Ab Imo Pectore

Por Elektra de Ártemis


Quando estou com você sinto meu mundo acabar
Perco o chão sob meus pés, me falta o ar pra respirar...
E só de pensar em te perder por um segundo
Eu sei que isso é o fim do mundo!

Um minuto para o fim do mundo – CPM22


A Dama subia lentamente a colina que levaria até as Doze Casas, a sua volta as grandes pedras estavam destroçadas – pelo tempo e também pela batalhas – tão diferentes dos áureos tempos, tempo no qual ela vivera naquele lugar ao lado de seu querido pai e de seu amor. Olhou bem para a primeira casa, já parcialmente reconstruída. Tantas lembranças, tantas coisas havia vivido ali naquele lugar. Sentiu a brisa fresca da noite sacudir seus cabelos como uma saudação. Estava de volta.

O habitante daquela casa se surpreendeu ao sentir o cosmo próximo. Seria mesmo aquela que não via há anos. Aquela que se despedira dele em Jamiel com lágrimas nos olhos azuis. Uma beldade que conhecera e se apaixonara quando ainda era um rapazinho quase imberbe. Seria mesmo a mãe de sua filha?

Ela parou na enorme escadaria esperando por Mú. Não entraria na casa sem sua autorização, conhecia bem as regras daquele lugar e nunca as havia desrespeitado e não iria desrespeita-las agora. Pode sentir o cosmo amado bem próximo e sabia que ele já havia sentido o seu próprio.

Áries caminhou até a entrada da casa zodiacal e encarou a mulher parada nas escadas. Sabia que ela não iria entrar sem que ele permitisse que isso acontecesse. Conhecia bem o orgulho de Hipólita, mas sabia bem que ela sabia respeitar regras antigas. E ela estava lá, esperando por ele, o vestido de pura seda vermelha e os cabelos loiros - como o ouro das muitas jóias que ela usava – farfalhavam com o vento. Os olhos azuis cobalto fitaram-lhe longamente. Não havia nada a dizer. Estendeu-lhe a mão.

Quando ele surgiu diante de seus olhos, seu coração falhou uma batida. Os cabelos liláses estavam soltos e ele vestia-se daquela maneira simples que conhecia tão bem. Não disse nada, não havia o que dizer naquele instante. Esperou que ele tomasse a iniciativa. Que veio quando ele estendeu-lhe a mão. Ela tocou a mão dele hesitante, e por uma fração de segundo seus olhos se encontraram com os dele, verdes como duas esmeraldas. Olhos que a conheciam por inteiro.

Caminharam lado a lado para dentro do templo. Novamente sem palavras. Não trocaram mais nenhum olhar. Apenas as mãos unidas simbolizando um elo que haviam cortado há anos. Por fora pareciam tranqüilos e impassíveis. Mas por dentro deles o sangue corria em turbilhões, o coração batia acelerado. Ele parou no centro do pátio interno da casa zodiacal. Olhou fundo nos olhos da mulher. E viu a saudade estampada nos olhos azuis como o mar Mediterrâneo.

Hipólita sorriu tentou dizer algo, mas foi calada pelo indicador de Mú sobre seus lábios. Ele meneou a cabeça numa negativa. A mão tocou levemente os cabelos dourados, ornados com canutilhos de prata e rubis. Continuavam macios e sedosos. A mulher fechou os olhos apreciando o toque. A outra mão subiu até o rosto tocando todo o contorno, os olhos, os nariz arrebitado e os lábios rosados. Ela segurou a mão dele sobre seu rosto e abriu os olhos. As safiras encaram nervosamente as esmeraldas, num apelo mudo. Ele apenas sorriu e balançou negativamente a cabeça. Havia tempo ainda.

As mãos abandonaram o rosto e os cabelos e tocaram os broches que prendiam as alças do vestido, broches que logo foram removidos. A seda caiu escorregou lentamente, fazendo a mulher se arrepiar. Ela fechou os olhos novamente. Estava completamente entregue.

O cavaleiro olhou bem para o corpo dela, deliciando-se com a visão das curvas perfeitas. Estendeu a mão e a espalmou no vale dos seios dela, sentindo o peito subir e descer no ritmo de sua respiração. A mão desceu mais um pouco tocando a pequena tatuagem – uma lança e uma flecha formando um X – que ela tinha na barriga, símbolo da raça guerreira ao qual ela pertencia.

Os corpos estavam ligados apenas pela mão dele. Por isso no momento em que ela a soltou, Hipólita abriu os olhos surpresa. Naquele momento ela o viu tirar o manto e estendê-lo sobre o chão de mármore branco. Ele se sentou sobre o tecido e sorriu para ela. A luz fraca da lua iluminava as feições dele. Mentalmente Hipólita murmurou uma prece a Selene e sorrindo sentou na frente de Mú.

Foi a vez dele fechar os olhos, quando os dedos longos tocaram seu rosto. Tocou-lhe os lábios rosados e a curva do pescoço. Com calma e cuidado ela retirou o sari que ele usava, observando o corpo do amado como se fosse algo sagrado – e em verdade, para ela o era. Depois tocou as pintas que emolduravam os olhos, tão iguais as suas próprias. Beijou-lhe a testa numa benção, que ele recebeu de coração aberto.

Ele abriu os olhos e os dois se encararam longamente. Estavam sentados em posição de lótus, um na frente do outro. Estavam apenas de roupas intimas, as peles arrepiadas de frio e de desejo. Apenas o olhar conectando-os.

Hipólita levantou a mão e tocou os cabelos liláses e Mú tocou o ombro desnudo. Os rostos foram se aproximando devagar. Já podiam sentir a respiração do outro na própria face. Os lábios roçaram-se, como numa brisa leve. Para depois ir ganhando profundidade. Era um beijo terno e cheio de saudade.

Separaram-se minutos depois, os olhos cheios de lágrimas mal contidas. Lágrimas que insistiam em cair. Porém não eram lágrimas de tristeza e sim de alegria. Profunda alegria. Mú a abraçou, aconchegando a cabeça dela em seu peito. As peles se tocando, tremendo.

Ficaram assim por um longo tempo, tão longo que eles não saberiam precisar exatamente o quanto. Mas ambos pareceu uma eternidade.

Mú então percebeu que os primeiros raios solares já ultrapassam as pilastras. Hipólita dormia como uma criança em seus braços. Áries sorriu e a levou nos braços até o seu quarto. Em silêncio observou-a dormindo, serena, linda. Deitou ao lado dela, fechando os olhos e adormecendo em seguida.

Não havia nada a ser dito.


N/A: Eu consegui terminar isso. Era para ter feito para o aniversário do Mú, mas a faculdade tá tomando todo o meu tempo vago. Bem leve como convém ao ariano. O titulo é uma expressão latina e significa "Do fundo do peito" ou "Do fundo da alma" (Bendito dicionário de latim que eu tive de comprar para as aulas de Direito Penal). Reviews são muito bem vindas.