Capítulo 18: O Filho do Dragão


Alguns dias passaram-se. Mitch estava pensando ainda sobre a Lança de Longuinus: com muita freqüência estava tendo exatamente o mesmo sonho que tivera quando foi para a Ala Hospitalar após a queda de vassoura durante os treinos para a Grande Corrida de Hogwarts. Eles ficavam cada vez mais intensos. Aos poucos, ia reparando marcas no local do sonho, mas não era nada reconhecível. Foi quando, uma semana depois do Eidolon, Mitch estava indo para sua aula de Trato de Criaturas Mágicas. Já tinha encarado os hipogrifos, os church grimse os cavalos alados, só para citar as criaturas MENOS perigosas. "O que mais Hagrid poderia estar preparando para nós?", perguntou Mitch para si próprio.

Mitch não sabia o quanto ia se arrepender de perguntar.

Na tarde daquele dia de aula, todos os alunos dirigiram-se até a cabana de Hagrid: os dias estavam frios e esfriavam cada vez mais. Chegando na cabana de Hagrid, perceberam que não havia nenhuma fera matadora de bruxos no picadeiro colocado próximo à cabana. Tudo que havia eram algumas das vassouras Shooting Stars e Hagrid, segurando uma Bashlikov Soyuz, uma vassoura de transporte russa conhecida pela capacidade de carregar peso:

- Só mesmo uma Soyuz carregaria esse brutamontes que chamam de professor! – disse Starshooter, baixinho. Mas não baixinho o suficiente para que alguém ouvisse: Sally Wittlesbach.

- Se cérebro fosse peso, você poderia ser carregado até em uma vassourinha de brinquedo!

- Ora, sua... – ia dizendo Starshooter, quando Hagrid saiu, com sua típica empolgação (o que Mitch, Carlos, Erika e amigos interpretavam como sinal de ENCRENCA!)

- Olá, olá, turma! – dizia Hagrid – Não percam tempo! Cada um de vocês pegue uma vassoura que vamos ter uma pequena aula teórica sobre uma das criaturas mais encantadoras da face da Terra!

Cada um pegou sua Shooting Star e montou nela... Parecia que fora a séculos que Mitch, montado em uma delas, conseguira se esquivar de balaços errantes, bolas pretas, pesadas, velozes e com instinto homicida. Mas essa não era a preocupação dele agora, e sim ver qual era a "criatura encantadora" (leia-se: assassina de bruxos) que Hagrid iria trazer agora.

Hagrid levou a todos nas vassouras por cima da Floresta Proibida até uma grande clareira. Pararam ainda montados nas vassouras. Hagrid disse então:

- Olhem para baixo!

Quatro feras enormes estavam abaixo deles. Uma era de uma coloração azul-esverdeada, como água com muito musgo nela, e olhos amarelos doentios, grandes asas da mesma cor e grandes garras de uma cor acinzentada, de certa forma lembrando chumbo e aço derretido, com o corpo de um grande lagarto, algo mais ou menos como um grande camaleão inchado e com asas. Duas das outras eram mais esguias, aparentando um tamanho bastante razoável, com pele negra, totalmente, exceto pelas presas, garras e olhos, esses totalmente nacarados. O quarto era pequeno, um anão perto dos demais, algo em torno de um terço do tamanho dos demais. Era mais parecido com um pterodactílo do que com um lagarto, possuindo um couro membranoso unindo braços e pernas e um grande bico. Era avermelhado, como lava incandescente e olhos de um verde vivo.

- Dragões. Não pude trazer os melhores, claro, e mesmo estes estão isolados em um sistema de contenção mágica, mas mesmo assim vamos poder estudar bem eles: consegui um Brejeiro Brasileiro, aquele azul-esverdeado ali, dois Branco-Ébano Africanos, aqueles pretos com longas garras de cor branca e uma raridade: um legítivo Flarespawn dos Pirineus! Não são umas gracinhas?

De certa forma, até que Mitch não discordava: eram graciosos... Principalmente quando MUITO LONGE DELES!

- Agora, é bom saber que existem dragões e dragões... Esses foram gentilmente emprestados pela Colônia de Reprodução e Estudos de Dragões do Ministério da Magia Transilvano, e foram mandados para cá por ninguém menos que Carlinhos Weasley! Ele é bom mesmo no que faz... Agora, vamos estudar mais de perto...

Hagrid foi descendo com sua vassoura, e os demais também BEM lentamente, exceto por Nakuru, que aparentemente desprezava os dragões. Mitch ficou se perguntando se foi apenas impressão ou ele teria ouvido Nakuru dizer algo sobre "Lagartões super-desenvolvidos".

Claro que a aula não foi nenhum supra-sumo, mas Mitch achou interessante saber que os Flarespawn tinham esse nome porque os ovos eram colocados dentro de vulcões, e por isso eles tinham aquela cor. Já os Branco-Ébano não eram muito agressivos, mas eram muito espertos, pois tinham nos leões um sustento farto mas difícil de ser pego na região da Maníbia, Congo e Costa do Marfim aonde eram criados, e que tinham peles ultra-duras, que podiam ser removidas apenas com o uso de magias especiais.

Enfim, não foi uma maravilha de aula, mas até que Mitch não tinha que reclamar: pelo menos, ele não mandou ninguém dar comida para os dragões... Porque eles provavelmente SERIAM comida dos dragões.

Mas Mitch ainda estranhava o comportamento de Nakuru: parecia que, na opinião dela, eles tivessem sido lesados, enganados. Foi quando voltavam para o Castelo que Mitch perguntou:

- Nakuru, o que está acontecendo?

- É, Nakuru! – disse Helen – Está aborrecida com a aula do Hagrid?

- Pelo menos não tivemos que chegar perto daqueles trecos. – disse Nathan – Aqueles dragões dão medo!

- Você chama AQUILO de dragão? – disse Nakuru abismada – Aquilo são lagartos gigantes, burros e territoriais...

Na mesma hora em que Nakuru disse aquilo, uma grande sombra cobriu Hogwarts:

- É um ataque de Voldemort?

Nakuru olhou para o céu e disse, feliz:

- Não. Simplesmente é um dragão de verdade!

Mitch olhou para o céu: viu algo que lembrava uma cobra gigantesca, com pelo menos uns 50 metros de comprimento, com pequenas patas com garras e uma grande cabeça reptiliana. Era de uma coloração avermelhada e muito grande. Nakuru gritou algo:

- Shingo Tetsuzan-Sama! Shingo Tetsuzan-Sama!

Por algum motivo, o Dragão compreendeu pois dois garotos japoneses desceram do dragão, montados em vassouras Sengoku Kabuki, vassoura de transporte japonês. Quando eles desceram, Nakuru se atirou aos braços de um deles:

- Tora! Que saudade!

Nakuru era muito pequena perto do recem chegado: grande, musculoso, "sarado!" como Carlos viria exclamar, Tora era muito mais forte que a (aparentemente) frágil Nakuru. Tinha um físico encorpado e cada músculo aparentemente em seu lugar certo. Diferentemente de Nakuru, que em geral era alegre, mesmo sendo prática, ele não sorria.

O Dragão foi descendo e mudando lentamente de forma, assumindo a forma de um grande homem, de olhos amendoados e negros e cabelo negro preso em rabo-de-cavalo. Duas espadas, uma mais curta e uma mais longa, presas à bela faixa azul de cetim que prendia o belíssimo robe vermelho-rubi, com grandes dragões desenhados. Seu rosto era sereno. Foi quando ele disse:

- Então esta é a Escola de Hogwarts... Realmente é bela. Dura, mas bela!

Nakuru e seu irmão se aproximaram do homem que era o Dragão e do garoto ao seu lado: este era mais baixo e mirrado, com um sorriso mais tranqüilo e, porque não dizer, bonito no seu rosto. Da mesma forma que o homem-dragão ele utilizava duas belas espadas, uma mais curta e uma mais longas, atadas a uma grande faixa de cor verde que prendia o robe azul celeste, com garças e tigres bordados. Nakuru e seu irmão, ao se aproximarem, inclinaram-se respeitosamente diante dos dois:

- Espero que tenha gozado de boa viagem, Tetsuzan-sama!

- Sim, Nakuru-san! – disse Tetsuzan (Mitch acreditava ser esse seu nome), inclinando-se em resposta a Nakuru – Foi uma ótima viagem, embora em seu final tenha sido desagradável. Mas não vamos falar sobre isso agora. Preciso falar com Alvo Dumbledore. Ele está?

- Acredito que sim, Tetsuzan-sama! – disse Nakuru, ainda com a cabeça abaixada respeitosamente.

Foi quando Tetsuzan observou rapidamente os amigos de Nakuru. Quando os olhos negros de Tetsuzan cruzaram-se com os olhos verde-esmeralda de Mitch, ele tremeu: pareceu ter visto os olhos de Tetsuzan tornarem-se fendidos, como os de uma serpente.

- Você então é Mitch McGregor. – disse Tetsuzan, com um leve sorriso – Nakuru-san contou muitas histórias sobre você. Meu nome é Shingo Tetsuzan, Lorde da Terceira Casa Samurai, a Casa do Dragão do Vento Leste, de Okabayashi.

- Muito honrado. – Mitch disse, procurando imitar o cumprimento de Nakuru – Mitch McGregor, herdeiro do Clã McGregor, o Herdeiro da Espada do Trevo de Quatro Folhas, a seu dispor.

- Muito bom! – disse Tetsuzan, sorrindo, mantendo o olhar em Mitch – Para um gaijin, possui hábitos moderados e ordeiros. Gosto disso. Mas preciso falar com Alvo Dumbledore...

- Desculpe-me interrompê-lo, mas me permita.

Helen sentia-se impressionada em como Mitch conseguira ser tão carismático: desde que conhecia Mitch, de certa forma ele era um "selvagem", um rústico, como condizente a um guerreiro de sangue quente irlandês. Mas agora ele parecia tão respeitador... Realmente Mitch tinha mudado bem nos últimos 4 anos.

Mitch conduziu a todos para dentro do castelo e depois para a entrada da sala de Dumbledore:

- Ratinhos de Chocolate!

A senha dita por Mitch revelou a escadaria que subia até a sala de Dumbledore. Ele, aparentemente, estava tratando de sua ave, Fawkes, a Fênix. Foi quando ele percebeu os visitantes:

- Ah, Shingo Tetsuzan-sama! - disse Dumbledore, incluinando-se ao Lorde oriental, depois o cumprimentando-o. - Lorde Akagi mandou-me uma coruja sobre seu filho...

- Sim. Lorde Akagi aproveita para mandar-lhe seus cumprimentos... Queria que Toji tivesse uma idéia de como os gaijin pensam sobre nós. Desde que Nakuru-san veio para Hogwarts, ela muito tem nos aconselhados sobre os gaijin que ocasionalmente passam por lá.

- Sei... Providenciaram o material necessário?

- Claro! – disse Shingo – Contratei inclusive uma professora particular de poções: Nakuru-san nos disse que o seu professor de poções é extremamente severo.

- Você disse APENAS isso? – disse Mitch, ao sussuros para Nakuru.

- Se não pode falar bem, não fale. – disse Nakuru, ao sussuros.

- Bem, senhor Tetsuzan. Por favor, você sabe que temos formalidades. O senhor Tora Hiiragisawa já foi avaliado. Mas preciso da avaliação do senhor...

- Pois não. – disse Toji, sacando um pergaminho estranho, feito de um papel mais fino que os pergaminhos tradicionais que eram usados pelos alunos de Hogwarts. Era preso em um bambu, e tinha um pequeno lacre de cera colocado nele.

Dumbledore quebrou o lacre que, pelo que Mitch conhecia das Escolas de Magia pelo mundo, era da Academia Imperial de Artes Arcanas do Japão, e o puxou pela corda que estava na ponta. O pergaminho foi aberto e Mitch viu caracteres que ele reconheceu como Kanji. Dumbledore olhou para o pergaminho e depois olhou para Tetsuzan:

- Embora eu seja poderoso...

- Ah, desculpe... – disse Tetsuzan, que sacou sua varinha e, pegando um pergaminho comum que tinha no bolso, disse, apontando para o pergaminho fino e para o comum:

- Translittero!

Automaticamente o pergaminho comum foi recebendo a tradução dos termos do pergaminho fino. Rapidamente o pergaminho comum estava totalmente traduzido. Dumbledore observou-o e disse:

- É... realmente parece estar tudo nos conformes. Está bem! – disse Dumbledore com um sorriso – Seja benvindo a Hogwarts, sr. Toji Tetsuzan! Quanto ao ano e à casa à qual o senhor irá fazer parte, vamos deixar isso por alguém... ou melhor... por algo mais gabaritado.

Dumbledore então foi até o armário e pegou do alto um chapéu muito sujo, remendado e empoeirado. Mitch não precisava de nada para saber que aquele era o Chapéu Seletor, mas o que Dumbledore iria fazer? Selecioná-los?

Dumbledore pegou o pergaminho entregue por Shingo Tetsuzan e o colocou dentro do Chapéu. O Chapéu em seguida "chupou" o pergaminho para dentro de si. Durante alguns segundos, o Chapéu ficou fazendo "humm..., "bom...", "muito interessante...", como se estivesse matutando no que estava escrito no pergaminho. Alguns segundos depois, o Chapéu "regurgitou" o pergaminho, que saiu exatamente como entrou.

- Ótimo! – disse Dumbledore – Agora ele poderá ser selecionado adequadamente.

E assim foi feito.

No jantar daquela mesma noite, a professora McGonagall escolheu uma taça de cristal que estava diante dela e, com seu talher dourado, deu alguns toques nele, de forma a silenciar o burburinho feito pelos alunos, que discutiam os mais variados assuntos:

- Alunos! – disse Dumbledore – Hoje, temos uma rápida Seleção com dois alunos vindos da Academia Imperial de Artes Arcanas do Japão. Vamos selecionar hoje Toji Tetsuzan e Tora Hiiragisawa.

- Gente, por favor, façam figas! – disse Nakuru.

O banquinho com o Chapéu foi colocado diante da mesa, enquanto Toji e Tora caminhavam pelo meio do Salão Principal de Hogwarts. Em segundos, os dois pararam diante do Chapéu, quando a professora McGonagall se aproximou e disse:

- Primeiro o senhor Toji Tetsuzan.

Draco Malfoy observava Toji com um estranho interesse, que não agradou em nada a todos em Grifinória. Foi quando o Chapéu anunciou:

- 5° Ano de Corvinal!

A mesa da Casa do Corvo explodiu em alegria, enquanto Mitch via alguns alunos conhecidos dele cumprimentar o jovem Filho do Dragão.

Foi a vez de Tora colocar em sua cabeça o Chapéu Seletor. O Chapéu refletiu, refletiu, até que deu a resposta que todos esperavam:

- 4° Ano de Grifinória!

A mesa de Grifinória quase foi colocada abaixo por Mitch, Nakuru e seus amigos, enquanto um olhar de decepção e despeito podia ser visto no rosto de Draco Malfoy e de todos de Sonserina: aparentemente não admitiam ter perdido para Corvinal e Grifinória nessa Seleção.

Rapidamente Tora estava mais integrado aos seus futuros companheiros de quarto: Mitch, Carlos, Tim, Dennis, Cedric, Gustavo e Nathan. O quarto provavelmente ficaria pequeno, mas isso não interessa a Mitch, que era companheiro. Obviamente Tora ainda sentia-se pouco à vontade ao lado de gaijin, e uma das formas de demonstrar isso era o fato de conversar com Nakuru em japonês. Embora Mitch não soubesse falar muitos idiomas (falava apenas Gaélico e Inglês), rapidamente ele descobriu que tratava-se de japonês.

Porém, ainda no final daquele jantar, Tora conversaria normalmente com Mitch.

E assim um novo amigo apareceu para Mitch em Hogwarts.