Capítulo 4: Tomando o trem


Claro que as coisas foram absolutamente normais durante o resto de período de férias. Mitch jogou quadribol com os irmãos Weasley e com Harry e participou de muitas atividades, como visitas à aldeia trouxa próxima e uma visita de cortesia aos Diggory, que moravam próximos. Mitch lembrava-se bem de Cedric Diggory, um garoto que acabara de se formar em Hogwarts. Sangue-puro, era carismático, simpático (as meninas de Hogwarts diziam que ele era "bonitão"), tímido, caladão e um verdadeiro herói dentro da Lufa-Lufa, por ter derrotado Grifinória no quadribol, para revolta dos gêmeos Weasley, em um jogo que foi conturbado. Nas preliminares desse jogo, Mitch sofrera uma queda quase fatal, quebrando duas cervicais da coluna e lesionando a medula. Se não fosse o fato de a Madame Pomfrey, enfermeira de Hogwarts, o ter curado por magia, ele estaria paraplégico até hoje.

Também, claro, havia o aniversário de Mitch que, como de costume, foi na Florean Fortescue. Naquele dia, Mitch viu um grande cachorro preto, que veio descobrir depois tratar-se de Snuffles, o animago ilegal e foragido da justiça Sirius Black. Claro que Mitch sabia que Sirius era inocente, pois confiava no que Harry disse. Quando ele viu aquele cachorro ali, ele então separou alguma comida da festa para que fosse entregue por Harry ao seu padrinho.

Mitch recebera também, de seu avô, sua autorização para visitar Hogsmeade. Mitch sentia-se um pouco culpado por não ter ido para Sligo naquelas férias, mas pensou que poderia passar as próximas com seu avô. Além do mais, Elric entendeu que Mitch quisesse ficar um pouco em Londres e depois, quando foi informado sobre a missão que Mitch recebera de Dumbledore, descobriu que seu neto, mesmo sem querer, havia tomado a decisão mais sensata.

Mas tudo tinha que acabar um dia, então chegou o dia 1° de Setembro. Mitch havia retornado da "Toca" para Kievnashravostok para facilitar o seu embarque no Expresso de Hogwarts, já que seu malão ainda estava na casa de Anya. Então ele ouviu uma voz dizendo:

- Ei, garotos, hora de acordar! - disse Angus, já fardado para assumir seu posto na Abadia de Westminster.

- Tudo bem, Angus, já estamos indo! - disse Mitch, abrindo os olhos e vestindo um chinelo, voz um tanto sonolenta.

Com sete pessoas vestindo-se e tomando banho, a coisa era concorrida, mesmo considerando-se que Anya e Angus tinham um banheiro na sua suíte. Claro que Mitch teve que tomar seu banho rapidamente, mas secar os cabelos era uma coisa que definitivamente não dava para ser rápida. Então ele teve que a fazer no quarto mesmo, usando um secador de cabelos trouxa que Enya tinha ganhado durante o wake de seus falecidos pais (o wake é uma festa que ocorre durante os ritos funerários irlandeses e aonde se dividem as quinquilharias do falecido com todos os presentes).

Depois de colocar tudo em seu malão, Mitch pegou a sua mochila, separou um conjunto de vestes e colocou-as dentro para usar quando tivessem se aproximando de Hogwarts. Até lá, Mitch vestiria um terno comum. Boris e Cedric vestiam-se de forma semelhante. Enya e Anastasia vestiam tallieurs pretos sóbrios, que depois também iriam tocar no Expresso de Hogwarts por suas vestes de bruxos. Para facilitar então, Mitch colocou as vestes de todos dentro da mochila. Todos então tomaram um café rápido mas reforçado feito por Anya, embarcaram seus malões na van de Angus e seguiram viagem, Anya e Mitch ao lado de Angus na frente. (mesmo com o uso de magia, ia ser meio complicado espremer sete pessoas no sedan de Angus sem chamar a atenção de todos).

Boris carregava consigo uma cesta com o seu gato, Rasputin (um nome apropriado para um gato que era o equivalente felino ao Pichitinho de Gina Weasley). Já Anastasia carregava uma cesta com muita comida (preparada por Anya, Enya e Anastasia), com direito até a um pão de centeio caseiro, receita irlandesa preparada por Enya, e uma gaiola aonde encontrava-se Gagarin, a coruja das neves que Anastasia ganhara de sua mãe, que recebeu seu nome em homenagem a Yuri Gagarin, o primeiro homem, bruxo ou trouxa, a viajar para fora do planeta Terra.

A ida para King's Cross foi muito tranqüila. Quando Mitch começou a desembarcar as suas coisas, chegaram Harry, Rony e os outros Weasley em um carro do Ministério da Magia. E também dois trouxas acompanhando Hermione:

- Ei, gente! Esperem por mim! - disse Mione para Harry e os Weasley.

- Bem, temos que ir. - disse Anya, enquanto Angus e Mitch descarregavam os carrinhos e malões de dentro da van - Qualquer coisa, sabem o que fazer.

Angus e Anya deram adeus, subiram no carro e foram embora. Mitch não os culpava: os dois tinham que trabalhar, ainda mais agora tendo que pagar uma babá e sustentar o Mikhail. Então Mitch, sendo o mais velho dos cinco alunos, levou-os para King's Cross, para poderem tomar o Expresso de Hogwarts na Plataforma Nove e Meia.

- Tchau, mãe! Tchau, pai! - disse Mione, abraçando os dois trouxas.

- Estude bastante, filha. A gente está feliz de saber que você está se dando bem! - disse o senhor trouxa, com cabelos negros e um tanto cheios, mas não tanto quanto os da filha, enquanto desembarcava um carrinho e o malão de Mione do porta-malas do carro.

- Vai com Deus, filhinha. E nunca se envergonhe de ser quem você é! - disse a senhora, enquanto os dois entravam no carro próximo.

- Obrigado, papai, mamãe! Até a volta! - disse Mione, acenando para os seus pais, enquanto esses iam embora.

- Mione, por que seu pai e sua mãe não atravessam a barreira com você? Você viu a Anya fazendo isso com o Angus, e o Angus é trouxa. - disse Mitch.

Na verdade, o problema não é eu fazer eles passar, e sim eles conseguirem sair. Lembre-se que o Angus tem a Anya para tirar ele de dentro da Plataforma Nove e Meia...

- Tem razão. - lembrou Mitch, enquanto todos se aproximavam da passagem das plataformas.

Mitch sabia que era possível para um bruxo "arrastar consigo" trouxas para áreas especiais, como o Beco Diagonal e a Plataforma Nove e Meia. O problema era que o bruxo (ou algum outro) também tinha que tirar o trouxa da área especial, pois da mesma forma que o trouxa não pode entrar sem ajuda, ele também não pode sair.

Todos então começaram a atravessar a barreira: Boris e Anastasia, Enya e Cedric, Rony e Mione, Mitch e Harry, os gêmeos e Gina. A passagem foi absolutamente tranqüila, e então todos chegaram à já familiar Estação Nove e Meia. Mitch pode reconhecer boa parte de sua galera: Carlos Amaral e Erika Stringshot conversavam animadamente, enquanto Helen Ebenhardt, Cedric Gryffindor e Nathan Higgenbotham se aproximavam:

- Mitch! - disse de forma apaixonada Helen.

- Oi, Helen! - disse Mitch, abraçando-se forte à garota de sua vida.

- E aí, Mitch! - disse Carlos. - Como foram as férias?

- Boas.

- E então, Mitch, pronto para mais um ano em Hogwarts? - disse Nathan.

- Claro que sim! - disse Mitch, percebendo agora dois jovens que estavam seguindo Nathan.

A menina era bem alta, quase da altura de Mitch quando entrou para Hogwarts. Ela tinha cabelos morenos longos e finos e olhos azuis marcantes, em um corpo bem talhado e bronzeado. Ela também tinha ombros realmente largos. Já o garoto tinha um cabelo loiro encaracolado, olhos ainda mais azuis que os da irmã e um porte físico mirrado, até mesmo frágil, com uma pele branca em um tom quase fantasmagórico. Era quase tão baixo quanto Enya, e tinha um rosto redondo, com um que de angelical.

- Ah, Mitch, pessoal, esses são meus irmãos. A menina é Natalie e o menino é Nigel.

- Prazer!

Todos cumprimentaram a jovem e expansiva Natalie e o angelical mas levemente soturno e distante Nigel. Então todos subiram juntos no Expresso de Hogwarts. Como no ano anterior, nem todos foram na mesma cabine: Harry, Mione, Rony e os Weasley se espremeram em uma cabine. Erika e os órfãos do Orfanato da Madame Kinnigan para Bruxos Desamparados (aonde a própria Erika morava, sendo uma despejada, ou seja, uma bruxa órfã renegada por seus parentes de sangue bruxo) iam em outra, e Carlos, Helen, Enya, Cedric, os Kievchenko, os Higgenbotham e Mitch iam em uma no finzinho do trem:

- E aí, Natalie, Nigel, em que casa querem entrar? - perguntou Mitch, fazendo talvez a pergunta mais óbvia para um recém-chegado.

- Por mim, só Grifinória. Embora devo admitir que Corvinal também não parece ruim. - disse Natalie.

- E eu quero ir para a Lufa-Lufa! - disse Nigel.

- Lufa-Lufa? - disse Carlos.

- Não vejo nada de errado nisso. - disse Enya - Todas as casas tem qualidades e defeitos. Meu irmão mesmo é da Sonserina, e eu não acho nada de errado nisso.

- Tem razão! - disse Mitch - A casa aonde você entra não quer dizer nada...

- Tem certeza, McGregor? - disse uma vozinha arrastada e fria da porta.

Mitch viu que se tratava obviamente de Draco Malfoy. Estava um pouco mais alto, e possuía uma barba loira rala, o que fazia ele aparentar estar um pouco mais "rebelde", mas mesmo assim continuava o mesmo metido filhinho de papai que sempre fora, com a mesma cara de pastel que sempre tivera. Mitch sabia que ele, só para variar, estava acompanhado de seus "gorilas particulares", Vicente Crabbe e Gregório Goyle, os dois armários que acompanhavam Malfoy para cima e para baixo. Agora os dois conseguiam realmente parecer trasgos de vez: altos, grandes, fortes, feios que nem briga de foice no escuro e com cérebro de uva passa.

- Tanto tenho, Malfoy, que nunca critiquei o fato de Cedric ter entrado em Sonserina, mesmo considerando-se que você está lá...

- Acho que talvez tenha sido isso que o levou a tomar tal atitude.

- Você não é tão especial assim, Malfoy... - disse Mitch, desdenhando de Draco.

- Pensei que tivesse aprendido a não se intrometer com nenhum Higgenbotham, Malfoy. - disse Nathan.

- Pensei que você, como sangue puro, aconselhasse seus irmãos a entrarem em casas mais dignas. Agora, uma quer ir para Grifinória, o que embora não seja bom seja até, digamos assim, aceitável. Mas o outro quer ir para Lufa-Lufa? Decepcionante, Higgenbotham! Decepcionante!

- Olhando para a sua cara de pastel é que eu vejo porque ninguém quer ir para Sonserina, seu grande... seu grande sangue-ruim! - disse Natalie.

- DO QUE VOCÊ ME CHAMOU, SUA CADELA? - gritou Malfoy, explodindo como um berrador.

- Do que você ouviu, seu otário. - disse Natalie - E se você quer comprar encrenca, por que não manda embora os dois armários e vamos resolver isso na porrada? Cai dentro logo de uma vez!

- Ora sua... - Draco ia avançando, quando levou um direto Cajun de esquerda na cara, dado por Natalie.

- Isso é para você aprender, seu babaca, a nunca mais falar nada de um Higgenbotham!

- Crabbe, Goyle, dêem um jeito nessa vadia! - disse Draco, gemendo de dor.

Os dois armários avançaram, recebendo cada um gancho no queixo, jogando os dois longe.

- E fique claro para você, Malfoy, que a próxima vez que você mencionar qualquer coisa sobre os Higgenbotham, eu vou pegar certas partes tuas, cortá-las e enfiá-las em certos buracos teus, OK? - disse em tom agressivo Natalie Higgenbotham.

- Você não sabe com quem você...

- Sei sim! Draco Malfoy, herdeiro dos Malfoy, filho de Lúcio e Narcisa Malfoy. O pai foi acusado de ser Comensal da Morte, mas provas nunca foram encontradas. Agora, se me permite uma opinião, Malfoy, acho que uma família de arrogantes filhos-da-p... como a sua não poderia ser tão poderosa se não fosse com uma ajudinha da feitiçaria das trevas! Aliás, você é bem o seu pai, Draco: prepotente, arrogante, e um verdadeiro pedaço de asno...

- CALA A BOCA, SUA NOJENTA! VOCÊ NÃO SABE NEM METADE SOBRE NÓS, MALFOY! VOCÊ NÃO SABE NEM METADE SOBRE MIM! VOCÊ NÃO SABE DE NADA SOBRE MIM, SUA GRANDE IDIOTA! - disse Draco, pela primeira vez em sua vida explodindo de raiva e vergonha.

Draco saiu correndo. Pela primeira vez, Mitch sentiu que Draco tinha alguma história mal-contada. Parecia a Mitch que Draco, por algum motivo, não era tudo aquilo, que aquela face maldosa de Malfoy na verdade era mais uma fachada que uma característica inerente à sua índole.

- Natalie, você não precisava pegar tão pesado com o Malfoy. - disse Mitch.

- Vai defender aquele panaca, Mitch? - disse Natalie.

- Claro que não. Mas não acho que seja necessário partir para a agressão direta.

- E por que aquele idiota não ia merecer isso?

- Só acho que temos que tratar o cara no mesmo nível, nem a mais nem a menos.

- OK, OK, gente... Vamos parar com a discussão. - disse Nathan.

- Cedric, o que você acha do Malfoy? Você é da Sonserina, não é? Malfoy também é de Sonserina, portanto você deve conhecê-lo um pouco melhor. - disse Nigel.

- Olha Nigel, o Malfoy é um babaca completo, na minha opinião. Só que, ao menos comigo, mesmo distante, sempre foi educado. - disse Cedric - Não que eu goste dele. Prefiro a Erika e seu pessoal. Mas não posso negar que ele sempre foi respeitador comigo. Foi melhor até do que Galahad. Até mesmo algumas vezes chegou a me ajudar quando tinha dúvidas em certas matérias, como Poções. Ele é realmente bom nisso!

- Isso você nunca contou para a gente. - disse Mitch, surpreso.

- Claro que não! Achei que não ia fazer diferença...

- E claro que não faz, Cedric. Pelo menos não para pior. Mas acho que tem algo errado no Malfoy. Não sei o que, mas algo está errado... Muito errado... - disse Mitch, soturnamente, encerrando a discussão.