Luz Embaixo D'Água por Maya
Capítulo 2
Se Eu Estendesse a Mão
Every time I try the words make little sense
Until you're gone, and everything must change
And so I must resolve to say it
It's just me myself again and I'm just talking to the wall
It's just me myself and I deciding on a plan
Deciding on my plan
And everything must change, change
Inside and out
Harry tropeçou para dentro da sala comunal dos Gryffindors. Ele piscou, uma mão levantada, protegendo-se da luz e protegendo os olhos confusos dos outros.
Uma explosão de cumprimentos assaltou-o imediatamente.
- Bom pra você, Harry! - Seamus.
- Coitado do Harry, imagina, salvar o Malfoy! – Ginny.
- Foi brilhante Harry, mas será que não dava pra ter afogado ele mais um pouco? - Ron.
- Então, o que o Professor Dumbledore disse? - Hermione.
E agora Hermione havia feito a pergunta óbvia, e todas as faces se viraram para ele, certos de que ele explicaria tudo.
Harry se sentiu completamente exausto.
- Ele não faz idéia do que aconteceu – ele respondeu – E nem eu.
Um silêncio se seguiu, e então um forte burburinho de conversa se instaurou.
- O que quer que tenha sido, você foi incrível! - exclamou Seamus.
- Você deve ter entrado em choque quando viu o Malfoy ali – comentou Hermione.
Malfoy.
Deus. Eu tenho que pensar em Malfoy.
Ele precisava escapar dali, para pensar sobre o Malfoy.
Ele olhou em torno da sala. Neville Longbottom ergueu um cálice em sua direção, e o macacão que ele vestia por cima de um terno por algum motivo melhorou o humor de Harry.
Agora que o mundo mágico estava dividido em duas metades, elas haviam se tornado extremistas. Ou você matava os Muggles ou amava-os.
Aqueles que se opunham a Voldemort haviam abraçado qualquer costume Muggle que encontrassem pela frente. Vestuário Muggle era comumente usado fora das salas de aula.
Todavia, pessoas de famílias de sangue puro, como Neville, estavam sempre cometendo pequenos erros de julgamento. Harry guardava com carinho a foto tirada por Colin Creevey do "Incidente do Sarongue" no quinto ano.
Hermione tocou seu braço gentilmente.
- Você parece cansado, Harry.
Ele olhou para ela com gratidão.
- E estou – ele disse com fervor.
- Talvez você devesse ir descansar.
Os dedos de Harry fecharam-se sobre a mão dela em apreciação muda. Ela apertou de volta com terrível simpatia.
Todos acenaram adeus para ele quando ele saiu, e então ele estava livre.
Harry se apoiou contra a porta. Agora ele tinha que tentar entender.
Nós tiramos o que mais vai lhe fazer falta.
Por que Malfoy?
Ele podia entender que não havia sido Ron. Ele amava Ron, e sempre o amaria, mas uma distância havia crescido entre eles, uma fração que por mais pequena que fosse, fazia Harry sentir-se solitário.
Ron nunca havia sido muito bom em sentir empatia. Ele não entendera, três anos atrás, que Harry nunca entraria no Triwizard Tournament sem contar para ele.
Agora Harry precisava ainda mais de compreensão, e Ron não podia dá-la.
Não ajudava que Ron dedicasse tantas horas a ser o namorado apaixonado de Hermione.
Se houvesse sido Hermione... ela era inteligente, aquela dentre eles que havia chegado mais próxima de entendê-lo.
Ou se houvesse sido Sirius. Sirius havia estado ausente no quinto e sexto anos, mas agora ele ensinava na escola, ajudando Lupin com a carga de trabalho. Lupin tentava equilibrar Herbologia e Defesa Contra as Artes das Trevas, e Sirius havia sido bem-vindo com aquele calor quase desesperado tão comum nesses dias.
Harry esperava que eles se tornassem mais amigos, apesar de seus sonhos dourados de ter um pai adotivo aos treze anos terem esvaído-se há muito.
Ainda assim, se houvesse sido Hermione, ou Sirius...
Qualquer pessoa menos Malfoy!
Harry atravessou o quarto rapidamente e sentou-se na beira da janela, as pernas cruzadas, a face pressionada contra o vidro frio.
Ele fechou os olhos.
Então. Malfoy.
Uma face pálida e debochada entrou em foco contra suas pálpebras fechadas.
A imagem clara e imediata surpreendeu Harry vagamente. Ele era familiar o suficiente à Malfoy. O babaca havia estado presente há anos, afinal.
Mas o que era essa familiaridade? Familiaridade reproduzia desprezo. No caso da familiaridade de Harry e Malfoy, ela reproduzia desprezo como se reproduziam coelhos.
O que mudara nesses três anos?
Muito pouco.
Malfoy ainda era o mesmo idiota malicioso, que entrava tão fundo na pele de Harry que não seria surpresa se ele atingisse os ossos. Harry ainda desprezava-o totalmente.
Exceto que agora, aparentemente, de acordo com um maldito Cálice e seu próprio subconsciente traidor, ele não o odiava.
O quanto havia Malfoy mudado nesses três anos?
Muito pouco.
Não... talvez ele não estivesse sendo justo.
Acontecera o... negócio com o Lucius Malfoy. O pai de Malfoy havia morrido no começo do quinto ano. O rumor que havia infiltrado-se através do mundo mágico era de que ele havia feito jogo duplo com Voldemort, em uma tentativa de ganhar poder, e Voldemort executara-o.
Harry não sabia dos detalhes. Com a guerra rugindo, as famílias desaparecendo, o medo em todo lugar... ninguém havia se importado o suficiente para investigar.
Harry havia até sentido uma certa satisfação mórbida, lembrando-se de como Lucius Malfoy quase matara Ginny, de como ele havia, num círculo de Comensais da Morte, presenciado um menino da idade de seu filho duelar desesperadamente contra o Lord das Trevas, e ainda rir...
Em retrospecto, essa satisfação lhe parecia quase feia. Harry não sentira o mínimo de simpatia por Draco Malfoy. Os seus pensamentos foram: "Bem... isso deve calar a boca dele."
Eles serão os primeiros a morrer, agora que o Lord das Trevas está de volta!
Draco Malfoy estava errado... seu pai havia sido um dos primeiros a morrer.
E Harry, quase inconscientemente, havia concordado com o veredicto duro de Ron: "Foi bem feito pra ele!"
Malfoy não pareceu exatamente arrasado. Ele e sua gangue de sempre apareceram na reunião da Ordem Juvenil da Fênix de Lupin, para a surpresa de todos, e imediatamente se tornaram os elementos mais desordeiros das reuniões, para a surpresa de ninguém.
Dumbledore estava certo, então. O Sr Malfoy está do nosso lado.
Então Draco Malfoy não era um Comensal da Morte.
Espere. Um julgamento de caráter?
Tenho certeza de que você conhece-o melhor? Dumbledore havia dito.
Malfoy sempre havia sido extremamente irritante, mas apesar de seu pai ser um Comensal, ele nunca havia mostrado tendências homicidas. Ele não havia nem reagido ao bofetão de Hermione no terceiro ano. Ele dizia as coisas mais nojentas e jogava mais sujo que um lutador profissional de lama, mas ele não era um assassino.
Está bem. Harry estava preparado para admitir que Malfoy não era o coração negro de todo o mal.
Mas ele não via como ele podia passar daí para ser a coisa de que Harry mais sentiria falta. Afinal, Malfoy era a pessoa mais irritante que Harry conhecia.
Harry pressionou o rosto mais forte contra a janela.
Incomodava Harry o fato de ele não ter sentido nenhuma simpatia por Malfoy. Harry gostava de pensar que era uma... pessoa decente. Ele dissera a Blaise Zabini que sentia muito pela morte de sua mãe, e ninguém sabia se o desaparecimento da Sra Zabini havia sido morte, fuga, ou conversão para o Lado Negro.
Isso era o mais irritante em Malfoy. Ele era o único que conseguia rebaixar Harry até o seu nível.
Ah, ele podia desobedecer ordens de Voldemort recebidas sob o Imperius... mas aí ele tinha que ir e agir como um babaca por causa do Draco Malfoy.
Não posso deixar o Malfoy me ver empoeirado e com os óculos quebrados. Não posso deixar o Malfoy me ver sendo carregado para Enfermaria por causa dos Dementores. Tenho que ganhar do Malfoy em Quidditch.
Harry lembrou-se do início do sexto ano.
Ele tinha dezesseis, e finalmente havia dado uma "esticada" durante o verão, como tanto queria. Infelizmente, ainda faltavam músculos, mas pelo menos ele não era mais tão ridiculamente baixo.
Mas ele sabia quem ainda era. Foi por isso que ele saiu correndo trem afora que nem um maníaco, mais animado do que estivera por um ano ou mais, desesperado para encontrar Malfoy e rir da cara dele.
Harry lembrava-se com intensidade peculiar da raiva que invadira seu ser com unhas e dentes, quando ele entrou num compartimento e achou-se cara a cara com um par de frios olhos cinzentos.
Ele ficou furioso. Sentiu-se como se Malfoy houvesse crescido só para perturbá-lo.
O que era absurdo.
Mas ele estava furioso mesmo assim. Malfoy tinha esse efeito sobre ele.
Como nas reuniões da Ordem Juvenil, quando Malfoy fazia algum comentário ignorante sobre os Muggles, e Harry passava da introspecção ao ultraje num instante. Ou durante aqueles jogos chatos de Quidditch quando Harry era reanimado pela expressão de escárnio sempre presente no rosto de Malfoy nas arquibancadas. O garoto virava o maior fã dos Hufflepuffs só para irritar Harry.
Sem mencionar os jogos de Gryffindor contra Slytherin. Na última partida, Malfoy, de acordo com rumores, tinha um livro de regras de Quidditch com ele e demarcava cada regra depois de quebrá-la. Ele trapaceava furiosamente na maior cara-de-pau, mas definitivamente jogava para ganhar.
Ele e Malfoy acabaram gritando um com o outroaté que Madame Hooch arrastou Harry dali. Harry sentira-se cheio de raiva escaldante.
Ele sentira-se... vivo.
Harry levantou-se da janela, com cuidado.
Ele andou até sua cama e deitou-se, assistindo ao bem conhecido slide de Luar suave e sombras na parede oposta à ele. Luz pousando palidamente sobre o estuque, como se pendurada ali.
Harry não gostava de Malfoy.
Ele nunca havia gostado de Malfoy.
Nós tiramos o que mais vai lhe fazer falta.
Mas Malfoy, de alguma forma, havia tornado-se... importante para ele. Ele era o desafio que ninguém mais ousava ser. Ele fazia Harry querer levantar-se e estrangulá-lo, mas pelo menos levantar-se. Ele estava... provendo motivação para a vida de Harry.
Isso era anormal.
E estava acontecendo há anos. Não que Malfoy houvesse feito tanto. Ele havia sido apenas ele mesmo, uma agulha dentro da pele de Harry, uma dor constante e furiosa.
Ele nunca nem havia percebido... e agora estava horrorizado.
Sua vida atingira um estado tal que ele estava se apoiando em raiva para continuar vivo. Quando apenas a raiva fazia-o sentir o sangue pulsar em suas veias, crepitando até a raiz de seus cabelos, trazendo o mundo para um foco nítido e fazendo Harry reagir a ele.
Era como se ele fosse viciado em adrenalina, e Malfoy fosse o seu traficante. E isso... e isso de alguma forma havia tornado-se mais importante que seus amigos.
O que isso dizia sobre ele? Sobre a sua vida?
Era um insulto àqueles que ele amava. E se Malfoy era importante para ele, de alguma forma, mesmo terrível e anormal... era muito feio que Harry não houvesse sentido pena do que acontecera ao seu pai.
Harry sentou-se e fechou as cortinas de sua cama.
Ele estava espantado em perceber que o mundo estava em foco nítido agora. Ele não estava preso em depressão, e sua respiração era forte e rápida.
Ele debateu-se na cama, como se tentando cortar através da água e sair disso.
Isso não podia ser verdade. Ele não tinha certeza... não parecia inteiramente verdade.
Embora parecesse desconfortavelmente próximo da verdade.
Ele tinha que descobrir tudo sobre isso. Se Malfoy era importante para ele, ele não podia continuar sendo seu rival hostil. Deveria haver uma razão porque ele afetava Harry.
Harry precisava descobrir sobre isso também.
Ele havia ido o mais longe que podia sozinho. E Dumbledore não pudera ajudá-lo.
Não havia porque continuar pensando no assunto. Mas ele pensou, e continuou pensando. Ele pensou enquanto se revirava na cama, esquecendo de tirar a roupa ou de entrar debaixo das cobertas.
Amanhã...
Amanhã ele teria que confrontar Malfoy.
- Harry, você parece um pouco agitado.
Harry deu um pulo.
- Eu... é, não! Eu estou ótimo – ele disse desconfortavelmente.
Hermione olhava para ele preocupada, o pedaço de torrada em sua mão pousado no ar. Harry tentava desesperadamente não mostrar que estivera acordado metade da noite, vestido com as mesmas roupas de ontem, e de jeito nenhum estava vigiando a porta para ver quando Malfoy chegasse.
Hermione olhou para ele durante um longo momento, e voltou à sua torrada.
Eu estou apenas olhando para a porta, Harry tentava projetar para o mundo. A porta. Fascinante porta. Não apreciei-a o suficiente durante seis anos e meio, devo apreciá-la agora.
O café-da-manhã foi passando, e nada de Malfoy.
Ah, quê isso! Que desgraça. O café-da-manhã é a refeição mais importante do dia. As pessoas não podem ficar perdendo-o assim, irresponsavelmente.
Até Crabbe e Goyle estavam lá, e Pansy Parkinson e Millicent Bulstrode e Blaise Zabini, toda a sua turma usual. Também conhecidos como a "Corte de Malfoy".
Harry encarou-os até começar a receber olhares venenosos. Ele rapidamente desviou os olhos.
Não é minha culpa. Eu só quero falar com ele, as pessoas deviam comer seus cafés da manhã.
- Harry, você não está comendo nada – disse Hermione.
Harry, distraidamente, passou alguma coisa num pedaço de torrada e deu uma grande mordida.
E então percebeu que acabara de comer torrada com mingau.
Isso era ridículo.
Isso continuou o dia inteiro.
Sete anos, pensou Harry. Quase sete anos desejando que ele caísse num buraco negro e no dia em que eu quero falar com ele, ele desaparece da face da Terra.
Oh, não. Ele não podia se tornar um dos desaparecidos. Não agora.
Harry surpreendeu-se ao sentir algo próximo ao medo.
A emoção perturbadora foi interrompida, graças a Deus, quando ele espiou o cabelo mais claro da escola no meio de um grupo de Slytherins se dirigindo à aula de Poções.
Certo!
- Vamos! - ele disse para Ron e Hermione – Rápido, pra aula de Poções, não engasga no pirulito!
Engasga no pirulito? Ele estava ficando maluco.
Sem tempo para pensar sobre isso. Ele iria à aula de Poções, e então Malfoy passaria rente à sua escrivaninha com desdém, fazendo algum comentário rude, e ao invés de trincar os dentes e resistir à vontade de distribuir socos ele iria...
Umm, bem. Ele não havia passado dessa parte. Mas ele iria dizer algo, definitivamente.
Palavras. Esse era o plano.
O plano mostrou-se completamente inútil.
Malfoy nem passou perto da escrivaninha de Harry. Todavia, todos os outros Slytherins passaram por ele, murmurando coisas mais virulentas do que de costume. Eles pareciam achar que a história toda havia sido um plano para humilhar seu chefe.
Harry não fazia idéia do que Malfoy estava pensando. Ele se sentou no fundo da sala, como de costume, e estava muito quieto.
Teria sido ótimo se Snape também permanecesse quieto.
- Ora, ora, ora, Sr Potter – ele disse, o rosto mais descontente do que de costume – Parece que o seu plano é não só se glorificar, mas manchar a imagem dos Slytherins. Parabéns por tal demonstração infantil.
- Mas professor – disse Ron indignado – Harry não poderia s...
- Foi um engano – assentiu Hermione – O Harry não...
Harry virou-se em sua cadeira para ver se Malfoy concordava com Snape.
Malfoy olhava para frente, o rosto perfeitamente impassível. Era um rosto estreito, ascético, não feito para trazer expressões, e Harry não fazia idéia do que estava acontecendo por trás dele.
- Sr Potter – chamou Snape – Olhos para a frente da classe, por favor. Onde a aula está acontecendo? Obrigado.
Harry sentiu-se ficar vermelho. Tudo isso era muito embaraçoso.
Então ele iria falar com Malfoy depois da classe.
Ele não falou. Malfoy estava cercado por uma multidão de Slytherins enquanto saía da sala. O mesmo no almoço, e Cuidados com Criaturas Mágicas, e nos corredores, e no jantar.
Eles amontoavam-se em torno dele como abelhas em torno de uma flor, e Harry sentia-se muito frustrado.
Por que vocês gostam tanto dele? Ele é um babaca irritante!
Anos e anos de Malfoy aparecendo em tudo que é lugar para rir de Harry, e agora as pessoas haviam decidido formar uma fortaleza humana em volta dele.
E então ele voltou para a sala comunal dos Gryffindors depois de um dia muito, muito cansativo no qual absolutamente nada havia sido alcançado. Ele se sentia desanimado e frustrado e...
Ele havia agüentado o suficiente. Harry estava cansado de ficar seguindo Malfoy, esperando que o garoto lhe garantisse uma audiência.
Se ele queria falar com Malfoy, ele iria falar com Malfoy.
- Eu vou dar uma volta – ele anunciou para a sala comunal, e saiu depressa, antes que alguém se oferecesse para acompanhá-lo.
No meio do caminho para as masmorras dos Slytherins, Harry mudou de idéia.
A coisa era lúdica. Ele não queria falar com Malfoy. Ele odiava o palhaço. Ele certamente não queria ir se meter no meio dos Slytherins e se fazer de bobo na frente do Malfoy.
Oh, Deus. Aquela pontada de ansiedade de novo.
Harry lembrou-se do Cartão de Dia dos Namorados de Ginny no segundo ano, e o desespero que agarrou seu peito quando ele percebeu que Malfoy também iria ouvi-lo. A opinião do idiota importava para ele, por algum motivo.
Ele tinha que descobrir por quê.
Harry respirou fundo e apressou-se pelos corredores, concentrando-se em chegar até a sala comunal dos Slytherins antes de perder a coragem.
Quando chegou lá, ele bateu no trecho de pedra lisa que era a entrada Slytherin. Coisa dos Slytherins, ele refletiu, ter a entrada escondida das outras casas. Slytherins estavam sempre fazendo coisas assim, aparecendo nos fundos dos lagos quando ninguém queria vê-los, e recusando-se a falar com as pessoas o dia inteiro.
Ele bateu no muro com mais veemência.
A parede atrás dele se abriu e Harry se virou tentando fazer parecer que estivera de frente para aquele lado o tempo todo.
- Fala sério, Pritchard, você esqueceu a senha Slytherin de novo? - disse Malcom Baddock, um menino do quarto ano pequeno e um tanto velhaco.
Ele parou e olhou fixo para Harry Potter, campeão de todas as coisas Gryffindors, todo amarrotado, decididamente nervoso, de pé na entrada Slytherin.
- Er... - fez Harry, perdendo o controle sobre sua língua no momento crucial.
Baddock piscou, e pareceu espantado em ver que Harry ainda estava ali.
Harry desejou arduamente conseguir algum autocontrole.
- Er... - ele fez de novo, xingando-se em sua mente – Er... umm... posso falar com Malfoy, por favor?
Pronto. Não exatamente eloqüente, mas a mensagem estava dada.
Malcom Baddock encarou Harry por mais alguns segundos e saiu correndo para dentro gritando:
- Todo mundo! Vem rápido!
Dentro de alguns segundos Harry viu-se de frente a uma multidão Slytherin, empurrando-se para poder espiar essa visão inacreditável.
Na frente estavam Pansy Parkinson e Blaise Zabini, vestindo carrancas idênticas.
Isso havia sido uma má idéia.
- O que você quer, Potter? - inquiriu Blaise, o rosto moreno cheio de suspeita e desagrado.
Pansy cruzou os braços, como se Harry pretendesse invadir a sala comunal.
Harry engoliu em seco.
- Posso ver Malfoy, por favor?
"timo. Agora ele havia se tornado um papagaio histérico, repetindo a mesma frase de novo e de novo.
- Para quê? - perguntou Pansy duramente – O que mais você pretende?
- Nada! Eu não fiz nada! - protestou Harry – Eu apenas preciso falar com ele!
Blaise e Pansy trocaram olhares severos, e pareceram chegar a uma decisão.
- Não pode, não – informou Pansy rudemente, fazendo que ia fechar a entrada.
- O que diabos está acontecendo aqui? - exigiu uma voz imperiosa e mal-humorada – Alguns de nós estão tentando trabalhar, vocês sabem...
Não havia como confundir aquele tom aristocrático, e nem a cabeça branco-loira quando Malfoy chegou à frente da multidão.
Harry simultaneamente sentiu alívio, e um flash do medo que sentira quando achara que Malfoy estava desaparecido.
Ele percebeu que não só temia por Malfoy, mas temia o que Malfoy poderia fazer. Se Malfoy era importante para ele... Malfoy podia machucá-lo. E Malfoy gostava de machucar as pessoas.
De pé na frente da multidão, Malfoy encarou Harry por um segundo, olhos cinzentos arregalados. Ele parecia tão espantado quanto Malcom Baddock.
- Voc! - ele exclamou placidamente. E então, ganhando controle sobre si mesmo em um segundo - para a inveja de Harry - perguntou friamente:
- O que você quer?
Eu manterei a calma.
- Eu quero falar com você – disse Harry, o rosto avermelhando-se descontroladamente.
Malfoy encostou-se à moldura da entrada com fácil desembaraço, os braços cruzados. Ele observou Harry com aqueles olhos opacos, reflexivos, prateados e impenetráveis.
Harry notou que ele usava um moleton branco e jeans. Ele era um dos raros Slytherins usando roupas Muggle.
- Bem, eu estou aqui – Malfoy respondeu – Fala.
Harry olhou para as fileiras raivosas de Slytherins, ordenados na entrada como dentes na boca de um tubarão.
- Não podemos conversar sozinhos? - ele perguntou desesperado.
Malfoy pareceu vagamente surpreso, mas então gesticulou com as mãos para calar o burburinho indignado atrás dele.
- Está bem – ele disse devagar. Malfoy saiu para o corredor, fazendo Harry dar alguns passos para trás.
A parede de pedra se fechou, substituindo os rostos estupefatos dos Slytherins. Harry gostou do progresso.
Então ele olhou para Malfoy, que estava recostado na parede casualmente, e voltou ao negócio do nervosismo.
Harry estava começando a entender por que se fazer de bobo na frente de Malfoy era tão terrível. Malfoy era muito autoconfiante para um garoto da sua idade, e isso colocava Harry em desvantagem automática.
- Então, er... - disse Harry – A gente podia... achar uma sala de aula vazia para conversar, ou algo assim?
Ele certamente não queria ficar pelos corredores onde qualquer um pudesse vê-los e espalhar Deus sabe que rumores pela escola.
Malfoy ergueu uma sobrancelha pálida.
- Eu já passo tempo demais em sala de aula, muito obrigado. Nós podemos dar uma volta até o lago.
- Malfoy, está um gelo lá fora, e nenhum de nós dois está de capa.
- E daí? - inquiriu Malfoy – Você disse que queria conversar. Eu quero dar uma volta até o lago. É lá que a gente vai conversar, a não ser, é claro, que você tenha mudado de idéia.
Harry lembrou-se, nesse ponto, de que ele ainda odiava Malfoy.
- Tá – ele disse, por entre dentes.
Malfoy deu um de seus triunfantes sorrisos afetados. Harry sentiu o sangue cozinhar até alcançar o ponto de fervura.
- Esplêndido – disse Malfoy – Vamos.
O vento varria os campos cinzas e a água como um lençol devastador. Tudo parecia estar oprimido e subjugado a ele, até você perceber as pequenas rebeliões de ondas na superfície do lago. O vento descia afiado como uma espada do céu, tão coberto de nuvens que apenas a ocasional mancha metálica quebrava a vastidão branca.
Harry estava congelando, e o vento parecia ter adotado seu cabelo e vestes como companheiros de brincadeira.
Malfoy caminhava um pouco à sua frente, as mãos nos bolsos, como se estivesse dando um passeio numa calma manhã de verão. Seus cabelos claros provocados de leve pelo vento, levantados e rearranjados por dedos invisíveis, afastados das sobrancelhas.
Harry pensava no que diachos ele iria dizer.
O seu plano ia apenas até aquele ponto, e agora ele tinha um Slytherin arrogante nas mãos, esperando por palavras as quais ele não havia planejado.
Eles andaram em silêncio por um tempo, Malfoy parecendo bastante confortável com a quietude e o clima. Ele havia perdido todo traço de insegurança que poderia ter mostrado mais cedo.
Finalmente ele se virou. Seus olhos pareciam mais escuros ali fora, combinando com o cinza desigual do lago além.
O seu balbucio arrastado era o mesmo de sempre:
- Você estava querendo apenas estabelecer um vínculo silencioso, Potter? Porque eu tenho um encontro com uma xícara de chocolate quente e um livro didático, e francamente isso está ficando chato.
- Um... um livro didático? - gaguejou Harry. Pareceu-lhe bizarro que Malfoy fizesse algo tão ordinário quanto estudar.
- Ué, sim, Potter! Isso é uma escola, você sabe. Eu achava que até você já teria percebido isso depois de tantos anos. Classes tendem a estar envolvidas.
- Malfoy, cala a boca – Harry disse abruptamente – Eu estou tentando dizer algo aqui.
- Então diz.
Malfoy parou e olhou para Harry com um ar quase entretido, mas seu olhar era um desafio.
- Er... - fez Harry – Ah. Umm. É...
- Acredito que hoje não seja um dos seus dias lúcidos?
- Malfoy! - Harry explodiu – Você podia ficar quieto, e fingir que é uma pessoa pelo menos meio-decente? Eu realmente tenho algo a dizer, e eu não vou conseguir dizer nada se você ficar me interrompendo com os seus comentários maliciosos!
Malfoy deu de ombros:
- Claro.
- Você vai ficar quieto? - perguntou Harry, desconfiado.
- Eu não tenho o dia inteiro pra ficar ouvindo as suas lamúrias patéticas. Eu vou ser bonzinho – prometeu Malfoy – Pela minha honra como um Slytherin.
Harry duvidou muito da validade desse juramento, mas...
- Ok, então. Eu, ã, você sabe ontem, e a parada no... lago?
Ele fez uma pausa e esperou por uma resposta. Malfoy observou-o em silêncio, e só depois que Harry notou o sorrisinho nos lábios do outro ele percebeu:
- Você pode falar quando eu te perguntar alguma coisa, pelo amor de Deus!
- Ah, eu posso? - perguntou Malfoy inocentemente – Desculpa mesmo. Eu não queria interromper o correr da narrativa. É claro que eu me lembro, seu idiota!
- Er. Você não pensou no que aquilo quis dizer?
- Não. Eu coloquei a culpa toda no meu apelo sexual irresistível e deixei pra lá. A vida é muito curta.
Harry pensou em um novo plano. Matar Malfoy, esconder o corpo no lago, e então descobrir se ele realmente sentiria tanta falta dele.
- Malfoy, pára de ser estúpido! - ele exclamou – Eu estive pensando no assunto.
- E a que conclusão você chegou, Menino Maravilha? Tenho certeza de que deve ser brilhante.
Os olhos de Malfoy diziam: Imbecil.
Harry apertou os olhos e encarou o lago. A sua linha de pensamento estava ameaçando ser destruída pelo impulso de espancar Malfoy até ele desmaiar se ele continuasse olhando para ele.
- Ah, bota pra fora, Potter!
Harry respirou fundo e começou sua explicação:
- Bem... Dumbledore disse que não foi um acidente então eu não tinha idéia do que pensar, mas eu sabia que teria que descobrir sozinho; então eu fiquei a noite inteira acordado e só consegui encontrar uma razão possível para o que aconteceu. Você sabe como nós somos meio rivais?
- Não – respondeu Malfoy; Harry virou-se e olhou para ele de soslaio, incrédulo – Nós somos inimigos, Potter – ele elaborou condescendente – Eu odeio você e você me odeia. Nós queremos ver o outro fritar. Isso não é uma competição jovial de Quidditch. É um ódio virulento o que nós temos aqui.
Oh... bem, isso era promissor.
Harry ainda fazia uma rápida avaliação de Malfoy : este levantara uma mão até os cabelos apanhando uma mecha solta entre seus dedos, torcendo-a distraidamente, enquanto esperava Harry continuar. Ele parecia estar pensativo.
- Que seja – disse Harry rápido, apressando-se em continuar – É só que... eu estava pensando sobre aquilo, e foi a única razão que eu consegui encontrar. E agora eu não tenho idéia de como dizer isso, mas er, então, eu cheguei à conclusão de que a sua opinião devia importar pra mim por algum motivo, o que obviamente é uma conclusão crassa, mas eu não consegui pensar em mais nada, e então eu queria confirmar se era verdade. Eu não consigo imaginar porque ela deveria importar, porque você parece, basicamente, sem a intenção de ofender, uma das pessoas piores do mundo, mas se você não for, então pode ser que faça sentido, e eu só queria vir e descobrir por que, então, umm... er.
Harry estava agradecido de poder parar com sua falação, pois ele estava ficando sem ar.
Malfoy pendeu a cabeça para um lado, pego entre o divertimento e a reflexão:
- Potter, seu idiota completamente incoerente, você está tentando virar meu amigo?
Harry expirou o ar com força:
- Sim.
- Oh. Umm.
Malfoy tornou-se meditativo novamente. Harry não era familiar com essa expressão de Malfoy. O olhar de escárnio era substituído por um olhar abstraído, que era quase agradável.
Ele observou-o por alguns momentos.
Finalmente, Malfoy disse:
- O que eu ganho com isso?
Essa pergunta brusca e tão Slytherin pegou Harry de surpresa.
- O... o quê?
- Bem, se eu for seu amigo eu posso saber a senha Gryffindor pra eu poder entrar escondido e deixar animais mortos na cama do Weasley?
- Não!
- Ok, você me conta os segredinhos íntimos do Weasley e da Granger pra eu poder ornamentá-los e espalhá-los pela escola?
Harry estava dividido entre o riso espantado e o horror:
- Não!
- Eu posso te enganar e te converter pro lado das trevas?
- N... - Harry parou, e olhou para o outro com certa preocupação; aquela, afinal, fora uma pergunta bem séria – Você ia querer fazer isso?
Malfoy mordiscou e apertou os lábios, o que fez suas maçãs-do-rosto afilarem-se como facas.
- Não particularmente. Mas que seria engraçado, seria.
Harry balançou a cabeça incrédulo.
E tá, ok, um tiquinho divertido. Ninguém conseguia ser tão manifestadamente malicioso como Malfoy, e cara-de-pau de forma a fazer você quase perdoá-lo.
- Está bem – disse Malfoy finalmente.
Harry piscou:
- Você... você está concordando?
- Esse seria o significado geral da frase, sim.
Harry não conseguiu esconder a surpresa:
- Por que?
- Aahhh... - Malfoy inclinou a cabeça para trás, olhando para o céu; por um momento, a linha da sua mandíbula se revelou vulnerável – Eu não tenho certeza. Chamemos de curiosidade mórbida.
Harry achou-se perdido de repente. Ele havia conseguido o que queria, e agora... exatamente o quê era para ele dizer pro Malfoy? Falar com ele sobre como o Snape era podre? Chamar ele de Draco? A idéia pareceu absurda.
Eles caminharam por um momento, e Harry arriscou outro olhar na direção de Malfoy.
Ele estava olhando para Harry, e parecia estar tão confuso quanto o outro. Ele tinha um olhar perdido, encarando Harry através da franja prateada.
- O que você faz com os seus amigos? - perguntou Harry meio em desespero.
- Eu digo a eles o que fazerem, então eles vão e me deixam em paz.
- Oh... - a idéia não pareceu muito atraente a Harry.
- Você vai fazer o que eu mandar? - perguntou Malfoy alegre.
- Não!
- Oh – fez Malfoy com um muxoxo – Bem, o que você faz com os seus amigos?
- Er, nós falamos muito sobre como você é horrível.
- Você pode fazer isso. Eu veria como um cumprimento.
Harry ficou em silêncio. Uma parte dele gritava que ele devia dizer a Malfoy que havia sido tudo um engano e sair correndo.
O resto dele... não queria exatamente aquilo.
Malfoy estava fazendo caretas contra o vento.
- Enquanto estamos tendo esse silêncio constrangedor – ele disse numa voz estranhamente pequena – A gente pode entrar? Eu estou entrando em choque de frio.
Harry não pôde impedir o riso.
- Cala a boca, Potter.
- Eu te disse, Malfoy.
- E eu te disse pra calar a boca!
Malfoy virou-se e começou a retornar rapidamente, desistindo de manter a pretensão de um andar gracioso.
- Eu só queria dar uma olhada na paisagem desolada pra Mágica Criativa – ele lamentou.
- Pra...? - Harry tinha a vaga lembrança de uma lista, e conversas de dever de casa nas salas comunais – Ah, a matéria. É legal?
Malfoy parou subitamente:
- Você tá brincando? É a melhor matéria do mundo!
- Ah. Eu escolhi as mesmas matérias que o Ron – Harry admitiu – E não sabia bem sobre o que elas eram.
- Pelo amor de Deus... é isso que dá, jogar gente do meio Muggle em escolas mágicas.
Harry estava para objetar a esse comentário racista, mas Malfoy continuou caminhando de encontro ao vento e falando alto por cima dos ombros:
- Mágica Criativa é... bem, é a transcendência do talento.
Harry não entendeu.
Malfoy suspirou impaciente.
- É assim... existem bruxos e bruxas que conseguem produzir livros, peças, ou pinturas deslumbrantes, transformando mágica e talento em uma coisa só para criar obras que encantam até os Muggles... que até Muggles dizem que só pode ser magia.
Harry nunca havia visto Malfoy se entusiasmar antes. Mas ele reparou que as gesticulações extravagantes comumente usadas em suas impressões cruéis, combinavam estranhamente com sua descrição exuberante. Os olhos de Malfoy brilhavam, e ele parecia aberto como Harry nunca o havia visto.
Harry podia apostar que a sala comunal Slytherin inteira estava cansada de ouvir falar sobre esse assunto, claramente o preferido de Malfoy.
Ainda assim, ele tinha que admitir, estava quase encantado. Malfoy estava agindo como uma criança.
Mesmo quando eles eram crianças, Malfoy não havia agido como tal.
A não ser que você contasse as suas freqüentes explosões de menino mimado.
- Muggles pensam onde o tempo foi parar depois de ouvir um concerto Criado Magicamente ou de ver uma pintura Criada Magicamente. Porque a magia realmente suga o tempo, levando-os brevemente a outra dimensão, e depois eles voltam sem nunca saber o que aconteceu, mas sabendo que experimentaram... algo – Malfoy continuou avidamente – E... dá pra se apressar, Potter? Está escurecendo e eu estou congelando.
- Vocês, Slytherins, são tão frágeis – disse Harry.
- Oh, cale-se. E anda mais rápido. Eu vou morrer de pneumonia. Você não pode andar mais rápido? Eu estou com frio, com frio, com frio!
Aah. Outra explosão de menino mimado.
Harry apertou o passo. Obviamente, ele não devia deixar Malfoy agir como um ditador, mas... por algum motivo, vindo dele, esse comportamento parecia natural.
Era certamente diferente da política Gryffindor de "não respirar muito forte em cima do Harry senão ele quebra."
Malfoy continuou reclamando até eles chegarem sãos e salvos.
- A gente está no quentinho agora – disse Harry, rindo – Pára de choramingar.
- Eu não estava choramingando, eu estava quase morrendo de hipotermia – resmungou Malfoy – Eu, umm...
Malfoy olhou para cima, e Harry seguiu o seu olhar.
Ron e Hermione estavam vindo em sua direção.
- Harry, a gente te procurou por tudo quanto é... - começou Ron, mas calou-se bruscamente.
Os olhos de Malfoy eram luminescentes e contemplativos dentro das sombras que escondiam seu rosto.
- Eu te vejo amanhã, então – ele murmurou – Mesma hora, mesmo lugar.
Ele saiu dali, a cabeça loira à distância antes de Harry poder concordar. Harry percebeu que as palavras haviam sido um comando e não um pedido.
O garoto era insuportável. Mas o subconsciente traidor de Harry parecia não concordar de todo.
Balançando a cabeça, Harry riu de forma lúgubre, e deu um passo a frente para encontrar Ron e Hermione.
- Harry... aquele era o Malfoy? - perguntou Ron incrédulo.
- Er... - fez Harry.
Notas:
Lilibeth, meu amor, muuuito obrigado pela betagem. São os detalhezinhos que deixam a linguagem nos trinques ;)
Friskiss, quem tem coragem é a Maya de me deixar traduzir essa fic, ahahah. Que bom que cê tá gostando.
Ana Granger Potter, que honra eu estar nos seus favoritos! Espero que continue gostando da minha humilde tradução.