Capítulo 2: Os gêmeos alegres


Mitch ficou vendo a imagem psicodélica de lareiras e mais lareiras, até que percebeu que a velocidade reduziu. Adiantou a mão à frente e sentiu que passara normalmente para dentro da sala de Kievnashravostok:

- Olá, Mitch! – disse Anya, abraçando-a e beijando-o bastante, à maneira dos russos. Ela vestia uma veste bruxa vermelha, com um chapéu bruxo pontudo simples. Estava bem diferente da Anya habitual, que vestia vestes de trouxa como se nunca tivesse sido uma bruxa de Sangue Puro.

- Oi, Anya! – disse Mitch.

Mitch reparou então que Anastasia crescera bastante, ficando quase tão bela quanto uma veela: ela quase não parecia ter apenas 13 anos. Anastasia era da mesma altura de Enya quando ambas entraram em Hogwarts, mas agora Anastasia parecia mais... feminina, enquanto Enya ainda tinha uma cara de menininha.

Ao lado dela tinha dois adultos: uma senhora, com um rosto gordo e cabelos loiros escorridos, e um senhor de bigodes negros e fartos, também com um rosto gordo. Ambos vestiam roupas sérias e formais, utilizando apenas pequenos broches vermelhos, no qual havia o desenho de uma estrela. Dois garotos idênticos em tamanho e aparência estavam próximos: eram pequenos, como Anastasia, mas tinham o mesmo corpo forte de Boris. Em compensação, de certa forma lembravam o pai, embora tivessem os cabelos e os olhos azuis da mãe. E tinham um sorriso cativante: de certa forma, era como se aquele sorriso tivesse sido talhado por Deus em seus rostos. E usavam vestes muito coloridas e cheias de desenhos.

- Olá! – disse o senhor – Boris falou muito sobre vocês, camaradas Mitch, Enya e Cedric. Meu nome é Vassily. Eu sou o tio de Boris e Anastasia.

Vassily abraçou todos e beixou-os à maneira dos russos. Claro que Mitch não achou muito bom uma barba igual a de um leão marinho roçar suas bochechas, mas mesmo assim entendeu que era cultural. Todos ali eram russos. A senhora, chamada Olga, também abraçou-os e beijou-os muito. Por algum motivo, eles eram muito queridos em Kievnashravostok.

- Oi para todos. – disse Mitch, de forma educada.

- Anya, cadê o Mikhail? – perguntou Enya.

- A Geena está dando uma passeada com ele. Logo ele estará de volta. – disse Anya.

Mitch então lembrou-se que Geena Klinsberg era a bruxa americana que correra o mundo até ser contratada como babá de Mikhail McGregor Kievchenko, filho de Anya com Angus McGregor. Agora Angus estava na reserva, e fazia aconselhamento técnico-logístico para tropas do Exército Inglês. Diferentemente dos três irmãos bruxos, ele tinha cabelos morenos, mas os olhos verde esmeralda não deixavam-o esconder sua ascendência irlandesa.

- Angus está aí? – perguntou Cedric.

- Não... Reuniões importantes no Exército. – disse Anya.

- E quem são esses dois? – disse Enya, apontando os jovens loiros.

- Eles são... – ia dizendo Vassily.

Um dos jovens disse alguma coisa para ele, que então respondeu também de alguma forma que os jovens irlandeses não entenderam. Foi quando Anya percebeu e pegou dos bolsos da veste um pequeno pacote e entregou-o a Mitch:

- Desculpe... Esqueci que vocês não falam russo. Pegue esse pacotinho e dê uma pílula para cada um de seus irmãos e tome você mesmo uma.

Mitch retirou três pílulas do pacotinho. Todas elas tinha as cores vermelha e branca, com uma inscrição em azul escrito "RU". De certa forma, lembrava pílulas de remédio para eles.

- O que é isso? – perguntou Mitch.

- Pílulas Mágicas de Idiomas. No caso, Russo. Durante 72 horas, serão capazes de conversar russo normalmente. Claro que com o tempo vocês vão REALMENTE aprender russo, mas agora é interessante vocês tomarem isso.

Enya e Cedric olharam-se estranhando. Mitch então decidiu tomar a cápsula primeiro:

- Não tem nada, podem tomar. – disse Mitch, após engolir a pílula.

Enya e Cedric tomaram a pílula. Para sua surpresa, os jovens disseram algo em russo... que eles entenderam:

- Papai, agora podemos nos apresentar a eles? – disse o jovem que tinha falado de forma estranha antes.

- Claro. – disse Vassily, sorrindo.

Os dois jovens começaram a fazer micagens: viravam cambalhotas, estrelas, mortais, tombamentos e rolamentos como Mitch nunca tinha visto. Mesmo quando fez curso de clown para aprender a se entender melhor, nunca aprendeu movimentos tão complexos.

No final da pequena apresentação, um deles ficou em pé e o outro ajoelhado, em posição de agradecimento ao público:

- Eu sou Vasya Amaruska Kievchenko! – disse o que estava em pé.

- E eu sou Sergei Amaruska Kievchenko! – disse o que estava ajoelhado.

Os irmãos McGregor ficaram espantados com a apresentação. Foi quando os dois jovens começaram a falar em inglês, embora com algum sotaque e erros de pronúncia:

- E então, gostaram?

- Muito legal! – disse Cedric.

Enya não se contia de gargalhadas de pura alegria.

- Eu... nem... consigo... parar... de... rir! – disse Enya, às gargalhadas.

Enya ainda tinha muito de garotinha, mesmo tendo sofrido o que ela já sofrera, Mitch pensou. "É importante resguardar tal pureza... Por ela e por todos..."

Mitch foi então responder:

- Gostei muito de sua técnica. Eu também sou clown, mas nunca vi movimentos tão impressionantes.

- Não é por menos! – disse o jovem Vasya – Aprendemos isso no Curso Básico para a Universidade do Circo de Moscou, quando ele teve em Kiev, nossa terra natal.

- UAU! – disse Mitch – O Curso da Universidade do Circo? Mas vocês são?...

- Sangue-Puro? – disse Sergei – Não. Papai é sangue-puro e é irmão da Tia Anya. Mas mamãe é uma Amaruska, de uma linhagem tradicional de artistas circenses, embora seja 100% trouxa.

- Papai nunca foi muito favorável ao casamento. – disse Vassily – Conheci-a certa vez, quando fui ao circo aonde os pais dela trabalhavam. Foi muito complicado convencer ambas as partes de que o casamento seria bom.

- Vassily abdicou de muita coisa. – disse Anya – Como tinha formado-se por Durmstrang, ao invés de ter se formado pela Escola Estatal de Artes Mágicas, tinha uma boa vaga como Chefe de Aurores esperando-o no Ministério. Mas ele a jogou para o espaço por amor a Olga. Eu apoiei ele, mas como toda boa família tradicionalista, papai foi contra o casamento o tempo todo, assim como os manos, tirando Illyana, mãe de Boris e Anastasia. Todos os outros: Boris, Anatoli, Garry, Josef e Mina... Nenhum deles foi a favor do casamento.

- Depois que papai morreu, – disse Vassily – os demais foram contra a minha participação na herança. Mas como já tinha na época Sergei e Vasya, e sabia que seriam bruxos, fiz uma coisa bem simples: peguei apenas a parte em dinheiro da herança e vendi minha parte nas licenças do Ministério para criação de hipogrifos e cavalos voadores para os demais e depositei tudo em Gringotes, deixando investido. Agora os dois tem dinheiro para fazerem suas aulas em Hogwarts tranquilamente.

- Que legal! – disse Cedric – Espero que vocês entrem em uma boa casa, como a Sonserina, por exemplo.

No que Cedric disse isso, as sombrancelhas de Vassily ergueram-se na hora. O balão de ar de Cedric furou na hora:

- Desculpe. – disse Mitch – É que ele estuda na Sonserina, então é claro que gosta da Casa na qual estuda. Mas eu e Enya somos da Grifinória! Não se preocupem.

Cedric até pensou em reagir, mas sabia como era a mentalidade das pessoas: ele próprio não se comformara em entrar na casa de Sonserina, imaginava-se um amaldiçoado. No final das contas, Sonserina o fez enxergar que ambição e maldade não precisam ser duas coisas que caminhem lado a lado, muito pelo contrário: muitos bruxos pouco conhecidos de Sonserina foram os "carregadores de piano" no combate contra o mal. "Pena que apenas os piores Sonserinos sejam os que ganham reputação", pensou Cedric.

Claro que Vassily ficou um pouco receoso, mas observou Cedric de cima a baixo e disse:

- Você não tem cara de ser como as outras Cobras. Mas tome muito cuidado com a ambição: ela pode lhe dar muito mais do que é capaz de carregar.

Cedric baixou a cabeça. Nessa hora Mitch virou e falou:

- Desculpe, senhor Kievchenko, mas devo dizer para você que, Sonserino ou não, meu irmão e eu temos poderoso sangue auror pelas duas famílias. Minha mãe era uma Andaluzia. Meu pai um McGregor. Ambos morreram em uma expedição na Torre de Ma'at, em uma investigação que os dois, apesar de serem ambos abortos, aceitaram, quando o Ministério da Magia lhes ofereceu a missão. Agora, se você acha que Cedric vai se bandear para o mal, vou ser obrigado a tomar isso como uma ofensa a minha família, e demandar satisfação por isso.

Anya percebeu que Mitch falava sem raiva ou ódio, mas com eloqüência e sabedoria, e acima de tudo com disposição para cumprir o prometido. Foi quando ela disse:

- Vassily, Cedric é um bom garoto, lhe garanto. Ano passado, nos ajudou a cuidar de Mikhail. E quanto a Mitch, ele sempre foi do lado do bem. Além disso, todos sempre lutaram pelo bem, chegando até mesmo a ajudar Harry Potter!

Vassily ficou abismado:

- Harry... Potter... Você quis dizer, o Harry Potter? Aquele que venceu Você-Sabe-Quem?

- Sim! – disse Anya – Todos eles são bons garotos, garanto-lhe.

- Bem... Vocês têm sangue do bem... Desculpe minha falta de etiqueta, Cedric. É que eu não consigo entender como a mesma Casa em que estudou Vocês-Sabem-Quem tenha alguém tão bom.

- Tudo bem! – disse Cedric, consolado – Não é a primeira vez, e provavelmente não será a última, que alguém irá tomar as coisas assim. Eu me lembro bem de como foi chocante ouvir o Chapéu Seletor dizer "Sonserina!" Pensei que o mundo tinha ruído aos meus pés. Mas depois descobri que nem todos que estão em Sonserina são malignos.

Sergei e Vasya escutavam a história de Cedric com muita atenção. De certa forma, lembravam a Mitch os gêmeos Fred e Jorge Weasley: alegres, brincalhões, mas sempre capazes de se tornarem sérios e compenetrados.

Agora era hora de Anya fazer perguntas:

- Mitch, porque voltaram tão cedo para Londres? Ainda é 31 de Julho. O embarque para Hogwarts é em 1° de Setembro.

- É uma longa história...

Mitch explicou a Anya como ele tinha recebido a capa e a convocação para a Guarda de Hogwarts:

- ... e foi assim: vim para Londres porque tenho a séria impressão de que, a qualquer momento, Hogwarts poderia me requisitar para alguma missão.

- Uau! – disse Boris – Não imaginava que vocês iriam... Mas então...

- Na verdade, apenas o Mitch. – disse Enya.

- Eu gostaria de fazer parte da Guarda. – disse amuado Cedric – Será que não me escolheram pela minha casa?

- Duvido. – disse Mitch – Acho que não te escolheram pela idade: acredito que apenas alunos a partir do 4° Ano podiam ser escolhidos para a Guarda de Hogwarts.

- Entendo. Mas como será que foram escolhidos os alunos da Guarda? – perguntou Anya.

- Talvez seja por uma combinação de habilidades. – disse Mitch – Mas isso deve ter mais ficado a cargo de Dumbledore.

- Ele deve ter usado bons critérios. – disse Vassily – Mesmo entre nós de Durmstrang, o nome de Alvo Dumbledore era mencionado com tanto respeito e temor quanto o do Vocês-Sabem-Quem.

- Bem... Seja como for, talvez ele precise de mim ainda antes de irmos para Hogwarts.

E Mitch não sabia o quão certo estava em seu comentário.