando meu pai abriu os olhos eu estava sentado no sof�, fitando aos dois, com mil perguntas ecoando em minha cabeça. O homem apoiava as mãos no sof�, uma de cada lado da minha cabeça."
"Ele caminhou até a frente do sof�, meus pais tentaram falar, mas estavam amordaçados e impotentes. Ele ajoelhou-se no chão e passou a mão em minha perna. Eu tentei me levantar e ele me agarrou, abraçando-me por trás. Senti nojo e tentei me soltar, mas ele era muito forte e me colocou deitado de costas no sof�, enquanto segurava minha cabeça e tentava conter minhas pernas que se debatiam."
"Eu gritei desesperado por ajuda, mas só o que meus pais conseguiam era chorar. O homem tirou minha blusa lambendo minhas costas, até chegar na bermuda que usava. Ele me deixou completamente nu e beijou meu corpo, aquilo me fez sentir um nojo tão profundo que meus movimentos cessaram. Ele então sentou no sofá e me puxou para o colo dele, passando uma perna minha de cada lado de seu corpo, segurou meus braços com uma mão enquanto que com a outra ele abria suas calças."
Os soluços aumentaram, Shaka teve vontade de abraçar Mu até aquelas lágrimas passarem, mas controlou-se ouvindo tudo o que o ariano dizia, até ver que ele contaria mesmo o que de fato o homem fizera.
- Mu... não precisa me falar isso... – O virginiano enxugou uma lágrima que teimava em cair de seu próprio olho. – Ele... ele estuprou você?
Rapidamente Shaka arrependeu-se de ter dito aquilo. Mu caiu em um choro tão forte que seu corpo tremia em espasmos violentos. Não sabia se o abraçava ou se chamava Aioria para lhe ajudar.
- Me desculpe... não digo mais isso... – Tentou desculpar-se, mas só o que o tibetano fazia era chorar mais e mais.
Depois de um tempo Mu controlou-se novamente, respirando fundo e levantando-se. Encarou os olhos azuis do amigo e confirmou com a cabeça, sentindo uma dor terrível invadir seu coração.
- E meus pais viram tudo... eles viram e depois ele os matou, na minha frente. Naquele momento eu perdi a fala, vi os dois caírem desfalecidos, cada um com um tiro na testa. Desmaiei e não vi mais nada até o dia seguinte. – Mu enxugou as novas lágrimas, ajeitando-se na cama.
Shaka pareceu incomodado com algo, mas logo sorriu gentilmente a Mu e pediu que continuasse se quisesse. O ariano tentou sorrir e enxugou mais lágrimas.
- Eu acordei sentindo meu corpo doer. Tentei gritar ao ver os cadáveres de meus pais, mas não consegui. Vesti a primeira coisa que vi, uma camisa branca maior do que eu, que me serviu como uma túnica. Vaguei pela cidade durante muitos dias, completamente atormentado e com fome. – Mu baixou os olhos, fitando os lençóis brancos, estava um pouco incomodado com aquelas lembranças. – Até que um dia Saga apareceu bem na minha frente, me puxando pelo braço. Eu não senti medo dele, por isso deixei que ele me levasse pela mão. Quando dei por mim eu estava na Sala do Templo, enquanto Mestre Shion me examinava por trás da Máscara.
- Mu... – Agora fora o ariano quem tivera vontade de um abraço, mas antes que pudesse cair nos braços de Shaka, uma voz rouca atrás de si o fez parar.
- Isso... é verdade? – Aioria fitava-o com os olhos marejados de lágrimas. – Mu...
O ariano abaixou o rosto e levantou-se da cama. Parou bem próximo de Aioria, mas sem encar�-lo. O grego chorava agora, fitando o rostinho inocente e magoado do amigo. Abraçou-o, afundando o rosto no pescoço macio.
- Me desculpa... eu não sabia... – O leonino soluçava, enquanto abraçava o amigo. O tibetano correspondeu ao abraço, sentindo-se bem. – Eu jamais quis te fazer sofrer... não devia ter feito aquilo na minha Casa... me perdoa Mu...
- Você não tem culpa. E eu precisava me lembrar disso... ou nunca vou superar o trauma. – Mu encostou a testa no ombro do grego, deixando as lágrimas despencarem.
Aioria abraçou-o, tentando protegê-lo contra qualquer coisa. Shaka sorriu, ainda sentado na cama, levantou-se e alisou os fios lavanda.
- Mu... estamos aqui para você. Vamos te ajudar a superar isso.
oOo
O tempo havia passado. Sete anos depois da morte de Aioros, o irmão mais novo ainda chorava sua perda e sua traição. Sentia na pele o que era ser conhecido por irmão do traidor, sempre ouvia que seu sangue não prestava, que ele também trairia Athena. Mas ele sempre seguia adiante. Mu sempre estava ao seu lado, bem como Shaka, e os dois lhe davam forças para superar as provocações.
Kamus fora designado a uma missão pelo Santuário, sendo enviado até a Sibéria para treinar duas crianças. Quem não gostou nada disso foi Milo, que não queria ficar longe do francês. Mas o mestre o deixava ir até lá de vez em quando.
Nesse meio tempo, Mu aprendeu a falar e falava muito. Era um garoto feliz, apesar de não ter memória do que lhe acontecera antes de chegar ao Santuário. Estava sempre rodeado de amigos, se não era Aioria ou Shaka, era Milo, Kamus, Afrodite ou até mesmo Shura. Máscara da Morte vivia em seu próprio mundo, cortando cabeças.
A vida no Santuário era boa, melhor do que eles podiam se lembrar. Eram cavaleiros de ouro e nada poderia vencê-los ou se igualar às suas forças, era o que pensavam. E aos quatorze anos isso era uma garantia de que sobreviveriam a tudo.
Mestre Shion ainda era o mesmo homem gentil, que fora no passado e seu irmão Ares, apesar de estranho, não os provocava e nem fazia nada para machuc�-los. Então a vida era segura e feliz.
Mas depois de um tempo, depois de terem convivido e tornarem-se amigos, Aioria começou a sentir algo mais do que especial por Mu. Mas o ariano não deixava ninguém se aproximar. Shaka aconselhou que falasse, assim talvez poderiam resolver juntos, o problema que assombrava o tibetano.
Aioria decidiu que ia falar, que ia conseguir. Mas assim que tentou beij�-lo algo aconteceu na mente perturbada do ariano e as lembranças voltaram. Ele lembrou-se de tudo que houvera antes que Saga o levasse para o Santuário. Lembrou-se do quanto sofrera e sentira dor, lembrou-se do medo e desespero. Mas isso não impediria nunca um leão decidido e obstinado a sair vitorioso.
- Mu... – Ele sussurrou vendo que o amigo dormia em um sono profundo. Agora que lembrara, talvez os pesadelos passassem.
- Deixe-o dormir... está cansado. – O indiano puxou-o pela mão, saindo do quarto e deixando o outro sozinho.
- Shaka... o que vamos fazer? Eu não tinha idéia do quanto ele sofrera, se soubesse eu não...
- Aioria... foi preciso que ele tivesse essas lembranças, vai deix�-lo mais forte e agora quem sabe a gente não o ajuda a superar o trauma? – O virginiano tentou ser positivo, mas estava claramente nervoso com essa idéia.
- Você acha que ele supera? Eu acho que não... se eu tivesse sido estuprado aos sete anos de idade... eu... – Mas parou de falar ao ouvir um barulho no quarto. Abriu a porta e viu que o tibetano chorava novamente.
Os dois entraram, sentando-se perto do amigo, tentando acalm�-lo, mas Mu não deixava que se aproximassem, apenas chorava.
- Mu... me perdoe, nunca mais falo isso... – Aioria tentou desculpar-se, sentando no chão e deitando a cabeça nos joelhos do amigo.
- Como eu vou esquecer? Nunca vou deixar que ninguém me toque... – Mu sacudiu a cabeça inconformado. Mas uma lágrima escorreu pelos olhos verdes do leonino.
- Mu... agora que a gente sabe do seu trauma, faremos com que supere. – Shaka sorriu confiante, sentando-se ao lado do amigo.
- Sim! Nós faremos! – O grego enxugou os olhos sob o olhar de pena dos outros dois.
É... veja bem... você deve ter medo que alguém machuque você... não confia em nós.
- Confio sim, Shaka! – O tibetano irritou-se, levantando da cama e caminhando pelo quarto. Seu cabelos lavanda descreviam ondas enquanto andava.
- Se confiasse você teria deixado Aioria o beijar... – O indiano sacudia a cabeça, inconformado. O leonino baixou o rosto, fitando o tapete do quarto do amigo.
Mu sentiu-se culpado por fazer Aioria sofrer. Queria ter beijado o amigo, realmente gostava dele. Não entendia o que era aquele frio na barriga que sentia quando o outro se aproximava, mas era bom e gostava de sentir.
- Mu... olha... não dói... – Shaka segurou o rosto do leonino e deu um selinho nos lábios rosados, fazendo-o arregalar os olhos. – Viu?
- O que... eu... – O ariano sentiu um ciúme louco ao ver Shaka beijando o outro. Queria puxar o loiro para longe de Aioria, mas ao mesmo tempo não queria que o grego o tocasse.
- Olha Mu... só fiz isso pra você ver que não dói. Beijo é bom, não machuca. – Virgem levantou-se, chegando perto do amigo. – Confie nele... não vai te fazer mal.
- Eu... eu... – Aioria ainda estava embasbacado no chão. Mu agora tentava falar, com os olhos arregalados para o indiano. – Você já...
- Se eu já beijei? – Shaka sentiu o rosto corar violentamente e desviou o olhar. – Já... com o Afrodite. – Sentiu-se um pouco envergonhado de estar admitindo aquilo, mas afinal, eram seus amigos.
- Mas e o Shura? – Aioria levantou-se, chegando perto dos dois.
- Shura?
- Ah... também não sei... eles vivem pra cima e pra baixo, mas não compreendo a relação deles. – Shaka fechou os olhos azuis sacudindo a cabeça. – Foi numa noite em que conversávamos... ele tocou no assunto e quando eu vi já estava beijando ele.
- E foi bom? – O leonino sorriu, querendo saber detalhes.
- Você nunca fez isso?
- Já... mas não com outro homem... – O grego fez uma careta, que o deixou ainda mais fofo. Mu e Shaka arregalaram os olhos.
- Já beijou uma garota? Como? Quem? – O leonino sentiu o rosto corar com as perguntas do indiano.
- Ah... com a Marin... mas foi só uma vez... – Corou mais ainda e desviou o olhar.
Mu sentiu um ciúme terrível ao ouvir que o amigo beijara a amazona. Sentiu seu rosto ficar vermelho de raiva. Mas acalmou-se com o pensamento de que era melhor Aioria ficar com ela do que ter esperanças para consigo.
- Eca... acho que eu nunca beijaria uma garota... – O indiano fez uma careta, rindo depois. – Viu, Mu? Todo mundo beija... é bom, você devia tentar.
- Eu... é que... – O ariano virou o rosto, constrangido.
- Olha... ninguém morre virgem... é melhor beijar o Oria do que um qualquer que você não conhece. – Prático. O virginiano estava falando abertamente daquelas coisas, assim, completamente sem pudor e aconselhando Mu a beijar seu melhor amigo.
- Virgem? Shaka, nós estamos falando de beijo. – Aioria arregalou os olhos, quase sacudindo o amigo.
- Eu sei... mas somos jovens e inexperientes. É normal que tenhamos curiosidade por sexo... e depois de muito beijo vocês sabem o que acontece. – O indiano virou-se voltando a sentar na cama.
- Shaka! Você já fez...
- Ah... eu... eu... – Ele sentiu o rosto esquentar e ficar vermelho. Por que tinha que ser tão linguarudo? Podia ter ficado sem essa. – Eu transei com Afrodite umas vezes...
- Umas? – O leonino ajoelhou-se na frente do amigo, com os olhos quase pulando das órbitas.
- Ah... algumas, Aioria. Qual o problema?
- Achei que a reencarnação de Buda deveria ser um rapaz puro e inocente. – O grego riu, sentando-se de frente para o indiano.
- Olha... ser inocente e puro não quer dizer que eu preciso morrer virgem... eu e ele fizemos e foi bom. No meu país sexo é visto como uma coisa muito boa e aprendemos desde cedo nos livros. – Virgem sacudiu a cabeça afirmando. Mu andou até os dois e sentou-se ao lado de Aioria.
- E ele te tocou?
É claro, né, Mu? Como você espera que eu transe com ele sem deixar que me toque? – Shaka tentou entender o que se passava na cabecinha de vento do ariano, mas ele era muito confuso.
- Eu não sei... – O tibetano abaixou o rosto, constrangido.
- Mu... – Aioria chamou. – Você sabe o que é sexo, certo?
- Eu... é claro que eu sei! – Ele respondeu convicto, mas sem convence-los.
- Não parece... – O loiro sorriu. – Sexo... olha... é muito bom. Não é do jeito que você... – Mas ele calou-se baixando o olhar, repreendendo-se mentalmente por ter tocado novamente no assunto.
- Oh... tudo bem, não precisam ficar com essas caras... – O ariano abaixou o rosto, corando. – Podem falar sobre isso... eu só não sabia que aquilo era...
- Bom... e não é! – Aioria irritou-se. – Mu... sexo é pra ser bom e a gente só faz com o consentimento do outro. – O indiano rapidamente concordou com a cabeça. – Deveria ser feito por pessoas que se gostam...
- Ele tá certo. – Shaka sentou no chão ao lado dos amigos. – Olha... não há nada de mais. O Aioria sabe, apesar de nunca ter feito. Você toca a pessoa, ela te toca... aí... – O virginiano sentiu o rosto corar novamente. – Aí vocês tiram a roupa e... bom... aí é isso!
- Não quero... tenho medo...
- Tudo bem... sabemos que tem. Você deve estar traumatizado, mas isso vai passar... você não pode passar a sua vida sem isso. É natural que um dia você sinta vontade. – Shaka sorriu, acalmando o amigo. Aioria já perdera todas as esperanças de ficar com o ariano com aquela.
- Shaka... tenho que dizer que a sua explicação foi péssima! Até eu me perdi! – O leonino riu passando a mão pelos cabelos castanhos.
- Não há jeito de dizer... só fazendo para saber.
- Não... não quero fazer.
- Mu... eu tenho uma idéia para você perder o medo. – O indiano levantou-se, sendo seguido por Aioria.
- E que idéia é essa?
- Pensa comigo... se ele visse alguém fazendo e visse que não tem nada de mais e que é bom... talvez ele perdesse esse medo todo. – O loiro sorriu entusiasmado com a idéia.
- Shaka... me diz só uma coisa... quem é que iria transar na frente do Mu? – Aioria ficou bem sério só esperando a resposta. O indiano ergueu uma sobrancelha e pesou.
- Afrodite! Com o Shura é claro... mas ele não precisa ficar sabendo que está sendo observado... eu falo com o Dido! – Shaka bateu as palmas das mãos e saiu feliz, atrás do cavaleiro de Peixes.
- Aioria... eu não quero ver o Shura e o Afrodite fazendo isso... – Mu levantou-se, sentindo o rosto corar.
- Talvez seja uma boa idéia... talvez se você visse como é bom... – O grego alisou os cabelos lavanda do outro, sorrindo. – Se você não gostar a gente vai embora... não vamos te forçar.
- Tá bom... vou tentar... você fica lá comigo?
- Eu? Ai... não sei Mu... vou pensar...
- Por favor!
- Tá... – Aioria queria só ver como isso seria. Se Mu o visse excitado seria o fim.
Continua...
oOo
N/A: Ok... aí vai! Mu vai ficar com Aioria, como vocês perceberam e Shaka está dando um jeitinho de fazer Mu perder o trauma.
Olha só gente... quero deixar bem claro que eu condeno estupro, acho um ato de covardia e irracionalidade... porém o Muzim precisava de um trauma, sendo assim eu pensei nessa história. É claro que é uma sacanagem, uma violência sem tamanho... porém é só uma fic... e dessas confusões que irão acontecer vai nascer o amor dele pelo Oria.
Tenho que dizer que a primeira vez deles ficou muito fofinha... acho que vocês vão gostar.
Bom, agora resta a dúvida... eles vão conseguir fazer Mu assistir a uma transa de Afrodite e Shura? (se eu fosse o Mu num perdia tempo... XD)
Me mandem reviews... assim eu corrijo mais rápido o próximo cap. e posto aqui! (Isso num é ameaça, mas reviews incentivam sempre! XD)
Bjus a todos vocês!
