Silêncio do Burburinho

Fanfiction

Anime: Love Hina

Definição: AU, OOC

Por: Simbiot

Capítulo Dois: O encontro entre a ignorância e a saudade

O dia amanheceu. Passarinhos cantavam, o orvalho deslizava nas plantas devido à noite de sereno que havia se passado. Era o primeiro dia do ano e naquele mesmo apartamento, um corpo se encontrava debruçado à mesa, juntamente com cinco garrafas de whisky vazias.

No apartamento de cima, a velha rabugenta, Motoko Aoyama dormia até tarde, pois só conseguira entrar em estado dormente a uma da manhã do dia passado, o que é muito tarde para uma mulher que costumava dormir às oito horas da noite e acordar às cinco horas da manhã do dia seguinte.

Já eram dez da manhã e o telefone tocou, acordando assim Keitarô, que assim que acordou, começou a reclamar de ressaca.

Só após alguns segundos de reclamação ele percebeu que o telefone estava tocando, assim, o atendeu.

'Hum... Alô?' Ele falou com uma voz que representava todo o sono e toda a dor de cabeça que ele sentia.

'Alô, por favor o Sr. Keitaro Urashima?'

'Sou eu...'

'Sr. Keitarô Urashima, nós somos da Tokyo High School, e em nossa lista consta que o senhor terminou o colegial aqui em nossa escola há dois anos. Por isso, estamos convidando-o para a festa de reencontro dos alunos de 1998. Será mandado a você uma carta informando o local, a data e a hora da festa.'

'Hum... Festa?' Ele perguntou, ainda sem perceber que já havia acordado.

'Sim, uma festa, onde o senhor poderá reencontrar todos os seus amigos de colégio!'

'Ah, sim... Obrigado... Se der eu apareço lá...'

'Sua presença será muito bem vinda! Obrigada pela atenção!'

'Imagine... Obrigado você...' Ele disse e assim desligou o telefone. 'Festa, reencontro, amigos! Que festa? Que reencontro? Que amigos? Nunca tive amigos! Sempre fui considerado um CDF que não tinha nada em comum com ninguém da sala! Só por que gosto de estudar e trabalhar, sou taxado de CDF! Gente inútil a daquele colégio! Eu era totalmente diferente do que sou hoje em dia, mas minha dedicação é a mesma! É por isso que hoje em dia o meu estipêndio é muito maior do que os daqueles idiotas que um dia já zombaram da minha cara! Aquela gente inútil! Naquele tempo eu usava óculos fundo de garrafa, camisa quadriculada e era muito quieto! Hoje em dia eu mudei meu jeito, mas minha dedicação será sempre a mesma!' Ele gritou com o ódio que corria em suas veias, o ódio que sentia pela vida solitária que levava.

'Keitarô Urashima! Que diabos faz você gritando como condenado às dez da manhã?! Maldição! Graças àqueles malditos fogos eu só consegui dormir à uma da manhã, agora estou sendo acordada pelo mesmo cretino que gritava e não me deixava dormir ontem à noite! Um dia eu ainda me mudo deste prédio! Só tem gente da baixa aqui!' Motoko Aoyama gritava e batia uma vassoura no chão com força.

'Desculpe Srta. Aoyama...' Ele gritou, parou um pouco em silêncio absoluto e logo falou 'Qualquer dia eu é que vou me mudar daqui... Não sou desejado em nenhum lugar! Droga!' Ele reclamou, num tom de voz mais baixo.

Não tinha mais o que fazer. Aquele era o feriado de ano novo, dia 1º de Janeiro de 2005, era manhã de sábado.

'Ótimo... Sábado... Dia de sair, encontrar os amigos, beijar a namorada antes de dormir e depois de acordar... Ter uma vida normal... Um divertimento normal... Mas aqui estou eu... Sem amigos, sem namorada, sem nada... Quer saber? Vou sair!' Ele resolveu. Dirigiu-se a porta encontrando então uma carta, dentro da qual estava o convite da Festa de Reencontro dos alunos do colegial. Ele pegou a carta, leu o título e disse:

'Reencontro...' Jogou então a carta em cima da cama, como se não desse a menor importância, e realmente não dava, e saiu.

Entrou em seu carro de aparência cara, nada que não se espere de um homem bem-sucedido que mora sozinho.

'Certo... Aonde vamos?' Ele perguntou para si mesmo, com o carro ainda desligado.

'Não sei... Não há lugares interessantes onde se possa ir sozinho... Tóquio é formada por pessoas que se amam... Que vivem juntas, que moram juntas, que saem juntas... Não para um solitário como eu... Isso é o que faz dela a cidade que é... O único local que me vem a cabeça é o bar... Mas para beber, eu bebo em casa mesmo...' E assim desistiu da idéia de sair e voltou para casa. Ficou o resto do dia assistindo televisão e quando a noite chegara, tão negra como só ela, Keitarô pedira uma pizza e disso se alimentou durante dois dias.

Trabalhava em tempo integral e merecia o estipêndio que ganhava. Era jornalista, trabalhava no Centro de Jornalismo e Imprensa de Tóquio para um dos jornais mais vendidos nas bancas da cidade. Seu profissionalismo sempre foi ressaltado pelo seu chefe, presidente do local, um homem viciado em café e que mantinha relações sexuais com suas empregadas. Keitaro sempre fora um bom aluno quando estava no colégio e por causa de seu esforço conseguira se destacar por entre os cargos que ocupava, no momento em questão, era um dos melhores jornalistas daquele local. Ele coordenava todos os outros jornalistas, há algum tempo. Além de repórter, também era colunista.

Na segunda-feira, quando Keitarô chegou em casa depois do trabalho, se viu em face da carta novamente. Não tinha mais nada para fazer, então a abriu, não com o intuito de ir na festa, mas somente para ocupar seu tempo tão vago que passava em casa.

A carta dizia:

Senhor Keitarô Urashima,

Nós da Tokyo High School por meio desta carta em suas mãos te convidamos para o primeiro encontro de ex-alunos formados em 1998.

Seria esta uma ótima oportunidade para o Senhor reencontrar os amigos e ter uma noite de diversão.

"A vida tem de ser aproveitada do seu modo, não do dos que te tem por perto, pois nada é infinito."

A festa acontecerá às 20h, no sábado dia 8 de Janeiro de 2005 na Tokyo High School,

Vestir roupa formal.

Contamos com a sua presença.

Srta. Himme Otona

A Diretora.

'A vida tem de ser aproveitada do seu modo, não do dos que te tem por perto, pois nada é infinito...' Ele repetiu, pensativo. 'Ah... Deixa pra lá... Ele disse e colocou a carta sobre a mesa.

Os dias de trabalho continuaram passando e finalmente chegara o sábado. Homens trabalhando numa construção na frente do prédio onde morava o nosso protagonista o acordaram às sete da manhã com o barulho.

Viu-se novamente com sono quando havia acabado de acordar. Tivera uma semana árdua de trabalho e não conseguira dormir nem mesmo 6 horas naquela noite. Olhara para todos os lados do quarto, analisando e procurando o que o acordara quando se dera conta do barulho que continuava. Olhara assim então pela janela e deu-se conta dos homens que trabalhavam desde cedo na construção.

'Não acredito nisso. Dou meu sangue durante a semana inteira naquela porcaria de jornal e em um dos únicos dias que posso dormir até tarde um bando de condenados me acordam às sete da manhã...' Disse ele. Sentia tanto sono que o sono encobria a vontade contínua que tinha de gritar de ódio.

Levantou-se, fizera o café da manhã com um pedaço de pão e as últimas fatias de queijo que podiam ser encontradas na geladeira. Estava ele levando o café para a mesa quando viu que a carta lá se encontrava. Largou o café na mesa e pegou a carta, começou então a revisa-la.

'É hoje... Bom... Não tenho nada para fazer hoje... Eu poderia ir... Mas... De que me adiantaria ir numa festa de reencontro? Vou ver um monte de gente se beijando, um monte de mulheres me evitando... Não me queixo que se beijem, mas por que sou o único que não é beijado por nenhuma garota? Toda aquela sangria que já fora derramada nas raras vezes em que já fui numa festa... Não sei se devo ir... Para sofrer... Eu sofro em casa...'

O tempo passava lentamente e nada acontecia de novo. Os mesmos programas sem graça de fim de semana passavam na televisão. Keitarô dormia e acordava várias vezes num curto período de tempo. O tédio lhe fazia isso. E assim ele passou o dia até as sete da noite.

'Que inferno... Não acredito que passei doze horas sem mover um músculo e sem sair de casa... Só assistindo esses programas idiotas... Certo... Eu me rendo... Vou nessa droga de festa. Seja o que Deus quiser.' Ele disse, vestiu as melhores roupas que ele tinha no guarda roupa, que, julgando sua condição financeira, eram realmente boas: Um smoking e uma calça social pretos, camisa social branca e gravata preta borboleta. Pegou um punhado de gel com a mão direita e passou no cabelo, logo então o penteou.

Entrou em seu carro, mas dessa vez, ele tinha um destino, um horizonte, o fim do arco-íris, ele tinha um local para ir, diferentemente da última vez que lá havia entrado.

Começara a dirigir em direção àquele lugar onde já há tanto tempo não punha os pés. A Tokyo High School era um prédio enorme, cheio de salas, quadras, pátios e um grande salão onde aconteceria o Reencontro.

Finalmente Keitaro chegara ao prédio no qual havia passado tantas tristezas e tantas alegrias, o prédio onde ele passara onze anos de sua vida se esforçando ao máximo para ser o melhor de todos os alunos. A Tokyo High School.

'A Tokyo High School… Quem diria que eu aqui viria novamente… Deus escreve certo em linhas tortas… Quando se tem afinidade com algo ou alguém… Pode-se passar anos, mas sempre voltaremos para a pessoa, a coisa, ou nesse caso, o local. Por mais que eu não goste de sair... Estou me sentindo bem aqui, esse lugar me trás lembranças...' Keitarô disse para si mesmo.

Keitarô costumava falar sozinho muitas vezes, devido à solidão em que sua vida se encontrava. Isso não é sinal de loucura e sim de tristeza.

Entrara então no colégio olhando cada quadro ou peça, ou ainda mais, pessoa, que havia mudado desde seus tempos de escola. Finalmente chegou ao grande salão onde seria realizada a festa. Todos olhavam boquiabertos para Keitarô, que havia acabado de entrar no recinto. Vestia, não mais a mesma camisa quadriculada de antigamente, mas um smoking extremamente caro. Não usava mais óculos com lentes fundo-de-garrafa, era totalmente diferente, ninguém conseguia reconhecer aquela pessoa que havia acabado de entrar naquele salão. Havia um grande burburinho, pessoas que perguntavam umas às outras "Quem é aquele homem?". Keitarô não tinha o mesmo problema, ele olhava para as pessoas e pensava:

'Esta é Shiharo, negou meu pedido de namoro em 1995, esta outra é Megumi, jogou água na minha cara e me chamou de CDF em 1996...'

Finalmente, uma das professoras mais renomadas do colégio subiu ao palco.

'Atenção ex-alunos da turma de 1998, antes da festa começar, gostaríamos que vocês se apresentassem e dissessem um pouco do que fazem hoje em dia.' A professora disse e todos então se sentaram em volta de uma grande mesa que se encontrava na frente do palco.

Começaram então as apresentações:

'Sou Yoshiyuki Okino. Hoje em dia sou jardineiro... Tentei arrumar um emprego melhor mas não consegui por causa das minhas notas e do meu currículo vago.' Ele dizia, com um pouco de vergonha de sua derrota.

'Hahahaha! Esse é um dos idiotas que zombava da minha cara! Veja só! Hoje em dia ele está morrendo pouco a pouco, engasgado com as palavras de zombaria que ele direcionava a mim!' Keitarô pensava, satisfeito.

'Sou Megumi Norisaki, sou recepcionista de uma empresa que vende materiais de construção.'

'Aquela menina vulgar que jogou água em mim e me chamou de CDF quando eu pedi um beijo a ela... Agora também não deve ganhar muito, sendo recepcionista...' Keitarô pensou.

As pessoas foram falando, mas nenhuma delas tinha um cargo realmente bom. Algumas mulheres chegavam até a se prostituir por falta de emprego, para Keitarô, isso era perfeito. Todos os que um dia zombavam dele, hoje não haviam conseguido sucesso profissional. Finalmente então chegou a hora mais esperada: A hora em que Keitarô iria se apresentar.

Ele se levantou e novamente, um burburinho se fazia ouvir. Todos estavam ansiosos, querendo saber quem seria o homem tão misterioso que ninguém conseguia reconhecer.

'Eu sou...' Ele disse, parou por um breve momento e notou nos olhos dos que o viam que havia uma ansiedade que não era comum, que era diferente de quando os outros se apresentavam. Continuou então sua frase. 'Eu sou Keitarô Urashima.'

Quando disse seu nome, o burburinho aumentou. Até ele mesmo podia ouvir palavras como:

'Não acredito! Ele é aquele CDF idiota! Como pode estar tão mudado?'

'Nossa! Não deveria ter jogado água na cara dele' Isso, obviamente fora Megumi quem havia falado.

'Como pôde ele ter mudado tanto e eu ter continuado tão feia?'

Keitarô conteu o riso diante de todos estes comentários e continuou se apresentando.

'Sou Keitarô Urashima, hoje em dia sou coordenador dos repórteres do Centro de Jornalismo e Imprensa de Tóquio. Moro sozinho.'

Todos ficaram abismados. A professora, também boquiaberta, disse:

'Sr. Keitarô... Eu poderia perguntar uma coisa que não me diz respeito, mas sim à minha curiosidade?'

'Sim... Contanto que eu possa responde-la...'

'Qual é o seu estipêndio?'

'2000 dólares.' Isso corresponde a aproximadamente 6000 reais por mês. Uma pessoa de 21 anos que ganhe tal quantia mensalmente é considerado bem sucedido.

Meus parabéns, Sr. Keitarô Urashima. Vejo que progrediu muito em sua vida profissional. É uma honra, para nós, da Tokyo High School, ter um ex-aluno como o senhor.' A professora disse, ainda boquiaberta com a mudança do garoto CDF que vestia camisa quadriculada e óculos com lentes fundo-de-garrafa. Não era surpresa para ela que ele estivesse numa situação financeira totalmente favorável, pois isso é o que realmente se espera de um aluno como ele era.

Enquanto a professora o felicitava, o burburinho aumentava cada vez mais.

'Bem, muito obrigada a todos pela paciência, por favor, aproveitem a festa.' A professora disse.

Montes de garotas iam falar com Keitarô enquanto a música tocava. Os homens o invejavam. Ele se perguntava:

'Como pode? Do dia pra noite eu estou cercado de mulheres que querem todo o tipo de programa comigo! Todos os homens daqui estão me invejando... Os mesmos que um dia me difamaram...'

Após um tempo, abriram-se as portas novamente e um homem, também muito bem-sucedido entrou no recinto. Keitarô achou estranho. Quem teria o mesmo padrão de vida dele?

O homem chegou perto de Keitarô e disse:

'Você deve ser Keitarô Urashima, não?'

'S... Sim... Sou eu mesmo. Como sabe? Não me lembro de ter te visto na hora das apresentações... Quem é você?' Keitarô respondeu.

'Sou Akio Wanagawa! Não se lembra de mim?'

'Claro que sim! Em toda essa porcaria de escola você era o único que falava comigo!'

'Nós éramos os CDF's, não se lembra?'

Aquele era outro alvo de zombaria dos colegiais. Devido a essa semelhança entre os dois, Keitarô e Akio eram amigos, mas não tinham mais se encontrado depois de terminarem o colegial.

'E então, como vai a vida?' Akio perguntou.

'Depois de me formar, comecei a trabalhar no Centro de Jornalismo e Imprensa de Tóquio, me destaquei entre os jornalistas e hoje em dia sou o diretor de lá!'

'Então as coisas estão boas para você, não é verdade?'

'Depende... O problema é que eu moro sozinho e nunca mais falei com ninguém, não consigo arrumar namorada de jeito nenhum, até mesmo um selinho é difícil!'

'Keitarô, em terra de cego, quem tem um olho é rei, porém em terra de pessoas normais, um caolho nunca será aceito.'

'O que você quer dizer com isso?'

'Que você está no lugar errado. Que mulher não gostaria de um homem bem sucedido e boa-pinta? Eu hoje em dia conheço um monte de mulheres, tenho caso com quase todas.'

'Mas como você consegue isso?'

'É simples, você só não consegue mulher por que você não sai! Se você começasse a sair a noite iria chover mulheres nos seus pés!'

'Bom... Hoje aconteceu um negócio estranho...'

'O que?'

'Eu vim aqui e de repente todas as garotas que me evitavam nos tempos de colégio... Hoje me deram bola...'

'Mas é isso que eu estou dizendo! Você deve ter falado quanto você ganha na apresentação, né?'

'Sim...'

'Isso também ajudou. Nós mudamos, Keitarô, hoje em dia não usamos mais aqueles óculos, usamos roupas de grife, que mulher não olharia para nós?'

'Sim... Vendo desse ponto de vista... É verdade!'

'Claro que é! Qual é o seu telefone?'

'Está aqui no meu cartão...' Keitarô disse e deu um de seus cartões para Akio.

'Eu te ligo, a gente combina de sair, quero ver se você vai continuar se queixando de não ter mulher nem amigos! Pois aqui, você tem na sua frente um amigo que nunca te deixará na mão.'

Aquelas foram as palavras que mais o confortaram em um período de muitos anos.

'Você ficou com alguma das mulheres que te paqueraram hoje?'

'Não...'

'Imagino que seja pelo mesmo motivo pelo qual eu também não ficaria com ninguém daqui... O orgulho é mais forte, não é verdade?'

'Exatamente.'

'Eu entendo. Esnobar as que já te esnobaram é muito confortante... Realmente. Bom, aproveite a festa. Logo eu te ligarei.'

'Certo! Foi um prazer te reencontrar!'

'O prazer foi meu!'

A festa continuou acontecendo. Keitarô não parava de ser cantado e paquerado por todas aquelas que um dia já o haviam evitado, mas como já havia dito, seu orgulho fora maior e ele não aceitou nenhuma delas. Mais ou menos às quatro horas da manhã a festa acabou e Keitarô voltou para a sua casa, sozinho, mas desta vez, por opção e não por obrigação.