Capítulo 6: Surpresas do Início do Ano


No dia seguinte Mitch nem se lembrava direito do que Fatima lhe dissera na noite passada, mas a pouca lembrança que tinha atormentava-o. Mitch, porém, estava disposto a esquecer aquilo para ter o seu primeiro dia de aulas nas novas matérias para as quais se inscrevera. Ele também estava curioso para saber quem de seus amigos fariam as mesmas matérias que ele. Então Mitch tomou um belo banho e vestiu-se para o café da manhã. A revoada de corujas estava lá, inclusive a já recuperada Edwiges de Harry, entregando a seus donos cartas e pacotes. Claro que Draco Malfoy continuava recebendo doces, e Neville Longbottom objetos que ele tinha esquecido em casa, mas Mitch não se preocupava com isso.

- E aí, Mitch? - disse Enya - O que aconteceu?

- Enya, tenho que descobrir que segredo é esse dessa tal Fatima Andaluzia. - disse Mitch, enquanto comia sua tigela de mingau de aveia.

- Por que?

- Ela me falou uma coisa estranha ontem... "Foi uma pena, mesmo sabendo que ela era um aborto..."

- Ela falou isso sobre mamãe?

- Acho que sim, mas eu quero ter certeza.

- Será que vovô não sabe nada sobre isso?

- Talvez... Quem manda a coruja: você ou eu?

- A Brigitte tá precisando de exercício.

- OK. E procure alertar o Cedric, veja com ele se...

- Eu já falei, seu pirralho, que eu não tenho nada a ver com você! - disse uma voz com forte sotaque espanhol.

- Para início de conversa, pirralho aqui é você, porque eu sou um ano mais velho que você...

- O que não significa nada...

- E segundo, você me ofendeu, chamando minha mãe de aborto! - disse Cedric.

Mitch se aproximou e conseguiu distinguir a figura que estava implicando com Cedric: Adrian Andaluzia. Fatima Andaluzia também estava se aproximando, enquanto Cedric e Adrian continuavam discutindo na entrada do Salão Principal discutindo. Estranhamente, Draco Malfoy se aproximou da discussão, desta vez sem os dois armários Crabbe e Goyle.

- Mas o que eu posso fazer, se é essa a verdade? - disse Adrian, com sarcasmo na voz.

- Podia ao menos ser discreto, Andaluzia. - disse Malfoy, em um tom ameaçadoramente fleumático, quase snapeano.

- Você então é Draco Malfoy... Pensei que não gostasse de ralé filha de abortos como os McGregor...

- A quem você tá chamando de ralé, moleque? - disse Mitch.

- Adrian, isso não é hora de arranjar confusão. - disse Fatima.

- O que houve, Fatima, arrumou um namoradinho? - desdenhou Adrian

- Agora você vai ver só, Adrian...

- Parem vocês dois! - disse uma voz alta.

Estranhamente, todos observaram o garoto mirrado e loiro que havia sido selecionado na noite anterior e que, agora, carregava com orgulho o Texugo de Lufa-Lufa e o nome de Helga Hufflepuff, tentando acalmar seus parentes:

- O que houve, Juan? Depois que foi selecionado para uma casa tão baixa quanto Lufa-Lufa, você...

- Eu o que, Adrian? - disse Juan, em tom de desafio. - O que você vai dizer para mim? E o que aconteceu?

- Ele me ofendeu, dizendo que minha mãe era um aborto. - disse Cedric.

- Adrian, depois converso com você, e estou falando sério! - disse Juan Andaluzia, em um tom de repreensão que lembrava a Mitch a professora McGonagall, sem que Adrian demonstrasse qualquer reação.

Parecia a Mitch que Juan era muito mais forte moralmente falando, o que lhe dava a confiança de que, mesmo com sua baixa força física (Juan era obviamente mais fraco que Adrian), seria obedecido por Adrian, como foi... Este afastou-se, indo em direção da mesa de Sonserina.

- Você é Cedric McGregor, não? - completou Juan.

- Sim, e eu sou Mitch McGregor, e essa aqui é Enyamarana McGregor, mas pode chamar ela de Enya, apenas. - disse Mitch.

- Oi. Desculpem o Adrian, mas ele ainda é muito convicto dessa questão da "pureza" de sangue. Bem, eu não posso falar com vocês agora, pois quero tomar café e ter as primeiras aulas minhas. Até mais.

Juan afastou-se, indo para a mesa da Lufa-Lufa, aonde foi recebido pelos demais com muito respeito. Já Fatima já tinha tomado seu café e tinha saído da mesa de Grifinória:

- Por que estou com a séria impressão que os Andaluzia estão nos evitando? - disse Mitch, pensando com seus botões.

- O Adrian que encha o meu saco mais uma vez e eu parto a varinha dele em dois. E se ele ainda reclamar, vai ser ele quem vai ser partido em dois! - disse Cedric.

- Não acho prudente isso, McGregor. Snape não iria gostar disso. - disse Draco Malfoy.

- Malfoy, eu queria te agradecer por...

- Só estou fazendo isso porque não gosto de ver minha casa em pé de guerra. - disse Malfoy, fleumático.

- Mesmo assim, obrigado. - disse Mitch.

Draco observou surpreso Mitch, como se fosse a primeira vez que alguém agradecesse sincera e desinteressadamente o jovem Malfoy por qualquer coisa. Claro que ele não deu nenhum sinal disso, mas Mitch "pescou no ar" o sentimento que Malfoy deixava para trás, enquanto dirigia-se para a mesa de Sonserina.

- Bem, gente, vamos tomar café que temos aulas hoje. - disse Mitch.

- Tudo bem! A Erika já chegou, vou tomar café com ela. - disse Cedric.

Cedric retirou-se para a mesa de Sonserina junto com Erika Stringshot, que conversava animadamente com Cedric. Mitch e Enya voltaram para a de Grifinória, aonde Boris e Anastasia esperavam os dois. Mitch resolveu não comentar o incidente com os Andaluzia para os Kievchenko, pois não queria esquentar mais a cabeça com esse problema naquele dia.

- Horário novo, Mitch. Pense que hoje é o primeiro dia do resto de sua vida. - disse Alicia Spinnet, distribuindo os horários.

- Putz! - disse Mitch - Meu horário está apertadérrimo.- disse Mitch.

- Como? - disse Rony.

- Olha aqui! - disse Mitch mostrando seu horário - Só para hoje, por exemplo: Advomagia e Runas Antigas de manhã, Transformações e Poções de tarde!

- Caracas! - disse Rony

- E agora? - disse Harry - O que você pretende fazer?

- Bem, a primeira coisa é largar o quadribol... - disse Mitch, resignado.

- O QUE? - disseram os que jogavam quadribol.

- Cara, você NÃO PODE FAZER ISSO! - praticamente explodiu como um berrador Jorge Weasley.

- Você é quase tão bom quanto nós! - disse Fred Weasley, em tom mais calmo.

- Olha, eu sei disso, mas eu não pretendo ser um jogador de quadribol. - disse Mitch - Além disso, tem o Yanni e o Thomas, que estão no segundo ano. Eles são muito bons também.

- Gente, meu horário também está complicado. - disse Timothy Robbins, um escocês mais baixo que Mitch. - Acho que também vou ter que abandonar o quadribol.

- Caracas! - disse Rony - Você não pode fazer isso, Tim!

- Ele pode sim! - disse Mitch - A Enya entra no lugar do Tim, o Yanni no meu, e a Helen ou a Anastasia ou a Morgana no da Angelina, com a que sobrar na reserva. A Shania e a Kat me falaram que não querem saber de quadribol esse ano e as outras vagas estão fechadas. Bem, isso deve resolver.

- Mas, Mitch... - disse Alicia.

- Alicia, eu não posso ficar sempre dependendo do quadribol. Além disso, se precisarem de alguém para uma partida ou outra, ou para auxiliar nos treinos, é claro que eu vou ficar contente em ajudar. Mas pense se houver um jogo decisivo e ao mesmo tempo uma prova muito importante, como é que eu fico?

- Tudo bem, Mitch. - disse Alicia - Pelo menos você está sendo sincero. Tudo bem, você e Tim ficam desligados do quadribol até segunda ordem, OK? Mas vê se ao menos dá uma chegada vez por outra nos treinos...

- Sim.

- Tudo bem. Agora vamos tomar café, antes que vocês percam a hora para as novas aulas.

Todos terminaram de tomar café e foram pegar seus materiais. Mitch colocou todos os livros na mochila e dirigiu-se para a Torre Oeste, aonde aconteceriam as aulas de Advomagia e de Runas Antigas. Se aproximou então de Helen (que ia estudar Medibruxaria com a Madame Kaufman, que entrara no ano anterior, meio às pressas, para retirar o excesso de carga que a Madame Pomfrey vinha recebendo com o acúmulo de cargos), de Carlos, Cedric Gryffindor, Tim, Olivia, Dennis, Nathan e Nakuru Hiiragisawa.

- Quem vai para Advomagia? - disse Mitch.

Cedric, Nathan, Nakuru e Tim, Olivia ergueram a mão.

- Helen?...

- Vou para Medibruxaria e o Carlos também, não é? - disse Helen

- É... - respondeu Carlos, um pouco corado de vergonha

- Sei, por causa da Erika, não é Carlos? - disse Mitch.

- É isso aí! - disse Carlos, sem ter nenhuma vergonha disso.

- Não imaginava que você também quisesse ser advomago. - disse uma vozinha esganiçada por trás de Mitch.

Mitch viu Galahad Starshooter, aproximando-se.

- Na verdade, eu não quero ser um advomago. Apenas quero que nenhum imbecil como você corrompa as leis para torcê-las a seu favor.

- Ora, eu pensei que você fosse desejar isso... Apenas perdedores não aceitam...

- Bem, eu não quero bater boca com você, pois não quero saber o que você acha das coisas e não estou com saco para te agüentar. Agora, eu vou estudar advomagia, queira você ou não. - disse Mitch encerrando a discussão.

Os dois grupos subiram a Torre Oeste e então Mitch viu que da Lufa-Lufa tinha entrado Sally Wittlesbach e seus irmãos e que Teo Fiorucci tinha se inscrito pela Corvinal, junto com Marco Lamarca e os gêmeos Augustin.

Os alunos entraram na sala de aula, aonde a professora Palkovic já os esperava, muitos livros empilhados pela parede.

- Bem, primeiramente gostaria de dizer que é uma honra ensinar para vocês essa rica e interessante matéria que é a Advomagia. Gostaria também de salientar que serei rigorosa nas lições, pois estamos falando de uma matéria que é muito complexa e que possui ramificações que levam ao começo da organização da sociedade bruxa, com sábios como Ptolomeu e Agripa. Além disso, passaremos por alguns sábios trouxas, como Aristóteles, Platão, Hipócrates e Sêneca. Portanto, se algum de vocês têm algum tipo de preconceito quanto aos trouxas, quero que saibam que é um ótimo momento para desistir da advomagia.

"Além disso, gostaria de salientar que vou apenas ensinar para vocês o básico da advomagia. Muitos grandes advomagos existem, e cada advomago deve aprender a pesquisar por si as melhores possibilidades para defender os seus casos. Por isso mesmo, aconselho que formem sua própria biblioteca de livros de advomagia à parte. Mais adiante, estarei passando alguma literatura recomendável, ao menos em minha opinião pessoal. Para isso existem os Malões e as Mochilas de Contravolume, que permitem que o peso do que é carregado dentro delas, assim como seu volume sejam diminuídos em um décimo ou um centésimo, o que ajuda demais."

- Bem, esclarecidas as condições e premissas básicas do meu curso, vamos começar com uma introdução rápida. O que é advomagia, quem sabe me dizer?

- Bem, professora, - disse Olivia Gibbs, uma grifinória de sangue puro - segundo o que diz o livro Fundamentos da Advomagia, a Advomagia é a ciência que tem como objetivo esclarecer o que é correto ou não de ser feito com os poderes mágicos e talentos especiais que nós, bruxos, possuímos.

- Muito bem. Agora, vejamos então se alguém pode me informar quem criou essa definição e quando... Sr. Starshooter?

- Gwynefar Hemingway, em 1275.

- Sinto, mas está errado! Gwynefar Hemingway utilizou a definição de que "a Advomagia era separar o bem do mal na magia". Em que livro que ela fez essa definição? Sr. Robbins?

- Professora, foi em Panorama das Leis da Magia e suas mudanças na nova sociedade mágica.

- Muito bem, sr. Robbins. Agora, essa definição da senhorita Hemingway foi considerada vaga por quem formulou a definição que estaremos adotando. Quem foi que fez essa definição, e quando. Alguém? Sr. McGregor?

- Tobiah Duckworth, em seu livro Compreensão e Desenvolvimento das Leis dos Bruxos, de 1757.

- Isso mesmo! Quando Tobiah Duckworth lançou essa definição ele deixava claro não somente a separação do bem e do mal, mas sim entre o que era correto e incorreto de ser usado pelos bruxos. Isso se chama... Srta. Wittlebach?

- Princípio do uso excessivo de força mágica! - disse Sally.

- Muito bem! Esse princípio leva em consideração o quanto de tempo que um bruxo leva para poder utilizar um poder mágico qualquer e se ele está o utilizando contra alguém que pode se defender da mesma forma e na mesma proporção ou de forma adequada. Alguém pode citar um exemplo de lei mais recente, do nosso século, que envolva o uso desse princípio... Srta. Hiiragisawa?

- A lei que impede que o bruxo utilize magia contra um trouxa, aprovada pela Federação Mundial dos Bruxos em 12 de Setembro de 1923.

- Sim, isso mesmo! E ela também deixa claro que um bruxo pode utilizar magia como legítima defesa contra um trouxa, quando esse o atacar. Bem, vamos então agora passar para um estudo no livro. Quero que vocês peguem o Fundamentos da Advomagia, pois vamos estudar seu primeiro capítulo agora.

O estudo foi muito interessante para Mitch. Para alguém como ele, que queria ser Auror, entender como as leis eram criadas era algo fundamental. E aquele entendimento era explicado ali em detalhes.

- Bem, espero que tenham compreendido como fundamentam-se as leis e o julgamento em um sistema judiciário como o nosso. Quero para a próxima aula um trabalho de cinco metros discorrendo no tema "Presunção de Inocência, Presunção de Culpa e Não-Presunção - Vantagens e Desvantagens", lembrando que o sistema judiciário trouxa habitualmente utiliza-se da Presunção de Inocência e o sistema judiciário bruxo da Não-Presunção, ou seja, ambas as partes devem mostrar seus argumentos para apreciação do juiz, sem que uma das partes seja favorecida pelo "benefício da dúvida". Dispensados.

Mitch desceu comentando o que achou da aula de Advomagia:

- Legal! Eu gostei demais. - disse Mitch.

- Também achei muito produtiva. - disse Olivia.

- Só espero que Runas Antigas seja assim também. - comentou Nakuru.

Mitch, Nakuru e Nathan eram os únicos daquela turma que faziam Runas Antigas. Eles subiram pela Ala Principal do castelo de Hogwarts até o sétimo andar, aonde:

- O que fazem aqui? - disse um fantasma extremamente mal-encarado, todo coberto de sangue ectoplásmico.

- Desculpe, Barão Sangrento! - disse Mitch, reconhecendo o Fantasma residente da Sonserina (cada casa tinha o seu. Completavam os Fantasmas Residentes o Frei Gorducho da Lufa-Lufa, a Dama Cinzenta da Corvinal e o Nick Quase-Sem-Cabeça da Grifinória) - É que estamos indo para a nossa aula de Runas Antigas. Seja o que o senhor estiver fazendo, não se preocupe conosco.

- Hum... Tudo bem! Até que para um grifinório sua educação está muito boa... - disse o Barão, com uma certa dose de respeito em seu mau humor.

Os três afastaram-se, quando encontraram Helen, Carlos e Erika, que vinham da aula de Medibruxaria:

- Como foi?

- Terrível... - disse Helen - Tivemos que dissecar um corpo.

- Como um corpo?

- Um corpo humano, Mitch! - disse Helen. Foi quando Mitch percebeu que ela estava em um efeito semelhante ao de quando uma pessoa é reanimada com o uso de Enervate.

- A Helen desmaiou, Mitch. - disse Erika - Não estranha não.

- Você...

- Tive medo, Mitch. Muito, muito medo mesmo! E muito nojo também! Então acabei passando mal e desmaiando. - disse Helen.

- Você vai ter que aprender a segurar o tranco. - disse Erika.

- Não sei como você consegue ser tão fria, Erika.

- Simples: é só você passar metade de sua infância como uma Twist, trabalhando para um Fagin.

Mitch lembrou-se que Twist era o nome que se dava aos bruxos que viviam para roubar e conseguir dinheiro para um Fagin, um bruxo adulto que "criava" e "cuidava" dessas crianças, em geral despejadas, que trabalhavam para ele, legalmente ou não, e normalmente eram vítimas de mal-tratos. Muitos Twists e Fagins faziam parte das tropas de Voldemort quando ele era grande e poderoso no mundo dos bruxos. Erika foi uma Twist até sua idade de 7 anos, quando um Auror a encontrou roubando varinhas da Olivaras e deu-lhe uma escolha: devolver o produto do roubo, ir para um orfanato e trabalhar para Olivaras para compensar os prejuízos ou pegar uma pena provável de prisão perpétua em Askaban.

- Bem... - disse Mitch - Vamos deixar de onda e vamos para a aula de Runas Antigas.

A aula parecia bem interessante: o professor era bem inteligente e explicava de forma clara e concisa os tópicos. Com um início simples, foi explicando a importância do estudo de Runas Antigas e porque Runas Antigas era uma matéria tão apreciada:

- Muitos dos mistérios das antigas magias dos bruxos de outrora estão travados na forma de runas. Ou seja, eles talharam em pedras e escreveram em pergaminhos metálicos, com as runas, seus mistérios mais antigos e seus segredos mais poderosos. O conhecimento correto das runas é a forma de destravar o conhecimento antigo, perdido para muitos, mas não para aqueles que dominam a arte de analisar e decodificar as runas mais complexas...

Depois Mitch passou para suas lições de Runas, aonde tinha que escrever seu próprio nome em vários tipos de runas diferenciadas, inclusive no mahokana e no mahoji (raras línguas bruxas japonesas, semelhantes em propósito ao katakana e ao kanji), o que foi fácil, tendo como amiga uma japonesa de sangue puro como Nakuru Hiiragisawa.

A aula foi muito boa para Mitch, que aproveitou o almoço para descansar e preparar as baterias para as demais aulas que viriam pela frente naqueles dias...