Luz Embaixo D'Água por Maya

tradução: Elnara

Capítulo 10

O Último Teste

The towering hedges cast black shadows across the path, and, whether because they were so tall and thick, or because they had been enchanted, the sound of the surrounding crowd was silenced the moment they entered the maze. Harry felt almost as though he was underwater again – Harry Potter and the Goblet of Fire

Try to keep it clear

But I'm losing it here

To the twilight

There's a dead end to my left

There's a burning bush to my right

You aren't in sight

You aren't in sight

Harry estava deitado em sua cama, sem conseguir dormir.

Ele desejou poder culpar o clima pela sua inquietação, talvez, mas era uma linda noite de Abril. E esse, é claro, era o problema.

Ele queria que Draco estivesse ali.

Harry era de opinião que a tarefa correria bem. Ele sabia que precauções especiais haviam sido tomadas. Sabia que Voldemort não era estúpido a ponto de tentar raptá-lo durante a tarefa. Sabia que esse ano não havia um campeão de Hogwarts a mais, ninguém para... ninguém que pudesse...

Mate o sobressalente.

Harry viu outros mortos depois daquilo. Dementors e ogros tentaram invadir a plataforma nove três quartos no fim do quinto ano, e um ou dois pais foram mortos. Os estudantes chegaram depois da batalha, e Harry trazia na memória os corpos sem vida jogados no chão da plataforma. Harry lembrava-se dos gritos de pesar e medo, de Neville Longbottom vomitando - Ginny sem conseguir parar de tremer. Ele sentiu-se distante daquelas mortes, meditando sobre como uma tragédia podia tornar-se impessoal depois da próxima, e da próxima...

Mas a morte de Cedric foi a primeira. A morte é uma coisa que te amadurece mais rápido que as aventuras de que os outros rapazes se gabam. Não é só a carne de outra pessoa, mas a compreensão de que o universo não dá a mínima, marcando a passagem para algo que um dia será a vida adulta, mas que parece mais desespero.

Às vezes Harry ainda acordava gritando.

As cortinas de sua cama estavam abertas, e ele olhava pela janela, tentando se distrair da cama vazia de Seamus em frente à sua.

A janela era apenas uma abertura para a escuridão.

Harry teria ido encontrar Draco, mas ele estava lá fora, naquela escuridão. Era o dia dele guardar os portões com Terry Boot. Esse era o posto mais perigoso e que geralmente apenas professores guardavam, mas ele e Terry haviam se voluntariado. Harry e Draco tiveram uma briga por causa disso, mas Draco estava determinado e não cedeu.

Harry desviou a vista da janela e da noite vazia, olhou em volta alarmado, e viu Draco se esgueirando pela porta.

Ele sentou-se na cama, e apesar do choque não conseguiu conter um sorriso.

- Draco!

- Ush – fez Draco rigoroso, parando na entrada – Vai ter encrenca se alguém me pegar aqui, ô. Alguns de nós não têm tanta prática em passeios furtivos na calada da noite.

Harry ergueu uma sobrancelha:

- Não está se saindo muito mal. Eu achei que você estava guardando os portões com Terry Boot.

- O querido Head Boy e eu fomos liberados do nosso plantão às duas horas – informou-lhe Draco – Eu pressenti, claramente graças ao meu dom psíquico de incríveis proporções, que você ia dar uma de idiota e ficar acordado a noite inteira se preocupando. Só a idéia desse tipo de estupidez me irrita tanto, a ponto de não me deixar dormir, que eu vim aqui te botar inconsciente antes de ir para a cama.

- Oh, entendo – Harry impediu seu sorriso de se alargar não sem muito esforço.

A capa preta de Draco deixava seu rosto mais branco sob o luar, o capuz jogado para trás revelando seus traços puros e seu cabelo coberto de gotinhas de chuva.

- Se o Weasley acordar, vai me matar – ele comentou casualmente.

- A gente pode ir para a sala comunal – decidiu Harry, jogando as cobertas para o lado e agradecendo aos céus que ele decidiu não usar seu pijama favorito, que havia escapado à campanha de destruição de Draco. Ele estava usando o pijama escolhido por Draco quando eles foram às compras, porque – bem, o pijama o lembrava daquele dia, o que era um pequeno conforto.

Mas não tão bom quanto esse.


As últimas brasas queimavam no fogo, e a noite parecia menos intimidante e mais confortável.

Draco deu um pequeno suspiro de alívio e se jogou no maior e mais luxuoso sofá. Sob a fraca luz vermelha, ele parecia uma criança cansada.

- O plantão foi duro? - perguntou Harry suavemente, antes que Draco pudesse começar outro assunto – Porque eu podia, você sabe...

- Não – disse Draco com firmeza – Você não vai me acompanhar de volta na sua maldita Capa de Invisibilidade.

- Você não pode me dizer o que fazer!

Draco deu um sorriso débil:

- Eu não, mas o Professor Lupin pode... e acredito que ele deu a ordem. Posição de Autoridade tem esse nome por um motivo. E além do mais, não faz sentido te exaurir também, como você já devia saber – ele parecia um pai falando com um filho – Apesar de que senso comum nunca foi o seu forte.

Harry inclinou-se sobre Draco e deu um soco em seu braço.

- Criatura insensível – reprovou Draco – E eu aqui, acordado a maior parte da noite servindo a minha causa – sua voz se tornou séria – Vem aqui, seu idiota estúpido, e me fala das suas aflições. Se você não dormir, eu também não vou – ele arregalou os olhos – E eu posso ficar doente se eu não dormir.

Semana passada, em um dos seus momentos menos sábios, Harry disse a Draco que ele ficaria doente se perdesse mais refeições. Draco ficou brevemente ultrajado, e agora ficava usando a sua "saúde frágil" para conseguir o que queria de uma em uma hora.

Harry fingiu fazer cara feia e tirou a capa de Draco do caminho, sentando-se no sofá, na frente do outro.

- Tenho certeza que os seus motivos são inteiramente egoístas.

- Sempre – assegurou-lhe Draco – Agora fala comigo, e seja rápido. Você não sabe que eu sou frágil?

O seu olhar era atento e firme. Harry conhecia Draco; ele não ia deixá-lo escapar.

- Sei lá – disse Harry – Eu fico pensando sobre a última vez. Sobre...

- O Dark Lord? - sugeriu Draco.

- Não... Cedric – ainda doía dizer o nome dele.

Harry sentiu Draco se mexer contra ele, uma expressão levemente surpresa em seu rosto.

- É ele que te incomoda mais. Mas eu pensei que você... - ele se interrompeu e deu um sorriso tenso – Que típico, Potter.

- Não sei o que quer dizer.

Draco tinha a cabeça jogada para trás, e observava o teto.

- Não sabe mesmo?

- Eu não sou esse herói generoso – explodiu Harry com raiva – Eu... é claro que eu me lembro das outras coisas. Eu era uma criança, estava morrendo de medo, e quando ele usou o Cruciatus...

Draco olhou Harry no rosto.

- Quando ele o qu?

Harry fixou os olhos no fogo, e tentou drenar a emoção de sua voz. Ele não queria se descontrolar – embaraçar-se e embaraçar Draco.

- Eu ainda... eu ainda tenho a cicatriz no braço onde o Wormtail me cortou – ele disse, enrolando a manga do pijama para cima – Eu não quis que ela fosse removida. Eu achei... errado tentar fingir que ela nunca existiu.

Draco observou a marca em silêncio, os olhos brilhando na luz fraca. Ele se ergueu num cotovelo, e deu um rápido toque na cicatriz. Foi apenas um roçar de dedos, mas pareceu uma carícia.

Harry olhou para o fogo de novo e falou em voz baixa sobre o retorno, e o duelo, e seus pais; e a traição de Moody.

- Hagrid disse que eu ficaria bem – ele disse.

A voz de Draco era calma e quieta.

- E você está bem?

- Draco, como eu vou saber? Às vezes eu acho que sim – ele olhou para Draco, que deitara a cabeça no sofá e agarrava seu braço, e sua voz suavizou-se involuntariamente – Nesse momento, pode ser que sim.

Harry suspirou de exaustão, velhas mágoas e alívio, e deitou-se ao lado de Draco. Draco era quente e virou-se de lado para lhe dar mais espaço, bocejando em algum lugar perto da sua orelha.

- Obrigado – murmurou Harry – Por vir aqui, e... bem, por tudo.

- Oh, sim – disse Draco secamente – Por tudo. Eu fui uma grande ajuda quando tudo isso acontecia, não fui?

Harry virou o rosto para ver Draco e seus óculos atingiram o outro no rosto. Ele tirou os óculos e Draco era apenas a imagem manchada de uma criança sonolenta, sem os olhos frios.

Harry lembrava-se distintamente do que Draco dissera no Expresso Hogwarts, no fim do quarto ano.

- Bem, agora você também escolheu o lado perdedor.

- E agora, você escolhe melhor as suas companhias – rebateu Draco, rindo um tanto amargamente – Eu passava horas pensando no que eu poderia fazer que te machucaria mais. Eu não... ligava para mais nada, e eu não sabia que você tinha passado por tanta coisa que mal notaria um garoto gritando com você.

- Ah, eu notava. Eu sempre notei você – Harry fez uma pausa – Você é... meio difícil de ignorar.

- Eu sei – disse Draco, todo metido.

- Porque você é um moleque cheio de veneno, é claro.

- É claro – agora Draco estava definitivamente orgulhoso – Eu sou um Slytherin.

Harry sentiu a mandíbula de Draco flexionar-se contra o seu rosto quando ele sorriu.

- Mesmo assim... - ele disse – Eu falei sério. Obrigado por vir hoje à noite.

- Você se acha, hein, Potter? Simplesmente aconteceu de eu estar entediado – Draco tocou em seu braço, exatamente onde a cicatriz se escondia embaixo da manga do pijama. O fato de ele saber a localização exata da cicatriz fez esse segundo toque parecer ainda mais uma carícia.

Draco estava tão próximo que Harry podia vê-lo sem os óculos, de olhos fechados, a bochecha deitada sobre o capuz preto, usando-o de travesseiro. Em algum nível obscuro, Harry ficou feliz quando Draco manteve a mão em seu braço.

- Boa noite, Draco.

- Ah, agora é pra eu dormir aqui, também? - Draco fingiu, e bem, estar indignado – Sabia que eu estou começando a esquecer como é a minha cama?

- Boa noite, Draco – ele repetiu com voz serena.

Houve uma pausa. Draco não tirou a mão do seu braço.

- Boa noite, Harry.


Quando Harry acordou, estava sozinho. Ele subiu para o quarto e se vestiu depressa, com medo de acordar alguém. A óbvia preocupação deles – com ele, com a tarefa – fazia seus intestinos revirarem-se de ansiedade. Ele queria ir para o Great Hall o mais rápido possível.

Enquanto descia as escadarias, ele se deu conta de que Draco não estaria lá. Draco levava pelo menos quarenta e cinco minutos para escolher suas roupas e arrumar o cabelo.

Draco estava esperando por ele na porta do Great Hall. Ele obviamente não havia trocado de roupa – mas havia escovado o cabelo. Draco não deixaria de escovar o cabelo nem para a própria execução.

- Você chegou cedo – Por mim. Harry sorriu.

- Pelo café – Draco fungou – Eu dormi muito mal.

- Claro.

- Peste.

Eles entraram no Hall, o alívio de Harry imenso. Se até agora as coisas estavam tão diferentes do quarto ano – talvez tudo fosse ser diferente.

Harry estava para sugerir que eles pegassem algumas torradas e dessem uma volta no lago, quando Draco o puxou pelo braço e o levou para a mesa Slytherin.

- Eu não vou sentar aqui, Draco.

- Eu te pedi para sentar?

Draco metodicamente encheu dois pratos com comida, e duas xícaras com café. Então ele se dirigiu para o que parecia ser – e de fato era – um pedaço de parede nua no fim do Hall. Ele deslizou para o chão e se recostou na parede.

Draco olhou para cima e Harry apenas riu, entregando-se.

- Você sabe – ele disse, sentando-se lânguido – Que eu odeio café.

Draco olhou-o com maus modos.

- Eu sei disso. Eu disse alguma vez que o café era pra voc?

- Você tem duas... ah, deixa pra lá.

- Acho bom. E não quero mais ouvir falar de roubo de cafeína – Draco empurrou o prato na direção dele – Agora come. Imagina as manchetes se você desmaiar no meio da tarefa.

- Não, come você – rebateu Harry – Eu não sou o pálido e delicado aqui.

- Cale-se, Gryffindorzinho terrível. Agora come, e pára de se preocupar com coisas sem importância como esse Torneio de nada, que nem chega aos pés do meu projeto de Mágica Criativa.

Draco levantou o queixo. Harry escondeu um sorriso atrás da palma da mão.

Fora anunciado que o projeto de Mágica Criativa contaria metade da nota do exame N.E.W.T., e Draco prontamente enlouquecera. Um dia Harry encontrou o chão do quarto dele completamente coberto por planos reduzidos a bolinhas de papel.

- Estou certo de que é crucial.

Draco chutou a canela de Harry com força.

- E é. E se eu bombar no projeto? Aí com certeza eu vou bombar a matéria, e aí... morte e ruína! Minha mãe com certeza não vai aceitar um filho que é um fracasso acadêmico abjeto. Eu serei forçado a deserdar – outro chute – E você ousa me perturbar ainda mais. Trate de comer.


Ginny vinha juntando a coragem para desejar boa sorte a Harry a manhã inteira.

Podia ser importante. No ano passado, Harry a beijara pela primeira vez depois de ela o congratular por vencer uma briga.

Ela escovou o cabelo mil vezes de manhã, e escolheu suas melhores vestes. O plano era sentar-se de frente para ele na mesa do café, pegar sua mão e conversar com ele.

Ele era tímido. Mas certamente entenderia a mensagem.

Quando Ginny desceu para o Hall, Harry não estava na mesa Gryffindor. Ele e Draco Malfoy estavam sentados no chão e chutavam-se a intervalos regulares.

Ginny deu um sorrisinho e balançou a cabeça. Era tão fofo ver ele assim, agindo como uma criança. Harry normalmente era muito sério... não que alguém pudesse culpá-lo, considerando o que ele tinha passado.

A parte ruim era que isso atrapalhava os planos de Ginny. Ela decidiu abordá-lo quando ele estivesse voltando para a Torre Gryffindor.

Harry e Malfoy estavam indo direto para o campo de Quidditch e ela teve uma pequena sensação de pânico. Ginny resolveu correr atrás dele agora, pois aí nenhum Gryffindor – como o seu irmão extremamente embaraçante – poderia ouvi-la.

Ela se levantou rapidamente e saiu atrás deles.

- Harry! - ela gritou, sem fôlego – Harry!

Harry não ouviu, mas Malfoy se virou e Harry o imitou. Ginny afrouxou o passo, tentando recuperar o fôlego e a compostura, ajeitando suas mechas desarrumadas.

Aproveitou e olhou para Harry brevemente, o prazer estampado no rosto.

Ele estava tão mais bonito ultimamente. Ela sempre o achara bonito, é claro, mas agora outras garotas estavam prestando atenção nele.

Ele nunca olhava para nenhuma delas. Ele nem sonhava que elas gostassem dele; tão modesto.

Ele sorriu aquele seu sorriso claro e brilhante. Ele estava tão – tão são naquele momento, e tão bonito. Usava aquelas incríveis roupas novas, seus jeans favoritos e uma camiseta vermelha justa que acentuava seus cabelos negros e desordenados.

Seus olhos eram doces e simples, de um verde vívido, focados ela.

- Ginny.

Como sempre, o som daquela voz dizendo o seu nome fez seu coração bater irregular, enchendo-a de um calor exultante.

- Har... Harry. Eu, hm. Queria te desejar... boa sorte?

Harry parecia um pouco confuso.

- Er... obrigado.

O consciente de Ginny registrou pela primeira vez que Malfoy estava ali, de pé um pouco afastado, com uma expressão divertida no rosto.

Ele era muito diferente do Harry dela, que era o ideal de como um garoto deveria ser. Ela nunca vira Malfoy inclinado a outra coisa que não malevolência.

Mas se Harry o escolhera como amigo, devia ser por motivos válidos. As pessoas andavam agindo esquisito, como se não confiassem que Harry pudesse tomar a decisão certa.

Isso provavelmente chateava Harry, refletiu Ginny, que então deu o sorriso mais simpático que conseguiu para Malfoy. Ele não podia ser tão mal assim.

- Fico feliz que você o esteja apoiando – ela disse.

Ginny foi recompensada com o olhar claro e afetuoso de Harry. Malfoy parecia ainda mais divertido.

- Nós todos te apoiamos, Harry – ela continuou gravemente, encorajada pelo prazer aparente nele.

- Que sorte a dele ter uma torcedora tão amável e devota – disse Malfoy, pegando a mão de Ginny e levando-a aos lábios.

Ginny sentiu suas bochechas queimarem, e o sorriso desapareceu do rosto de Harry.

- É melhor a gente ir. Obrigado, Ginny – ele disse abraçando-a, arrancando-a de perto de Malfoy.

Ginny fechou os olhos e inalou o cheiro do sabonete dele, sentindo a pressão do seu corpo firme de jogador de Quidditch.

Ele a soltou rápido demais.

Então se afastou, acenando sem graça, e foi embora com Malfoy. Ela viu a cabeça clara de Malfoy se inclinar sobre a cabeça escura dele, e ouviu claramente o som da risada de Malfoy. Ele obviamente caçoava de Harry.

Ginny quase se abraçou. Outro garoto tinha beijado a mão dela e Harry não gostou.

Não, Harry não gostou nem um pouco.


- Para quê fez aquilo?

Harry sabia que Draco estava se divertindo, e estava agitado. A situação rapidamente tornava-se insuportável.

- Eu achei que seria engraçado – disse Draco languidamente – E é, e muito. Você está todo nervoso e vermelho. Decidiu que gosta da Weasleyzinha, afinal?

- Não! - explodiu Harry.

- Então a Morag ainda tem chance – concluiu Draco satisfeito.

- Eu ainda não sei quem é essa Morag! - Harry quase gritou.

- Ela faz aula de Poções com você tem quase sete anos – desaprovou Draco – Falando sério, o que tem passado pela sua cabeça esse tempo todo?

- Desculpa, mas eu estava concentrado no meu ódio devorador por você. E pelo Snape – adicionou Harry distraidamente – Olha... A Ginny é uma menina legal, ok? Eu não quero que ela, sabe, se deixe confundir por você.

Draco riu indulgente.

- Você superestima o meu poder de sedução, Potter. Ela nem notaria se eu começasse um strip-tease na moral.

- Draco! - haviam estudantes mais jovens descendo para conseguir bons lugares para o Torneio, ouvindo ele dizer esse tipo de coisa.

Draco estava positivamente alegre.

- Ninguém consegue dizer isso do mesmo jeito escandalizado que você. Vai, diz de novo. Eu te desafio.

- Dr... cala a boca.

- É claro, ó poderoso Menino que Viveu. Ouvi-lo é obedecê-lo. Eu juro solenemente que a virtude de todo o clã Weasley está a salvo de mim. Eu ofereço esse tremendo sacrifício em sua hon... ai!

- Você mereceu – disse Harry com severidade.

- Você me bateu – disse Draco ultrajado – Com a sua varinha. Estou num relacionamento abusivo. Eu não acho que atacar as pessoas aleatoriamente com a sua varinha é muito heróico. Você chama de heróico? Eu não.

Harry parou de escutar quando o labirinto surgiu à sua frente.

- Eu queria que eles tivessem marcado a tarefa para mais tarde – ele confessou – Eu sei que eles não querem que esteja escuro. Mas eu queria poder ir para algum lugar quieto e pensar um pouco.

Harry lutou para conquistar o pânico quando viu as paredes altas do labirinto no campo de Quidditch. Ele evitou olhar para a entrada escura.

Draco olhava para algo atrás de Harry, e este viu o reflexo da pequena figura de Hermione, emoldurada em cinza.

- Talvez – disse Draco devagar – Seja melhor eu ir embora.

- Não seja estúpido – disse Harry – Sabe que eu quero que você fique.

Hermione, cercada de outros Gryffindors, aproximava-se deles. Draco disse por entre dentes:

- Eu não sou estúpido.

Hermione e os outros chegaram até eles, e ela e Ron viraram as costas para Draco propositadamente. Harry observou os rostos preocupados à sua volta, viu a expressão amuada de Draco, e deu um pequeno sorriso.

- Você meio que é, sim.

- Harry, como está se sentindo? - perguntou Hermione ansiosa.

- Não sou, não – insistiu Draco com mau humor.

Harry resistiu ao impulso de mostrar a língua.

- É sim.

- Harry! - os dedos de Hermione fecharam-se no braço de Harry com tanta força que ele fez uma careta.

Ele tentou reconfortá-la e demonstrar segurança.

- Eu... estou bem, Hermione. Eu apenas... me sinto com quatorze de novo.

Os olhos de Hermione encheram-se de pena.

- Oh, Harry...

- Hermione – ele disse em voz baixa – Não precisa me paparicar. Ao invés disso, por que não confia em mim? Eu posso fazer isso.

Hermione pareceu surpresa.

- Eu... eu confio em você, Harry.

- Eu sei.

Ele estendeu os braços e ela o envolveu pelo pescoço. Ela o segurou com a mesma tenacidade de sempre, porque ela era Hermione e nunca desistia.

- Controle-se, Harry, se agarrando com a namorada dos outros – disse Ron, ameaçando-o de brincadeira. Harry sorriu para ele por sobre o ombro de Hermione.

- Harry, dessa vez vai ser diferente – assegurou-lhe Hermione enquanto acariciava seu cabelo, penteando-o para trás com os dedos – Dessa vez há precauções extras, você está seguro e... e tudo vai correr bem.

- Além do mais – adicionou Ron com vanglória – Você sabe se cuidar, como disse. Conhece mais feitiços agora.

Harry abriu um sorriso.

- E ainda não sou bom em nenhum.

Hermione quase estrangulou Harry com um último apertão.

- Está tudo diferente – ela repetiu, como se tentando se convencer.

Ron, Neville e Dean administraram tapas às suas costas com graus variados de afeição masculina. Draco ergueu uma sobrancelha.

- Ela está certa, viu. Está tudo diferente – ele comentou, enquanto os juízes e outros competidores se aproximavam deles.

Eu sei. Da outra vez você estava longe, junto dos Slytherins, usando um broche que dizia: Potter Fede. Harry esperou Draco falar alguma coisa.

Draco sorriu com malícia.

- Você está mais alto agora.

- Ah, se manda, por que não vai colocar algum broche insultuoso e estúpido?

Draco ficou indignado.

- Eles não eram estúpidos! Eu passei horas fazendo aqueles broches.

- Eu achei que sim – disse Harry – Seu criador de caso.

- Não seja injusto comigo, Potter. Eu só abuso verbalmente porque eu me importo.

Ele só teve tempo de rir incrédulo pois Lee Jordan o pegou pelo cotovelo e o conduziu até os outros competidores. Harry olhou por cima do ombro por um longo tempo, assistindo a Professora McGonagall enxotar seus amigos para as arquibancadas.

Draco estava de pé em meio aos Gryffindors, provavelmente desconfortável e abertamente desdenhoso. Ele parecia definitivamente fora de lugar. Mas ele estava ali. E talvez já tivesse dito o suficiente.

Ele captou o olhar de Harry e disse:

- Vai logo, Potter!

Harry escondeu outro sorriso e se juntou aos outros campeões. O garoto francês estava claramente nauseado. A garota de Durmstrang deu-lhe um sorriso tímido.

- Amigo chegado?

Esconder o sorriso se tornou um completo fracasso.

- É.

Então Harry percebeu que Lee Jordan gritava para a multidão.

- ... com oitenta pontos, Harry Potter...

"Empatados em primeiro lugar, com oitenta e cinco pontos cada – Sr Cedric Diggory e Sr Harry Potter."

Harry sentiu a boca ressecar-se. Sorrir não estava mais em questão.


Harry foi o primeiro a entrar no labirinto, pois dessa vez ninguém dividia a liderança com ele. Não havia ninguém para ele ressentir em segredo, e Deus, sentir-se tão culpado depois.

Até que as coisas não estavam tão mal quanto ele pensava.

Foi um alívio imenso. Ele achou que o quarto ano se repetiria, tudo igual; mas ao invés disso, ele sentiu pena daquele menino ingênuo. Sentia-se muito distante daquela criança que sonhava, otimista, em ser resgatada dos Dursleys.

Bem, ninguém nunca o resgatou dos Dursleys, ou de Voldemort, ou de nada. Ele teve que resgatar a si mesmo.

E foi capaz de fazê-lo.

Harry foi avançando, de olhos fixos nas sombras adiante. Ele conseguira brandir a espada, segurar a varinha, e faria tudo de novo. Ele conquistaria esse momento.

Harry chegou a uma encruzilhada e olhou em volta, recebendo o choque de sua vida.

Naturalmente, desde o último incidente deveras infeliz, providenciamos segurança extensiva...

Dessa vez há precauções extras, você está seguro e... e tudo vai correr bem.

As paredes exteriores e mais altas do labirinto começaram a tornar-se transparentes, como se feitas de água e não de folhas, como vidro ondulante. Harry podia ver as pessoas nas arquibancadas lotadas, e elas podiam vê-lo, mesmo com as paredes internas ainda sólidas.

Dumbledore não estava mesmo para brincadeira. E agora, por favor, não deixa eu pagar mico na frente do público inteiro. O Draco não vai me deixar em paz.

Ele deitou a varinha sobre sua palma aberta, sussurrou um feitiço e seguiu na direção que ela apontava.

Havia um amontoado da mídia na fileira da frente, câmeras em riste. Mas não é ótimo, ele pensou. Tinham contado para ele que alguns estudantes mais novos recortaram e guardaram a foto de Harry e Draco emergindo da água.

O apito de Lee Jordan informou a Harry que os dois outros campeões, que estavam empatados, entraram no labirinto.

O som de algo pesado se arrastando fez o estômago de Harry se contrair em antecipação, avisando-o de que ele estava quase para encontrar um obstáculo. Ele cerrou os dentes, determinado, e repetiu para si mesmo que conseguiria.

Em meio à multidão, ele avistou as cabeças inconfundíveis de Ron e Hermione. A de Hermione balançando-se, pois ela dançava de nervoso na ponta dos pés. Ron acenava um dos cartazes feitos por Dean que diziam: Harry Potter Campeão de Hogwarts.

A criatura entrou pelo corredor, e Harry controlou-se para não vomitar.

Era um vasto Flobberworm, o corpo viscoso e estremecente ocupando toda a largura da passagem. A carne asquerosa caindo em camadas, da mesma cor e textura que um verme, quase não deixava ver os olhinhos negros. Mas, ao contrário de outros Flobberworms vistos por Harry, esse tinha uma boca, escancarada e coberta com fileiras de dentes como os de um tubarão, que se fechou de supetão fazendo Harry pular para trás.

A cabeça pequena e ameaçadora mexia-se de um lado para o outro, como se farejasse a presa, e a criatura começou a mover-se na direção de Harry, o som da carne pesada arrastando-se pela grama acompanhado de um pequeno e terrível sibilo.

Harry considerou seriamente conceder a tarefa.

A boca se fechou ameaçando-o novamente, e ele pulou para trás, escapando por um fio. A mente de Harry lembrou-o de cobras, e por um momento ele considerou tentar falar com a criatura, mas Dumbledore com certeza não teria lhe dado essa vantagem sobre os outros estudantes.

Ele deu um passo para trás, e mais outro, enquanto a criatura se aproximava, irredutível como um tsunami, até que Harry deu um passo para o lado e conectou suas costas à parede do labirinto.

Ele então apontou sua varinha e gritou:

- Impedimenta! Impedimenta!

O Flobberworm continuou vindo, como se nenhum feitiço pudesse impedir-lhe de alcançar seu objetivo. Harry olhou dentro dos olhinhos negros e vazios do monstro, que de repente teve uma convulsão, e paralisou-se.

Tudo que Harry tinha a fazer era preparar-se para a tarefa nojenta que tinha diante de si.

Tentando não encostar a pele nua naquela coisa, Harry subiu em cima dela para atravessá-la. A criatura deu um grito agudo e regurgitou, fazendo Harry cair de quatro. Seus jeans estavam cobertos de gotas viscosas.

- Ai, credo – disse Harry, mas ele não tinha tempo de parar para pensar sobre o quão pavorosa era essa experiência, pois a praga do Impedimento não duraria para sempre, e ele não queria estar em cima do Flobberworm quando este conseguisse se mover normalmente.

Ele foi engatinhando e escorregando pela carne borrachuda até chegar ao abençoado chão seco, então fez uma careta de desgosto e correu para o mais longe que pôde daquela coisa.

Ergh, ergh, ergh, ele não podia acreditar que havia encostado naquela nojenta, odiosa... visão de beleza.

Harry congelou. Uma Veela rebolava no caminho à sua frente, dançando, e a própria grama em torno de seus pés nus curvava-se amavelmente em sua direção. Harry não era exatamente bem-versado nos ranques de beleza feminina, muito menos beleza de semi-deusa do sexo, mas até ele podia ver que esse era um espécime especialmente belo.

Seus pés eram lindos, traçando formas no chão como se criassem um círculo mágico em volta dela, um círculo que não isolava, mas que convidava as pessoas a entrarem nele. Harry queria fazer alguma coisa para impressioná-la, realizar grandes feitos por ela, mas ao mesmo tempo ele queria chegar mais perto e não fazer mais nada além de observá-la dançar.

Ela parecia banhada por uma luz prateada, como se sua dança fluída e hipnótica acontecesse sob holofotes e... tinha algo para ele fazer, não tinha, mas... era importante que ele continuasse olhando, e talvez...

Ela jogou os cabelos tão pálidos como os de Draco por sobre o ombro.

- Fique aqui e me faça companhia – ela disse cantando, com sua voz rica – Não pense em mais nada.

Pensar. Foi como um balde de água fria.

Harry piscou e deu um passo para trás. Oh, que vergonha, a escola inteira estava assistindo enquanto ele babava que nem um idiota pela Veela.

Ele fechou os olhos e cobriu as orelhas com as mãos, tentando andar de lado com as costas na parede. Harry foi impedido de continuar por uma mão delgada pousando em seu peito.

Os olhos de Harry abriram-se, encarando oceanos do mais profundo azul.

- Licença... hm, senhorita – ele disse, tentando não soar muito escandalizado – Estou certo de que você tem uma excelente personalidade e tudo o mais, mas eu tenho mesmo que ir.

- Estou tão solitária – ela ronronou, movendo-se contra ele.

- Erk – respondeu Harry – Não, obrigado. Mas é, hmm, muito generoso da sua parte oferecer – ele adicionou com polidez.

Ele deslizou para o lado livrando-se dela, e deixou-a de pé sozinha. Ela parou de dançar e olhou para ele.

- O que você vai fazer depois...? - ela gritou, decepcionada.

Harry saiu correndo a toda. Ele desejou de todo o coração que ninguém tivesse tirado uma foto.

A varinha apontou-o na direção certa por abençoados minutos em que nada aconteceu. Harry estava quase relaxando enquanto corria pelo labirinto. Certamente nada podia ser pior do que monstros asquerosos e sereias de perdição.

Os obstáculos no labirinto esse ano pareciam ter sido escolhidos pela qualidade, não pela quantidade. Harry teve paz por um bom tempo, sussurrando "Me aponte" a intervalos regulares, e seguindo adiante.

A paz não o relaxou. A quietude parecia ameaçadora, o silêncio um sinal de que ele estava sendo caçado por algum ser ardiloso, e que não estava seguro.

Apenas seja cauteloso, ele pensou de si para si. Apenas continue alerta, lembre-se do que tem que fazer, não deixe nada...

Algo o atingiu derrubando-o no chão, e sua varinha voou de sua mão.

... te surpreender.

Harry se contorceu no chão sentindo a dor aguda de cascos machucando suas costas, tentando jogar-se mais para perto de sua varinha e achando-se cara a cara com um... leão. O animal resfolegou, suas enormes presas curvas próximas ao rosto de Harry, e uma pequena chama azul cercou um dos dentes.

Cascos. Leão. Fogo.

Harry se lembrou, com a clareza que se ganha em situações assim, de uma página num livro de Hermione.

A cabeça de um leão, a cauda de uma serpente, o corpo de um bode.

Uma quimera.

Harry resfolegou e estendeu a mão, seus dedos procurando desesperadamente. Sua mão fechou-se em torno de madeira.

Em um momento, ele viu que segurava um galho da parede transparente do labirinto. Ele o arrancou mesmo assim, rolando no chão para tentar sair de baixo da quimera, e quando viu que não estava dando certo, enfiou o galho na goela do monstro, esperando a qualquer momento uma explosão de fogo em seu rosto.

O monstro rosnou e tentou morder o rosto de Harry. Um dente curvado arranhou a bochecha de Harry e ele sentiu o sangue verter. Ele empurrou o galho para o fundo da garganta da quimera, rezando para que não pegasse fogo.

Estou lutando contra um monstro enorme usando um galho quase invisível, ele pensou desesperado. Chamam isso de precauções?

A criatura rosnou e se afastou uma fração, e Harry limpou o sangue do rosto com a mão.

Sua mão veio limpa.

O animal investiu novamente e Harry rolou na poeira, dando um bote com o galho, sua mente trabalhando frenética o tempo todo.

Por mais bizarro que parecesse, ele ouviu o tio Vernon dizer em sua cabeça - como havia feito na mesa do café dois anos atrás - que a idéia de impostos reduzidos para deficientes era... uma quimera.

Uma fantasia. Uma ilusão.

Harry empurrou o galho para dentro da garganta da quimera, mais e mais até que ela caiu para trás na poeira, com Harry inclinado sobre dela.

- Você não pode me ferir – disse Harry sem ar – Você nem é real.

Ele quase caiu para frente quando a criatura desmoronou e desapareceu, mas depois de cambalear ele se manteve em pé.

Respirando fundo, enxugando a testa com a manga da camisa, ele saiu tropeçando para a próxima abertura.

E o ar explodiu em chamas.

Harry deu um grito alarmado e, por puro acaso, deu um passo para frente ao invés de se afastar.

Ele ficou de pé olhando em volta, esperando em um momento de pânico pela dor das queimaduras, pelo cheiro da roupa e do cabelo chamuscados, até perceber aos poucos que estava perfeitamente bem. Não houvera onda de calor. Não houvera nenhum fogo.

Foi tudo uma ilusão, igual à quimera.

Harry respirou fundo mais uma vez, e avistou a Copa Tribruxo, brilhando sobre uma base de coluna, a menos de meio metro de distância.

Ele piscou admirado.

Certamente não podia estar tudo terminado. O terror que sentira o ano inteiro por causa desse Torneio, a segunda tarefa e suas conseqüências, os pensamentos sobre Cedric a noite passada e a luta assustadora com o monstro ainda agora... Como podia estar tudo terminado?

Bem – estava. Lá sentava a Copa, e tudo o que ele tinha a fazer era segurá-la e ter menos uma coisa a preocupá-lo.

Ele se sentiu quase leve de alívio, ao estender a mão para a Copa. Mais tarde ele se deu conta de que não pensara em Cedric nem por um momento quando seus dedos se fecharam em torno de uma das alças.

No próximo segundo, o rosto sem vida de Cedric era a única coisa em sua mente, pois Harry sentiu aquele puxão familiar, que lhe causava enjôo, e o mundo traiçoeiro deslizou de sob seus pés, fazendo-o pensar com frio terror, Está acontecendo de novo.


Dessa vez ele estava mais forte e não trazia ferimentos; estava determinado a não tropeçar para o chão quando aterrissasse, e conseguiu ficar de pé mesmo com a trepidação causada pelo impacto.

Ele manteve a Copa segura em uma das mãos – não a largue, mantenha-a com você, ela pode te levar de volta – e com a outra sacou a varinha.

Seus olhos ajustaram-se à escuridão, e dessa vez ele não estava em um cemitério. Estava nos aposentos da Torre Gryffindor, era noite, e todas as luzes estavam apagadas.

Não havia barulho ou outro sinal de vida no aposento. Todas as camas estavam vazias.

Que nem a de Seamus.

Harry olhou em volta ferozmente, e afastou-se da cama abandonada de Ron. O rangido da madeira sob seus pés era um som horrivelmente alarmante, como se nenhum outro som reverberasse nesse quarto há anos.

O silêncio estendia-se pesado e opressivo, como a escuridão que cobria o quarto, e Harry não podia mais olhar aquelas camas.

Ele saiu correndo pela porta, desceu as escadas, adentrou a sala comunal com o coração dando pancadas contra as costelas, e rezou para encontrar alguém que pudesse ajudá-lo, explicar a ele...

A sala comunal estava tão calma e fria como o aposento.

Os restos de um fogo muito antigo ainda permaneciam na lareira, e o livro de Hermione, Homens que Amam Dragões Demais, descansava sobre sua cadeira preferida. Estava aberto na página em que ela havia parado na noite anterior – ela estava quase terminando, e era difícil convencê-la a largar o livro.

Mas agora, ela o havia largado, e quando Harry passou os dedos na página viu que ela estava coberta por uma grossa camada de poeira.

Ele deu um pulo para trás, a garganta apertada de terror, como se o que tocara fosse a mão fria e morta de alguém.

E ele enlouqueceu.

Ele fez algo que nunca havia feito na vida sem pensar, e subiu correndo para os aposentos femininos.

Nada. Absolutamente quieto, e poeira cobrindo uma borboleta ornamental que Parvati adorava usar no cabelo. O barulho da respiração ofegante e assustada de Harry era o único som no mundo, e ele fugiu desse aposento também, até chegar ao retrato da Dama Gorda e...

Lá estava ela, rosada e rechonchuda, embaixo de uma camada de poeira, como se um retrato pudesse morrer e se tornar um fantasma.

- O... o que aconteceu com todo mundo? - gaguejou Harry, sua voz chocando-se com a quietude do lugar.

- Não sei o que você quer dizer – respondeu a Dama Gorda – Certamente há menos ir e vir ultimamente... mas...

Ela se calou, uma leve expressão de angústia no rosto. A poeira em seu retrato indicava que não havia sido usada há anos.

- Mas não importemo-nos com isso – ela disse com dureza – A senha, se voc não se importa.

- Hmm... Weasley's Wizard Wheezes – disse Harry.

Me deixa sair daqui. Sua garganta estava seca de terror.

- Certinho – disse a Dama Gorda – Embora, realmente, acho que já é hora de mudarem...

Ela se abriu, as dobradiças gritando alto. O grito ecoou desesperançado pelo corredor escuro à sua frente.

Harry correu através do corredor, desceu as escadarias de mármore até o Hall de entrada, e estava para descer para as Masmorras Slytherin quando outra onda de pânico explodiu em seu peito. Ele se apoiou na parede, olhando para o teto.

Sua respiração soava áspera e desesperada em seus ouvidos. Haviam teias de aranha no teto, e ele acreditava mesmo que todos haviam desaparecido, pois ele tinha medo de ver o quarto de Draco vazio também.

O horror chegara até ele, e seu lar havia sido-lhe tomado.

Até Hogwarts não era segura. Até Hogwarts e as pessoas que ele amava foram destruídas, e ele não pudera protegê-las.

Quando Harry ouviu o som de pratos batendo-se vindo do Great Hall, ele quase deu um grito. Ele lutava contra a esperança histérica e o medo quando abriu as portas.

Os elfos domésticos estavam preparando as mesas para o jantar, espalhando um banquete suntuoso em frente às cadeiras vazias e cobertas de poeira. O cheiro de comida quente fez Harry querer vomitar violentamente.

Um elfo olhou para ele e deu um gritinho de felicidade.

- Um dos mestres voltou!

Imediatamente os outros elfos olharam para ele, e agarraram as roupas de Harry, tentando arrastá-lo para a mesa Gryffindor. A sensação daquelas mãozinhas finas agarrando-o através de suas roupas fez Harry querer vomitar ainda mais.

- O que diabos estão fazendo?

Winky encarou-o com uma expressão distante em seus olhos enormes e horríveis.

- Nossas últimas ordens foi para fazer o jantar, Harry Potter. Nós tem feito o jantar por muito muito tempo. Nós está muito feliz em vê-lo. Nós espera que esteja com fome.

- Me solta!

Harry não se lembrava depois se havia-os chutado de seu caminho. Fazer algo assim – ser alguém assim – lembrava-o demais de Lucius Malfoy, e ele nunca queria lembrar-se dele.

Ele estava desesperado para escapar, mesmo que fosse só para subir as escadarias novamente, e ir até a sala de Dumbledore. Harry estava no segundo andar quando lhe bateu o pensamento de que Dumbledore também devia estar desaparecido, e ele olhou nos olhos do gárgula e riu suavemente, histericamente, pensando se Fawkes estava lá dentro esperando que ele voltasse. Que nem a Dama Gorda. Que nem os elfos domésticos.

Ele não soltou uma palavra mas o gárgula saltou para o lado, e a escada foi se abaixando até o solo, deslizando devagar.

Harry não era mais capaz de sentir surpresa, e o medo atingira um ponto em que ele mal estava consciente de sua presença. Então foi com uma espécie de terror distante que ele viu uma enorme cobra descendo pela escada, no mesmo deslize gradual. Ele imediatamente reconheceu Nagini – vira-a muitas vezes em seus sonhos.

Foi apenas quando ele ouviu os passos atrás da cobra que se lembrou novamente de sentir terror.

Ele esperou, sua varinha e a Copa oscilando inúteis em suas mãos. A escada encontrou-se com o chão.

Voldemort estava de pé no alto da escada, o rosto pálido e estreito tão sem misericórdia quanto Harry se lembrava. Seus olhos vermelhos estreitaram-se quando ele viu Harry, Harry que estava sozinho e abandonado por todos os seus amigos, sem nenhum motivo para lutar.

- Agora, eu penso – disse Voldemort – Que você vai se curvar diante de mim sem maiores persuasões.

Harry encarou-o por um longo e quieto momento.

- E por que eu deveria? - ele perguntou falando devagar – Seu bastardo.

Naquele momento longo e calmo, Harry pensou – nem Vira-Tempos podem transportar alguém ao futuro. Não pode ser noite. A poeira cobrindo tudo não é possível.

Tudo é impossível. Como a quimera, como o fogo, é...

- Você nem é real!

Voldemort não desapareceu, e começou a descer a escada.

Não foi suficiente, pensou Harry desesperado. Eu tenho que fazer algo a mais, como o galho, como entrar no fogo...

E simplesmente não havia nada. Nada que ele pudesse fazer contra Voldemort.

Mas ele não iria fugir.

Ele ficou ali, tremendo, enquanto Voldemort percorria os últimos degraus. Ele não se retraiu quando olhou naquele rosto inumano, levantando sua varinha ao mesmo tempo que Voldemort, e Harry pensou, com clareza, Eu falhei com todos.

Voldemort abriu a boca e Harry tentou pensar em algum feitiço para gritar. E...

Ele se achou de novo sob a luz do Sol, a ilusão derretendo-se como ele nunca a tivesse visto.

A Copa em sua mão também se derreteu, e a verdadeira Copa ainda descansava sobre a base de coluna à sua frente. Ele estendeu a mão... e estava do lado de fora do labirinto.

Ele venceu o Torneio Tribruxo, e estava tudo acabado.

Harry ficou de pé sob as luzes, piscando para o rosto grave de Dumbledore. Harry não teve tempo de perguntar o que deveria ter feito, o que deveria ter sabido, ou o que ele sentia que ele deveria ter feito – para vencer mais que apenas o Torneio.

Dumbledore se afastou, abrindo espaço, e os flashes das câmeras e seus amigos vindo eufóricos em sua direção obscureceram tudo o mais.

As mãos de Ron fecharam-se em seus ombros.

- Harry! Você simplesmente desapareceu... nós ficamos louquinhos. Você está bem?

Harry piscou olhando para Ron, que estava tão pálido que suas sardas pareciam pegar fogo. Ele tinha a memória, tão vívida quanto essas sardas, de todos os dormitórios vazios.

- Eu estou bem – ele disse devagar.

Sirius e Lupin conversavam agitadamente com Dumbledore. Hermione tentava abrir caminho em meio à multidão, sua voz questionadora pequena demais para ser ouvida por Dumbledore.

- Senhor! Senhor...fazê-lo desaparecer era mesmo necessário?

O rosto de Neville estava alegre, olhando para Harry por cima do ombro de Ron. Sua expressão era estranhamente reminescente de Colin Creevey.

- Foi maravilhoso, Harry – ele disse com sinceridade na voz.

- Pelo amor de Deus, Longbottom, você não está congratulando-o por alguma proeza sexual.

A voz, arrastada e perigosa, alertou Harry de que algo estava errado quando ele se virou para ver Draco, o sorriso em seu rosto desvanecendo antes mesmo de se manifestar. Como uma cobra engolindo a própria cauda. Como uma cobra.

Draco estava um pouco aparte do grupo de pessoas amontoadas em torno de Harry, e só a sua postura já comandava espaço. Seus lábios curvavam-se em desdém, e seus olhos eram frios.

- Parabéns, Potter – ele disse – Outra incrível demonstração de estupidez descuidada. Muito bem.

Então ele se virou e foi embora.

- Que otário! - explodiu Ron – Não dê ouvidos a ele, Harry. Ele está com inveja... ele sempre teve inveja de você.

Ginny tinha os olhos escuros escancarados.

- Tudo bem, Harry?

Harry tentou se livrar das mãos de Ron e olhou para Draco. Sua mente estava vazia exceto pelo choque e a necessidade urgente de descobrir o que Draco pensava estar fazendo.

Ele percebeu que ainda segurava a Copa, e sem pensar, empurrou-a para os braços de Ron.

Ron largou os ombros de Harry e segurou a Copa.

- Só... segura ela um minuto, tá? - pediu Harry, afastando-se de todos eles.

Ele ia encontrar Draco e trazê-lo de volta. Era simples assim, e ele não tinha tempo a perder com as mãos tentando detê-lo enquanto passava.

Ele obstinadamente seguiu Draco,que já estava longe do campo de Quidditch, desaparecendo por trás de um monte. Draco parecia estar indo para a Floresta Proibida. Ele realmente não devia querer que ninguém o seguisse.

A chuva caiu, como pontinhas de agulha quase invisíveis, e Harry sentiu pontadas de irritação e preocupação, com a água atirando-se fria em seu rosto. O que ele havia feito de errado, e por que Draco estava agindo assim, e merda, ele estava cansado e assustara-se muito, e estava ansioso para... ter um pouco de paz, e desejava que Draco estivesse satisfeito ou aliviado, tudo menos isso!

Harry se concentrou naquela cabeça pálida e correu, pois Draco não sabia que alguém o seguia, e foi a coisa mais fácil do mundo apressar-se atrás dele enquanto adentravam o abrigo das árvores, agarrar o cotovelo de Draco obrigando-o a virar-se para ele e gritar.

- O que diabos foi aquilo, Malfoy?

O rosto de Draco era branco, oval e implacável, e a chuva em seu rosto não se parecia nada com lágrimas.

- Eu estava te parabenizando, Potter – respondeu Draco calmamente – Brilhante exibição de idiotice quase-suicida. Um de seus melhores esforços, eu diria. Que cumes não deverá alcançar? Agora que recebeu meus respeitos, é melhor voltar para o seu fã-clube. Devem estar desesperados sem a sua presença.

Harry lançou-lhe um olhar furioso. Draco devolveu o olhar, inflexível.

- Por que não pára de agir que nem um babaca? - sugeriu Harry, sua voz baixa e irritada.

- Por que você não deixa de ser um babaca? - exigiu Draco num tom frio, quase casual, e altivo.

Ele tentou livrar a manga da mão de Harry, mas este o agarrou pelo ombro. Harry viu a curva de desdém na boca do outro e tentou se lembrar que pessoa odiada era dona daquela expressão, e se deu conta de que era o próprio Malfoy.

O Malfoy de antes, lavado e cuspido, e Harry sentiu um desejo bizarro de bater nele, o que não fez pois pensou: por que o Malfoy de antes se importaria se a sua idiotice fosse quase-suicida?

- Você pode parar de me insultar por um segundo e me dizer o que eu fiz! - explodiu Harry – Eu apenas fiz o que eu tinha que fazer, eu não entendo porque você está com raiva, então por que não deixa de frescura e me conta!

- O que você fez? - disse Draco precipitadamente – Você tentou lutar contra uma quimera usando um galho!

- Escuta, eu não tive escolha, não havia mais nada e eu não tive tempo de pensar...

- Pensar? - disse Draco, a voz diminuta e ultrajada – E você pensa alguma vez...

- Eu penso em você o tempo todo! - gritou Harry.

Eles trocaram um olhar penetrante sob o frio relampejar da chuva, a respiração superficial, em furiosa sincronia. O ombro de Draco subia e descia sob a mão de Harry, junto com seu peito apressado.

A boca de Draco formava uma linha intransigente.

- Você é um tolo irresponsável – ele disse sem rodeios.

- Eu não sei o que...

- Olha, isso tem que parar, está ouvindo? - disse Draco de supetão – Tem que parar, essa história de ficar correndo por aí tentando ser um herói e salvar todo o mundo, eu te vejo pensando nisso. Você não pode lutar contra monstros sozinho.

- Eu não estou... eu não... Deus, Draco, é isso que está te aborrecendo tanto?

Draco, que olhava em desafio com tanta facilidade, olhou para o chão.

- Eu não sei o que...

A calma que Harry sentira repentinamente ao entrar no labirinto retornou.

- Draco. Draco, olha para mim – ele não olhou, e Harry forçou-o a erguer o queixo. Os olhos de Draco alargaram-se diante da indignidade, novamente cheios de desafio.

- Não tem nada de mal se ficou preocupado comigo – disse Harry suavemente.

- Do que você está falando, Potter? - disse Draco sem muita convicção. Apenas a mão de Harry o impediu de virar o rosto.

A chuva sempre deixava o cabelo de Draco meio estático. Harry não mencionou que ele estava um pouco mais cheio que o normal, pois Draco estava perturbado o suficiente.

- Não há nada de errado em se preocupar – ele disse – Eu sei que você não está acostumado.

- Está delirando, Potter? - exigiu Draco – Eu estou sempre preocupado. A escola inteira vive aterrorizada. Os meus Slytherins não estão seguros, e eu não sei o que vou fazer para protegê-los...

- E esse é o seu problema! - gritou Harry – Você só sabe proteger as pessoas dando ordens e sendo mais forte que todo mundo. É por isso que está agindo feito um idiota, porque não está acostumado a ver alguém com quem se importa em perigo, sem poder fazer nada!

- E da? - Draco gritou de volta – Você é igual! Até pior!

Harry pensou em todos desaparecendo, no sentimento pungente de que falhara.

- Eu sei – ele disse vencido – É por isso que eu entendo.

Draco olhou para Harry, dessa vez de espontânea vontade, e mordeu o canto dos lábios. Ele então pegou a mão de Harry e removeu-a gentilmente de seu rosto, deixando-a cair.

- Eu nunca vou me deixar rebaixar, Draco – disse Harry, cruzando os braços em frente ao peito – Você não manda em mim.

- Bom, eu também não vou me deixar rebaixar, Harry – retornou Draco com severidade – Não quero mais ouvir aquela ladainha de não aceitar postos perigosos.

- Mas aquilo não... Eu estava só tentando... - Harry expeliu o ar com força – Tudo bem. Desculpa.

Draco acenou com a cabeça em compreensão.

- Desculpa se eu fui... meio que um babaca antes. Não que você não estivesse dando uma de idiota suicida, é claro. Você devia ter ficado com a Veela no aconchego – seu rosto se iluminou – Na verdade, eu achei que ela ficou a fim de você. Você podia...

Harry não conseguiu conter o riso.

- Você é impossível.

Draco deu um belo sorriso, e levantou a mão até o rosto de Harry. Harry sentiu a pressão refrescante dos dedos molhados percorrendo sua maçã-do-rosto.

Ele olhou para Draco, e pensou no pânico que brotou em seu peito, no medo de encontrar o quarto dele vazio.

Draco retirou a mão e examinou seus dedos.

- Você está imundo – ele disse. Harry o pegou pelo pulso.

- Volta comigo – ele disse – Eu vou ter que participar numa apresentação.

- Oh, meu Deus! - exclamou Draco, apavorado – Mas é claro! Tem a cerimônia! O dinheiro. Seu néscio, o que está fazendo correndo por aí desse jeito?

Harry franziu o sobrolho. Draco nem teve a decência de fingir algum embaraço.

- Volta – ele repetiu, e Draco se deixou levar para o campo de Quidditch.

Ginny deu um brilhante sorriso de boas vindas a Harry. Ron parecia confuso, e nem teve tempo de guardar um olhar de desdém para Malfoy.

- Harry, por favor, pega isso de volta – ele disse, empurrando a Copa para a mão livre de Harry – Vão colocar o dinheiro dentro dela, e depois o Fudge vai te entregar ela de novo, na cerimônia. Vai ter discurso e tudo. Tinha gente tentando fotografar esse negócio, eu estava ficando louco...

Um bando de fotógrafos se aproximou, ilustrando as palavras de Ron. Ron se afastou rapidamente e juntou-se a Hermione. Harry estava cansado e sujo, e desejou que Hagrid estivesse ali para escondê-lo.

- Oh não – ele disse baixinho.

- Eles podem me fotografar se quiserem – anunciou Draco complacente – Eu sou bonito.

Fudge veio correndo até eles, a auto-confiança que aos poucos se corroía com os desaparecimentos restaurada para a ocasião. Ele trazia o saco de dinheiro e riu para Harry. Harry o estudou com fria desconfiança. Ele pareceu não notar.

- Honestamente, Harry, onde você se meteu? - ele perguntou – Aqui, pega o saco e coloca dentro da Copa... Você vai dizer algumas palavras, não? - ele adicionou, e Harry soltou o pulso de Draco para pegar o saco.

- Er – fez Harry, encarando-o – Um discurso?

- Eu sugiro que você leve a Veela com você para o palco e a convença a tirar o vestido – propôs Draco – Vai distrair todo mundo às maravilhas. Ou você podia tirar a camisa. Convenhamos, esses fotógrafos querem você todinho.

- Obrigado, Draco – disse Harry pelo canto da boca – Você tem alguma sugestão que não envolva indecência pública?

- Eu? - disse Draco escandalizado – Nunca!

- Você deve subir ao palco em alguns minutos, Harry – disse Fudge – Segura a Copa mais um instante. Eu preciso pegar as notas do meu discurso...

Ele saiu apressado. Harry observou-o ir embora, e olhou desesperadamente para as câmeras e seus cliques, e para o ouro dentro da Copa. Ele já estava mole de exaustão e dor.

Harry olhou para Draco, tomou sua decisão e sorriu.

- Eu mudei de idéia – ele disse – Vamos!

- O qu?

Harry largou a Copa e agarrou Draco pelo pulso de novo. Draco parecia chocado e se abaixou para pegar o dinheiro.

- Nunca, nunca mesmo, largue dinheiro para agarrar uma pessoa! - ele admoestou, austero – Você pode comprar pessoas com dinheiro!

- Inclusive você? - sugeriu Harry – Vamos. Eu quero ir.

- Eu não, certamente – disse Draco severo – O meu valor é medido especialmente. Onde precisamente você quer ir?

- Sei lá. Qualquer lugar. Longe daqui. Com você.

Draco parecia quase admirado.

- Está falando sério. Você é doido.

Harry deu um sorriso selvagem. Fora tudo uma grande ilusão, o Torneio estava terminado, e ele não ia discursar nem aqui nem na China. Harry se virou - mantendo Draco em sua posse – e o outro riu, seguindo-o de bom grado.

- Eu não acredito que você me arrastou de volta aqui só para ir embora de novo.

- Ah, mas agora é diferente – disse Harry confiante, enquanto todos olhavam para eles surpresos – Falando nisso, Draco... você está livre esse Sábado?

- Acho que sim – respondeu Draco com cuidado – Por que?

- Eu tenho um presente para você – respondeu Harry, tentando parecer o mais casual possível.

Draco se alegrou.

- Um presente? Qual o motivo? Por que não pode me entregar agora? O que é? Ele pisca? Me dá uma dica.

Harry olhou para trás.

- Draco?

- Sim? - disse Draco, a mente obviamente ocupada com o prospecto do presente.

- Dá para a gente correr?

A chuva ainda caía leve, e rindo sem nenhum motivo, eles desceram o morro correndo com um grupo de fotógrafos em seu encalço.