Nota: Todos os personagens dessa fic (exceto Amaru) são de criação e propriedade de Yoshihiro Togashi, criador do mangá Yu Yu Hakusho (que deu origem ao anime de mesmo nome).
AMARUK
Wanda Scarlet
Capítulo 7 – Quente como o inferno e tão perigoso quanto
Fazia muito sol naquele dia e mesmo protegida pela sombra fresca das árvores, Amaru sentia os efeitos do calor. Queria terminar logo o que estava fazendo e poder refrescar-se, quem sabe em um banho.
Enquanto não retirasse todo o mato que começava a crescer em volta de suas futuras rosas a garota não poderia deixar aquele calor de lado. Surgiu então um sorriso em seus lábios ao lembrar-se de um fato curioso. Aquelas rosas, as outras vezes em que estivera cuidando delas tivera Shuichi por perto, seja no primeiro dia em que ele invadira seu jardim até quando se falaram pela primeira vez.
O sorriso alargou-se no rosto ao lembrar-se da última vez em que ela e o vizinho haviam conversado na escola dois dias atrás. Pela primeira vez ele fora gentil, quase carinhoso com ela. Só que isso desapareceu quando ele voltou a agir de acordo com suas ambições de raposa. Algumas pessoas costumam se apegar a antigos valores "E ele não é uma exceção. Por que tem que dar tanta importância para algo como poder?" Pensou ela franzindo o cenho intrigada, não entendia isso no ruivo.
Como Amaru trabalhava em roseiras sem usar a proteção de luvas, suas mãos já estavam cheias de pequenos arranhões por causa dos eventuais contatos com as espículas das mesmas que aconteciam quando tentava retirar o mato que crescia ao redor delas.
Já estava começando a se cansar daquilo tudo quando retirou o último mato e jogou-o dentro de uma cesta que usava pra essa tarefa.
- Pronto! – falou satisfeita – Agora posso tomar aquele banho e me livrar de todo esse calor.
- Boa idéia! Achei que nunca terminaria de arrancar essas daninhas – disse uma voz bem humorada vinda do alto.
Ela olhou pra cima a fim de certificar-se de que não era sua mente pregando-lhe peças devido ao calor. O garoto Shuichi não poderia ser o dono daquela voz animada. Mas ao avistar o ruivo sentado num galho de árvore a vários metros do chão, teve um choque.
O rapaz a olhava com curiosidade e sorria divertido de um modo casual, quase como se não fosse a pessoa fria de sempre. "De onde veio esse sorriso?" Pensou Amaru encarando descaradamente a boca dele "Sempre gostei dos lábios dele, mas não sabia que ficavam tão irresistíveis num sorriso".
Ela balançou a cabeça pra afastar aqueles pensamentos. Não, ele não poderia estar ali, não daquele jeito tão adorável. Com certeza estava imaginando coisas, mas quando voltou a olhar pro galho não havia ninguém lá.
- Sabia que não poderia ser, devo estar ficando louca – falou pra si mesma continuando a olhar o galho vazio.
- Concordo, ficar nesse calor só pra arrancar mato é coisa de gente maluca.
Quase deu um pulo com o susto que levou. Ele estava ao lado dela como se tivesse surgido do nada, se teletransportado ou algo assim. Vê-lo tão tranqüilo e relaxado daquela forma era estonteante, ficava ainda mais bonito. Sentiu-se hipnotizada pela beleza dele a ponto de só conseguir dizer:
- Você é um... – a frase morreu nos lábios, não conseguia pronunciar o que achava realmente dele.
O outro a encarou intrigado.
- Sou...? – falou em tom de pergunta querendo que ela terminasse o que tinha começado a dizer.
Amaru ainda o encarava com os olhos muito abertos. Piscou várias vezes pra ver se não era alucinação mesmo, só que não era. Permitiu-se então relaxar um pouco, Shuichi parecia estar sem a costumeira agressividade e continuava a sorrir pra ela de modo ironicamente encantador. Olhou de novo para os lábios dele tão perto de seu rosto agora e pensou como seria delicioso sentir o gosto deles.
- Estou esperando. – falou irônico.
- O que! – ela olhou pra ele abrindo muito os olhos, parecia que tinha acabado de acordar.
- Estou esperando você dizer o que sou. – repetiu ele divertido com a confusão dela.
- Ah! Isso. – agora lembrava-se – Você é um atrevido entrando assim aqui sem permissão.
Uma mentira dela, mas ele não precisava saber que pretendia dizer que ele era um anjo de tão bonito. Então Shuichi estreitou os olhos e assumiu uma expressão de cumplicidade dizendo:
- E se eu pedisse permissão, o que me permitiria fazer heim!
"Essa foi uma direta!" E que direta! A garota ainda estava atordoada por ouvir esse tipo de insinuação dele. Ela queria espaço, ele tão perto atrapalhava seu raciocínio porque só conseguia se concentrar na boca ou nos olhos verdes do garoto.
- Pare com isso Minamino! Quero saber a quanto tempo...
- O suficiente pra me entediar. – interrompeu-a antes que ela terminasse a pergunta. Queria saber a quanto tempo ele estava ali no jardim.
- Sei. Então se me dá licença, eu quero tirar essa sujeira dos meus braços. – disse isso já se virando e indo à torneira que ficava próxima a casa.
- Espere! – segurou-a pelo ombro antes que se afastasse impedindo que continuasse o caminho.
A garota parou e voltou-se pra ele, agora tinha certeza que não estava alucinando ao sentir o toque em seu ombro. Ela olhou bem nos olhos dele e riu divertida com a situação.
- Do que está rindo?
- Pensei que você fosse só imaginação minha.
Então foi a vez dele de rir, e o fez de um jeito maravilhoso que tirou-lhe o fôlego. "Será que dá pra ele parar de sorrir tanto e deixar eu respirar?" Foi quando Shuichi aproximou-se mais dela continuando com a mão em seu ombro.
- E por que você estaria imaginando a mim? – perguntou suavemente fazendo Amaru arrepiar-se com cada palavra.
Reconheceu o tom sedutor na voz do rapaz. Não entendia porque ele estava agindo assim, mas estava muito bom. Abriu um sorriso e disse bem perto da boca dele como se fosse beijá-lo:
- Porque você é irresistível, por que mais? Eu quero você, preciso de você, oh baby, oh baby... – usou seu tom mais sedutor e depois caiu na risada se afastando do rapaz. Era perigoso brincar de sedução com ele porque ela realmente queria ser seduzida, melhor parar por ali.
- Quanto sarcasmo nesse pequeno coraçãozinho! – fingiu mágoa – Você gosta de confundir os outros é? Sempre age estranho assim?
- Eu, estranha? – perguntou já se virando pra encará-lo – Olha só pra você primeiro antes de dizer que confundo alguém! Em um dia é o mestre do gelo e da insensibilidade e no outro parece um Don Juan cheio de fogo.
- Pelo menos eu não fico secando a boca dos outros e depois fujo da raia.
"Touchè" pensou ela, não tinha resposta pra aquilo. Realmente ela havia encarado a boca dele fixamente, e isso claro que era um indício irrefutável da vontade de beijar alguém, mas depois ela simplesmente ignorou a sedução presente no momento para se proteger. "Melhor mudar de assunto" tomou essa decisão e olhou pra ele irritada e cruzando os braços.
- O que quer de mim Minamino?
Ele aproximou-se mais.
- A pergunta que deveria estar se fazendo é o que você quer de mim. – falou sorrindo sedutor.
É, parecia que ela não se livraria daquele Shuichi fatal tão facilmente. "E por que eu quero me livrar dele se gosto disso?" pensou ela vendo que o que mais queria estava ali a sua frente sendo servido em bandeja de prata.
E era essa bandeja que estava preocupando. Minamino não era muito de se confiar a ninguém, principalmente se esse alguém era ela. Já tinha demonstrado isso nas outras vezes em que se encontraram. Porque sedução era isso, confiar-se a alguém esperando que o outro também se confie.
Sem responder nada pra ele, Amaru foi para a bendita torneira se lavar deixando o rapaz ali mesmo. Pelo menos era isso que ela pensava antes de ouvi-lo as suas costas.
- Você não deveria fazer isso.
Ela ignorou-o e ligou a torneira colocando os braços sob o jato d'água sentindo-a descer até suas mãos.
- Ai! – gemeu ela por causa da ardência que sentiu nos arranhões molhados.
Amaru ainda não queria encará-lo por isso continuou lavando-se embora conservasse uma expressão de dor enquanto lavava-se.
- Chega disso! Está me dando arrepios vê-la assim.
Ele puxou os braços dela para longe da água e fechou a torneira.
- Onde tem uma toalha?
- Sobre a mesa – e apontou para uma bancada encostada na parede da casa ali perto.
- Então vamos até lá secar isso.
Ele a guiou segurando-a delicadamente pelos cotovelos até o local que ela indicara. Chegando lá, pegou a toalha pela qual perguntara e envolveu as mãos da garota nela observando-a gemer um "Ai!" mais alto pela dor do contato com a toalha de suas mãos feridas.
- Não deveria ter cuidado daquelas plantas sem luvas. Rosas também podem machucar – disse isso olhando diretamente nos olhos dela.
A metáfora não passou despercebida por ela, nem o olhar sério que indicava que Shuichi a comparava àquelas rosas. Apesar de agradarem quem as aprecia, também podem ferir se não tomar cuidado. Isso significava que ele ainda não confiava nela, e isso fez com que ela baixasse o olhar pra não exibir o semblante triste que agora tinha.
Usou uma das mãos livres, enquanto a outra ainda segurava as mãos de Amaru envolvidas na toalha, para tocar a face dela. Deslizou os dedos ao redor do rosto em direção ao queixo, não deixou de notar como a garota gostou desse gesto ao fechar os olhos e levemente inclinar a cabeça em direção do toque para aprofundá-lo. Sorriu por causa disso e segurando o queixo dela fez com que o encarasse como fizera na última conversa.
- Você estremece ao meu toque, gostou de minha carícia e me olha como se quisesse me devorar. Mesmo sabendo de tudo isso foge de minhas investidas e fica triste repentinamente. O que foi? Ainda não decidiu se gosta ou não de mim? Você parecia bem decidida quando falou comigo da outra vez.
- Eu... eu... – suspirou, aquilo estava difícil pra ela, por fim continuou – Não é questão de decidir.
- Então é questão do que?
- Você não confia em mim.
Soltou-a e deu-lhe as costas. Ficaram o dois em silêncio, ela olhando para o chão triste e ele encarando o nada até que de repente Shuichi explodiu virando-se pra ela:
- O que mais você quer? Será que retirar aquela barreira não é demonstrar confiança em você?
Ele havia retirado a barreira que impedia-a de entrar na casa dele no mesmo dia em que haviam se falado no colégio.
- É demonstrar sim. – disse isso baixinho ainda olhando pro chão.
- Então qual o problema?
- Ainda sinto que você não confia em mim.
- E por isso você não confia em mim, certo?
- Talvez...
Shuichi olhou pra cima como se procurasse as palavras certas para o que queria dizer. Aí a olhou diretamente nos olhos demonstrando a seriedade do que dizia.
- Ficaremos nesse impasse você sabia?
- Sim, mas...
- Mas nada! – interrompeu-a – Eu dei meu primeiro passo. Dei uma prova de confiança. Você sabe que essa prova é importante pra mim, coloquei minha mãe em posição vulnerável para seus poderes, assim como eu. É hora de você me dar uma prova da confiança que quer depositar em mim.
Ele estava certo. Amaru precisava dar uma prova de que confiava nele porque retirar a barreira foi uma confiança independente se já a considerava confiável ou não. Ficou então mais decidida e resolver ceder.
- Tudo bem então. Só que não sei o que você consideraria como prova.
Ele então sorriu de modo enigmático e perigoso. A garota começou a se arrepender de ter feito tal proposta.
- Seu Livro das Sombras.
- O QUÊ! – arregalou os olhos perplexa – VOCÊ ESTÁ LOUCO?
- Deixe que eu fique com ele um tempo e depois eu te devolvo. Esse livro tem tanta importância pra você como minha mãe tem pra mim. Seria uma prova suficiente pra mim.
- Mas você tem idéia do que esse livro significa? Contém todos os meus encantamentos e conhecimentos de magia. É como um manual dos meus poderes, do que posso fazer como bruxa.
- E eu não o mostrarei pra ninguém, muito menos usarei o conhecimento contido nele contra você. Da mesma forma que você jamais fará mal para minha mãe.
Ela pensou por um instante. Sim, se a vida da mãe dele significava tanto assim pra Shuichi, somente seu livro igualava-se em importância pra Amaru. Mas confiar esse livro a alguém que fora um bandido e trapaceiro em outra vida, ainda mais quando agora ele parecia querer voltar a ter o mesmo poder que tinha antes. Como confiar algo assim tão vital como seu Livro das Sombras a alguém assim? Ela gostava dele sim, gostava muito. Mas, seu livro? Não era fácil decidir isso, mas precisava resolver agora o que faria porque ele a encarava esperando pela sua resposta.
Enfim decidiu-se e o olhou parecendo enxergar-lhe a alma.
- Estará em seu poder antes do fim desse dia.
- Tenho sua palavra?
- Sim, você tem minha palavra.
Viu-o relaxar a expressão e sorrir tranqüilamente pra ela.
- Eu sei que as palavras de um bruxo tem um poder e significado muito grande quando ditas. Confio no que diz.
Virou-se para a mesa e depositou a toalha que envolvia ainda suas mãos. Ficou olhando para elas examinando os arranhões enquanto falava com o garoto sem encará-lo.
- Posso saber pelo menos o que pretende com o livro? Obter poder?
- De certa forma sim. Conhecimento é uma forma de poder – disse ele de modo displicente e sorrindo.
Amaru o encarou de repente furiosa.
- Então era isso que tinha em mente o tempo todo com essa história de confiança não é? Poder.
Ele aproximou-se dela e respondeu:
- Não, não é isso que tenho em mente com essa história de confiança. – falou suavemente olhando-a intenso.
- Acabou de confirmar isso!
- Eu disse que de certo modo era poder o que queria com o livro. O que espero conseguir com a confiança que ele significa é outra coisa, muito mais importante que poder.
- Não sei se você é cínico demais ou louco demais.
- Fique com os dois, é mais divertido – disse rindo.
Ela acabou rindo também e ficaram assim, rindo sem motivo aparente. Ele chegou mais perto dela e parou de rir tomando o rosto dela entre as mãos e observando-o atentamente.
- Assim está melhor. Apesar de gostar de ver o fogo da paixão em seus olhos quando está brava, ainda prefiro a luz do seu sorriso.
- Tirou isso de qual música? – perguntou sarcástica.
- Dessa. – e beijou-a.
O beijo era como uma carícia feita com os lábios dele sobre os dela. Até que foi se intensificando e quiseram experimentar mais. As línguas faziam uma espécie de dança se tocando, tocando o interior da boca um do outro, provando o gosto literalmente.
E como era gostoso! Amaru jamais sentiu algo tão doce e ao mesmo tempo tão intenso. Subiu as mãos e colocou-as entre os cabelos longos do ruivo na parte de trás do pescoço trazendo a cabeça dele mais perto, aprofundando o beijo, buscando maior contato entre os dois.
Ele percebeu a intenção dela e logo soltou o rosto da garota passando a colocar uma das mãos nas costas dela e outra na cintura. Puxou-a para si unindo ainda mais seus corpos sentindo o delicioso calor que um passava para o outro.
O beijo terminou quando se deram por satisfeitos para um primeiro contato. Apesar das bocas não estarem coladas, continuaram abraçados em silêncio. Amaru então apoiou a cabeça no ombro dele e falou próxima ao ouvido de um jeito sensual:
- Quando posso levar o livro até sua casa?
Shuichi riu.
- De preferência depois que minha mãe sair. Temos regras em casa quanto levar garotas para o quarto.
Ela então afastou o rosto e olhou pra ele estreitando os olhos.
- E por que sua mãe impôs essa regra? Tem antecedentes quanto a levar garotas para seu quarto?
Respondeu sem poder conter o tom de divertimento diante do ciúme dela:
- Não, não tem antecedentes. Mas não quero criar nenhum para que esta regra entre em vigor.
- E como vou saber que não fez o mesmo com outras cuidando para não haver antecedentes?
- Você não pode saber de tudo não é?
Ela sorriu maligna antes de falar:
- Quer apostar?
- Não preciso apostar com você.
- Porque sabe que vai perder.
- Não, porque você sempre vai perder se depender de mim. E nesse caso, depende.
- Seu conven...
Não conseguiu terminar de dizer porque foi interrompida pela boca dele em mais um beijo, agora mais intenso, mais apaixonado. Não, ela não precisava discutir por causa disso, se quisesse algo dele ela obteria independente de qualquer coisa. E agora a única coisa que queria dele era continuar a beijá-lo. Depois resolveria a questão dos antecedentes com garotas.
Nota da autora: esse capítulo foi o mais delicioso de escrever. Finalmente eu consegui arrancar um beijo do Minamino! J Além de que fiquei extremamente extasiada com a idéia de fazê-lo seduzir a Amaru, gostei muito de vê-lo colocando fogo na situação em vez da indiferença gelada de sempre. Mas acho que ainda tenho que melhorar muito meus beijos literários, esse ainda não está bom o bastante pra mim. Melhor treinar mais, acho que o próximo capítulo terá muito mais beijos pra eu ir praticando (rs).
