Capítulo 22: O Aliado Inesperado


"Qual é o objetivo dos homens do Vocês-Sabem-Quem?"

"Eles não precisam de objetivos para matar!"

"Mas devem ter algum para atacar de forma tão grave Caer Masar. – disse uma voz de um jovem"

"Estão atrás do sucessor da Grécia! – gritou uma outra voz, mais adulta."

"Sucessor da Grécia? O que está destinado a carregar a Lança Longuinus?"

"Acredito que sim!"

"Mas isso é uma lenda! E mesmo que ele exista, segundo a lenda ele deve estar na Ilha da Bretanha! Aqui na Irlanda ele não ficou! A Lança voltou para a Inglaterra!"

"E Finn McCool?"

"Não é a mesma lança, Linders, seu tolo! Lembre-se que a Lança de Finn McCool foi a que matou o demônio Balor! A Longuinus perfurou Cristo!"

"Parem com a discussão sobre lendas de armas! Temos mais no que nos preocupar: o ataque está intensificando-se!"

"Caramba, esses Bean-Sidhe não vão parar de atacar?"

"Parece que alguém disse a eles que aqui em Caer Masar tinha muita energia vital!"

"Andrew McNamara já está fraco! Outros já foram abatidos. Não vamos resistir muito mais!"

"E a coisa vai piorar! Os Comensais vem vindo! – gritou uma voz."

"Deveríamos ter imaginado! – disse outra voz – Os McKinsey se infiltraram entre nós, dizendo-se arrependidos, mas eles queriam era nos trair para Vocês-Sabem-Quem!"

"Vamos! Eles estão chegando! – dizia a primeira voz, enquanto ouviam-se risadas monstruosas e explosões"

"Mas como vamos lutar contra eles? – questionava a outra voz, de um senhor – Eles são muitos!"

"Elric, temos que lutar! – disse a primeira voz – Somos Aurores, essa é a nossa função!"

"Lutar contra Voldemort é SUICÍDIO! Temos que recuar! Elaborar algum plano, pedir reforços! Não adianta lutar agora..."

"Nada feito, McGregor! Não vamos recuar!"

"EU VOU! NÃO ADIANTA CAIR NA ARMADILHA DA FÚRIA IRLANDESA! ELA PODE LEVAR VOCÊS À MORTE!"

"McGregor, volte aqui seu covarde! Isso não é hora para..."


Novamente os gritos, a explosão de luz verde, e Mitch acordou, durante a noite, aos berros, empapado novamente em seu suor.

O coração de Mitch estava disparado, mas Mitch estava plenamente consciente do que lhe aconteceu: olhando para o antebraço ferido, viu uma bandagem com algum tipo de poção de um cheiro adocicado e pungente, que o aliviava da dor. Mas a dor em sua consciência ainda era muito grande.

- Foi você quem gritou, McGregor? – disse uma voz conhecida ao seu lado.

Mitch olhou para o lado e viu Draco Malfoy:

- O que houve? – disse Draco, estranhamente deprimido.

- Caer Masar... – disse Mitch, sem entender porque estava contando tudo aquilo a Malfoy – Sonhei novamente com Caer Masar... Os gritos dos meus avôs, minha avó sendo morta... Caer Masar caindo... Tudo isso eu sonhei.

- Caer Masar? O bastião dos Aurores irlandeses?

- O que você sabe sobre Caer Masar?

- Voldemort o queria: acreditava-se que havia uma portal entre Caer Masar e Hogsmeade. Se conseguisse tal portal, poderia deslocar forças e tomar de assalto definitivamente a Irlanda, terminando de minar todos os focos de resistência lá, ao mesmo tempo em que poderia tentar uma invasão com maior força à Inglaterra.

- Mas...

- Ninguém jamais achou esse portal. Acredito que tenha sido destruído durante o ataque.

Malfoy tinha um olhar estranho... Parecia perdido: olhava ao teto de pé-direito alto da Ala Hospitalar com um olhar vazio, perdido no tempo e no espaço.

- Malfoy, porque você gritou àquela hora? Sabe, na Floresta...

- Você viu? – disse Draco, assustado.

- Se você não quer contar...

- Não, tudo bem... Você está certo. – disse Draco – Você sabe sobre o ritual dos "Dentes de Cérberos"?

- Sim. Na verdade, muito pouco. Sei que ele é usado para criar Aço Estígio, e que envolve o assassinato ritual de uma pessoa, mas mais que isso desconheço.

- Bem... Ele não é considerado profano à toa: o Aço Estígio de boa qualidade só surge quando pessoas de grande importância são assassinadas para o ritual. Além disso, você deve saber que o Aço Estígio é produzido através do Caldo Estígio, não?

- Espera um pouco! – começou a colocar os pingos nos is Mitch – Você está querendo dizer que aquele caldeirão que aquele Comensal...

- Meu pai! – disse Draco, estranhamente enojado para alguém que falava com tanto orgulho dos pais.

- Bem, que seu pai carregava... era Caldo Estígio?

- Sim. Mas acho que você não sabe nem um décimo sobre o Aço Estígio. Também... apenas certos livros de Magia Negra muito avançada possuem tal conhecimento.

- Espera um pouco! Agora acho que é a minha vez de perguntar: o que você sabe sobre o Aço Estígio?

- Bem, sei que o Caldo Estígio forma rostos de quando em quando. E que algumas vezes, esses rostos aparecem com maior ou menor definição... – disse Draco, com uma voz embargada.

- Mitch não estava entendendo... Algo parecia errado.

- O que quer dizer com isso?

- Meu pai... McGregor, meu pai matou minha mãe no "Dentes de Cérberos"!

- Aquilo fez o estômago de Mitch revirar de nojo: como alguém, em sã consciencia, independente de ser bom ou mal, podia matar um familiar, ou antes, matar a PRÓPRIA esposa apenas por poder? Arruinar a própria família... Como alguém podia?

Mitch viu uma coisa que o impressionou: Draco estava chorando, lenta e dolorosamente. Mitch ouvia-o sussurrar "Ele me paga! Ele me paga!". Foi nesse momento que Mitch lembrou-se do que a profecia de Cliodna dizia:


"Dois serão os herdeiros: um será rastejante, o outro caçador, um com cabelos de palha e outro com cabelos de fogo. Um crescerá acreditando em uma mentira, e outro confiará na Verdade. Um trairá e será traído, e por sua família será marcado, e do seio de sua família será separado para sempre, e o pai lutará contra o filho... o Pajem é o outro."


"Draco É o Pajem!", pensou Mitch. Ele era rastejante, pois era de Sonserina, a Casa da Cobra; tinha cabelos de palha, e sempre acreditou na mentira do Sangue Puro, que Mitch sempre soube que era balela. Ele traiu todos, entregando Harry na mão de Voldemort e quase ele próprio foi morto, após ser traído por seu pai. Ele sempre foi marcado com a filosofia de pureza de sangue de sua família, e no final acabou separado do seio de sua família: sua mãe foi morta.

Mas será que Draco sabia algo mais que não comentava com ninguém? "É provável", pensava Mitch. Afinal de contas, era fato muito conhecido que Lucio Malfoy era um dos maiorais entre os Comensais. Mas Mitch ainda não sabia o que dizer, nem sabia se Draco era plenamente confiável.

Mitch então perguntou:

- Malfoy, o que você pensa do seu pai agora?

Draco respondeu:

- Ele passou dos limites. – disse Draco – A verdade é que até mesmo Slytherin tinha alguma noção de até aonde a pessoa tem que obter poder: a Sonserina não é o ninho de cobra que vocês, grifinórios, estão acostumados a ver. A verdade é que papai realmente ultrapassou todos os limites.

- E antes? O que você pensava de seu pai?

- Bem... – ia dizendo Draco.

Draco não achava palavras, Mitch percebeu isso: por algum motivo, Mitch sentia que Draco tinha algum sentimento positivo para seu pai, sentimento este que desapareceu quando ele assassinou sua mãe.

- Eu idolatrava ele! – disse Draco – Imitava ele em tudo, McGregor! Sempre imaginava ele como uma pessoa sempre correta, e que tudo o que ele fazia era certo. E o imitava: se ele chutava um elfo doméstico, eu ia e chutava o elfo doméstico também. Se ele fazia um veneno mortal, eu usava meu caldeirão de brinquedo e fazia ela e dava para o sapo beber...

Draco parou ali. Mitch até sabia o motivo: a revolta de Draco com seu pai era tão grande que ele não conseguia deixar de pensar em uma forma de acabar com ele.

- Mas agora, eu só consigo sentir ódio, raiva, desprezo contra ele!

- Malfoy...

- McGregor, me chame de Draco!

- Só se você me chamar de Mitch!

Draco e Mitch cruzaram olhares. Pela primeira vez Mitch viu Draco dar um sorriso de verdade, não o sorriso irônico, debochado ou esnobe que Draco normalmente tinha, mas um sorriso leve, como o de qualquer pessoa:

- Está certo...

- Então, Draco, o que você sentia pela sua mãe?

- Eu não conseguia pensar absolutamente nada de mal contra ela! – disse Draco, e Mitch sentiu uma franqueza que não condizia com o Draco Malfoy ao qual ele estava habituado – Ela era tudo, sabe? Mais que meu pai, eu amava minha mãe: ela era à sua própria maneira meiga e requintada, embora pudesse ser tão ríspida quanto possível. Claro que ela acreditava como eu que Hogwarts deveria ser fechada apenas para as famílias totalmente mágicas...

- Besteira! – disse Mitch – Já viu Neville? Ele é totalmente mágico, mas ele não conseguiria transfigurar um palito de dente em um alfinete mesmo que a varinha fizesse tudo sozinho...

- É. – disse Draco, rindo – Tem razão...

Desculpe, mas eu cortei você falando sobre sua mãe.

- Bem, Mitch, ela acreditava nisso, mas não no ponto que meu pai imaginava de "vamos atirar os trouxas aos dragões". Ela achava que se um trouxa, por exemplo a Granger, tivesse habilidades mágicas, deveria, antes de entrar em Hogwarts ou outras Escolas de Magia receber uma educação correta, sabe: cultura, valores...

- De certa forma, faz sentido. – disse Mitch.

- Eu também pensava que isso era válido, mas papai... Ele sempre se preocupou apenas em seguir Voldemort. Vovô Andraas também seguiu Voldemort, desde o começo, acho que desde a época em que ele era Tom Riddle. Mas recentemente, desde a volta dele, papai não era o mesmo... Parecia obcecado por poder, poder a todo custo, poder... Até nós estranhamos: mamãe estranhou que ele começou a comprar livros demais na Borgin & Burke's, e que estava mandando empregados nossos trazerem livros de magia negra de quase todos os cantos do mundo... Talvez...

- Talvez tenha sido por isso que seu pai disse que sua mãe estava o cansando! – disse Mitch

Draco parou para pensar e logo em seguida deu a resposta:

- Sim! Na verdade, mesmo antes, papai não gostava que eu ou mamãe mexessemos em seus livros e material de Artes das Trevas mais perigosos: acho que papai sozinho deve ter a maior coleção de livros sobre as Artes das Trevas que se tem notícia em todo o mundo da magia. Mas nunca imaginei que ele fosse tão longe.

- Draco... – disse Mitch – Sinto muito...

- Não se preocupe comigo, McGregor! – disse Draco, aparentemente tentando voltar a ser o Draco que era antes.

- Não, estou falando sério! – disse Mitch – Eu sei bem o que é ter os pais mortos...

- O que você...

- Não sei se você se lembra, Draco, mas a uns dois anos meus pais foram assassinados na Torre de Ma'at. Eles... Bem, eles eram abortos...

- Abortos? Seus pais? Isso quer dizer que...

- Meus avós eram bruxos.

Draco surpreendeu-se com a revelação de Mitch:

- Porque está me contando isso?

- Simples. Acho que você acabou de descobrir a mentira que existe em tudo o que você acreditava: um bruxo, mesmo aqueles de sangue-puro, não é melhor nem pior do que ninguém. Veja o que o seu pai fez e tire suas próprias conclusões.

- Mas...

- Eu não posso abrir-lhe os olhos para a verdade. Posso apenas lhe mostrar a porta para a verdade. Atravessá-la é por sua conta.

Draco passou a pensar naquilo que Mitch havia lhe dito:

- Eu não me importo. – disse Draco, disfarçando – Agora estou mais preocupado em me vingar contra aquele maldito cara-de-cobra do Voldemort. Ele vai me pagar muito caro pelo que me fez. E quanto ao meu pai... é apenas uma questão de tempo.

Mitch estava muito tranqüilo em sua posição:

- Draco, tenho uma sugestão para você: que tal se unir ao Potter?

- O quê! Eu não preciso do...

- Olha, Draco, pense da seguinte forma: o que Voldemort mais quer é o Potter, não? E o que você mais quer é o cara-de-cobra, não? Então! É unir o útil ao agradável...

Draco raciocinou na idéia. E disse:

- OK! Mas como vou fazer isso?

- Deixe isso comigo.

Draco então virou-se de lado e caiu no sono, enquanto Mitch caiu no sono também:


"Mitch estava caminhando por uma Floresta. Logo ele percebeu que estava na Floresta Proibida. Ele via os lobisomens cara a cara, e os vampiros e trasgos, mas nenhum deles se aproximava. Um dos lobisomens disse, em um rosnado:

- Filho da Grécia, Filho de Nicodemos, você deve estar entendendo agora!

- Como assim entendendo?

- A profecia da bruxa Cliodna já lhe foi revelada! – disse um trasgo, em meio a grunhidos – Você já sabe sobre a profecia. Sabe do Herdeiro, do Pajem, do Amigo, da Vencedora, da Donzela, do Sábio, do Bardo e do General, e sabe também que será o Escudeiro! O momento está chegando! A profecia logo deverá se cumprir, com o Mal caindo uma Segunda vez. Mas não se atrase! O perigo ronda! Você o viu com o Aço Infernal. E o Mal está se armando.

- Se armando... Por isso os trouxas estão desaparecendo! – disse Mitch.

- Isso! – disse uma megera – Se nada você fizer, o tempo passará, e o mal se reerguerá em definitivo, e a Lança será em vão! Por isso, lembre-se, traga o Herdeiro!

Mitch viu uma grande lança cravada no chão, em algum lugar perto da floresta proibida. Ele corria, mas era como se a distância, ao invés de diminuir, aumentasse. Foi quando Mitch esticou os braços, as coisas pareciam estar se desfazendo como uma televisão que apaga subitamente. Mitch tentou gritar, mas o grito não saia..."


... e novamente Mitch acordou, assustado. Percebeu que ao seu lado Draco dormia a sono solto. Foi quando ele decidiu dormir também.

E Mitch sabia agora o que tinha que fazer, mas não sabia como.