Capítulo 24: Todos unidos


Harry nem esperou amanhecer direito. Ele não conseguiu dormir àquela madrugada de Domingo. Ele correu para o quarto das sexto-anistas e arrancou Hermione da cama, e depois foi ao quarto dos quarto-anistas, de onde tirou Mitch, que por sua vez levou Carlos e Nathan junto com ele.

O sol estava começando a amanhecer quando Harry terminou de contar a todos sobre o sonho que tivera:

- ... e foi assim! Voldemort sabia o que estava fazendo! Matou meu pai e tentou matar a mim porque ele sabia que um de nós dois era o sucessor de Longuinus de Antióquia! Ele sempre procurou me matar porque sabia que eu era o sucessor de Longuinus!

- Mas essa lança de Longuinus existe mesmo? – perguntou-se Hermione – Porque já estudei muito sobre essas citações de armas em lendas, e em geral elas não passam disso: de lendas.

- Bem, você ouviu falar no Aço Estígio? Acho que isso aqui foi bem real. – disse Mitch, mostrando o antebraço.

Natalie Higgenbotham, ou simplesmente Nat, irmã de Nathan e que conhecia alguma coisa de tatuagem, havia transformado a cicatriz dupla no antebraço de Mitch em uma tatuagem de uma cruz celta. Mesmo assim, por baixo da cruz, era possível ver a cicatriz do Aço Estígio: era feia, de um preto-esverdeado doentio, como se larvas de mosca tivessem eclodido de matéria decomposta.

Aquela nojenta cicatriz não era um sinônimo de orgulho para Mitch, mas era a primeira dele: era sinal de que já passara por uma batalha e vivera para contar a história, e isso tinha que ser registrado pelo guerreiro celta, e Mitch era, acima de tudo, um Auror, um guerreiro McGregor irlandês.

- Isso... foi... – ia dizendo Rony.

- Isso mesmo, Rony: é resultado da batalha que tive contra Lúcio Malfoy. Isso foi resultado do joguinho mimoso que tivemos antes de Dumbledore chegar. E esse joguinho mimoso quase me custou a vida.

- Temos que falar com Dumbledore agora! – disse Harry – Agora sei sobre meus pesadelos. Sei porque Voldemort queria me matar! Isso não pode ficar desse jeito!

- E o que pretende fazer?

- Não sei, mas Dumbledore deve saber! – disse Harry – Por isso mesmo quero falar com ele.

- Mas... – ia tentar dizer Hermione, quando Harry correu pelo buraco da Mulher Gorda.

Harry, Rony e Hermione, acompanhados de Mitch, Nathan e Carlos correram para a entrada da Torre de Dumbledore. Quando Pirraça tentou parar o caminho deles, Mitch utilizou o Feitiço da Explosão de Ar para retirá-lo do caminho.

Cada vez mais o coração de Harry estava acelerado: queria saber porque, há seis anos, Dumbledore não abriu o jogo com ele, queria saber se sua descendência era realmente ligada a Longuinus, queria saber a profecia toda... Queria desvendar um dos maiores segredos sobre sua vida.

Alcançaram a entrada da torre. Harry, como integrante da Guarda, sabia qual era a senha:

- Ratinhos de Chocolate!

A gárgula que ficava diante da entrada para a Sala de Dumbledore se afastou. Harry subiu o primeiro degrau. Quando a escada começou a subir, os demais foram subindo um após o outro nos degraus. Mitch foi por último, e foi quando entraram na sala de Dumbledore:

A sala de Dumbledore continuava exatamente como sempre fora: estranhas engrenagens de prata se moviam fazendo barulhos engraçados, enquanto de um lado a fênix Fawkes ficava encarapitada em cima de um poleiro. Perto de Fawkes, em um armário, ficava o Chapéu Seletor, o antigo chapéu, criado pelos Quatro Grandes de Hogwarts para selecionar entre suas casas os alunos recém-chegados. Do lado oposto, a Espada de Godric Gryffindor, que Harry retirara do Chapéu e à qual utilizara para derrotar o monstro de Slytherin, o basilisco escondido na Câmara Secreta que o criador de Sonserina deixara para trás ao abandonar Hogwarts.

E também estava lá Dumbledore: os mesmos óculos de meia-lua, o mesmo cabelo e barba longos e brancos, as mesmas longas vestes encarnadas e o mesmo chapéu pontudo de bruxo. Mas havia um olhar de surpresa em ver um grupo tão grande entrar em sua sala, todos ao mesmo tempo:

- Ora, posso perguntar o motivo pelo qual tantos alunos juntos vêm me encontrar em minha sala? – disse ele sorrindo.

- Preciso saber a verdade... Preciso saber tudo que aconteceu no dia em que meus pais morreram! Preciso saber as circunstâncias e tudo o mais! Eu ganhei isso aqui de uma senhora, antes de voltar esse ano para Hogwarts.

Harry mostrou a cópia da carta que a Madame Kinnigan lhe entregou. Um brilho estranho apareceu nos olhos de Dumbledore, e foi quando ele disse:

- A verdade... Bem, a verdade, como já disse a você, é uma coisa bela e terrível, mas agora você já está pronto para saber ela toda, até os pingos nos is.

E Dumbledore começou a contar toda a história, desde quando Tiago e Lilian Potter (então Lilian Evans) entraram em Hogwarts, até o dia em que eles morreram:

- E foi assim...

- E como eu nunca fiquei sabendo de nada disso antes?

- Harry, algumas vezes é perigoso fornecer a verdade completa no momento errado: se você tivesse descoberto isso quando mais jovem, fatalmente você iria desejar vingança contra Voldemort, e acabaria ficando tão mal quanto o próprio Voldemort, o que seria terrível para você e para todos.

- Mas eu ainda quero me vingar de Voldemort: graças a ele eu passei 16 anos da minha vida com parentes para quem eu significo um pouco mais que uma bolota de mofo...

-Sei disso. Mas agora, Harry, você está mais tranqüilo, sabe o que está em jogo e sabe que mais importante que uma vingança pessoal é levar justiça. Voldemort matou muitos bruxos e trouxas apenas por diversão, e você sabe que tem que levar justiça por eles...

- Sei. – disse Harry, decidido.

- Mas sabe que antes deve entender porque você é o Herdeiro de Longuinus. O senhor McGregor pode lhe ajudar, afinal de contas a lenda também envolve a ele e a seus parentes.

- Como? – perguntaram-se todos.

Mitch então explicou a todos sobre a Lança, seus sonhos e tudo mais, e sobre como descobrira que ele era o Escudeiro da Lança de Longuinus.

- E então descobri, através dos sonhos, que a Lança só pode ser carregada por alguém que é o Herdeiro, ou seja, por Harry, ou pelo Escudeiro, que no caso sou eu.

- Faz sentido... – disse Hermione – Mas e quanto aquela coisa toda dos outros: Pajem, Vencedora, Amigo, Donzela, Sábio, General, Bardo...

- Cada um deles deve ser uma pessoa próxima ou a Harry ou a Mitch... – disse Rony – Normalmente é assim que essas profecias funcionam.

- Sim, senhor Weasley... – disse Dumbledore – De certa forma, tanto você quanto a senhorita Granger estão ligados à profecia.

Como? – perguntou Rony.

- Rony, eu estive pesquisando essa profecia desde que a descobri. – disse Mitch – Na verdade, como eu falei, foi depois do Eidolon que resolvi pesquisar mais a sério essa lenda. Bem, mas o que importa é que eu descobri que o Amigo citado na lenda é você. Hermione é a Vencedora... O que é condizente: uma aluna de, desculpe a expressão, "sangue ruim" ser uma das melhores alunas de Hogwarts de todos os tempos é uma vitória. Não acha Hermione?

Hermione corou: mesmo Mitch utilizando-se do "palavrão bruxo", deixou a entender a verdadeira intenção em usar aquela expressão – que, apesar dos pesares, Hermione era uma vitoriosa.

- Agora, do meu lado, descobri que eu sou o Escudeiro, e meus irmãos Enya e Cedric são a Donzela e o Sábio.

- Fariam então o General, o Bardo e o Pajem. – disse Harry.

- O General é óbvio: Dumbledore! – disse Hermione.

- Faltam então agora o Bardo e o Pajem. – disse Nathan.

- E vamos falar sobre eles, mas espero que não se surpreendam com os nomes e nem ao menos nos interrompam até que terminemos. – disse Dumbledore.

- Mitch, você já sabe quem são o Bardo e o Pajem? – disse Carlos.

- Tenho 99% de certeza que eles são Neville Longbottom e Draco Malfoy.

- QUÊ! – gritaram Harry, Rony e Hermione.

- Pirou de vez, Mitch? – gritou Rony.

- Na verdade, senhor Weasley, o senhor McGregor está gozando de perfeita sanidade mental. Agora, se o senhor me permitir explicar como chegamos a tão polêmica resposta...

Dumbledore explicou como a lenda falava de Neville e Draco. As palavras foram ficando cada vez mais surpreendentes a cada um deles.

- Ótimo. – disse Harry amuado. – Com mais de 2 milhões de bruxos na Inglaterra, eu tinha logo que ficar ao lado de Malfoy?

- Você não é nenhuma princesa das fadas, Potter, mas para acabar com aquele maldito cara-de-cobra topo qualquer parada! – disse uma voz arrastada.

Draco Malfoy acabara de aparecer pela entrada da sala de Dumbledore, seu rosto de traços finos e aquilinos em um meio sorriso.

- Malfoy, o que diabos está fazendo aqui? – gritou Rony.

- Iria lhe fazer a mesma pergunta, Weasley, mas já que você perguntou... O diretor Dumbledore me chamou. – disse Draco, erguendo uma Confidencial.

Harry olhou impressionado para Dumbledore:

- Professor, como você... Você viu o que o pai desse cara-de-água fez, como o senhor tem coragem de chamar ele.

Draco ficou extremamente furioso com o comentário de Harry. Mitch olhou os olhos de Malfoy e eles estavam exatamente como os dele, quando ele ficava furioso, exceto que haviam duas chamas azuis como a água-marinha, e não verdes-esmeralda como as suas:

- Agora escute aqui, Potter: o que o meu pai fez ou deixa de fazer não tem nada a ver comigo, escutou? O que aquele desgraçado fizer, eu não estou preocupado! – disse Malfoy – Ele matou minha mãe no Ritual dos "Dentes de Cérberos"! Você viu ele mostrando o Caldo Estígio no qual ele transformou minha mãe, ou será que essa cicatriz estúpida deixou teu cérebro tão avariado que você está começando a ficar com uma memória tão fraca quanto a do Longbottom?

Harry ficou surpreso com a reação de Draco. Foi Mitch que procurou acalmar os ânimos:

- Esquece, Draco... É só surpresa dele. – disse Mitch, conduzindo Draco até uma cadeira que estava esperando ele.

- A quanto tempo você chama Malfoy pelo seu nome de batismo? – perguntou Rony irônico a Mitch.

- Draco não é um cara tão ruim quando você se acostuma com o jeitão dele. – respondeu Mitch.

- Bem, voltando ao assunto: o Pajem é Draco Malfoy. Para entenderem isso, é importante lembrar que Draco, indiretamente carrega sangue de Nicodemos nas veias. Sua falecida mãe, Narcisa Malfoy, antes Narcisa Hemington, era uma poderosa e ambiciosa bruxa formada por Grifinória, na época de seus pais, Harry. Da mesma forma que você, Harry, que nasceu de pais que se conheceram em Hogwarts, os pais de Draco também se conheceram em Hogwarts.

- Que ótimo! Fico imaginando que cena linda: Lucio e Narcisa namorando à luz de vela nas masmorras do Snape... – disse Rony, até que o olhar assassino de Draco voltou-se para Rony. Mitch percebeu na hora os ânimos novamente se exaltando e decidiu mudar de assunto.

- Bom, sabemos que o Pajem é Draco. Portanto, falta o Bardo. – disse Mitch.

- Eu providenciei que a pessoa que suponho que seja o Bardo logo chegue. – disse Dumbledore.

Alguns segundos depois, um esbaforido Neville, usando a capa de suas vestes de Hogwarts ao contrário chegou:

- Desculpe, professor! É que me perdi... E depois o Pirraça me pegou... E o Filch... – ia dizendo apressadamente Neville, como se tentasse explicar como se atrasou.

- Não se preocupe, Neville. – disse Dumbledore.

- O Bufão... é... Neville? – disse Hermione.

- Faz sentido: só um panaca completo colocaria as vestes ao contrário! – disse Draco.

- Cala a boca, Malfoy! – disse Rony.

- Não é hora para esse tipo de coisa, Rony. – disse Mitch.

- O senhor McGregor está certo, senhor Weasley: não temos tempo para atritos e rixas pessoais. Existem coisas muito maiores e muito mais importantes em jogo do que uma simples briguinha.

Rony afundou-se na sua poltrona, irritado. Hermione então perguntou a Dumbledore:

- Professor, mas Neville... Ele sempre foi criado pela avó. E se a lenda está certa, a pessoa que vai ser o Bardo deveria ser alguém cujos pais ficaram loucos após algo com o Você-Sabe-Quem. Claro que ele conheceria muito de plantas, e Neville é tão bom quanto eu em Herbologia, mas o resto...

- O resto, senhorita Granger, acho que o próprio senhor Longbottom poderá nos contar. Não, senhor Longbottom?

Mitch percebeu que Neville estava se sentindo pressionado. Foi quando ele disse:

- Neville, se você não quiser contar sob certos segredos seus, tudo bem.

- Você... sabe... Mitch? – perguntou Neville, apavorado, paralisado de terror.

- Sim... Mas antes que diga coisas a meu respeito, posso lhe dizer que tenho meus métodos de obter informação.

- Não... – disse Neville, assumindo uma estranha coragem – Eu mesmo conto.

Neville então contou a todos a história de como seus pais foram para no St. Mungus completamente insanos. Mesmo Mitch, que conhecia a base da história, era horrível saber dos detalhes. O único que não aparentava nojo ou pena era Draco: algo dizia a Mitch que os olhos azul-cobalto de Draco não eram tão frios à toa.

- E foi assim: agora... papai e mamãe não sabem quem eu sou. – disse deprimido Neville.

- Neville... – disse Rony.

- A verdade é: você não pode ficar se lamuriando, Longbottom! – disse Draco.

- Cala a boca, Malfoy! Ou será que a dor alheia não significa nada para você? – gritou Hermione.

- Cada um tem que aprender a andar conforme as próprias pernas e a suportar as próprias dores. – disse Draco – Foi assim que eu sempre aprendi.

- Sim, com aquele filho-da-mãe maníaco do seu pai! – disse Rony.

- Eu já te disse, Weasley: o que eu faço ou deixo de fazer não tem nada a ver com o meu pai! Escutou, Weasley, ou esse seu cabeção não deu espaço para ouvidos melhores?

- Repete isso, Malfoy! – disse Rony.

- Calem a boca os dois! – gritou Mitch.

Draco e Rony perceberam que Mitch estava ficando realmente furioso: seus olhos eram como duas chamas de cor verde-esmeralda, contrastando com o vermelho-cobre forte de seus cabelos.

- Eu não acredito que vocês dois fiquem se matando por causa disso! Temos coisas muito mais importantes com as quais nos preocupar! – disse Mitch, revoltadíssimo com o comportamento dos dois – Ou vocês crescem, ou aí sim Voldemort irá acabar com a nossa raça!

- Dá para dizer VOCÊ-SABE-QUEM! – gritou Rony.

- NÃO! NÃO DÁ! – gritou ainda mais alto Mitch.

- BASTA! – gritou mais alto ainda Dumbledore.

Os olhos de Dumbledore tinham agora uma grande e terrível força: a força de alguém que era temido e respeitado por qualquer bruxo com um pingo de inteligência:

- Ronald Weasley e Draco Malfoy, o sr. McGregor está realmente certo: quanto mais tempo gastarmos nos digladiando e nos acusando mutuamente, tão mais forte Voldemort se tornará.

- E, se ele ficar forte demais, – disse Mitch – mesmo que encontremos a Lança Longuinus, tudo será em vão e tudo se perderá.

- E não podemos agora mais adiar o inevitável: Voldemort quer acabar com todos os bruxos que se opõem a ele. – disse Harry – E o primeiro alvo dele é Hogwarts!

- Como tem tanta certeza disso, Potter? – perguntou Malfoy – Que eu saiba o primeiro alvo dele são os...

- Malfoy! – disse Dumbledore.

- Não seja burro, Malfoy! – disse Rony – Se o Você-Sabe-Quem quer realmente dominar o mundo e exterminar os trouxas, ele vai ter que mostrar àqueles que se opõem a ele que isso possa ser inútil, e a forma mais simples de fazer isso é derrotando Dumbledore e destruindo Hogwarts!

- Então... – pensou Draco – somos alvos primários!

- Sim. – disse Hermione.

- C-c-como? – disse Neville.

- Toda a Hogwarts está ameaçada de sofrer um ataque terrível dos homens de Você-Sabe-Quem. Ele parece não temer Dumbledore.

- E não teme... – disse Draco – Me lembro que papai comentou que Voldemort realmente imaginava que não havia mais nada que o impedisse de alcançar a dominação total frente aos trouxas, agora que descobriu que poderia "voltar à vida". Eu achei ridículo: todos sabem que é impossível trazer uma pessoa de volta à vida.

- Tem razão, Malfoy: independente do poder do bruxo – disse Dumbledore – é impossível devolver alguém à vida. A única razão pela qual Voldemort "voltou à vida" é porque, na realidade, ele nunca esteve morto: ele virou uma sombra vaporosa, sim, mas com total consciência de quem era. Porém, nem ele nem ninguém sabe como isso aconteceu: aparentemente, o Feitiço que Lilian Potter colocou em Harry foi o causador disso e, pelo mesmo motivo pelo qual Harry não podia ser morto, Voldemort também não. Obviamente, Voldemort levou a pior, mas acredito que Harry também poderia ter virado uma sombra, como Voldemort, naquele momento.

- Professor, aonde está a Lança Longuinus? – disse Harry.

- Isso... é função de vocês descobrirem! – disse Dumbledore, encerrando a reunião.