Capítulo 3: A Traição dos Dursley e a Salvação de Black
Os irmãos McGregor e os irmãos Boris e Anastasia ficavam sempre andando com os gêmeos Vasya e Sergei Kievchenko. Mitch aprendera muito com os gêmeos, que por sua vez aprenderam com Mitch, Enya e Cedric um inglês suficientemente bom para poderem estudar em Hogwarts, embora continuasse carregado de um duro e gutural sotaque russo. Ficou combinado entre os Kievchenko e os McGregor que iriam fazer suas compras no Beco Diagonal, no dia 14 de agosto.
Mitch não imaginava que teria que resolver outros problemas.
Mitch recebera na noite do dia 13 de Agosto uma Coruja de Hogwarts. Era um envelope de um prata-escuro, um cinza grafite que nunca Mitch vira antes. Não era um Berrador: Mitch sabia que os Berradores eram vermelhos e explodiam fazendo uma leitura de seus conteúdos em um volume semelhante a um show de heavy-metal. Tampouco era uma Emergencial: as Emergenciais tinham envelopes dourados que faziam gerar imagens de seus remetentes, explicando o motivo do envio da correspondência pelos mesmos.
O selo de Hogwarts parecia exatamente igual ao de todas as cartas, mas era de um azul marinho estranho. Aquilo não era cera, ou se fosse, era mágica: o brasão tinha formado linhas da cor do ouro por baixo do azul marinho da cera.
Lentamente, Mitch soltou o selo e abriu o envelope. De dentro dele apenas uma carta escrita no mesmo cinza escuro que formava o envelope. Por algum motivo, Mitch sentia que havia algum tipo de mágica no envelope. No seu quarto estavam apenas ele, Cedric e Boris, sendo que os dois disputavam uma animada partida de xadrez de bruxo, aonde um grupo de peões kamikaze de Boris abrira totalmente a defesa e desestruturara o ataque de Cedric. Isso era bom, pois os dois estavam concentrados demais para verem o que estava escrito na carta, ou sequer tinham reparado na coruja rápida e discreta de Hogwarts que chegara. Mitch passou a ler:
"Caro sr. McGregor:
Como parte de suas atribuições como integrante da Guarda de Hogwarts, deve ajudar alunos que estejam com problema. No caso, Harry Potter.
Recebemos a coruja de confirmação de retorno de Harry para Hogwarts, mas temos informações que homens de Voldemort estão convencendo os Dursley a impedir que Harry retorne a Hogwarts.
Desconfie das pessoas que estiverem próximas a Harry. Algumas podem não ser o que aparentam. Leve sua varinha: estará autorizado a usá-la se perceber que há algo errado com Harry.
Professor Alvo Dumbledore
Diretor
Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts
P.S.: Existe um bruxo na rua dos Alfeneiros que está do nosso lado. Não se preocupe em saber quem ele é. Ele sabe quem você é.
P.P.S.: Não se preocupe com essa carta. Ela é uma Confidencial: quem tentar ler o papel vai lê-lo vazio. Após lê-la, guarde de volta no envelope. O selo se tornará irremovível por qualquer pessoa que não você."
"Estranho... Nunca ouvi falar nessas Confidenciais.", pensou Mitch, enquanto Boris dizia:
- É, camarada, parece que nunca vão fazer enxadristas decentes desse lado do Mundo. Apenas Bobby Fischer conseguiria derrotar um russo. Xeque-Mate. – disse Boris, para espanto de Cedric.
Cedric cumprimentou Boris (como a etiqueta do Xadrez exige), e voltou-se para Mitch.
- Mitch, que carta é essa? – disse Cedric, tentando apanhar a carta.
Quandor Cedric tocou a carta, ele sentiu como se tivesse levado um choque:
- Aiiii! – disse Cedric.
- Você está bem? – disse Mitch, assustado.
- É uma Confidencial, tovarisch. – disse Boris. – Ninguém pode tocar, exceto o seu destinatário, pois ela dá choques elétricos. E se consegue, não pode abrir, porque apenas a quem a carta foi endereçado pode abrí-la. E mesmo que consiga, não pode ser lida por mais ninguém, pois as letras se embaralham para todos, exceto para o destinatário. É sobre... – ia perguntar Boris.
- Missão de Hogwarts. Amanhã vou para Surrey. Podem ir tranqüilos, quem sabe eu não traga uma boa surpresa?
Claro que Mitch não acreditava nessa hipótese.
No dia seguinte, chegou em Surrey antes da metade da manhã. A rua dos Alfeneiros lhe parecia tão monótona e parada quanto sempre fora: para alguém crescido nos caóticos subúrbios e guetos católicos de Belfast e nas ruas perigosas de Dublin, a Rua dos Alfeneiros era um mar de tédio e afetação.
Dirigiu-se ao número quatro. Dessa vez, preferiu uma atitude mais evasiva: ele observava pelas janelas tudo que podia ver. Ao olhar para o outro lado da rua, percebeu que uma velhinha estranha o observava a distância, com muito interesse. Era acompanhada de alguns gatos, de todas as cores, tamanhos e comportamentos. Alguns olhavam Mitch com surpresa. Outros pareciam esperar que ele estivesse ali.
Observou então o que se passava dentro da casa dos Dursley. Eles estavam conversando com um homem, aparentemente um pastor protestante. Ele carregava uma Bíblia e vestia-se de forma sóbria e formal. Sua principal "excentricidade" era que o tal pastor estava usando luvas negras de couro para proteger as mãos. "Há algo errado nesse cara", pensou. Na mesma hora, reparou que, enquanto os Dursley conversavam com o pastor, Harry vinha correndo pela direção oposta da casa, por trás dos gramados, enquanto Duda e seus amigos corriam atrás dele.
Duda parecia um pouco mais magro, ganhando um pouco de agilidade e massa muscular, enquanto os demais continuavam com as mesmas caras de trasgo de quando Mitch os conhecera. Claramente, Duda ficou surpreso ao ver Mitch:
- É fácil demais perseguir alguém em vantagem, Dudley Dursley. – disse Mitch.
- Quem você tá pensando que é, arruaceiro irlandês, para chegar aqui cantando de galo? – disse Duda.
- Eu por mim vou embora rapidinho. Só vim porque Hogwarts me pediu para pegar Harry...
- Ele não vai! Não esse ano! – disse uma voz.
Mitch viu então Valter Dursley. Tinha a mesma cara de leão marinho que normalmente. E também mantinha como esposa a mesma figura com cara de cavalo, Petúnia. O pastor saia por trás deles. Harry sentiu uma pontada esquisita na testa. Mitch, por algum motivo, sentia que algo estava muito errado:
- Sr. Dursley, eu vou só pegar o Harry... Quero sair sem confusão...
- Eu já disse! Ele não vai! O Pastor Frederick disse que pode eliminar de Harry essa maldição que é a bruxaria! E um católico irlandês não pode saber sobre a verdade de Jesus, sendo que continuam com adoração a ídolos e a demônios do Culto Antigo.
Mitch começou a se sentir provocado: Mitch era um católico celta, mas também mantinha certa crença nos rituais e dias sagrados dos antigos, como Beltaine, Samhain e Yule. E sabia das verdades sobre essa religião antiga e de seu respeito a natureza:
- Interessante... Você fala em paz, mas seu pastor aí apóia ataques de grupos como a Brigada de Orange e o Partido de Ulster. E esses malditos massacram e apedrejam jovens católicos que nada mais querem que irem estudar! O que você sabe sobre paz? O Culto Antigo estava aqui muito antes dos cristãos chegarem, e alguns católicos entenderam que não tinham todo o Conhecimento da Verdade de Cristo, e que o Culto Antigo possuia algumas dessas verdades. Por causa de Cronwell, o Graal está perdido! E aquele bastardo do Henrique V só criou o anglicanismo pois ele queria desrespeitar uma norma de Deus, que era o casamento. Um casamento é indissolúvel: "O que Deus une, o homem não pode separar!"
- Basta! – disse Valter, furioso – Não basta você vir aqui, ainda tem a petulância de me desafiar? Garotos, dêem um jeito nele.
Quando Mitch deu-se conta, percebeu que tinha dado mancada: sentia o corpo sendo preso de forma que ele estava sem reação. Duda se aproximou rapidamente dele e socou-o várias vezes na boca do estômago. Em seguida, socou as laterais do peito, e nessa hora Mitch chegou a ouvir o barulho de costelas se partindo. Tomou dois socos no nariz, e foi quando Duda localizou a varinha de Mitch e a tomou:
- Quero ver o que você faz agora, garoto irlandês, sem isso. – disse Duda, jogando longe a varinha.
- Harry... corre... – disse Mitch, enquanto sentia a respiração falhar. Estava quase certo que suas vértebras tinham perfurado-lhe o pulmão. Sentia dores horríveis no peito. Duda, que ainda não achou aquilo suficiente, atirou Mitch ao chão e começou a chutá-lo com violência. A dor foi como nunca Mitch tinha sentido antes, exceto quando foi vitimado pela Maldição Imperdoável da Dor, a Crucio. Ele conseguiu, mesmo a contragosto, manter o autocontrole: se ele tivesse uma E.I.M. ali, com certeza aqueles trouxas todos iam voar pelos ares.
Foi quando Mitch notou que o pastor que estava com eles tinha um estranho interesse na sua varinha. Ele a mexeu rapidamente e a varinha se acendeu e apagou-se. Foi tudo muito rápido, mas não suficientemente rápido para que Mitch não percebesse.
Harry tentou correr, mas foi então que Duda pegou-o, fazendo uma alavanca. Um estalido seco como uma árvore quebrando foi o sinal que Mitch não queria ouvir: Harry havia quebrado a perna.
E Mitch, a barreira do suportável:
- CHEGA! – gritou Mitch, de alguma forma libertando-se por magia dos garotos que o cercavam – OK! Vocês querem sempre as coisas do modo mais difícil, não é Dursley? Pois bem!
Mitch nunca soube antes, mas um bruxo em uma E.I.M. não precisa da varinha para fazer feitiços, desde que consiga imaginar o que queria. E naquele momento, Mitch, que estava um tanto ferido, mas era capaz de se mexer com dificuldade, olhou a varinha e pensou: "Como adoraria mostrar do que sou feito a esses estúpidos Dursley! E tudo o que precisaria é da minha varinha!" Foi quando a varinha soltou-se da mão do pastor e saltou para a de Mitch, de forma semelhante a quando um lightsaber saltava de volta para a mão de um Jedi em Star Wars.
- Agora vocês me pagam! – disse Mitch, segurando seu bastão de quarenta centímetros, de pau-brasil vermelho como sangue e com a crina de um cavalo voador pégaso dentro dela.
Foi quando Mitch percebeu que algo estava errado. O pastor parecia estar sacando algo de dentro da Bíblia. A Bíblia era falsa e estava sendo usada para ocultar uma... VARINHA!
- Dursley, mate o garoto! Impe... – ia dizendo o "pastor" quando, a muito custo, Mitch berrou:
- Expelliarmus!
A varinha do "pastor" voou, mas Mitch caiu no chão com o esforço. Ele teve força apenas para dizer:
- Cuidado, Harry! Corre! Esse maldito não é um pastor! Ele é um bruxo!
Os Dursley ficaram assustados, mas não teve tempo de tomarem nenhuma atitude. O maldito teve tempo de alcançar a varinha e dizer:
- Imperio! – apontando os Dursley.
Duda ficou impressionado, quando viu os olhos de seus pais ficarem vitrificados. Mas o mais impressionante foi a selvageria com a qual Valter e Petúnia Dursley avançaram contra o próprio filho e seus amigos, buscando Harry para o matarem. Valter deu um soco na boca do estômago de Duda, enquanto Petúnia jogou-o longe, com uma força pouco condizente com a de seu corpo fino. Eles então se aproximaram de Harry e o seguraram, erguendo.
- Agora você vai se ver comigo, Harry Potter! – disse o "Pastor" – Avada...
- Expelliarmus! – disse Mitch.
- Expellicorpus! – disse uma voz idosa por trás de Mitch.
O "pastor" perdeu sua varinha, enquanto os Dursley foram atirados diretamente contra o canteiro de rosas. Claro que Mitch queria acabar com aquilo rapidamente: quatro bruxos brincando de pega-pega em plena luz do dia em um subúrbio pacato da região metropolitana de Londres era o tipo de coisa que inegavelmente chamaria a atenção do Ministério da Magia. Foi quando ele olhou para trás e viu quem havia jogado os Dursley longe: era a senhora que Mitch vira com os gatos, e ela segurava uma varinha de uns 28 centímetros, feita de carvalho. Apesar de antiga, a varinha parecia bem conservada.
- Você é bem seu avô, Mitch! – disse a velha com um meio sorriso no rosto.
Mitch então ergueu-se lentamente, e foi para cima de Dudley Dursley. Apontou para ele e disse:
- Wingardium Leviosa! – fazendo o brutamontes erguer-se de cima de Harry.
Claramente Duda Dursley não estava preparado para voar, pois ele sentia um medo inacreditável ao ser içado magicamente do chão. Foi quando os dois Dursley, ainda sobre efeito de Imperio tentavam atacar Mitch. Nesse meio tempo, o "pastor" tentou fugir, mas foi surpreendido por um grande cão negro, que avançou e caiu por cima dele, rosnando e arranhando todo o rosto do "pastor". Mitch então jogou Duda contra os pais, que sentiram o impacto dos mais de cem quilos de banha diretamente contra eles e cairam no chão. Em seguida, Harry apontou sua varinha contra os três e disse:
- Legio Estupora! – mandando todos os três a nocaute.
Em seguida, Mitch percebeu que o cão ainda estava arranhando o "pastor". Mitch pegou sua varinha e disse:
- OK! Esse cara não é quem ele aparenta ser! Deixa ele comigo, Harry! Verita Imago!
No momento em que Mitch executou tal magia, o cão negro saiu de perto, e o "pastor" foi atingido direto no alvo, virando lentamente um homem maduro, parcialmente careca, com olhos agüados e um nariz meio de rato:
- Mitch, é Rabicho! Petrificus Totalus! – disse Harry.
Antes que Rabicho pudesse tomar qualquer decisão, ele estava totalmente petrificado. Mitch então despencou no chão, chorando de dor. Os esforços que fez só pioraram seu quadro:
- Mitch, está bem? – disse Harry.
- Es... tou... Pe... gue... suas... coisas... rápido... e... vamos... sumir... daqui...
- Estão bem, Harry, Mitch? – disse a senhora.
- Senhora Figg? – questionou Harry.
- Pode me chamar de Arabella. – disse a senhora com um sorriso no rosto.
O rosto da mulher foi perdendo rugas lentamente, e ela foi ganhando uma coloração acaju no cabelo.
- A senhora sempre esteve...
- Dumbledore sempre me manteve aqui como um "plano B" para quando qualquer outro plano desse errado. Quando Hagrid te encontrou Harry, se algo tivesse dado errado e o Hagrid não o apanhasse, tão logo você fosse mandado para a minha casa, eu pegaria você.
Arabela olhou preocupara para Mitch:
- Está bem, McGregor?
- Não... acho que quebrei umas costelas... Tenho medo de que o pulmão tenha sido perfurado. Como vocês sabe sobre mim?
- Dumbledore me contou sobre você, e conheci seu avô. Ele foi meu professor de DCAT. Na mesma época de Sirius, eu estava em Hogwarts, mas por Lufa-Lufa, diferente de Lilian e dos Marotos, que eram da Grifinória. – disse Arabela sorrindo – Tudo bem, fique tranquilo. Agora está tudo bem... Harry, e você?
- Só a minha perna... AII... que tá quebrada! – disse Harry.
- Então deixa que eu ajudo.
Um homem de cabelos negros longos apareceu do nada, e pegou Harry. Depois apontou para a perna e disse "Férula!", invocando bandagens para manter os pedaços do osso no lugar.
Mitch também estava com bandagens sobre o peito. Em seguida, com a ajuda de Arabela, todos foram até o número 10 da rua dos Alfeneiros e entraram: Harry carregando Rabicho por levitação com Wingardium Leviosa. A casa tinha um cheiro forte de repolho e gato misturado. Havia muitos gatos por ali...
- "Olho-Tonto" já está sabendo do maldito Rabicho... – disse Arabela, enquanto colocava bandagens e poções em Mitch – Agora, você vai poder ser solto, Sirius. E vai aproveitar e retirar Harry dessa vida medíocre que ele vive com os Dursley.
Agradeço, Arabela, mas é necessário pensar primeiro em Mitch e em Harry.
- O Mitch vai ter que passar por tratamento mais sério... Anya pode dar conta dele. E talvez fosse bom Harry ir junto. A "Toca" dos Weasley é um ótimo lugar, mas eles não podem correr o risco, nem para eles nem para os Weasley. Deixar com Anya e Vassily Kievchenko, dois dos maiores bruxos na Defesa contra as Artes das Trevas que eu já conheci, vai ser bom para a proteção de Harry.
- Concordo. – disse Sirius – Quanto a mim, vou para a casa de "Olho-Tonto", para poder me "entregar". Claro que vou ser solto depois, mas...
Harry e Mitch passaram pelo Flu, junto com as coisas de Harry.
E Harry tinha certeza que uma coisa de boa saira de tudo aquilo.
